quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Será que estamos enlouquecendo"? - O horror do cotidiano é maior do que qualquer horror fictício


Este é um blog dedicado ao horror e nos esforçamos para criar estórias assustadoras e narrativas aterradoras baseadas no universo criado por H.P. Lovecraft e seus seguidores. Tudo ficção, é claro...

Entretanto, nos últimos meses tem sido difícil competir com as coisas que vem acontecendo no mundo real.

Basta abrir o jornal para se deparar com notícias absolutamente chocantes que superam aquilo que consideramos mais assustador, bizarro, horrível, inacreditável...

Que tal alguns exemplos?

As notícias à seguir são verdadeiras, elas foram colhidas em jornais e sites. Algumas podem ser bastante perturbadoras então aqueles sensíveis deveriam considerar duas vezes sua leitura.

1) Em março, um cidadão japonês afirmando ter o direito de se tornar um eunuco, candidatou-se a uma cirurgia com o objetivo de remover seu pênis e testículos. Ele conseguiu na justiça o direito de manter para si os órgãos amputados, em seguida os congelou e levou a leilão através de uma página na internet. O sujeito cortou pessoalmente os restos em tiras, os cozinhou e ofereceu para um grupo de convidados que pagou cerca de 20 mil dólares pela exótica refeição. Aparentemente no Japão, uma nação evoluída, canibalismo não é ilegal e no entender das autoridades nenhum crime foi cometido.

2) No início de maio, 49 corpos foram encontrados no Norte do México a cerca de 180 quilômetros da fronteira com os Estados Unidos. Os corpos foram decapitados e desfigurados, as mãos foram arrancadas para dificultar a identificação dos mortos. Vários corpos tinham horríveis sinais de tortura e pelo menos cinco das vítimas apresentavam ferimentos condizentes com crucificação. Outros corpos foram dispostos em cavaletes na beira da estrada, lembrando as imagens de guerra retratadas por Goya. O horrível massacre parece ter sido promovido pelo cartel de drogas Los Zetas, conhecido pela violência e brutalidade.

3) No dia 15 de maio, uma mulher de 33 anos tomada por um aparente surto psicótico apanhou uma arma de fogo e disparou contra seus quatro filhos na cidade de Port St John na Flórida. Ela assassinou as crianças com idade entre 12 e 17 antes de cometer suicídio. Os vizinhos descreveram a família como "normal". A tragédia fez com que a cidade lembrasse de um massacre semelhante ocorrido em 1987, quando uma mulher matou seus quatro filhos e ainda dois policiais em um frenesi assassino.

E quem pensa que essas coisas ocorrem apenas longe daqui está muito enganado...

4) Em janeiro, o corpo de uma dona de casa foi encontrado nos arredores de Mairiporã na Grande São Paulo. A polícia trabalha com a hipótese de que ela tenha sido assassinada em uma espécie de ritual de magia negra uma vez que o rosto foi desfigurado e os olhos arrancados. Os pertences e o dinheiro da vítima não foram levados. A morte foi causada por um longo corte no pescoço feito por uma faca muito afiada. O cadáver foi abandonado sobre uma pedra com pernas e braços abertos em uma posição incomum que sugere ter sido preparada.

5) Também no início do ano, na cidade de Pires do Rio em Goiás, um grupo de usuários de drogas envolvido com rituais de algo que eles chamavam de feitiçaria, promoveu o sacrifício de um de seus membros. O homem de 32 anos foi amarrado e em seguida executado, seu coração e fígado arrancados e comidos pelos seus companheiros em meio ao que foi descrito como um ritual macabro. O cadáver foi encontrado duas semanas depois nas margens de um córrego. A polícia prendeu essa semana quatro suspeitos que estão sob custódia em presídios de Goiânia e Minas Gerais.

6) Em abril um caso dantesco ocorrido em Garanhúns, interior de Pernambuco ganhou notoriedade na imprensa nacional e nas redes sociais. Três pessoas (um homem e duas mulheres) foram presos acusados de ter assassinado mulheres em sacrifícios numa espécie de ritual de purificação. O trio acreditava que os sacrifícios serviam como uma forma de salvar as mulheres consideradas impuras. Eles haviam sequestrado e estavam criando uma criança de cinco anos, filha de sua primeira vítima. Mais chocantes eram os mórbidos detalhes por detrás dos crimes: o grupo escolhia suas vítimas seguindo um critério específico, as mulheres eram mortas em uma espécie de ritual pseudo-religioso idealizado pelo líder do bando com claras inspirações messiânicas. Os restos das vítimas eram esquartejados e enterrados no quintal da casa mas uma parte era comida pelo grupo. Eles confessaram ainda que usavam restos humanos no preparo de empadas que eram vendidas pelas ruas da cidade.  

É chocante como casos dessa natureza se sucedem, ganham as manchetes e logo em seguida desaparecem, substituídos por outros acontecimentos ainda mais bizarros... podemos conjecturar que estamos ficando indiferentes diante dessas coisas. Que estamos perdendo a sensibilidade diante desse horror cada vez mais cotidiano.

Seria esse um sinal da decadência da sociedade ocidental ou apenas uma onda de bizarrice difundida de forma sensacionalista pela imprensa interessada em alimentar um público ávido por notícias. Não é de hoje que lemos notícias medonhas sobre bebês arrancados do ventre das próprias mães, sobre terroristas decapitando reféns, homens bomba explodindo e massacres em universidades. Assassinos em série existiam mesmo antes de Jack, o estripador, ditadores como Idi Amin entregavam seus desafetos a crocodilos famintos e criminosos violentos sempre estiveram presentes na história da humanidade. Mas em uma época de suposta evolução, progresso social e avanço tecnológico, será que esses acontecimentos podem ser considerados normais?

Em tempo: esses dias outra notícia bizarra foi amplamente difundida pela internet. Um homem aparentemente sob o efeito de uma nova e devastadora droga sintética foi morto por policiais na beira de uma auto-estrada nos arredores de Miami. O sujeito nu e enlouquecido, foi surpreendido mordendo o rosto de um morador de rua e arrancando pedaços inteiros de sua face que eram devorados vorzamente. O policial que chegou a cena do crime deu ordem para que o homem largasse o outro, mas mesmo depois de baleado ele continuou o ataque selvagem. O agressor só foi detido depois de ser alvejado mais quatro vezes. A vítima foi removida para um hospital em estado crítico. Ele teve 85% do rosto desfigurado pelo seu agressor, perdendo orelhas, nariz, lábios e um dos olhos.  

