sábado, 30 de agosto de 2014

Continentes Míticos - Mu, Lemúria e a Erupção do Krakatoa


Um acontecimento de tamanha magnitude como a erupção do Krakatoa, naturalmente atraiu a atenção de inúmeros pesquisadores esotéricos, ocultistas e excêntricos de todo o mundo. Na Alemanha, o célebre biólogo Ernst Haeckel, que viajou pela região de Sumatra após a tragédia do Krakatau, converteu-se em um dos maiores defensores da teoria do mítico "Continente de Lemúria". Mas nenhum ocultista conseguiu maior destaque e usou a catástrofe para advogar suas teorias do que a célebre Madame Helena Petrovska Blavatsky. Conhecida como pesquisadora do paranormal, viajante, escritora e médium auto-didata Blavatsky foi uma mulher notável que teve uma vida igualmente surpreendente.

Em 1888, influenciada por teorias sobre continentes perdidos - e também pelo que aconteceu em Krakatoa, Blavatsky publicou sua obra principal: "A Doutrina Secreta". No tratado, ela menciona a Lemúria, um continente ancestral extremamente avançado que teria sido destruído por violentas erupções vulcânicas e cujos sobreviventes teriam se espalhado pelo mundo disseminando seu conhecimento entre povos mais atrasados que por sua vez originaram as principais civilizações da antiguidade.

Segundo a teoria de Blavatsky, os continentes ancestrais (Lemúria e Hiperbórea) se caracterizavam pela instabilidade geológica causada por terremotos frequentes e erupções colossais. Um desses tremores mais fortes teria sido o causador da completa destruição do Continente e seu afundamento. Obviamente Blavatsky usou a catástrofe no Mar de Java para defender seu argumento afirmando que a destruição do Krakatau foi comparativamente uma parcela perto da que causou a destruição da Lemúria.

Madame Blavatsky
Outros estudiosos embarcaram nessas teorias controversas sem se preocupar em apresentar provas para suas teorias. O ocultista Frederick Spencer Oliver escreveu um livro intitulado "Um Habitante de Dois a Planetas" publicado em 1894. Segundo Oliver, uma colônia de lemurianos havia se instalado no Norte da Califórnia e lá ainda vivia, habitando um vasto complexo de túneis abaixo do Monte Shasta. Esses lemurianos haviam compartilhado seu conhecimento com alguns nativos americanos que posteriormente haviam caído em desgraça sendo expulsos desse mundo subterrâneo (em uma alusão semelhante a queda de Adão e Eva do Paraíso).

Na década de 1930, Guy Warren Ballard herdeiro das teorias de Oliver fundou a Foundation Society, cujo propósito era compartilhar o conhecimento dos lemurianos com alguns poucos escolhidos. Ballard conseguiu atrair algumas pessoas influentes para sua Sociedade californiana com a promessa de ensinar noções de magia e poderes psíquicos. A seu modo, Ballard foi um dos precursores de seitas que se tornariam comuns na Costa Oeste dos Estados Unidos entre as quais, a Cientologia é a mais conhecida na atualidade.

O Continente de Mu, como pesquisadores e ocultistas o chamaram, foi mencionado pela primeira vez nos trabalhos do fotógrafo, antiquário e arqueólogo amador Augustus Le Plongeon (1826-1908). Le Plongeon foi um viajante e autor de renome, que realizou suas próprias pesquisas em ruínas maias na Península de Yucatán. Ele fez a tradução de antigos hieroglifos maias e relacionou os caracteres descobertos nesses sítios maias com os de civilizações mais antigas. Uma de suas teorias controversas afirmava que os maias descendiam do povo original de Atlântida que se espalhou pelo mundo após a destruição de sua pátria. Para reforçar suas teorias, ele traduziu uma série de caracteres pré-colombianos onde supostamente era contada a história de uma terra muito avançado que havia sido engolida pelas águas do mar. O nome desse Continente era Mu.

A concepção de Mu como continente no Pacífico.
Le Plongeon via por trás desse nome uma outra designação da Atlântida, ainda que em sua concepção o famoso continente perdido se localizasse no Oceano Pacífico. Hoje, pesquisadores concordam de forma unânime que as traduções feitas por Le Plongeon eram fruto de sua imaginação. O próprio nome "Mu" não aparece em nenhum lugar dos hieróglifos que ele afirmava ter traduzido. A ideia de uma massa terrestre de tamanho similar a África, ocupando o espaço entre a Ásia e a América, lembra as teorias de naturalistas do século XIX sobre a Lemúria (outro "continente perdido").  Esta ficaria em algum ponto entre a África e a Indonésia e teria permitido a propagação de animais entre um Continente e outro.

