domingo, 30 de setembro de 2012

Horror Hardcore: O Sorriso Sangrento


O Demônio manipula os cordões que nos faz dançar;
Cada um de nós extraímos um prazer secreto dessas cenas grotescas;
Uma antecipação do inferno para adoçar a vida,
E não sentimos nenhum remorso em apreciar esse Horror
.”
―  Jean Lorrain

Cthulhu é uma ambientação de Horror.

Pesadelos, sustos, agonia, suspense, medo... tudo isso faz parte de um cenário dedicado ao Mythos e ao horror cósmico lovecraftiano.

Há alguns anos criei em um fórum de RPG, um tópico com o título "Horror Hardcore" que reunia narrativas e trechos tirados de aventuras que eu mestrei ou joguei nos últimos tempos. A idéia era relacionar os momentos mais assustadores, mais impressionantes, bizarros e perturbadores possíveis.

Eu me recordo de ter escrito umas cinco ou seis cenas romanceadas e alguns colegas acompanharam a idéia enviando suas próprias narrativas aterradoras. Infelizmente essas mensagens acabaram se perdendo e eu pensei que não as veria mais.

Porém, nosso parceiro Leandro R. Fernandes tal qual um Joseph Curwen usando sais essenciais, realizou uma magia de ressurreição salvando o tópico. Ele fez a gentileza de me enviar essas postagens para que eu pudesse reviver o "Horror Hardcore" aqui no Mundo Tentacular.

A idéia é publicar essas e novas postagens sempre no último dia de cada mês, fechando assim as postagens mensais com um pequeno fragmento de horror. Se a idéia tiver uma boa aceitação, mês que vem tem mais.

Então, sem mais delongas, a primeira narrativa do "Horror Hardcore".


Em uma aventura no País de Gales, os investigadores estavam buscando pistas a respeito de uma bruxa morta há séculos. Aos poucos, foi ficando evidente que algo nefasto estava agindo contra um amigo do grupo, um descendente direto de um Juiz que havia caçado, julgado e sentenciado a tal bruxa a morrer na fogueira. O grupo se hospedou na casa desse amigo, prometendo investigar ocorrências sobrenaturais. Bastaram alguns dias para compreender que forças diabólicas estavam em ação.

Na terceira noite na casa, um dos investigadores dormia tranquilamente em sua cama. Durante a madrugada ele acordou sentindo um estranho desconforto, ao buscar uma melhor posição percebeu horrorizado que estava imobilizado. Seus membros haviam sido atados com cordas finas mas incrivelmente resistentes. Ao tentar chamar por ajuda, um exército de pequenas criaturas humanóides saltou sobre seu corpo. Eram pequenos, como bonecos construídos com argila. Sem feições. Imediatamente estórias do folclore gaulês sobre os pequenos servos das bruxas: os diabretes, passaram por sua mente.

Ele sentiu outra corda apertando sobre seu peito imobilizando-o completamente. Por mais força que fizesse, não conseguia arrebentar o filamento. Desesperado chamou seus companheiros, assistindo incrédulo o trabalho dos pequenos seres que juntos conseguiam mantê-lo cativo e impotente.

Ao tentar chamar mais uma vez por ajuda, dois diabretes passaram por sua boca uma mordaça feita de pano. Eles puxaram em conjunto o tecido para baixo calando sua vítima. Os dentes ficaram então a mostra para a conclusão da sangrenta tarefa. Logo duas das pequenas criaturas se apresentaram caminhando sobre o peito arfante do investigador. Lágrimas escorriam de seus olhos. Um dos diabretes se aproximou carregando um prego enquanto outros tantos mantinham sua cabeça imóvel. A criatura posicionou o prego enferrujado sobre um dos dentes, a ponta incidindo contra a gengiva causando indescritível agonia. Em seguida um segundo diabrete tomou lugar ao lado do primeiro. Carregava uma tosca ferramenta, que lembrava um martelo. O investigador tentou uma última vez se libertar, mas as cordas não cederam. O martelo foi erguido, parecia pesado nas mãos do monstrinho diabólico. Um supremo momento de desespero se apossou dele. Em seguida a ferramenta desceu sobre a cabeça do prego. BANG!

Ao amanhecer, os outros deram pela falta de seu companheiro na mesa do café da manhã. Subiram e descobriram a porta do quarto trancada. Bateram e não houve resposta, apenas murmúrios. Ao arrombar a porta encontraram seu companheiro deitado na cama. Cordas ainda o imobilizavam e ele soluçava baixo... a cama revolta estava tingida de vermelho. Saliva e sangue se misturaram, ensopando um pedaço de pano largado no chão.

Foi então que ele moveu a cabeça e nenhum de seus companheiros jamais esquecerá a expressão de suprema loucura ao cruzar com seus olhos assombrados. Seu rosto pálido, os cabelos desgrenhados e a boca escancarada em um sorriso sangrento como uma ferida aberta. Uma fossa gorgolejante pingando sangue. Não haviam restado dentes, apenas fragmentos irregulares e pontiagudos pendendo nas gengivas feridas. 

As criaturas vieram e se foram em silêncio, levando consigo seus prêmios macabros, conquistados a golpes de martelo.

5 comentários:

  1. É mto legal quando eu percebo tarde demais que não deveria estar lendo algo enquanto janto...

    Mas queria ver a reação do jogador enquanto ouvia o que estava acontecendo com o seu personagem. Sensacional.

    ResponderExcluir
  2. Vish... Bem legal.
    Aposto q o jogador ficou bem desconfortavel com a descrição da "operação"
    hehehehe

    ResponderExcluir
  3. Muito Brutal! Eu sabia que não deveria ter lido isso alguns minutos antes de dormir. Hoje eu não durmo mais.

    ResponderExcluir
  4. Eu dei uma lida no post ontem, parando de ler quando você iria começar a história. Eu pensei: "Ah, vou deixar para depois", um momento comum do meu cotidiano em que procrastino algo. Ok. Dito e feito, hoje, estando sem nada para fazer entrei no seu blog para ler alguma possível atualização e não encontrando, resolvi ler o conto. E mano, que merda é essa? Sério, eu senti meus dentes quebrando - tá, nem tanto. Mais você conseguiu evocar em mim uma sensação de filme de horror quando se depara com uma cena brutal.


    Muito bom.

    ResponderExcluir