É o horror nosso de cada dia ganhando uma forma cada vez mais sombria.

Nota: A imagem no alto desse artigo é uma obra do pintor anglo-suíço John Henry Fuseli, chamada "The Nightmare" (O Pesadelo). Eu guardo essa imagem já faz um tempo, tencionando usá-la em algum artigo especialmente assustador. Bem, esse parece o mais adequado.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mesa Tentacular: A Fossa do Diabo no Primeiro Evento do Dungeon Carioca

Esse final de semana tivemos a primeira edição do Dungeon Carioca.

O evento mensal está planejado para acontecer regularmente na praça de alimentação do Centro Empresarial ION na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Fui a esse primeiro encontro para conferir e saí convencido de que ele tem um grande potencial para crescer e se tornar uma ótima opção para os mestres e jogadores de RPG cariocas.

O lugar é excelente com um espaço amplo ao ar livre com toldos, mesas e cadeiras bastante confortáveis. Dá para colocar umas 100 pessoas acomodadas numa boa. 

Melhor ainda, é silecioso e tranquilo. Aos domingos o shopping por ser de escritórios fica praticamente vazio de modo que não aparecem aqueles curiosos querendo saber o que diabos está acontecendo no lugar. Espaço de sobra para reunir o pessoal e mestrar sem ser importunado.

Mais ainda, a praça de alimentação conta com o Café & Notícias, um café/lanchonete que serve snacks na mesa e para quem quiser algo mais substancial também tem refeições.

Outra vantagem: a localização. A entrada do Shopping é na Avenida das Américas, onde passam vários ônibus, inclusive o da integração do Metrô. O ponto é ali perto, não dá nem 100 metros de distância. Para quem tiver a facilidade de vir de carro, o estacionamento nos domingos é gratuito.

Bom, eu aviso quando será o próximo, vale bastante a pena e quem estiver interessado em jogar alguma coisa é só aparecer.


Quanto ao jogo em si.

Mestrei o cenário "A Fossa do Diabo" (Devils Rift) para Call of Cthulhu sistema clássico da Chaosium. Foi a aventura escolhida para o primeiro Torneio Tentacular em 2007, ainda no EIRPG de São Paulo.

A aventura se passa em 1927, com os jogadores encarnando um grupo de amigos preocupados com um colega em comum que desapareceu misteriosamente em Aberdeen, Escócia. O que teria acontecido com Edward Drake para que ele tenha se comportado de forma tão estranha pedindo socorro e quase implorando para que seus amigos o visitassem e logo em seguida cancelando tudo de forma intempestiva? Mais inquietante é a manchete de jornal que afirma que Edward Drake desapareceu de sua mansão recentemente herdada sem deixar vestígios.

O grupo composto de uma diletante rebelde, seu noivo estudante de medicina, um guarda costas, um jornalista e um professor de Antropologia, preocupados com seu amigo em comum decide viajar até Aberdeen a fim de obter respostas e saber o que está acontecendo.

É claro, eles descobrem que a estória é mais estranha do que poderiam imaginar. Há vários mistérios ocultos: segredos de família, mortes estranhas e horríveis acontecimentos envolvendo coisas que não deveriam existir. A medida que o grupo mergulha nesses segredos negros, fica claro que o destino de Edward Drake repousa em suas mãos e eles terão de enfrentar as tenebrosas forças do Mythos para resolver o caso.

A aventura foi bem divertida.

Ao fim do cenário o saldo foi de um morto afogado em alto mar e dois personagens com sérios problemas. Um deles com os nervos em frangalhos acometido de uma Insanidade Indefinida (no caso Desordem Comportamental: Bi-Polaridade conquistada à base de 17 pontos perdidos de sanidade em um único rolamento! Ouch!) e o outro gravemente ferido por um arpão de pesca que destroçou sua mandíbula em um rolamento crítico que causou 11 pontos de dano (!!!).

Mas o grupo conseguiu escapar com vida, embora a maioria dos jogadores prometesse que seus personagens nunca mais se meteriam em uma investigação dessa natureza novamente. Bem, são os males de se envolver com os Mythos de Cthulhu, ninguém sai incólume.

Aqui estão algumas fotografias da mesa em que mestrei:

O grupo reunido logo no início da aventura.

Pausa para um capuccino entre uma rolagem de dados e outra.

O grupo disposto a ajudar um bom amigo em dificuldades não imagina onde está se metendo. As coisas nem sempre são o que parecem ser... principalmente em uma aventura de Call of Cthulhu.

Aquele momento de analisar as pistas e tentar co-relacionar os fatos colhidos durante a investigação. 

 A leitura da página de um tomo proibido encadernado com pele humana. Os segredos de um livro blasfemo nem sempre são fáceis de serem digeridos, ainda mais para um grupo de iniciantes.

Os handouts da aventura "A Fossa do Diabo". Esses props foram feitos no capricho para o Torneio Tentacular, as fotos eram em alta qualidade. 

 Sempre que tenho a oportunidade eu incluo o ídolo de Cthulhu na aventura para dar um ar de autenticidade, estranheza ou pura bizarrice.

E uma foto final dos jogadores depois do jogo. Alguns mortos, outros loucos e feridos, mas foi divertido.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Titanoboa - No rastro da maior cobra de todos os tempos


Cientistas constataram recentemente a existência de uma enorme serpente pré-histórica, medindo incríveis 14 metros de comprimento. A maior espécie de cobra conhecida na atualidade mede metade disso.

Cerca de 58 milhões de anos atrás, esse réptil assombroso deslizava pelas selvas pantanosas da América do Sul, espalhando um reinado de terror. Pesando mais de uma tonelada e medindo 14 metros, o animal podia engolir um crocodilo inteiro.

Alguns anos atrás, os cientistas nem sabiam que esse monstro existia. “Nunca em nossos sonhos esperaríamos encontrar uma cobra tão grande”, disse o cientista Carlos Jaramillo, parte da equipe que fez a descoberta.

Os cientistas acreditam que a serpente, nomeada Titanoboa, era parente distante da atual anaconda e  jiboia, as maiores cobras na atualidade. O animal não era venenoso, a titanoboa esmagava a sua presa com uma força de constrição de aproximadamente 28 quilos por centímetro quadrado, o suficiente para transformar a vítima de seu abraço em um saco de ossos pulverizados e órgãos esmagados.

Os fósseis foram descobertos em uma escavação na enorme mina de carvão Cerrejón, no norte da Colômbia. Em 2002, os cientistas tinham descoberto no mesmo local indícios do que foi uma rica floresta tropical da época Paleoceno (65 a 55 milhões de anos atrás).