A Mu dos ocultistas teria sido um dos berços da humanidade, responsável pelo surgimento de raças humanoides antediluvianas que iriam evoluir dando origem ao homem moderno. O conceito chegou a ser abraçado por alguns cientistas tendenciosos que motivados por teorias raciais, preferiam situar o berço da humanidade bem longe da África.

A forma como Le Plongeon tentou provar que uma massa continental afundou no mar, foi influenciada por vários mitos e histórias. Segundo ele, várias civilizações teriam se desenvolvido a partir de uma civilização central mais antiga e avançada, que desapareceu após uma catástrofe. Contudo, antes de sumir, este povo se espalhou carregando consigo seu conhecimento, oferecido para outros povos. Hoje em dia sabemos que um continente ter existido nessa região geográfica seria algo muito improvável, sobretudo pela ação de placas tectônicas, contudo, na época, as teorias de Le Plongeon foram aceitas por muitos na comunidade científica.

O Êxodo de Mu
Um contemporâneo de Le Plongeon, o arqueólogo e autor de textos esotéricos James Churchward (1852-1936) continuou a pesquisar a existência de Mu. Ele escreveu várias dissertações sobre o tema e defendeu sua existência em palestras e seminários. Em 1926 ele publicou suas teorias no trabalho "O Continente Perdido de Mu" (título original "The Lost Continent of Mu"). Neste livro e nos seguintes, ele afirmava ser capaz de provar a existência factual de Mu. Segundo as teorias de Churchward, Mu se estendia desde o ponto ao Norte do Havaí até o sul dos arquipélagos de Fiji e da Ilha de Páscoa.

Churchward descrevia Mu como um verdadeiro Jardim do Éden e a residência de aproximadamente 64 milhões de habitantes, que ele batizou de Naacals. Essa civilização teve seu apogeu a sessenta mil anos no passado, quando atingiu um estágio de avanço tecnológico superior a da humanidade contemporânea. Segundo o arqueólogo eles foram os responsáveis por colonizar regiões distantes que hoje correspondem a territórios na Índia, Pérsia, Babilônia, Egito e Peru, onde deixaram vestígios de sua passagem. O continente, segundo os escritos de Churchward teria desaparecido após um maremoto devastador (ou um tsunami) que o mandou para as profundezas marinhas. O Havaí e a Ilha da Páscoa seriam os últimos resquícios de terra, correspondente a áreas mais elevadas, que originalmente pertenceriam a Mu e que teriam escapado da catástrofe.


Churchward afirmava que suas controversas teorias decorriam de uma série de tábuas de pedra e placas de argila cozida que ele havia desenterrado em templos na Índia e no Tibet. Esses artefatos estariam cobertos de hieroglifos desconhecidos, extremamente complexos. O arqueólogo teria conseguido decifrá-los usando como base vários outros idiomas pertencentes a povos antigos, em especial os caracteres maias. Ele batizou os primeiros artefatos que encontrou com o nome "Tabletes de Naacal". A maioria dos pesquisadores duvidam que Churchward, mesmo com seu profundo conhecimento do idioma Maia, seria capaz de relacioná-lo com outro idioma desconhecido.

As Ruínas do velho continente perdido ainda se espalham pelo mundo.
Mais questionável ainda foi o destino desses misteriosos artefatos repletos de hieroglifos. Segundo o arqueólogo eles teriam sido confiscados por sábios hindus que consideravam o conhecimento descrito neles, sagrado e proibido para ocidentais. Churchward afirmou até o fim de sua vida que o local onde as placas estavam guardadas, foi pilhado por uma multidão à serviço de líderes locais que ordenaram que eles se apossassem dos objetos. Esse episódio, impediu que outros estudiosos analisassem as placas e levantou sérias dúvidas a respeito de sua existência.

A despeito da descrença de seus colegas, Churchward apresentou o resultado de sua tradução dos Tabletes de Naacal com grande estardalhaço. Uma série de palestras foram agendadas em grandes universidades e sociedades dedicadas ao estudo da arqueologia.

Em sua exposição Churchward apresentava a história da Terra de Mu, descrevia sua rica cultura e tradições, destacando a importância e a influência que ela teve para as civilizações posteriores. Ele tratava a religião do deus solar egípcio, como um vestígio da religião original de Mu. Rá, sob outro nome, seria a divindade principal do Povo de Mu, por definição o Sol seria a morada dos deuses.


Apesar da maioria das teorias de Churchward e De Plangeon serem refutadas pela comunidade científica internacional, elas tiveram grande influência no nascimento do que se convencionou chamar de Ciência Esotérica, um ramo científico especulatório que encontrou um lugar de destaque entre teosofistas no final do século XIX.

