sexta-feira, 4 de maio de 2012

Arquitetura do Impossível - Explorando a tenebrosa cidadela de R'Lyeh, o lar do Grande Cthulhu



Mencionada em vários textos de conteúdo arcano e compêndios esotéricos ligados ao Mythos, a tenebrosa cidadela submersa de R'Lyeh (fala-se Riliê) é a morada de Cthulhu e sua horda.

Localizada nas coordenadas 47 9' S, 126 43" W no Pacífico Sul, há diferentes interpretações à respeito do tamanho e forma da cidade. Em alguns textos é dito que R'lyeh fica em uma grande ilha com quilômetros de extensão, em outros ela é tratada como uma cidade tão vasta que atinge proporções condizentes em tamanho a um continente. É possível que as várias interpretações sejam decorrentes de experiências oníricas que raramente são fontes perfeitas.

Também são muitas as interpretações sobre o que representa R'Lyeh. É consenso entretanto que a cidade foi contruída por Cthulhu e seus seguidores no momento em que estes chegaram a Terra há milhões de anos no passado. Nunca ficou claro se a Ilha/Continente já existia ou se Cthulhu foi o responsável por trazer a massa de terra onde a cidadela seria erigida das profundezas. Segundo alguns textos religiosos escritos pela raça dos abissais, R'Lyeh seria o local original de nascimento de sua espécie, oferecido a Cthulhu como presente pelo povo submarino. Cthulhu teria ordenado que a cidadela se erguesse das profundezas e fosse moldada para servir como sua morada.

Alguns estudiosos do Mythos afirmam ainda que R'Lyeh teria sido construída com um propósito muito mais prático: defender Cthulhu de seus inimigos. Quando o Grande Antigo chegou à Terra, imediatamente entrou em guerra com a Raça Ancestral (Elder Things) que já habitava o planeta há muito tempo. R'Lyeh era um baluarte inconquistável, uma base de onde o Grande Cthulhu podia coordenar suas crias estelares no esforço de guerra.

Painéis com qualidade artística executados pela Raça Ancestral e encontrados em sua cidade Antártida mostram R'Lyeh como uma espécie de fortificação. A capital e porque não dizer, cabeça de ponte usada por Cthulhu em sua missão de conquista. Os painéis mostram cenas da titânica guerra com milhares de seres da raça ancestral e gigantescos Shoggoths investindo contra as muralhas esverdeadas da cidadela, defendidas por Crias de Cthulhu. exércitos de abissais e outras monstruosidades indescritíveis.

A construção de R'Lyeh parece ter sido empreendida pelas próprias crias estelares (gigantes semelhantes ao próprio Cthulhu também chamados de Xothianos). A matéria prima de R'Lyeh é composta de rochas extremamente resistentes removidas dos abismos submarinos. Tais pedras ciclópicas de coloração esverdeada foram talhadas pelos servos de Cthulhu em forma de blocos gigantescos de várias toneladas. Em seguida foram ordenados em uma grandiosa muralha compondo a primeira defensa da cidadela. Atrás destas muralhas, haviam outras construções: prédios, templos, obeliscos cujo propósito só podemos supor. É justo no entanto afirmar que em seu auge, R'Lyeh hospedou a maioria dos Xothianos que acompanharam Cthulhu em sua peregrinação espacial.

Os abissais foram responsáveis por adornar R'Lyeh com colunas, estátuas, baixo-relevos e elevados. Foram eles também que cobriram as paredes dos prédios com curiosos textos hieroglifos (os Glifos de R'Lyeh) que constituem um testemunho indecifrável dessa época ancestral. Inúmeras estátuas do Grande Cthulhu se espalham por R'Lyeh, algumas com perturbador realismo que fazem com que o observador imagine estar diante do próprio Lorde da Cidadela Morta.