Junto com folhas e plantas fossilizadas, os pesquisadores desenterraram restos de répteis tão grandes que desafiavam a imaginação. “O que descobrimos foi um mundo gigante de répteis perdidos – tartarugas do tamanho de uma mesa de bilhar e os maiores crocodilos na história dos fósseis. esses animais viviam e caçavam em um ambiente impiedoso onde apenas os maiores e mais capazes conseguiam sobreviver”, disse Jonathan Bloch, especialista em evolução de vertebrados da Universidade da Flórida, EUA.

Na época, eles também descobriram vértebras da serpente colossal, mas não tinham material suficiente para provar a sua existência. “Depois da extinção dos dinossauros, este animal, a Titanoboa, foi o maior predador na superfície do planeta por pelo menos 10 milhões de anos. Um verdadeiro monstro capaz de se alimentar de qualquer outro predador de grande porte.”, explicou Bloch.

Os cientistas precisavam do crânio da cobra para obter uma imagem completa de como o animal era, o que comia e como sua ação no meio-ambiente estaria relacionada com as espécies modernas.

No ano passado, uma equipe partiu com a missão de encontrar esse fóssil, com poucas expectativas de sucesso. Os ossos do crânio de uma cobra são frágeis, e raramente sobrevivem. Quando o animal morre, o tecido conjuntivo se decompõe e todos os ossos individuais geralmente dispersam. Como a Titanoboa é muito grande e seus ossos do crânio também são, é uma das poucas cobras que deixam registro fóssil.

No ambiente semi-preservado do interior da mina, a equipe conseguiu recuperar os restos de não apenas um, mas de três crânios. Usando como base esses crânios, o réptil pode ser reconstruído com precisão pela primeira vez.

Uma réplica em tamanho real está em exibição no Museu de História Natural Smithsonian, em Washington, EUA fascinando e impressionando aqueles que tem coragem de encará-lo. Veja as fotos abaixo:


sábado, 26 de maio de 2012

Minha primeira aventura de Cthulhu - Saudosismo de um jogador de RPG veterano


Todo mestre ou jogador de RPG tem alguma estória para contar à respeito de uma mesa de jogo memorável ou de algo que aconteceu em um determinado jogo.

Bom, eu jogo RPG desde 1988, então o que não falta são estórias. Algumas trazem lembrança agradáveis de um tempo em que para jogar bastava reunir dois ou três amigos e sentar em volta de uma mesa para rolar dados sem compromisso. Se eu soubesse que isso ficaria gradualmente mais e mais difícil, eu teria jogado mais... teria aproveitado melhor o tempo livre. Mas quando a gente é moleque parece que sempre vamos ter tempo livre, o que aprendemos a duras penas não é bem verdade. (é oficial, estou ficando velho...)

Mas enfim.


Eu comecei a jogar Call of Cthulhu junto com meu primeiro grupo de RPG. Colegas da saudosa "Geração Xerox" que descobriram ao mesmo tempo que havia outros dados além do d6. Depois de ter explorado inúmeras masmorras, matado uma quantidade absurda de monstros e vencido dragões cuspidores de fogo, um colega que havíamos conhecido numa mesa da lendária RPG Rio (quem jogou RPG no Rio de Janeiro no início da década de 90 sabe do que estou falando!), disse que podia mestrar para nós Call of Cthulhu. Era só combinar! Uau, aquilo sim era uma mudança! Não que matar monstros e dragões, não fosse divertido, era e muito... mas algo naquele jogo com deuses obscuros, tomos malditos e criaturas bizarras me atraiu desde o início.

A transição de jogos de aventura, onde seu personagem é quase um semi-deus, para um jogo basicamente investigativo, onde os personagens são frágeis e impotentes, pode ser meio radical. Nem todos meus amigos foram fisgados de imediato. Lembro de um deles discursando: "O que? É aquele jogo em que se um monstro espirrar em você, seu personagem morre? É ruim (quem lembra da maneira que se falava na época? "É ruiiiiiim, hein") de eu jogar isso de novo!"

Os que abraçaram essa nova proposta, no entanto, mergulharam de cabeça no horror do Mythos.

Mas deixem eu voltar um pouco e falar sobre a primeira vez que joguei Call of Cthulhu.

A primeira aventura de Call of Cthulhu que eu joguei foi mestrada pelo meu caro colega Artur Vecchi, lá na tal RPG Rio. Sei que você deve ler esse texto Sr. Vecchi, então lhe pergunto diretamente: será que você sabia que esse jogo teria tanta influência, que passados quase 20 anos (é, tudo isso!) ainda falo dele sempre que alguém pergunta como comecei a jogar CoC? Imagino que não, mas sempre vou lembrar daquela aventura, como já te disse em algumas ocasiões.

O cenário era "O Sanatório" uma das aventuras do Mansions of Madness, módulo clássico de aventuras cuja primeira edição saiu lá pelos idos de 1990 (mais um sinal que estou ficando velho, me referir a uma data como "pelos idos" é f*d@).

A aventura aconteceu durante a terceira edição da RPG Rio no campus da UERJ perto do Maracanã. Foi na notória "Sala do Horror", um amplo salão com paredes cinzentas e janelas cobertas por papel pardo para deixar o ambiente mais soturno. Para completar a "decoração", alguém desenhou pentagramas no chão e nos quadros negros. Ambiente perfeito para cenários de horror -- quer dizer, mais ou menos perfeito, lembro que nesses tempos, garotas raramente jogavam RPG de modo que a sala estava entupida por uma centena de caras vestindo camisas pretas de bandas de metal em um típico dia quente no Rio. Nem preciso dizer que o horror ganhava toda uma nova conotação naquele ambiente pra lá de insalubre.

Nas mesas rolava o que havia de mais legal em ambientações dentro do gênero horror até então. Tinham algumas mesas de um novinho em folha RavenloftChill, Beyond the Supernatural, GURPS Horror e até uma mesa de um sistema novo que tinha acabado de ser lançado, o tal Vampire, the Masquerade. Vou te dizer, por pouco, não migrei para essa mesa vizinha que contava até com uma certa aglomeração de curiosos que queriam folhear aquele livro de capa dura esverdeado.

Mas eu estava ali para conhecer Cthulhu, e os Deuses Antigos não permitiriam que meros vampiros (kindreds como fazia questão de dizer o dono do livro) e seus joguinhos de intriga, se colocassem no meu caminho rumo a conversão: "Esse aí um dia será fiel ao culto", o Grande C deve ter pensado lá das profundezas.


