segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sinfonia dos Antigos - A Música profana de Erich Zann


Artigo Originalmente publicado em 12 de outubro de 2009

Erich Zann é o personagem principal do conto curto "A Música de Erich Zann" escrito por H.P. Lovecraft em 1925. O trecho abaixo se propõe a ser um artigo de jornal onde o talento artístico e a carreira do obscuro violinista são examinadas.

Quem foi Erich Zann?

O nome talvez não seja conhecido dos entusiastas da música ou dos apreciadores das melodias escritas pelos compositores clássicos. Mas Zann talvez tenha sido um dos maiores musicistas contemporâneos. O fato dele jamais ter alcançado fama ou fortuna, não apaga seus feitos notáveis com o violino e sua inigualável técnica.

Nascido em 1865, na Alemanha (possivelmente em Sttutgart, mas segundo alguns na fronteira com a França), Zann foi na maior parte de sua existência um artista recluso. Um virtuose do violino, instrumento do qual conseguia arrancar sons ao mesmo tempo vibrantes e estranhos.

Não se sabe onde ou com quem Zann aprendeu sua técnica. Não há registros dele nos conservatórios ou escolas de música da Europa. É possível que ele tenha aprendido sua arte com algum parente ou amigo, mas de sua família e amizades sabe-se muito pouco. Existem indícios de que Zann teria trabalhado por volta de 1887 em Paris. Seu nome figura na lista de músicos empregados na montagem da Aida, na conceituada Opera House de Paris naquele ano. Sua participação, contudo se resume a uma pequena observação na lista do maestro onde se lê: "E. Zann (alemão) - Violino".

Rumores dão conta que Zann teria sofrido um acidente pouco depois da primeira apresentação, acidente este que o teria deixado surdo e que o teria forçado a voltar para Stuttgart. Dizem que ele teria se casado e tido ao menos um filho que seguiu seus passos.

Pouco se sabe a respeito da sua carreira artística. Não há menção a um agente de talentos que tenha trabalhado para ele. Não se sabe de contratos com outros teatros ou filarmônicas famosas. Há rumores que Zann, já no final de sua vida teria emprestado seu talento para uma humilde orquestra de um teatro barato em Paris. Recebia um modesto pagamento pelas suas apresentações e não chamava a atenção pela sua performance sempre contida e discreta.

Nessa época ele residia em Paris, na Rue d'Auseil, nome que teria sido mudado e para alguns simplesmente inexistente. Zann se mudou para essa vizinhança após a morte de sua esposa, por volta de 1918. O quarto que ele alugava no quinto andar, era simples e em estilo espartano. Um pequeno cômodo, alguns móveis e uma janela com cortina de onde ele podia admirar as tortuosas ruas, depósitos e o rio que passava nas proximidades. Zann se tornou conhecido entre os demais moradores pelas músicas que ele costumava tocar solitariamente em seu apartamento, sempre com a porta cuidadosamente trancada.

Ao lado - Uma das únicas fotos conhecidas de Erich Zann.

As músicas eram sempre executadas à noite, como uma canção de ninar absurda. Para ouvidos treinados eram melodias que guardavam semelhança com "Danças Húngaras" de acordes selvagens e cadência vibrante. Para quem ouvia essas notas sem o conhecimento de música, poderia achar que não passavam de um ruído caótico e desconexo.

Zann, no entanto, exercia um controle completo sobre o instrumento. Ele era capaz de extrair das cordas uma música arrebatadora. Fantasmagórica e frenética que se traduzia em um sonido desesperado e fantasmagórico. Ao menos é essa a descrição que os vizinhos deram das peças experimentais tocadas pelo gênio germânico.

Em 1925, Erich Zann desapareceu de seu pequeno apartamento no quinto andar no prédio da Rue d'Auseil. Na ocasião, um rapaz foi apontado como testemunha do acontecimento, mas apesar dele ter sido procurado para explicações, jamais foi encontrado. Acredita-se que ele era um estudante estrangeiro que residia no mesmo prédio. Na noite em questão ele teria sido visto saíndo em disparada do prédio para onde nunca mais voltou.

A Polícia de Paris chamada para investigar o desaparecimento do músico ficou chocada após examinar o local deserto.

Por algum tempo se comentou algumas peculiaridades do caso, como por exemplo, o fato da porta ter sido encontrada trancada pelo lado de dentro sendo que não havia ninguém no local. A janela do quarto estava estilhaçada e os cacos de vidro estranhamento pareciam lançados para dentro do aposento evidenciando que ele se quebrara pelo impacto de alguma força exterior. Fato estranho em um prédio alto e sem vizinhos diretos.

A polícia encontrou entre os objetos do velho músico algumas fotografias, antigas partituras e algumas folhas de papel contendo rabiscos em alemão, escritas com uma caligrafia tão rebuscada quanto incompreensível. Diante da ausência de pistas assumiram que o velho smplesmente havia abandonado suas parcas posses e partido na calada da noite. Pouco depois a investigação foi concluída.

Na década de 30, partituras supostamente escritas por Erich Zann foram descobertas pelo famoso músico Henri Polifax. As partituras semi-arruinadas pela ação de traças, continham rabiscos caóticos anotados pela mão de Erich Zann. Tratava-se de uma peça incompleta para violino na qual o velho musicista estava trabalhando antes de desaparecer.

Polifax ficou fascinado pela obra e passou meses obstinadamente tentando traduzir as mal traçadas notas. Segundo alguns amigos, quando Polifax terminou, afirmou estar diante de uma das mais extraordinárias peças para violino jamais escritas. O músico realizou uma única apresentação da peça em sua própria casa diante de amigos que se mostraram chocados pelo resultado. Polifax executou a obra de forma selvagem, para alguns ele parecia fora de si. A obra foi considerada bizarra e por demais incomum.

Depois disso, a carreira de Polifax perdeu o rumo. Ele teria largado a Filarmônica de Paris para se dedicar em tempo integral a estudar a composição de Erich Zann. Aos 47 anos, totalmente arruinado e decadente, o corpo de Henri Polifax foi resgatado das águas do Senna onde ele se afogou. Rumores afirmam que ele teria se suicidado.

As partituras de Polifax com base nas originais de Zann, teriam sido doadas ao conceituado Conservatório René Bascomb em Paris e estariam no acervo da biblioteca, contudo, até o momento permanecem desaparecidas.


A gravura de uma das primeiras publicações do conto. 

5 comentários:

  1. Já pensaram em colocar zé ramalho nos mythos? ja viu as musicas dele? kkk

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  2. Um dos meus prediletos! Parabéns, King.

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  3. Mas está história é real ou faz parte do mundo de hp ? Eu acabei de ler este conto e fiquei realmente curioso

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