terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Os Verdadeiros Caçadores da Arca (de Noé) - Em busca do artefato antediluviano


Artigo originalmente publicado em 06 de janeiro de 2011

Desde a antiguidade até os dias atuais a busca pelos restos físicos da Arca de Noé desperta a fascinação das pessoas.

A arca, um imenso barco de madeira, supostamente foi construída pelo Patriarca Noé segundo as especificações de Deus para que ele, sua família e amigos, além de um determinado número de animais sobrevivesse ao Dilúvio é um dos momentos mais conhecidos do Velho Testamento. Alguns o encaram como um símbolo da necessidade de preservação de todas as coisas vivas, outros como um momento fundamental na história da humanidade, narrado em várias culturas do planeta.

Mas a arca em si, a embarcação colossal construída por Noé e sua família, jamais foi encontrada. E sem a prova cabal, seja ela parte da embarcação ou algum artefato relacioado a ela, não se pode dizer com certeza que ela de fato tenha existido. A despeito dos rumores, lendas, indícios e das expedições enviadas em busca de provas materiais a arca permanece um mistério.


A imagem é de uma das regiões do Monte Ararat apontadas como local onde a arca teria encalhado quando o nível da água finalmente baixou.

O que poucas pessoas sabem é que ao longo da história muitas expedições de busca foram realizadas nas perigosas escarpas do Monte Ararat, na Turquia, local onde a embarcação teria encalhado quando a enchente diminuiu. Essas expedições foram muito mais comuns do que se pode imaginar, comprovando o fascínio que esta fábula exerce sobre a humanidade.

Lendas muito antigas relatam que o material da arca teria sido usado na construção da primeira cidade, erguida após o Dilúvio. E que por isso, nenhuma parte da embarcação teria sido encontrada.

O estudioso Beroso, escreveu no século III a.C., que a população que vivia nos arredores do Agri Dagi (um dos nomes do Monte Ararat, que em turco significa "Montanha da Dor") costumava subir o monte para apanhar pedaços de madeira para fazer amuletos. Ele afirmava que aquela madeira fazia parte da embarcação original que sobrevivera ao Dilúvio. Esses pedaços de madeira, na crença local, protegiam quem os usasse contra acidentes, sobretudo relacionados a chuvas, enxentes e contra o mar revolto.

À despeito disso, exploradores tentaram encontrar algum resquício que pudesse comprovar a Lenda. Marco Polo, o famoso viajante veneziano passou pela região no século XIII e relatou ter visto no topo de um monte inacessível restos de madeira trabalhada. Ele escreveu em seu diário de viagem que aqueles fragmentos de madeira em tamanha quantidade, espalhados por um platô só poderiam pertencer a algo grande, possivelmente uma embarcação. Segundo ele, os guias de sua caravana falavam daquele local, no alto de uma cordilheira como um lugar sagrado, onde Deus falava com os homens.



A Arca é desmontada após o fim do Cataclisma que varreu a Terra. Os pedaços de madeira são usados para a construção das cidades e para a recriação da civilização.

O primeiro registro de uma Expedição Científica ao local, data de 1829, dirigida pelo professor alemão Friedrich Parrot, que encontrou apenas uma cruz que teria sido construída com a madeira da arca. A cruz foi embarcada para a Europa, mas o navio em que ela era transportada naufragou no Mediterrâneo alimentando rumores de que a arca deveria ser deixada em seu lugar de descanso. Parrot voltou para a Turquia em 1833, sem encontrar coisa alguma. Ele escreveu, no entanto, que os habitantes da região afirmavam que os restos de Noé descansavam nas montanhas e que eles não deveriam ser perturbados. Dissuadido de prosseguir na exploração ele partiu logo depois.


Em 1876, o professor James Tackery de Oxford conseguiu chegar ao topo do Ararat. No ponto acima da linha das árvores, ele encontrou um pedaço de madeira talhado por ferramentas que presumiu se tratar de uma relíquia da arca. O pedaço de madeira, uma prancha lisa foi enviado para a Inglaterra e por algum tempo atraiu a atenção de curiosos, sendo exposta na Catedral de Saint Paul. Em 1889, o pedaço de madeira foi roubado e jamais foi visto novamente.  

Uma expedição otomana organizada em 1886 afirmou ter visto os restos da arca pouco antes de uma avalanche destruir o ponto em que ela estava localizada. A expedição de mapeamento teria consgeuido escavar a área e recuperar alguns artefatos ligados a mítica embarcação, entre os quais uma suposta âncora de pedra, semelhante a usada no período. O objeto jamais foi apresnetado, levantando suspeitas a cerca de sua veracidade.