O personagem que eu recebi era um professor de meia idade que visitava uma ilha isolada onde havia sido contratado para trabalhar no manicômio local. Eu lembro que o personagem tinha Força 5! C-I-N-C-O! Quando eu perguntei porque, o keeper disse sorrindo: "Não vai fazer muita diferença". Não sei porque cargas d'água, mas o personagem estava acompanhado do seu filho adolescente que era um atleta cabeça de vento. Deviam ter mais uns 6 jogadores, não lembro bem desse detalhe, mas a mesa era do tipo coração de mãe e aceitava qualquer um.

Logo que o jogo começou descobríamos, é claro, que alguma coisa desagradável havia acontecido no sanatório. Os médicos tinham sido mortos e os maluquinhos vagavam pelo prédio. Antes de poder pedir socorro, o grupo encontrava o único rádio destruído e a balsa em que haviam chegado à deriva, deixando os pobres personagens presos na ilha. Para piorar, um enfermeiro havia pirado de vez e andava por aí armado com um machado de lenhador murmurando: "carne para meu mestre!"

E o tal "mestre" saciou a  sua fome às custas de NPCs e PCs sem cerimônia.

O momento mais marcante foi quando o meu "filho" cabeça oca foi atacado. Foi uma daquelas cenas idiotas que só quem é noob em Cthulhu embarca -- ele saiu da casa sozinho para ver se conseguia achar uma arma no celeiro. O tal enfermeiro surgiu de surpresa e cravou o machado nas costas do infeliz enquanto gritava sua frase de efeito.

Todo mundo na mesa perdeu 1d4 pontos de sanidade... menos eu. Como o falecido (o cara morreu com a machadada!) era meu "filho" eu perdi 1d10 pontos. Rolei o dado e lá foi.. 10! D-E-Z.

Antes que eu pudesse perguntar o que aquilo queria dizer, o keeper (você mesmo Artur, não se esconde aí não!), disse algo como: "Olha, um maluco acaba de matar seu filho com um machado. Como você reage?"


Caramba, troço profundo! Até então, na minha biografia como jogador eu havia perdido alguns aliados inócuos, mas nunca um membro da família (por mais idiota e descuidado que fosse!).

"- Eu grito em desespero!" disse, parecia a reação condizente.

"- Boa! Então grita aí" disse o keeper.

"- Como é?" perguntei meio sem entender.

"- É grita aí! Você perdeu seu filho, grita aí!"

"- aaaah" eu murmurei meio sem graça.

"- Não... assim não... assim ó: AAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH"!!!!!!!!!!!

Momento de silêncio. Todas as mesas no "Salão do Terror" pararam o que estavam fazendo. Dados congelaram no ar. Monstros olharam para o lado. Heróis ficaram estáticos.

E em seguida vem a reação: Aplausos!

De todos os cantos, de todas as mesas, de todos mestres e jogadores presentes.

Grande estória, grande aventura, grande interpretação.


Ah sim, meu personagem acometido de uma Insanidade ficou para trás quando o tal "mestre", uma bolha assassina apareceu e resolveu devorar pessoalmente os jogadores sem confiar em intermediários...

Mas não tinha importância. Todos os personagens morreram vítimas da criatura e de sua terrível fome blasfema. Um dos meus colegas mais radicais reclamou (aquele que discursou contra a mortalidade do sistema), mas da minha parte, era fato consumado: Cthulhu havia lançado seus tentáculos e o culto havia ganhado mais um seguidor fiel.

Depois dessa aventura eu me tornei um fã do cenário. Um dos jogadores que fazia parte da mesa tinha o livro e estava animadíssimo para mestrar e os que tinham gostado queriam mais, mais, mais... esse keeper, também muito bom por sinal, mestrou algumas vezes para nós e fortaleceu nosso vínculo com Cthulhu.

O resto... bom, o resto é história.

Ah sim, antes de concluir. Encontrei com o Vecchi muitos anos depois, por acaso na internet. Ele já tinha se mudado do Rio, casado e tal. Mas é claro, ele ainda jogava Call of Cthulhu e tivemos a chance de jogar por Play by Forum na rpol. Quando a gente se esbarra pelos chats, blogs e Facebook da vida trocamos idéias sobre nossos jogos.

Quem sabe uma hora dessas a gente toma vergonha na cara e rola uns dados de novo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Stuart Gordon em Porto Alegre (parte 2) - Diretor de Re-Animator no Fantaspoa 2012


Segue a segunda parte do artigo à respeito da visita do diretor Stuart Gordon ao Brasil, por ocasião do Evento Fantaspoa em Porto Alegre.

Por  Leo Dias (fotos por Kasha)

A segunda sessão comentada do lendário Stuart Gordon no Fantaspoa era, sem sombra de dúvidas, a mais concorrida do festival. Re-Animator não apenas é um dos maiores clássicos de nossa geração, é uma obra-prima.

Fãs da velha guarda, novos admiradores e cinéfilos em geral disputaram a tapa os ingressos para a projeção na sala do Cine Bancários. O sábado havia sido inteiro reservado a filmes do diretor, uma maratona que se iniciava com A Fortaleza, depois emendava Em Rota de Colisão, passando pelo clássico, Do Além, terminaria com a história do Dr Herbert West .

Sabendo o quanto seria concorrido, tomei a decisão de chegar ao cinema as 17:30 para um filme que só passaria as 21:15, grande fã do diretor, sacrificar uma sessão de From Beyond na telona não era algo agradável mas estritamente necessário para garantir meu lugar em Re-Animator, um dos meus três filmes favoritos de todos os tempos. Eu já havia garantido autógrafo em meus antigos VHS e posters, mas é evidente que gostaria de repetir a oportunidade única de assistir o filme sentado ao lado de seu diretor, o que ocorrera em Dagon.

Ao chegar, saguão vazio, apenas as funcionárias conversando em um guichê. Ainda era dia claro e lá dentro do cinema acontecia uma sessão lotada. Aos poucos os primeiros companheiros de fila foram chegando, a mocinha da bilheteria já achava estranho estarmos lá tão cedo assim, o que ela não sabia é que não estávamos lá para a próxima sessão, mas a que viria ainda depois!

