sábado, 12 de junho de 2010

Necrosis - A mais terrível das doenças arcanas.

"Bom Deus, não!" gritou o médico ao se deparar com aquela coisa amorfa e rastejante. Era uma sensação insuportável, aquela blasfemia precisava ser destruída. O médico ergueu o lampião acima de sua cabeça e a criatura se encolheu. Isso o deteve. Havia um brilho de inteligência e consciência nos olhos daquela coisa. Algo... humano? Capaz de sentir medo, confusão e frustração. Algo que transbordava desespero. Ele compreendeu então que aquilo um dia fora uma pessoa. Alguém que apesar de reduzido àquela excrescência abominável ainda era capaz de entender, pensar e principalmente sofrer".

Espreitam nas sombras, pessoas que ousam se aventurar pelas mais negras formas de magia e as mais horrendas ciências experimentais. Buscam estes aventureiros dos caminhos obscuros poder e imortalidade. Felizmente, a maioria desses esforços falham, resultando na própria obliteração que essas pessoas de coração negro buscam evitar. Poucos, entretanto, enveredam por um caminho de tamanha corrupção, que vai além do seu terrível destino, e passam a existir em um estado de lento apodrecimento.

Estudiosos do oculto rotularam tal condição Necrosis.

Francois Honoré-Balfour, o notório Conde D'Erlette em seu blasfemo tratado "Cultes des Goules" fala a respeito dessa horrível doença, chamando-a de "O mal definitivo". Balfour devota um capítulo inteiro falando sobre o trágico destino de um nobre francês às vésperas da Revolução que se embrenhou pelos tortuosos caminhos da magia e contraiu a doença.

O mal é citado em outras obras de conhecimento profano. O Revelations of Glaaki contém em seu primeiro volume uma grave advertência aos feiticeiros que comungam das bençãos de criaturas e entidades dos Mitos. "Aqueles que vivem na presença de tais criaturas destituídas de humanidade, que se envolvem em sua adoração e devoção febril, que conspurcam o próprio corpo com atos envolvendo tais seres, seja deles se alimentando ou com eles estabelecendo vínculo carnal, arriscam contrair a mais tenebrosa das doenças conhecidas pelo homem".

O próprio árabe louco, Abdul Al-Azrad menciona a condição arcana que ele chama de "Corrupção em Vida". Alguns biógrafos do autor do Kitab Al-Azif chegaram a supor que Al-Azrad poderia sofrer desse mal degenerativo, ainda que a doença não tenha atingido os estágios mais avançados.

Azrad determina que a proximiadde de certas criaturas dos Mitos pode transmitir essa doença, ele aponta em especial os Shoggoths e as Crias disformes de Abboth como vetores vivos. Certas magias quando mal executadas também podem ocasionar a doença, uma vez que elas são capazes de alterar a fisiologia dos magos. Magias especialmente perigosas são aquelas que envolvem a trasformação corpórea e reintegração. Ao menos Necrosis não é transmissível de pessoa a pessoa.

Pesquisadores dos Mitos de Cthulhu debatem há séculos à cerca de uma cura para Necrosis, a grande maioria acredita que não existe nada capaz de operar esse milagre. Contudo, alguns poucos afirmam que os tabletes em posse da entidade Ubbo-Sathla contém uma fórmula capaz de purificar o corpo dos efeitos danosos de Necrosis. Obter os tabletes conhecidos como Antigas Chaves, constitui a mais perigosa das tarefas, muitos magos de enorme poder tentaram e acabaram sucumbindo ao longo das eras. Há rumores também de que o Culto do Skinless One, sediado na Turquia possuiria o conhecimento necessário para curar a doença, mas essas alegações jamais foram comprovadas.

Necrosis é uma doença degenerativa que age rapidamente. A princípio, os sintomas não são perceptíveis no indivídio. Apenas uma inspeção detalhada (Spot Hidden e Idea rolls) revelam que algumas funções corporais, tais como respiração e piscar de olhos se tornam cada vez menos frequentes. A temperatura corporal acompanha a temperatura do ambiente onde o indivíduo se encontra. Um tênue odor é perceptível quando se está próximo da pessoa, como se o seu corpo pálido há muito não fosse banhado. Encontrando uma pessoa neste estágio inicial de Necrosis, ocasiona a perda de 0/1 SAN, mas apenas após o primeiro mês.

Depois de três meses, a condição se intensifica. Partes do corpo começam a sofrer descoloração e inchaços, embora não haja real ganho de peso. De fato, o corpo da pessoa parece, de alguma forma, menor, mas esse pode ser o resultado de um encurvamento corporal. O odor ofensivo se torna mais forte e pode ser sentido mesmo à distância. Os olhos do indivíduo se tornam amarelados e fundos. Os dentes começam a cair por avançada podridão e sua voz se torna distorcida. O indivíduo, sem dúvida, precisa cobrir partes do seu corpo a fim de não alarmar os outros. A sanidade por ver uma pessoa neste estágio é de 1/1d3.