A fuga de Mu para diferentes regiões do planeta explicaria semelhanças culturais?
Um dos fatos mais inusitados a respeito de Mu diz respeito ao inesperado interesse de Ataturk, fundador da Moderna República da Turquia em buscar o continente perdido. Ele considerava Mu como uma possível terra natal de seu povo e se esforçou em tentar encontrar vestígios dela. Os turcos teriam em meados da década de 1930 patrocinado ao menos duas expedições arqueológicas em busca de Mu visando provar sua relação com a moderna Turquia. Contudo, nenhuma expedição teve sucesso na empreitada.

Os rumores recorrentes a respeito da descoberta de pirâmides e até cidades inteiras no fundo do mar acabaram fornecendo aos teóricos de Mu um novo fôlego. Eles começaram a relacionar algumas estruturas submersas como as da Costa de Pohnpei no Mar do Norte e Yanaguni no sul do Japão, com ruínas da mítica Mu, considerando que estes seriam postos avançados ou colônias da antiga civilização. Eles defendiam que os navegadores de Mu, teriam se lançado ao mar e conquistado terras distantes, usando rotas de comércio com cidades portuárias fundadas na Ásia e América.

Quanto ao continente em si, suas ruínas deveriam estar inacessíveis e dificilmente seriam um dia encontradas já que alguns pontos do Pacífico tem mais de 11 quilômetros de profundidade. Além disso, toda a região, onde Mu supostamente estaria localizada, era instável, sofrendo com frequentes abalos sísmicos. Violentos terremotos e maremotos poderiam ter causado a destruição de estruturas inteiras, transformando templos e palácios em nada além de escombros que em nada lembravam sua antiga glória.

Sem provas físicas para amparar suas teorias, os pesquisadores tentavam comparar os costumes de diferentes civilizações que eles acreditavam, descendiam do povo de Mu. Um dos métodos envolvia estudar as religiões das civilizações costeiras. Algumas semelhanças foram descobertas, como por exemplo, a arquitetura similar dos templos erguidos pelos antigos habitantes de Okinawa e o povo que um dia viveu na Polinésia. Também havia semelhanças nos rituais fúnebres praticados pelo povo pré-histórico de Pachacamac, que viveu no atual Peru, com o de tribos que habitaram as ilhas do Havaí. A maneira como eles preparavam o sepultamento de seus mortos era incrivelmente parecida, o que levou alguns teóricos a ponderar que as duas religiões tiveram a mesma base.

E ainda hoje, ruínas são encontradas remetendo a mítica Mu.
Atualmente, a ciência é capaz de contradizer todas teorias sobre a existência factual de Mu. 

A geologia descartou a possibilidade de um dia ter existido um continente neste trecho do Pacífico. De acordo com a teoria das placas tectônicas, que foi extensivamente comprovada nos últimos 40 anos, não seria possível que uma massa de proporções continentais simplesmente afundasse no mar. Seria possível que uma extensa massa de terra se quebrasse ou dividisse, mas isso ocorreria em um longo período de tempo, compreendendo centenas de milhões de anos, ou seja muito antes de que vida humana pudesse se estabelecer nesse lugar. Também inexiste nos registros geológicos algo que pudesse ter "destruído" um continente. Se tal hecatombe tivesse ocorrido, haveriam destroços evidenciando esse acontecimento significativo. Missões submarinas que exploraram as trincheiras oceânicas não localizaram nenhum traço de construções submersas. Finalmente, também foi provado que as Ilhas do Pacífico não são parte de uma grande massa de terra, mas formações decorrentes de atividade vulcânica.

Mas se as provas que excluem a existência de Mu são conclusivas, porque teorias sobre o continente perdido continuam encontrando fiéis defensores? Haveria alguma verdade sobre Mu ainda esperando vir à tona?

Isso apenas o futuro, ou talvez nem mesmo ele, poderá um dia dizer...

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7 comentários:

  1. Muito bom. Especialmente pela linguagem. Prende a cada parágrafo.

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  2. Nas pedras de Ica no Peru se encontram desenhado mapas do globo terrestre onde se vê a existência do continente Muh.

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  3. Nas pedras de Ica no Peru se encontram desenhado mapas do globo terrestre onde se vê a existência do continente Muh.

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  4. eu acho sim que O CONTINENTE PERDIDO DE MU de fato existiu,nos so nao encontramos registros de sua exata localizaçao.

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  5. Igual a Atlântida e a Lemúria muitos acreditam em fábulas dos esotéricos e falam que a Bíblia Sagrada é escrita por homens , mas praticamente 90% do que está escrito foi comprovado .
    As lendas menos de 10% , nesta projeção matemática que está certo?

    Autor do Blog Contexto histórico Bíblico e Secular

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  6. Cada vez que leio algo aqui , descubro algo fascinante do passado .

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  7. Mú não era a Lemúria, Mú era outro continente. Lemúria era outro, muita gente confunde os dois como sendo o mesmo, mas não é.

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