A sala se esvazia e todos se dirigem imediatamente para a bilheteria para comprar seu ingresso para Do Além, no Cine bancários a bilheteria abre apenas meia hora antes de cada sessão, não é possível comprar antecipado. O Público vai entrando e sobram novamente apenas eu, meu amigo Cerealz, o ultra cinéfilo Carlos Thomaz Albornoz, e um quarto doido de carteirinha, ali conversamos animadamente sobre as obras tanto de Lovecraft quanto de Gordon. Enfim começa a chegar gente para assistir Re-Animator, aconselhamos que todos permaneçam na fila, pois o caos logo reinaria naqueles corredores.

Não demorou muito para o número de espectadores se multiplicar vertiginosamente, todos presentes animadíssimos, parecia uma convenção de Gremlins .

Ao término de Do Além, a escala se torna apocalíptica, com a fila com três vezes a capacidade do cinema se estendendo da bilheteria pelo corredor até o meio da quadra, na rua. Aos poucos a massa de gente vai preenchendo o cinema, entre eles muitas figuras ilustres da cultura Porto Alegrense, diretores, músicos, artistas plásticos, escritores, fora os diretores também presentes no cast do evento, como David Schmoeller (Puppet Master), grande amigo de Stuart Gordon. O clima era de euforia, ningém acreditava no que estava acontecendo.


Video gravado por BeatrizSaldanha

Era tanta gente que começaram a se formar fileiras de gente sentada nas escadas e em frente a primeira fileira de poltronas.

Com a sala abarrotada de gente, sobra muita gente de fora da sessão, não há nem mesmo espaço para que os organizadores do festival e o próprio Gordon se sentem.

Stuart Gordon adentra a sala, para comoção geral, faz um breve anúncio, achando curioso ver tanta gente presente para ver um filme tão velho. O gênio não consegue disfarçar o largo sorriso de satisfação, deseja uma boa sessão e se retira, para voltar logo que o filme terminasse.

Eu não preciso aqui discorrer sobre o filme, acho improvável que algum freqüentador do Mundo Tentacular não o tenha assistido. O que posso dizer é que a recepção do público não foi apenas calorosa, foi de êxtase.

Nos comentários, muitas curiosidades a respeito do primeiro filme de Stuart Gordon.

Há quem diga que a obra de Lovecraft não possui o erotismo injetado pelo diretor, mas ele argumenta que há bastante sexo, entre pessoas, animais e os Old Ones.

Herbert West - Re-Animator era uma das histórias que Lovecraft menos gostava, já que foi uma obra encomendada, mas sempre foi uma das favoritas de Stuart Gordon.

O humor onipresente de Gordon apenas evidencia a sutil veia cômica do escritor, como o fato de que West atribuía todos seus fracassos ao fato das vítimas não serem frescas o suficiente.

O público veio abaixo com a revelação de que a esposa do ator David Gale (o Doutor Hill), ficou revoltada quando foi assistir aos “dailies” do filme, pois ignorava o teor da história e mais ainda a cena da cabeça.

Re-Animator como conhecemos é a versão do diretor, mas existe uma versão mais de uma hora mais extensa, mas que possui menos sangue, mais sonhos e uma infinidade de outros detalhes. Isto é devido ao fato de que Brian Yuzna, um dos produtores, secretamente ter feito cortes com medo da MPAA, a censura norte-americana.

Porém o orgão não planejava fazer restrições, e assim o filme conseguiu ser lançado sem a passagem pela classificação etária dos Estados Unidos.

Aliás, outro momento de comoção foi a recusa do diretor em comentar as continuações de Re-Animator, dirigidas pelo amigo Brian Yuzna.

Para tristeza do público o projeto House Of Re-Animator, que circulou em notícias de sites especializados há algum tempo, foi sepultado de vez, já que seria uma crítica ao governo Bush e hoje não faria tanto sentido.

Gordon é um diretor que pensa nos mínimos detalhes, preenchendo a tela com inúmeras gags e referências, como por exemplo um pôster do Talking Heads no quarto de Dan. Óbvia alusão ao destino do Doutor Carl Hill.

Originalmente o filme seria uma mini série de 6 episódios, tal como o conto, mas o produtor Brian Yuzna sugeriu que o projeto se tornasse um longa.

Sempre bem disposto, Stuart Gordon não se limitava a respostas breves, mesmo quando eram perguntas estapafúrdias ou que nada tinham a ver com os filmes discutidos. O diretor contou  inúmeras histórias de elenco e produção, era nítido que ele procurava uma síntese para elas, pois o tempo de debate não era tão longo, devido a restrição horária do cinema.

No vídeo abaixo é possível assistir a chegada do diretor à sala onde o filme foi exibido:



Video gravado por Beatriz Saldanha

E aqui o debate após a projeção com Gordon falando a respeito de sua carreira e dos seus filmes:



video gravado por de Dia de los muertos

*   *   *

O autor desse artigo, Léo Dias (de los muertos) é sobrevivente do apocalipse zumbi em Porto Alegre, fã hardcore de Lovecraft, de horror, de coisas realmente assustadoras e maravilhosamente repugnantes. Suas máscaras e props são dignos das lendas urbanas mais bizarras. Vale a pena dar uma olhada no seu blog o Sicksore, onde ele expõe suas peças e dá uma mostra do seu talento. ( http://sicksore.blogspot.com.br/ ).

Mais uma vez agradeço muito obrigado pelo artigo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Stuart Gordon em Porto Alegre - Diretor de Re-Animator no Fantaspoa 2012 (Parte 1)



Escrito por Leo Dias

Quando Howard Phillips Lovecraft escreveu seus fantásticos contos e criou o horror cósmico que hoje permeia todo um gênero de ficção, não poderia imaginar o quanto se tornaria clássico em todo o planeta. Sua obra hoje domina os quatro cantos do mundo e atinge um incontável séquito de seguidores e apreciadores. Inclusive muitos daqueles cuja visão de mundo do autor acharia repugnante ter entre sua base de fãs. Hoje é impossível retirar os Mitos do DNA do horror moderno, eles estão em todo lugar, mesmo quando não são literalmente adaptados.Ao longo das décadas sua obra foi interpretada pelos mais diversos cineastas e artesões de nosso estimado tema, levando o rico universo do autor a novas gerações, mas muito poucos o fizeram tão bem e comungaram o evangelho de Lovecraft como Stuart Gordon.

Quantos de nós, beirando na média dos 30 anos conheceram Lovecraft em obras primas cinematográficas como Do Além e Re-Animator? Quase todos, eu diria.

Boa parte da obra do diretor presta homenagem ao universo Lovecraftiano, raramente seguindo contando a história exatamente como fora escrita, mas sempre preservando sua essência e humor sutil, a demência é uma constante, a atmosfera densa.Transportados para a atualidade, os versículos do abismo expandiram os Mitos na película da mesma forma que o autor estimulava seus colegas escritores a faze-lo na página.