Uma das características essenciais de R'Lyeh diz respeito a sua arquitetura absolutamente alienígena. A geometria não-Euclidiana utilizada pelos xothianos não faz sentido para a mente humana. É virtualmente impossível entender os conceitos ou a maneira como pórticos, arcos e linhas foram concebidos, de um ponto de vista humano a cidade parece um amontoado de passagens e construções que desafiam a noção de normalidade. Vagando pelas tortuosas ruas de R'Lyeh é impossível saber se está subindo ou descendo, se uma escada conduz ao topo de uma estrutura ou para o pavimento inferior, se o lado é o direito ou esquerdo. É possível anndar por uma pviela e se distanciar do ponto para onde se está seguindo. Plataformas e escadarias que cruzam a cidade de um lado a outro se erguem em ângulos inconcebíveis e a base de construções gigantescas parecem incapazes de conter tamanho peso. Estudar a bizarra arquitetura de R'Lyeh por algum tempo pode levar uma pessoa a loucura. A mente humana não está preparada para conceitos que extrapolam a noção de três dimensões e a exposição prolongada a essas condições pode causar desorientação, náusea e confusão mental. Em alguns casos a condição pode ser permanente e a vítima vir a sofrer de agorafobia até o fim da vida.

Através dos manuscritos  sabe-se que uma catástrofe atingiu R'Lyeh em algum momento do passado remoto da Terra, possivelmente por volta de 850 milhões de anos atrás. A causa desse cataclisma pode ter sido um evento astronômico, o dramático resultado da Guerra contra os Deuses Antigos (Elder Gods) ou uma arma secreta desconhecida da Raça Ancestral.

Seja qual for a razão, R'Lyeh afundou sob as ondas do Oceano Pacífico, tornando-se um sepulcro para Cthulhu e seus seguidores. Esse evento de proporções cósmicas, implicou em um efeito imediato que forçou o Grande Cthulhu a um estado de hibernação. Nessa condição ele dorrme profundamente, dando a falsa sensação de que está morto, mas nem mesmo o passar das eras pode declarar a morte de Cthulhu. Esse é aliás um dos mantras repetidos à exaustão pelos cultistas ao redor do mundo: "

"Não está morto o que pode eternamente jazer,
e em incontáveis eras, mesmo a morte pode morrer

Em seu sepulcro na arruinada R'Lyeh,
o morto Cthulhu aguarda, sonhando".


Embora R'Lyeh tenha submergido, certas condições específicas fazem com que a cidadela venha à superfície de tempos em tempos. Em períodos pré-determinados por alinhamentos estelares, R'Lyeh rompe a superfície e surge em sua explendorosa glória. Quando isso ocorre, as emanações telepáticas do Grande Cthulhu se tornam mais poderosas levando a levantes de fervor religioso, insanidade em massa e distúrbios naturais ao redor do mundo. A última vez que R'Lyeh emergiu foi em 1925 e o acontecimento foi relatado no trabalho redigido pelo Professor George Gammell Angell da Universidade Brown, bem como na Narrativa de Johansen, o capitão do navio Alert, cuja tripulação explorou pessoalmente a cidadela.

A maioria das descrições de R'Lyeh são aliás originárias dessas duas fontes.

Os devaneios causados pelas emanações telepáticas do Grande Cthulhu em tempos de estrelas favoráveis, permite que o Deus toque a mentes de pessoas sensíveis, enviando a elas sugestões e visões bastante nítidas de seu lar submerso. Essas pessoas sonham com o surgimento de R'Lyeh das profundezas e com a exploração de suas ruas e arquitetura. Não raramente essas mesmas pessoas experimentam um surto de inspiração artística macabra que as leva a compor, escrever, pintar ou moldar peças baseadas nas visões que experimentaram.

A outra fonte de informações sobre R'Lyeh decorre de lendas compartilhadas por marinheiros e velhos homens do mar. No folclore marítimo existe uma infinidade de estórias sobre cidades submersas que rompem a superfície atraíndo navios e tripulações para um terrível destino. Em se tratando de R'Lyeh, não poderia haver destino mais mortal.

Segundo a descrição de Johansen, R'Lyeh é uma ilha com aproximadamente 20 quilômetros de lado a lado. Várias praias e baías surgem recortadas na costa tomada por densa concentração de algas e sargasso tão espesso que em certos pontos pode suportar o peso de um homem adulto. Essa vegetação marinha de coloração verde-oliva adere a qualquer superfície como piche. Quando atingida pelo sol, as algas ressecam rapidamente exalando um odor profundo de corrupção.

