quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Algernon Blackwood - O autor conhecido como Fantasmagórico

A assustadora fotografia que emoldura esse artigo é uma das últimas imagens de Algernon Blackwood, o homem que ganhou o justo apelido de "Fantasmagórico".

Nascido em 1869 em um pequeno vilarejo próximo de Londres, Blackwood talvez seja um dos mais notáveis escritores de horror de todos os tempos. Infelizmente, hoje ele não é tão lembrado quanto outros mestres de sua época. Para se ter uma idéia apenas uma ou duas de suas mais conhecidas estórias foram traduzidas para o português. Uma pena, pois, Blackwood deixou mais de 100 contos e estórias curtas que são verdadeiros clássicos da literatura fantástica.

A cara fúnebre e sisuda de poucos amigos engana. Ao longo da vida teve diversas ocupações: aventureiro, empreendedor, viajante, místico, apresentador de rádio e televisão para citar apenas algumas. Mas foi como ensaísta e depois autor que ele encontrou fama e reconhecimento. Blackwod escreveu ao longo de sua carreira mais de 10 antologias de contos sobrenaturais, muitos dos quais encenados no palco ou transmitidos por rádio e diversos romances de sucesso.

Quem o conheceu conta que em vida era um sujeito notável: educado, culto, sempre disposto a ouvir os fãs e trocar idéias com novos escritores em busca de conselhos sobre a carreira. Os personagens em seus contos eram um reflexo de si mesmo. Blackwood era um amante da vida selvagem, apreciava fazer trilhas, acampar e esquiar.

Um dos principais interesses de Blackwood eram os fantasmas. Vários de seus contos se dedicam a manifestações fantasmagóricas, tema que muito o fascinava. Amigos íntimos afirmam que ele acreditava no sobrenatural e frequentava círculos de discussão sobre o assunto como ouvinte e em algumas vezes como palestrante disposto a compartilhar suas teorias sobre o "mundo espectral". Ele fez parte de sociedades de estudo do sobrenatural como o Ghost Club e abordou o tema em seu romance "The Human Chord". Blackwood também fez parte da renomada Hermetic Order of the Golden Dawn, a mais famosa Sociedade Mística do século XIX.

Esse ano comemoramos 142 anos de nascimento de Algernon Blackwood, sua influência no gênero horror fantástico é imensa. Ela pode ser medida pelos elogios rasgados de H.P. Lovecraft em seu ensaio "O Horror Sobrenatural na Literatura":

"Menos intenso do que Machen ao delinear os extremos do pavor, mas infinitamente mais ligado à idéia de um mundo irreal influíndo no nosso, é o inspirado e prolífico Algernon Blackwood, em cuja obra volumosa e desigual, podem-se encontrar alguns dos melhores exemplos de literatura fantástica da época atual ou de qualquer outra. A qualidade do gênio de Blackwood nãopode ser posta em dúvida, pois ninguém sequer chegou perto do talento, seriedade e minudente exatidão com que ele registra as sugestões de estranheza em objetos e experiências ordinárias, ou o discernimento preternatural com que ele constrói, detalhe por detalhe as sensações e percepções que levam da realidade à existência ou a visão supranatural. Sem domínio notável da magia poética das simples palavras, é ele o mestre absoluto e indisputado da atmosfera espectral; e de um simples fragmento de descrição psicológica é capaz de invocar oque quase chega às dimensões de uma história. Melhor que qualquer outro ele compreende quão inteiramente, certas mentes sensitivas habitam perpetuamente as fronteiras do sonho, e quão relativamente tênue é a distinção entre as imagens formada a partir de objetos concretos e as que são excitadas pelo mecanismo da imaginação".

O que chama a atenção na obra de Blackwood é a forma como ele trata os lugares onde se passam suas estórias. Ele privilegia as paisagens campestres e áreas rurais intocadas do mundo, lugares imersos em uma essência primordial. Florestas densas, pântanos ermos, rios estagnados, montanhas rochosas que nunca foram exploradas pelo homem e onde ele não é bem vindo. A paisagem desenhada por Blackwood é quase um personagem atuante na trama, agindo como um organismo vivo que repudia a presença dos personagens. Blackwood não apenas descreve o ambiente, mas evoca uma sensação de ameaça pois tudo é absolutamente escuro, sinistro, assombroso.

A região pantanosa que cerca o Rio Danúbio em "Os Salgueiros" - seu conto mais famoso - é descrita como um verdadeiro inferno, repleto de sons e sensações perturbadoras. Não há escapatória desses bancos de areia cercados por água barrenta. Não por acaso "salgueiros" é considerada uma das 10 melhores estórias de horror sobrenatural de todos os tempos, e o conto favorito de Lovecraft.

Outra coisa interessante é que Blackwood lida com um tipo bem específico de horror: o pavor do desconhecido, daquilo que não pode ser compreendido, quantificado ou ponderado racionalmente. É sem dúvida um tema recorrente entre os autores do Mythos, mas Blackwood consegue se destacar ao tratar do assunto.

Os monstros que espreitam em suas estórias aparecem como vultos fantasmagóricos e presenças intangíveis que nunca são vistos inteiramente. Eles agem deixando apenas indícios de sua passagem e rastros de seu horror nada mais. Ele se dá ao luxo de jamais explicar o que são os seus horrores, o que querem, de onde surgiram... são horrores, são abominações e isso basta.

O leitor nunca sabe exatamente o que são as criaturas que habitam o pântano em "Os Salgueiros". O leitor jamais sabe o que deseja o Wendigo no conto de mesmo nome (possivelmente seu segundo mais conhecido conto). Mesmo em narrativas com um suposto motivo ou explicação como “The Glamour of the Snows,” “Ancient Sorceries” e “The Man Who Found Out,” simplesmente há muitas lacunas deixadas incompletas, muitos mistérios em aberto. Algo proposital como se não houvesse luz suficiente para iluminar as trevas do desconhecido.

3 comentários:

  1. Parabéns pela lembrança desse grandioso autor. Uma pena que não exista quase nada da sua obra traduzida para o português.
    Fui presenteado com uma coletânea chamada A CADA DO PASSADO, da editora Record. 2001. Segue o link da capa do livro.

    http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://bimg2.mlstatic.com/a-casa-do-passado-algernon-blackwood-editora-record_MLB-F-3264023520_102012.jpg&imgrefurl=http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-465066071-a-casa-do-passado-algernon-blackwood-editora-record-_JM&h=1200&w=790&sz=170&tbnid=y-2hMKvkgZtBoM:&tbnh=90&tbnw=59&zoom=1&usg=__ig7y1GeDZ2Bn7adPlWpUt1SVoVw=&docid=-4d22NZ5kQvLLM&sa=X&ei=KUDlUb_jGqjC4AOV5YG4Ag&ved=0CEMQ9QEwBQ&dur=23

    Zé Ricardo. Recife-PE

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  2. Um dos contos mais fodas dele é "Os salgueiros" simplesmente o conto mais foda que ja tive a oportunidade de ler

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  3. É um dos grandes mestres, pena a enorme lacuna das traduções em Português

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