terça-feira, 20 de setembro de 2011

Resenha | Conan - O Bárbaro (2011)

Esse final de semana assisti ao novo filme Conan, o Bárbaro. Como todos já devem ter percebido pelos artigos nessa última semana, sou um grande fã de Robert E. Howard e das histórias que ele escreveu, sobretudo aquelas que envolvem Conan. Por esse motivo, é claro, eu estava aguardando ansiosamente pelo filme.

Mas, é claro, eu vinha acompanhando as críticas destruidoras que o filme recebeu. Li uma série de resenhas e a maioria delas desanca com a produção. Frases como "pior coisa que eu já vi", "simplesmente ridículo" e "guarde seu dinheiro, evite esse filme à todo custo", são apenas alguns dos comentários que encontrei. Confesso que essa reação me deixou bastante preocupado.

Eu nunca esperei um filme sensacional. Jamais imaginei que ele seria um marco, uma obra definitiva, um divisor de águas - assim como o primeiro Conan não o é. O que eu esperava, e digo isso sinceramente é que o filme conseguisse cumprir a simples tarefa de ser divertido. Algo capaz de entreter e empolgar em alguns momentos.

Foi com esse espírito que resolvi assistir ao filme sem me deixar envenenar pelos comentários depreciativos. Quando o filme terminou cheguei a seguinte conclusão: Embora Conan não seja um filme de ação memorável, ele não é (nem de longe!) terrível como estão pintando. Não vou, contudo, eximir o filme de seus defeitos, eles existem e não são poucos.

O filme peca a começar pelo roteiro escrito por três roteiristas que aparentemente não conhecem à fundo o personagem título. O Conan que aparece no filme não é exatamente o bárbaro idealizado por Howard e terem mexido em sua gênese talvez tenha sido o maior dos problemas.

É impossível falar desse Conan 2011, sem fazer comparações com o filme original de 1982, por isso vou mencionar os dois e citar várias vezes as suas diferenças.

O primeiro ponto é que o foco central das estórias de Howard, a luta entre o barbarismo e a civilização, embate no qual o primeiro sempre sairá vitorioso, é tratado muito superficialmente. O filme original de 1982, com roteiro de Oliver Stone, conseguia compreender o tema ao estampar antes até dos créditos iniciais a frase de Nietzsche: "Aquilo que não me mata, fortalece". Conan era acima de tudo um sobrevivente, disposto a tudo para sair vivo, um sujeito que não se importa com regras, a não ser aquelas que ele mesmo faz. A versão 2011, faz de Conan um bárbaro que em certos momentos parece se desculpar por ser um bárbaro. Ele não demonstra desprezo para com a civilização. O Conan dessa nova versão chega a libertar escravos pois na sua opinião "nenhum homem deveria viver acorrentado".

Eu também não gostei da forma que o novo filme aborda os cimérios. Se no primeiro eles eram um povo rude e violento, que vivia e morria pela espada, neste eles parecem preocupados demais com laços de família. Antes eles eram um clã de guerreiros, agora eles são uma comunidade que fica horrorizada quando Conan ainda criança mata sem dó nem piedade um bando de saqueadores. Ou os caras são bárbaros ou não! Não dá para ser bárbaro só de vez em quando...

Mas não quero perder o fio da meada, voltemos ao roteiro. Eu me pergunto: "Será que seria tão difícil adaptar um dos contos originais escritos por Howard"?

Quer dizer; o sujeito escreveu verdadeiros clássicos do gênero Sword & Sorcery, então porque não adaptar uma dessas estórias ao invés de se arriscar criando uma nova? Os fãs iriam ao delírio com "Colosso Negro", "A Witch Shall be Born" ou mesmo o imortal "A Torre do Elefante", se qualquer um desses contos fosse adaptado para o cinema... mas não.

No início do filme, uma voz (a lá Morgan Freeman) apresenta a Era Hiboriana e uma tal "Máscara de Acheron", um artefato maligno, poderoso e o escambau, que no passado foi usado por uma raça antiga para tentar dominar o mundo. Tribos bárbaras lutaram contra o tal povo de Acheron (os caras maus) e conseguiram vencer. Ao invés de destruir a máscara, os vitoriosos, resolveram quebrá-la em várias partes e deixar um fragmento com cada tribo (o que poderia dar errado?). É claro, um desses fragmentos, fica em poder dos cimérios.