O estágio seguinte inicia-se após cinco meses. Luz do dia começa a incomodar a pessoa, e ela tenta de todas as formas se manter longe de fontes de luz. Partes do corpo perdem sua forma e estrutura original, e mesmo ossos tomam um consistência esponjosa. A pele escurece, adquirindo um tom azulado, como se estivesse coberta de hematomas. A comunicação torna-se nada mais do que um gorgolejar, uma vez que a maior parte da boca e dos órgãos de fala há muito se degradaram. O movimento é restrito pela atrofia nas pernas.

O odor em volta da pessoa é nauseante, como de uma grande quantidade de carne apodrecida, e só pode ser disfarçado por enormes quantidades de água de colônia ou perfume. A face é terrível de ser contemplada. Além da descoloração e alterações nas feições, há ainda secreções escorrendo livremente sobre a pele. A não ser que extremo cuidado seja tomado, um rastro desses fluídos é deixado no caminho dessa pessoa. A perda de sanidade por encontrar uma pessoa neste estágio de Necrosis aumenta para 1/1d6.

O estágio crônico desta doença sobrenatural transforma a maior parte da vítima e se inicia nove meses após o contágio. Apenas roupas pesadas (capas, sobretudos e chapéus) podem disfarçar as evidências. O indivíduo, agora, se move rastejando, já que há poucos ossos em seu corpo. Braços e pernas atrofiaram até metade de seu tamanho original e terminam em garras alongadas. Uma trilha de limo cáustico é deixado por onde passa. É impossível a comunicação através da fala. A monstruosidade da vítima é aumentada e conseqüentemente a perda de sanidade por encontrar tal criatura é de 1/1d8.

O estágio final de Necrosis, que ocorre cerca de um ano após contrair o mal é deplorável. O indivíduo não pode mais ser encarado como um ser humano. Semelhante a uma criatura dos mitos, a pessoa torna-se uma pilha proto-plásmica viva. Membros obscenos agindo como braços vestigiais estendem-se da massa amorfa. Os restos de sua cabeça ainda podem ser discernidos, embora o reconhecimento facial seja quase impossível. Qualquer fonte de luz inflige dor à massa, na taxa de 1 ponto de dano por round. Mesmo agora, a imortalidade está além do alcance, à medida que a criatura se decompõe, mês a mês, até que tudo o que resta é uma mancha negra, que evita a claridade a todo custo. Neste estágio, aqueles que o vêem sofrem uma perda de sanidade de 1d3/1d10. Talvez o maior dano à sanidade seja o conhecimento de que tal coisa medonha um dia foi um ser humano. ter conhecido a pessoa, transformada em tal "coisa" pode agravar a perda de sanidade conforme o mestre achar justo.

Atributos e Ajustes

STRength -1 a cada mês
CONstituition -1 a cada mês
SIZe -2 a cada três meses
INTeligence não é afetada
POWer +1 a cada mês
DEXterity -1 a cada dois meses

Pontos de vida: varia com a perda dos atributos.

Ataques: Toque 25% - dano corrosivo 1d3, nos estátios terminais o dano corrosivo aumenta para 1d6. Garra 40%, 1d6 +db

Armor: 1 ponto de matéria putrefata a cada ponto de Tamanho perdido.

Spells: as magias que o mago possui em vida se mantêm.

Habilidades: uma pessoa sofrendo de Necrosis retém seus conhecimentos pré-existentes à doença. Entretanto, com a deterioração tornando-se mais grave, pode ser impossível utilizar certas habilidades, principalmente as motoras.

3 comentários:

  1. Fantástico artigo, Luciano! Mais uma contribuição magnífica para o horror dos jogadores de CoC!
    Duas perguntas:
    - o mago afetado pela doença poderia se livrar usando Mind Transfer e deixar um inocente condenado no seu corpo?
    - a magia Ressurrection não curaria a doença, já que ela produz um corpo novo? (nas autópsias parece um corpo que nunca foi "usado"
    Abraço!

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  2. Opa Daniel,

    Mind Transfer na minha opinião funcionaria, embora o mago tivesse de trocar de corpo original. Essa aliás seria uma forma bastante cruel de abandonar um pobre diabo em uma situação desesperadora.

    O culto que citei devotado ao Skinless Ones tem uma magia semelhante a Mind Transfer.

    Por outro lado, creio que Ressurrection não seria capaz de destruir a doença. Quando o indivíduo é trazido de volta através da dissolução dos Sais Perfeitos ele retorna nas condições que se encontrava no momento da morte. Se a doença existia naquela ocasião ela ainda existirá quando ele for trazido de volta dos mortos.

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  3. Isso se assemelha muito ao conto Vento Frio , do mestre HP lovecraft

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