Impregnado de erotismo e humor negro, o cinema de Stuart Gordon foi um dos homenageados na mais recente edição do Fantaspoa, o festival de Cinema Fantastico de Porto Alegre. Para delírio de cinéfilos e leitores, no programa constavam Do Além (From Beyond), Dolls, Castelo Maldito (Castle Freak), Dagon, A Fortaleza (Fortress), Perversão Assassina (Crawlspace), Piratas do Espaço (Space Truckers), O Poço e o Pêndulo (The Pit and the Pendulum), Robot Jox, Em Rota de Colisão (Stuck), além do ultra clássico Re-Animator!

A notícia da vinda do diretor a Porto Alegre causou comoção total entre fãs, como se o próprio Cthulhu estivesse prestes a despertar. As sessões foram concorridíssimas, e duas delas, Dagon e Re-Animator, tiveram presença da lenda viva em um debate animado após a projeção. Gordon, legítimo exemplar de carisma e simpatia, parecia incansável, sempre solícito com os fãs, pronto a tirar uma foto e assinar seu autógrafo para legiões de criaturas das mais diversas formas, pessoas que meteriam horror no próprio Lovecraft. Gente do Brasil inteiro peregrinou a capital gaucha para estar presente nos cultos, isso sem contar os demais diretores presentes no festival, como David Schmoeller (Puppet Master, Tourist Trap), Todd E Freeman (Cell Count), Zack Parker (Scaleno), além de diretores brasileiros e argentinos diversos.

A primeira das sessões comentadas foi Dagon , pequena obra-prima realizada na Espanha e que transporta nossa amada Innsmouth para Inboca, um vilarejo sombrio e enevoado onde um casal de náufragos vai parar e da de cara com a Ordem Esotérica de Dagon. Sempre achei interessante a forma como Gordon expandiu o alcance da narrativa e sugere que ao redor do mundo poderiam haver muitas vilas de pescadores onde os Old Ones haviam deixado suas marcas. A Atmosfera e estética do filme é maravilhosa, Gordon insistiu para que permanecesse chovendo durante o filme todo, o que é um transtorno que dificulta imensamente qualquer filmagem, mas que trouxe uma carga dramática formidável. Contando com a mesma equipe de efeitos especiais de O Labirinto do Fauno, Dagon tem uma maquiagem relativamente simples e um bom número de efeitos em CGI. O diretor e a produção debateram quanto a mostrar Dagon ou não, e finalmente optaram por mostrá-lo por 3 segundos, no clímax do filme.

Idealizado para ser o filme seguinte a Re-Animator, e também com Jeffrey Combs no papel principal, Dagon nunca encontrou apoio dos produtores nos anos 80. Segundo Gordon, a idéia de contar a história de homens que viram peixes lhes parecia ridícula, no entando, caso fosse um filme de lobisomens, tudo bem!

Outro detalhe é que o diretor havia recusado um orçamento duas vezes maior do que acabou tendo quando finalmente fez o filme. Segundo ele um de seus maiores arrependimentos na carreira.

Mesmo assim, Dagon é um de seus melhores filmes e captura perfeitamente a atmosfera de Innsmouth, provando que não é preciso um orçamento milionário para adaptar Lovecraft. Talvez o melhor "cala a boca" para o falatório e conseqüentes desculpas de Guillermo Del Toro para não fazer nas Montanhas da Loucura. Até o momento, ninguém filma Lovecraft como Stuart Gordon!

Sempre optando por estimular a imaginação, e, se possível, utilizando efeitos práticos, ele acha que efeitos digitais ainda falham em inserir o espectador no que está assistindo.

Na sessão comentada também foi citada a obra teatral do diretor e hoje em Los Angeles está em cartaz um musical de Re-Animator, além disso, Gordon também já teve uma peça onde Jeffrey Combs encarnava Edgar Allan Poe.

(continua)

foto por Kasha

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Dockside Dogs - Cenário de Call of Cthulhu em benefício da pesquisa do Câncer



O autor Paul Fricker (membro do Kult of Keepers, autor da monografia Gatsby & The Great Race e parte do time que está escrevendo CoC 7th edition) produziu recentemente um cenário para Call of Cthulhu a fim de levantar fundos em favor da instituição Cancer Research UK.

O pai de Paul faleceu recentemente vítima de câncer e através dessa iniciativa ele espera poder contribuir para as pesquisas contra essa terrível doença.

O cenário em questão tem o título Dockside Dogs uma aventura moderna para 3-6 jogadores que inclui as fichas dos personagens Mr. Beige, Mr. Purple, Mr. Black, Mr. Red, Mr. Silver and Mr. Green.

Como vocês podem imaginar pela imagem no alto desse artigo, o cenário tem uma premissa que remete a um famoso filme de Quentin Tarantino... mas, na estória essa premissa é trabalhada sob uma ótica reminiscente de Philip K. Dick com uma dose de Cthulhu Mythos e uma pincelada do filme "A Origem" (Inception)-- uau, que mistura promissora!

Para os fãs de cenários envolvendo os Mythos de Cthulhu com um toque surreal e para os que gostam de desafiar os jogadores com estórias repletas de paranóia e desconfinça, o cenário de Paul é uma ótima pedida. Embora seja escrito no formato de Call of Cthulhu a estrutura pode ser facilmente adaptada para Rastro de Cthulhu ou outros sistemas.

Paul pede uma doação mínima de £3.25 o equivalente a $5 (ou mais se você desejar). Não esqueça de incluir uma referência a "Dockside Dogs" no momento de fazer a sua contribuição, em troca, aqueles que estiverem participando receberão uma cópia do cenário de 28 páginas em PDF.

Várias pessoas que jogaram esse cenário em convenções nos EUA atestaram a sua qualidade e elogiaram muito o material.

Uma causa bastante nobre e um excelente "obrigado".

Abaixo o link para a Fundraiser Page:

http://relay.cancerresearchuk.org/site/TR/RelayForLife/General?px=1006535&pg=personal&fr_id=1132

Para participar é preciso preencher o formulário e dispor de um cartão de crédito internacional. Não esqueça de passar seu e-mail para que possa receber o cenário.

domingo, 20 de maio de 2012

Capturando Imagens - Filmadoras nos anos 20 e 30


Depois de assistir essa tal Filmagem Bitterroot fiquei curioso à respeito de câmeras de filmagem antigas e resolvi fazer uma pesquisa à respeito do que existia nos anos 20-30. Descobri que é um assunto bem interessante e acabei escrevendo esse artigo. Estou longe de ser um especialista (muito pelo contrário!), por isso espero não escrever nenhuma bobagem muito grande. Se alguém entender desse tema, por favor releve qualquer deslize e fique à vontade para me corrigir.