Corte na introdução e vemos Conan literalmente nascendo em um campo de batalha, quando seu pai, Corin (um envelhecido Ron Perlman usando um barbão épico, 100% poliester) faz uma cesariana com espada na própria esposa. A mulher morre para que Conan - um bebê meio mirrado - possa nascer.

O tempo passa e vemos o jovem Conan participando de algo que só pode ser definido como "parkour bárbaro" - atravessar uma floresta cheia de obstáculos carregando um ovo. O rapaz logo demonstra ter incríveis habilidades como guerreiro, a ponto de vencer inimigos adultos (os sempre confiáveis saqueadores pictos) com as mãos nuas. Apesar dessa façanha, seu pai acha que só quando ele aprender a controlar sua fúria (!?!) poderá se tornar um grande guerreiro (Sério mesmo? Ser um bárbaro furioso funcionou muito bem na hora de despachar cinco inimigos, mas o cara quer controle? Tá bom, vá lá...)


Não demora para que os Cimérios sejam atacados por um malvadão que está (pasmem!) tentando reaver as partes da máscara maldita. O vilão chamado Khalar Zym (Stephen Lang) pretende usar a máscara para ganhar poder (não brinca!), reviver a esposa morta (romântico ele) e se tornar um Deus (modesto também). Para auxiliá-lo nessa missão ele conta com a filha, Marique (Rose MacGowan) uma feiticeira esquisita com quem aparentemente mantém uma relação meio incestuosa.

Os cimérios são massacrados por Khalar Zym e seus homens, Conan é o único sobrevivente. Ele assiste a morte de Corin e jura sobre o cadáver um dia se vingar (tan-tan-tan!). Até aí nenhuma novidade, acho que nada disso é spoiler.

Khalar Zyn é um vilão meio convencional, embora ele não esteja ruim, não chega a empolgar e falta carisma ao personagem. Não sabemos muito a respeito dele: de onde veio, como ele se tornou líder de uma horda, porque os outros o servem... tudo isso fica meio que no ar sem uma resposta.

O tempo passa mais uma vez e quando Conan aparece novamente já se transformou no sujeito bombado que conhecemos como o Karl Drogo na série Game of Thrones. Vamos direto a pergunta que não quer calar: "Jason Momoa é um bom Conan"?

Uma coisa deve ser dita, o cara sua a camisa (não literalmente, já que está sempre sem ela) para fazer um bom Conan. Ele não decepciona no papel de bárbaro: mata tudo o que se move com desenvoltura, faz boas cenas de ação e luta, trata mal as mulheres e come tudo rápido fazendo questão de mastigar de boca aberta. Em termos de Hollywood é um bárbaro perfeito. Mas sem brincadeira, o ator se sai bem o bastante para não comprometer o filme. Acho até que se Momoa não tivesse sido escalado como Conan, muita gente iria reclamar e perguntar porque o sujeito que fez um clone do Conan em Game of Thrones não foi escalado para viver o próprio.

Seja como for, Conan descobre uma pista que o leva até Khalar Zym o que reascende nele o desejo de vingar a chacina de seu povo. Infelizmente Zym está prestes a conseguir cumprir a sua meta, tudo que ele precisa é encontrar uma mulher com sangue puro de Acheron para ativar a máscara maligna. A sua busca o leva até Tamara (Rachel Nichols), uma sacerdotiza que escapa da destruição de seu templo e dos bandidos graças ao próprio Conan.

A dupla então resolve unir forças e planeja uma maneira de deter os planos de Khalar Zym. Ao longo do filme há espaço de sobra para muitas lutas, vilões rosnando, grunhindo e praguejando, explosões e algumas cenas bacanas (em especial uma em que Conan devolve um dos bandidos ao seu patrão via aérea, usando uma catapulta).

As sequências de combate são bem coreografadas e se não apresentam grandes novidades também não são decepcionantes. Conan, o bárbaro como não poderia deixar de ser tem várias lutas de espada, sangue espirrando para todo o lado e membros sendo amputados. Um amigo achou meio fraco no quesito sangue e vísceras, mas o cara é fã de quanto mais sanguinolento melhor... ao meu ver estava dentro do esperado e o filme cumpre a premissa básica de mostrar um sujeito forte pra cacete batendo em inimigos até transformá-los em polpa. O que mais se poderia querer?