Em 1892, o clérigo Dr. Nouri afirmou ter feito uma notável descoberta em uma caverna na região . Ele disse ter descoberto os restos preservados de uma embarcação presa no gelo. A história do sacerdote foi altamente contestada pois ele afirmava ter recebido uma ordem direta de Deus para não revelar a localização da Arca. Nouri afirmava que a Arca teria importância crucial em eventos que se desenrolariam na metade do século XX e queela novamente serviria ao propósito de preservar a humanidade de sua aniquilação.


Uma das poucas fotografias sobreviventes da alegada expedição russa ao Monte Ararat em 1916. O que eles teriam encontrado e o que teria sobrevivido? 

A mais fascinante narrativa a respeito de Expedições enviadas para o Monte Ararat ocorreu no ano de 1916. Segundo consta, um piloto da Força Aérea Imperial Russa sobrevoando as montanhas turcas teria avistado um estranho objeto no cume. O Czar Nicolau II, um religioso devoto, teria ouvido a estória e ordenou que o piloto fosse levado diante dele para relatar o que havia visto. Impressionado pela descrição, o monarca despachou para a região um efetivo de 150 homens para empreender a busca pelo artefato bíblico. Segundo alguns estudiosos, o czar acreditava que a descoberta de um artefato dessa natureza poderia mudar o panorama de crise na Rússia à beira da Revolução.

A expedição teria viajado em segredo e depois de semanas enfrentando a resistência tribal de armênios, logrou êxito ao chegar ao cume do Ararat. Lá, ainda segundo os rumores encontraram vestígios de uma embarcação "tão grande quanto um quarteirão". Amostras de madeira foram recolhidas e fotografias foram tiradas no local. A equipe retornou para São Petersburgo às vésperas da Revolução com os fabulosos tesouros do passado bíblico.

Durante a sangrenta Revolução Russa, esse material, que era mantido em um quartel teria sido destruídos pelos bolcheviques. A crença na Arca era intolerável para os revolucionários que desejavam eliminar qualquer crença religiosa. Algumas fotografias, no entanto, teriam sobrevivido e ficado em poder dos soviéticos por várias décadas. Rumores persistem que uma expedição soviética possa ter seguido os passos da original na década de 50, mas é difícil atestar qualquer coisa sem cair no reino da especulação.


Em 1978 arqueólogos turcos apresentaram uma pedra trabalhada, encontrada na região do Monte Ararat. A pedra além de estar polida em uma de suas extremidades se assemelhava bastante com as âncoras primitivas utilizadas pelos primeiros navegadores mediterrâneos. O artefato foi apontado como uma descoberta importante e alguns pesquisadores acreditam que esta poderia ser a âncora da Arca.

Em 1910, uma expedição britânica liderada pela arqueóloga Gertrude Bell se concentrou no Monte Djudi, a 300 quilômetros ao sul do Ararat. O monte é citado no Corão como tendo sido o lugar correto onde a arca encalhou. Pouco antes de concluir sua exploração, as relações entre Grã-Bretanha e o Império Turco se agravaram e a expedição foi convidada a se retirar. O governo da Turquia declarou a área como de interesse arqueológico e proibiu a realização de expedições estrangeiras.

Apenas em 1995, a área foi reaberta para expedições estrangeiras apesar dos levantes de separatistas curdos. Uma equipe americana nesse mesmo ano utilizando aparelhagem moderna de radar que permitia ver através das camadas do gelo descobriu o que parecia ser uma vasta caverna onde poderia estar escondida a arca.

A expedição segundo boatos contava com informações colhidas por satélites espiões da CIA que fizeram o mapeamento prévio da região. A agência americana obviamente não confirmou ou negou a possibilidade, ainda que ela não seja totalmente absurda visto que o Iraque fica a poucos quilômetros dali. Infelizmente as fotografias do satélite jamais foram divulgadas publicamente levando a crer que a estória não foi bem contada. Apesar dos recursos empreendidos na busca, a caverna se mostrou inacessível exceto através de uma longa e dispendiosa escavação que jamais foi levada adiante.

Novas expedições foram organizadas pelo governo turco, sendo que em 2004 uma enorme expedição seguiu para a região com o objetivo de encontrar indícios de uma vez por todas. Infelizmente a arca escapou uma vez mas do alcance dos arqueólogos e aparentemente ela continuará sendo um mistério para as próximas gerações.

3 comentários:

  1. Quem quiser uma versão fantástica (e com um toque de horror quase Lovecraftiano) da Arca, misturada com djinns, CIA, KGB e Guerra Fria, deveria ler o ótimo romance "Declare" de Tim Powers (cujo outro romance - "Strange Tides" - serviu de base para o Piratas do Caribe 4).

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  2. Excelentes dicas, tanto neste quanto no post anterior. Dá pra criar uma boa aventura com tantas informações.

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  3. Sim, dá mesmo... especialmente se o Keeper adotar a "teoria elemental" (argh!) de August W.Derleth, e imaginar que o Dilúvio foi causado por um Grande Antigo que corresponde ao elemento água.

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