Como ocorre com todas as invenções no início, as câmeras eram aperelhos quase artesanais construídas por entusiastas que ainda tentavam aprender os truques de filmagem, edição e continuidade.

As primeiras câmeras de filmagem comercializadas, chegaram ao mercado em meados de 1910 e eram grandes e pesadas exigindo um certo conhecimento técnico por parte do operador. Esses aparelhos eram usados profissionalmente para criação de filmes, documentários e notícias (os newsreels) projetados em salas de cinematographo, o equivalente aos cinemas atuais. As câmeras eram bastante caras e por isso destinadas aos estúdios ou produtores que podiam bancar seu custo, dificilmente uma pessoa poderia adquirir uma câmera para fazer suas próprias filmagens, a não ser que tivesse muito dinheiro e tempo livre para aprender o manuseio do equipamento.
 
Uma câmera francesa da Pathé modelo de 1913
Além disso havia outro empecílio: os primeiros rolos de filmes produzidos em formato 35mm tinham como componentes básicos o nitrato de prata e extratos petroquímicos dispendiosos. Mas a questão de preço era apenas parte do problema; havia o risco que qualquer fagulha transformasse o filme em uma bomba incendiária (quem viu Bastardos Inglórios sabe do que estou falando!). O perigo era tamanho que chegou a vigorar em vários lugares um código de segurança que impedia o transporte de rolos de filme e armazenamento sem os devidos cuidados. Latas de alumínio hermeticamente fechadas concediam alguma proteção, mas ninguém estava livre de acidentes. Hollywood que teve o primeiro pólo de produção cinematográfica contava com uma brigada de incêndio especialmente treinada para conter o fogo resultante da queima de nitrocelulose.
   
Projetores de cinema, eram consideravelmente mais acessíveis e podiam ser adquiridos por pessoas interessadas em apresentar filmes em casa. Um aparelho projetor não era barato podendo custar até 300 dólares, mas aqueles que adquiriam o equipamento podiam se filiar a clubes que disponibilizavam filmes para seus sócios. Funcionava mais ou menos como as video-locadoras, na qual as pessoas pagavam uma anuidade de 15 dólares e podiam alugavam os títulos em um catálogo -- cuja espera podia ser de 1 mês para recebimento. Rolos de vários gêneros desde documentários a docudramas podiam ser alugadas. Como não poderia deixar de ser, um mercado clandestino de produções eróticas e pornográficas se iniciou quase que instantaneamente entre os afixionados por projeções. Essas produções baratas se popularizaram de tal forma que o equipamento de projeção ficou associado com libertinagem em vários lugares dos Estados Unidos.

Birt Acres foi o primeiro a tentar estabelecer um formato amador para as câmeras ainda em 1898. Ele defendia que o potencial era enorme e previu que um dia qualquer pessoa poderia fazer seus próprios filmes e guardá-los para assitir quando bem entendesse. Birt tentou introduzir filmes de 17,5 mm, o Birtac, enquanto outros cinegrafistas testavam rolos com largura variada adaptando projetores para receber seus filmes.

Em janeiro de 1923, a companhia Eastman Kodak anunciou que lançaria no mercado o Kodascope, um sistema amador que permitiria criar filmes em formato 16 mm.

As alegrias de filmar o que estiver à sua volta

A proposta era notável. Filmes já haviam conquistado o público e a idéia de qualquer um poder filmar e exibir seus filmes despertou enorme interesse. Para lidar com a questão do risco de incêndio, foi desenvolvido um filme mais seguro à base de diacetato (e depois triacetato) que não se incendiava com a mesma facilidade. Por lei esse passou a ser o único filme aceito para venda e distribuição ao público, enquanto o filme de 35 mm tornou-se exclusivo para cinegrafistas profissionais, uma divisão que continua até hoje.
Propagandas anunciando o Kodascope começaram a aparecer nos jornais em maio de 1923 com o texto "Cine-Kodak permite a qualquer um fazer seus próprios filmes". A procura foi tão grande que se formou uma fila de espera pelo equipamento. Muitas das pessoas que compraram a câmera através do Catálogo Sears só a receberam 6 meses depois.

A popularidade dos filmes em 16 mm foi imediata resultando na abertura de uma cadeia de laboratórios de processamento da Kodak em todo mundo para produção de filmes em acetato. Um rolo com 100 pés de filme custava $ 7.50 e um com 400 pés saia por $ 30.00 nas lojas autorizadas da Kodak em 1923.

Uma vantagem do equipamento vendido pela Kodak é que o projetor era vendido junto com a câmera. O pacote contendo câmera, projetor, estojo, tela de 1,40 m por 90 cm, tripé e 400 pés de filme podia ser adquirido por US$ 335. Ainda era muito caro, considerando que em 1923 o modelo básico de automóvel vendido pela Ford Motors Co custava US $ 550.

Uma das jogadas de mestre da Eastman Kodak foi permitir que seu "filme seguro" de 16 mm fosse compatível com qualquer outra câmera, mesmo as concorrentes. Desse modo a Kodak assegurou seu lugar como principal forncedor mundial de filme vendendo 3/5 de todo o filme produzido no mundo.

As principais concorrentes da Kodak entraram no mercado a partr de 1924. A Bell & Howell, uma companhia formada em 1907 que se dedicava exclusivamente a equipamento cinematográfico de 35mm, apresentou a "Filmo 57" uma câmera de 16 mm mais simples e leve que a Kodascope a um custo bem mais acessível.  Por algum tempo a Bell & Howell foi a líder em equipamento de filmagem.

Victor Animatograph Company, introduziu a partir de 1918 a Animatograph uma opção ao modelo cinematográfico que empregava filme de 28 mm. Em 1925 a companhia se tornou a terceira a entrar no ramo de "Home Movie" utilizando filme no modelo 16mm, para o modelo batizado "Victor".

Propaganda da Cine Kodak Eight em 1932 para vendas de natal.
 Filme em cores se tornaram uma realidade para cinegrafistas amadores a partir de 1928 com a introdução do Kodacolor. O processo, no entanto, ainda era falho e os filmes muitas vezes acabavam se estragando ou tendo resultado aquém do esperado (com filmagem desbotada). Dessa forma os filmes coloridos não se popularizaram por pelo menos mais 15 anos até eles serem aos poucos reintroduzidos.