Em contra-partida se a porção Sword (espada) estava bem servida, a metade Sorcery (feitiçaria) deixou um pouco a desejar. Dois elementos essenciais no gênero são pouco explorados no filme: monstros medonhos e feitiçaria.

Embora o filme tenha um monstro até bacana que surge metade final, tudo o que aparece da criatura são os tentáculos tentando agarrar os personagens e esmagá-los. Poxa, se uma série de tentáculos aparecem e dão trabalho, espera-se que mais cedo ou mais tarde o dono desses mesmos tentáculos apareça em toda sua glória, não importa se vai ser tosco ou não. Mas a cena acaba sem o mostro dar as caras o que é meio frustrante. Parece que não rolou verba para o bicharoco ser feito em CGI.

A filha do Khalar Zym, até faz uma boa bruxa (de longe é melhor vilã que o pai) mas a personagem é pouco explorada e fica meio que perdida na trama. Parece que ela vai ter um papel fundamental em algum momento da história, mas ela acaba sendo desperdiçada como apenas mais um dos bandidos. Uma pena pois a atriz consegue chamar a atenção pela bizarrice, seria muito mais proveitoso se concentrar nela do que na mocinha da estória, enjoadinha pacas, apesar de Conan não dispensar uns malhos nela.

Bom, o final do filme não tem lá grandes surpresas, as coisas acontecem da forma que você imagina que vão acontecer e tudo caminha para um desfecho previsível com a óbvia luta final em que o personagem principal vai ter a sua vingança e os bandidos vão acabar se ferrando feio.

Conan, o bárbaro é dirigido por Marcus Nispel cujas credenciais incluem a sofrida adaptação de Sexta Feira 13 e o "épico" Pathfinder - onde vikings e índios se enfrentam. Algum produtor deve ter achado isso o suficiente e passaram Conan para as mãos dele. Ao meu ver bem que poderia ter sobrado para alguém mais experiente capaz de construir um roteiro melhor.

Fui ver esse filme sem nenhuma espectativa, e apesar das limitações, Conan consegue ser um filme divertido. Ele passa longe do original que contava com um roteiro amarrado, trilha sonora grandiosa de Basil Polidorius (um clássico para mesas de D&D) e um certo ator de nome complicado que logo iria virar estrela dos filmes de ação. De qualquer forma, o meu maior temor - que o filme fosse uma versão infantilóide ao estilo "O Escorpião Rei" - graças à Crom, não se confirmou.

Conan é uma aventura descompromissada com o mesmo pedigree dos filmes que passavam na sessão da tarde nos bons e velhos tempos. Se você está disposto a desligar o cérebro por quase duas horas enquanto assiste um cara matando 4/5 dos personagens em cena, então pode assistir sem medo.

Confiram o Trailer legendado:

12 comentários:

  1. Concordo com vc 100%! Com tantas histórias do próprio Howard ou as da Marvel, por que os caras teimam em criar plots estranhos, manjados e aquem da canone do Conan. Senti falta de mostrarem lugares ícones como a Aquilonia, ou sitarem mais os deuses. Salvo um dos bandidos clamar o nome do Mitra, nada é dito no filme. E nem sei quem são aqueles monjes (embora confesso que não conheço muito do canone hiboriano). Mas gostei quando o amigo pirata do Conan faz propaganda dele citando sua aventura na Torre do Elefante.

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  2. Acho que os monges ficavam em Argos. A historia gira em Zingara, Argos e Shem. O mais engraçados é ele falar que a cidade dos ladrões ficava em Asgalum e na realidade é em Shadizar. Achei que os caras não leram nada da era hiboriana e jogaram a história ali. Para quem não conhece o universo do Conan, vai achar um bom filme, mas para quem é fã, ignore tudo sobre raças, regiões, religiões e finja que é realmente o Conan está ali no filme

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  3. Pois é, Max

    faltou o tradicional "Por Crom!" ou mesmo o "Crom, conte seus mortos!" bradado em um acesso de fúria.

    A citação à Torre do Elefante é um dos únics acens do roteiro ao Universo Hiboriano, no mais a história podia se passar em qualquer mundo genérico de fantasia. Os caras não parecem realmente conhecer a mitologia de Conan.

    É engraçado como o Conan vai de um reino para outro rapidinho, nego ali nunca viu um mapa do continente hiboriano... e o Rodrigo chamou a atenção para essa bobagem de chamar Asgalum de cidade dos ladrões, eu nem tinha reparado mas é verdade.

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  4. Olá !

    Primeiro: parabéns pelo blogue - cheguei aqui por indicação de um amigo. Fantástico.

    É a versão do Conan da era politicamente correcta , só falta ter preocupações ecológicas...

    "Será que seria tão difícil adaptar um dos contos originais escritos por Howard"?

    Eu penso que que sim.

    Já viu alguma adaptação boa para o cinema da obra de Poe ou Lovecraft ? Eu não. Só ouvi falar de que seria uma obra interessante "O Corvo" do Roger Corman.

    abraços !!

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  5. Muito bacana a resenha! De fato é um filme divertido, vale a pena ser assistido. Apesar das "liberdades" de caracterização em relação ao personagem, fiquei satisfeita com a forma como o personagem apareceu, temia que coisas muito piores pudessem ter sido feitas. Confesso que não sei muito sobre o universo de Conan, me limito a leitura de alguns gibis e ao filme de 82, por isso não posso tecer considerações mais profundas. Mas o que mais senti falta foi a trilha sonora maravilhosa de Basil Poledouris, em contraponto à apagada trilha deste Conan de 2011. Na cena da forja da espada eu não conseguia para de lembrar da espetacular "The Anvil of Crom".

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  6. Mas bem, graças a Mitra ao menos esse Conan não virou um Kull (aquele com o Kevin "HErcules" Sorbo) ou mesmo um Escorpião Rei. AInda não assisti ao filme do Somolon Kane, alguem pode me dizer se é bom, ou ao menos vale a pena?

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  7. Max, eu gostei do filme do Salomão Kane, embora o personagem tenha sofrido algumas mudanças também para torná-lo menos fanático religioso que originalmente é.

    O filme tem altos e baixos, mas umas idéias boas. Se não me engano ele está passando na TV à cabo, vale à pena conferir.

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  8. Eu amo o personagem Conan, tenho livros HQs e HQs digitais, enfim... passada a apresentação, eu tb assisti o filme, li as resenhas que fizeram e me assutei com tantas críticas, mas olha, o seu texto está bem REAL, é bem isso mesmo, o filme não é uma maravilha mas tb não é tão ruim como estão falando. Eu acredito que os argumentistas tenham até tido a intensão de seguir os HQs. Bom, como sugestão de conto para filme, meu voto vai para a Rainha da Costa Negra, pois das mulheres de Conan, a Belit é minha preferida! Abraços

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  9. Eu só não concordo com a alegação de que o primeiro filme do Conan é melhor. O filme de 2011, se não se chama-se Conan, nem seria um filme ruím, o problema é o nome e a responsabilidade que o nome carrega, isso torna o filme fraco.
    O primeiro filme só tem trilha sonora, o resto é uma droga.

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  10. O primeiro filme não é essa droga toda, o roteiro é razoável e temos James Earl Jones... sem contar que o SEGUNDO FILME, Conan: o Destruidor, este sim é uma aventura de fim de semana malfeitinha! Mas que a gente assiste se divertindo e... rindo.

    ... o que eu fico puto nas comparações que vejo por aí não são as entre os filmes e sim entre os atores: PQP, Jason Momoa parece muito mais Conan do que Schwarzenegger, é o Cimério de Bronze mesmo, enquanto Arnold tem cara de retardado, ainda mais em sua primeira atuação!!! Ele só foi escalado pq era Mr. Universo. Não basta ser pocadão pra ser Conan.

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  11. Exceleeente filme, excelente roteiro, excelentes atores.

    Ninguem aqui é crítico foda de cinema, a gente assiste pra se divertir.. e eu me diverti muito assistindo.

    Realmente vale a pena! Tomara que tenha mais! hehe

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  12. Sou fã do Conan, colecionava as histórias da espada selvagem e acho que não tem nem comparação o filme de 82 com o de agora, esse é muito inferior até mesmo ao conan o destruidor de 87, é uma pena, eu ainda acho que um conan rei com o shwarza iria ser muito melhor e com a direção do John Millius ...

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