A cidadela colossal jaz construída na base de uma rocha plana que faz parte de um mega-platô obsidiano com vários aclives e declives. A muralha que cerca a cidadela foi erguida com imensos blocos de pedra de coloração verde doentia e é dotada de passagens ogivais com mais de 20 metros de altura. Guiar-se pelo local é desconcertante devido ao tamanho titânico dos degraus e escadas que precisam ser galgados, sem falar na arquitetura enloquecedora. O interior de R'Lyeh é pavimentado com paralelepípedos úmidos e gotejante, coberto de algas, limo, sargasso e animais trazidos das profundezas. Imensas piscinas se formam em depressões mais profundas e vias são inundadas pela água salgada.

Os prédios em ruínas com enormes domos abaulados, torreões com horrendas gárgulas acocoradas e portões arqueados ocultam interiores sombrios de escuridão quase indevassável. Sons guturais podem ser ouvidos emergindo desses interiores pérfidos. Em alguns momentos cânticos blasfemos que não poderiam ser produzidos por gargantas humanas emergem em sussurros vindos do interior de fossos escuros. Esses prédios decrépitos são o lar de formas de vida ancestrais: xothianos, mestiços dos Abissais e possivelmente crias do próprio Grande Cthulhu como Ghatanathoa e Zoth-Ommog. Aqueles que exploram esses lugares raramente retornam, embora haja rumores sobre tesouros submersos e relíquias como nunca antes vistas cobrindo o chão desses antros imemoriais.

Os arredores de R'Lyeh possuem áreas fervilhando com formas de energia desconhecidas. Pináculos são iluminados por eletricidade que serpenteia de um lado para o outro como se fosse algo vivo e pulsante. Por vezes, raios são atraídos do céu e captados por essas estruturas. Descargas elétricas viajam de um pináculo para outro criando faíscas selvagens que iluminam a paisagem com um fulgor sobrenatural. Indivíduos atingidos por essas descargas desaparecem de imediato. Já foi conjecturado que esse é um sofisticado sistema que permite se locomover de um extremo da cidadela para outro através da dissolução dos átomos. A teoria contudo jamais foi comprovada pois ninguém atingido foi visto novamente.

Há rumores que guardiões especialmente designados para proteger R'Lyeh habitam cavernas e grutas na base da ilha. Tais criaturas amorfas vagam pelos dutos inundados ou se esgueiram pela fachada dos prédios em ruínas, dispostos a agarrar e puxar os invasores para o interior de um dos prédios amaldiçoados. Tais criaturas destituídas de vontade própria podem muito bem ser descendentes de Shoggoths capturados e alterados pela ciência e magia dos abissais. Em uma narrativa, parte da tripulação de um navio desembarca para explorar a ilha e (certamente) após viver situações desesperadoras retorna apenas para enccontrar seus companheiros mortos e a embarcação destruída.   

A mais magnífica construção da cidadela se ergue no alto de uma espécie de palatino ladeado por duas dúzias de obeliscos de pedra escura perfilados. Estranhos símbolos foram esculpidos nestes obeliscos que descrevem toda a história de R'Lyeh. O que torna esse prédio singular é a aura de maldade, ameaça e simbolismo profano que a permeia. Trata-se do Sepulcro do Grande Cthulhu que dorme por detrás de colossais portões maciços adornados pelo Elder Sign.

A menor perturbação dessas portas desperta Cthulhu e faz com que ele busque punir aqueles tolos o bastante para interromper seu sono. Em 1925, quando o deus adormecido despertou pela última vez, parte da tripulação do Alert foi varrida pelas garras inclementes de Cthulhu enquanto os demais enlouqueciam.

Sabe-se que R'Lyeh está fadada a emergir um dia em caráter permanente, mas até essa data fatídica, a cidadela ou partes dela aparecem por curtos períodos de tempo. Algumas horas ou até mesmo alguns dias. Ao retornar para seu lugar de descanso nas profundezas, a submersão causa fortes ondas que viajam velozmente podendo se tornar tsunamis devstadores. Já foram feitas especulações de que o tsunami que atingiu  mar do sul da China em 1782 (deixando mais de 70 mil mortos) possa ter sido causado pela submersão de R'Lyeh.

Não podemos imaginar quando a cidadela virá à tona novamente, mas quando acontecer é claro, sua presença nefasta se fará sentir não apenas no Pacífico Sul, mas na mente dos homens.

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