Som foi apresentado a partir de 1930 pela Victor através de um sistema adaptado do Vitaphone (o sistema que levou som ao cinema). Ele empregava um disco de gravação que era simultaneamente com a filmadora. O aparelho era enorme e acabou sendo um fracasso comercial retumbante. Os laboratórios Kodak, após três anos de experimentação conseguiram desenvolver um filme especial que registrava o som.
Em meados de 1932, a Grande Depressão atingiu o mundo com força e as pessoas não podiam se dar ao luxo de comprar o caro equipamento em 16 mm. A Kodak vinha pesquisando um modelo mais barato há pelo menos cinco anos e finalmente obteve sucesso com o Cine Kodak Eight. Esse tipo de câmera utilizava um filme de 8 mm que se tornou o grande sucesso de vendas desbancando todos os modelos anteriores.

A câmera permitia filmagens curtas com um filme pequeno de no máximo 50 pés a 16 frames por segundo totalizando filmagens com autonomia de 4-5 minutos no máximo. A principal vantagem dessas máquinas é que por serem menores podiam ser manuseadas com maior facilidade como dispositivos portáteis dispensando o uso do tripé. Os aparelhos também não tinham manivela funcionando com uma bateria interna. O grande atrativo dessas máquinas era o preço acessível em torno de $ 50.

A Bell and Howell começou a produzir câmeras de 8 mm em 1934 para acompanhar a tendência do mercado consumidor, mas a principal companhia a explorar esse novo modelo foi a suiça Bolex que começou a produzir câmeras voltadas para o mercado amador a partir de 1938. O modelo permaneceu dominando o mercad até 1965 quando foi lançado o formato Super 8 que utilizava um cartucho de melhor qualidade de imagem com o dobro da duração.

Aqui estão algumas câmeras usadas no período:

Bell and Howell model 2709 (1920)

À despeito do alto custo (chegaram a custavam mais de US$ 1000 dólares) e sua relativa complexidade operacional, a Bell and Howell colocou no mercado o Modelo 2709 que foi usada pelos estúdios ao longo dos anos 1920-30. Era essa a câmera utilizada pelos grandes estúdios para produzir filmes no período. Charlie Chaplin usou um desses modelos para produzir clássicos como "A Corrida do Ouro", "Tempos Modernos" e "Luzes da Cidade". D.W. Griffith e Cecil B. DeMille usavam esse mesmo equipamento.

No filme King Kong, tanto na versão da década de 30 quanto na mais recente, é uma Bell and Howell que vemos em cena.

Esse modelo apresentava um corpo todo de metal, um eficiente sistema de foco e uma manivela sem fricção. A câmera produzia filmes em 35 mm e podia estocar até 400 pés de filme, o bastante para 10 takes de 12 minutos cada ou duas horas de filmagem.

Acoplada a um cavalete ou tripé, a câmera móvel ela podia ser levada para qualquer lugar pelo operador e equipe, resistindo bem a solavanco e exposição aos elementos.

Mitchell Standard (1921)

Introduzida no mercado em 1921, a Mitchell Standart tinha um design inovador e operação fácil carecendo apenas de um operador para manejá-la. Seu criador se orgulhava do fato desta ser uma das câmeras mais simples existentes sem comprometer em absoluto a qualidade da filmagem.

Outra vantagem era o sistema de rotação que permitia utilizar quatro modelos diferentes de lentes para filmagem e filtros para compensar luminosidade.

Essa cãmera de 35mm podia estocar até 600 pés de filme em sua lata de alumínio. A Mitchell jamais foi tão popular quanto a Bell & Howell nos Estados Unidos mas foi muito usada na Europa sendo o equipamento utilizado por Luis Buñuel, Jean Renoir e Murnau.


Kodascope 16 mm (1923)

A primeira câmera de cinema produzida para o público em geral e vendida a 330 dólares. A máquina pesava 3,300 kg (4 kg com o filme) e era bastante móvel em comparação às outras.
Para ser operada ela carecia de um ponto de apoio por isso vinha com um tripé a fim de facilitar a movimentação da manivela na lateral. Em seu interior era possível colocar até 400 pés de filme de 16 mm em sua caixa quadrada de metal preto.

O aparelho era inovador e bastante fácil de operar, dotada de uma lente Anastigmat que permitia filmagens de qualidade a até 15 metros de distância. O grande problema desse modelo era o peso desconfortável e a manivela que precisava ser rodada em um determinado ritmo para não danificar o filme.

Bell & Howell Filmo 70 "Eyemo" (1926)

Considerada a melhor máquina em 16 mm dos anos 1920, a Filmo 70 se manteve no mercado por mais de 50 anos.

A Bell and Howell de Chicago produziu a Filmo 70 com o objetivo de ser a câmera mais fácil de operar disponível no mercado. A grande inovação era o mecanismo automático que dispensava a manivela e que processava o filme na velocidade correta permitindo ao operador mais liberdade para se concentrar exclusivamente no foco.

O aparelho também tinha um design inovador em oposição ao visual "quadrado" da Kodak. O compartimento de filme ficava ao lado protegido por uma placa aberta por um botão de mola.

Além de tudo a Eyemo (nome pelo qual essa câmera se popularizou) era mais barata. Essa máquina só perdeu a sua hegemonia com o advento das 8 mm.

Cine Kodak Eight (1932)

A primeira câmera de 8 mm foi a primeira filmadora realmente portátil. Ela podia ser operada facilmente embora tivesse grandes limitações quanto a duração e qualidade da filmagem.

O preço mais em conta, no entanto, conquistou o grande público e a Cine Kodak caiu nas graças de toda uma nova geração de entusiastas de filmagens caseiras.

O fato de ser uma máquina portátil e resistente (com um estojo de metal que garantia a integridade do filme) permitiu que câmeras portáteis desse tipo fossem levadas a lugares antes difíceis. O modelo 8 mm se tornou uma febre entre turistas e viajantes que desejavam registrar suas viagens e mostrar aos seus amigos onde haviam estado. Modelos em 8 mm foram usadas para documentar momentos marcantes da história como a Guerra Civil na Espanha e os primeiros anos da Segunda Grande Guerra. Máquinas em 8 mm permitiram a criação dos primeiros filmes jornalísticos produzidos por cinegrafistas amadores.

Aqui está uma típica filmagem amadora feita no Egito em meados de 1920: