quinta-feira, 4 de junho de 2015

Invocando o Guardião #1 - Perguntas e Dúvidas sobre Chamado de Cthulhu


Olá pessoal,

Com o lançamento de Chamado de Cthulhu em português, o sistema/ambientação está finalmente sendo conhecido por uma nova geração de jogadores e narradores. 

É natural, portanto, que haja algumas dúvidas, questionamentos e perguntas.

Um conhecido sugeriu que fosse aberto aqui no Mundo Tentacular um espaço para que os narradores tirassem as suas dúvidas. Dentro do possível, vamos tentar responder as perguntas da forma mais completa possível, usando exemplos e recursos do próprio jogo para deixar a coisa o mais clara possível.

Se alguém tiver alguma dúvida, fique à vontade para perguntar aqui mesmo ou no grupo do Facebook, que vamos tentar encontrar uma solução para sua mesa.

A primeira questão, enviada por nosso colega Marcio Sena através do Facebook é a seguinte:


Quando os investigadores buscam por pistas precisam fazer testes certo? Mas se eles não conseguem o número nos dados e não acham as pistas como você recomenda resolver? No sistema do Rastro você só precisa estar no mesmo ambiente que as pistas são suas, achei estranho isso no sistema...

Essa é uma dúvida frequente que atormenta os Guardiões. 

É uma questão tão séria que, dizem, motivou até o surgimento de um sistema, no qual o narrador não corre o risco de que seus jogadores percam pistas vitais para resolver o mistério. Sim, estou me referindo ao Rastro de Cthulhu - que tem o sistema Gunshoe. Nele as pistas essenciais SEMPRE são encontradas pelos jogadores.

Já em Chamado de Cthulhu, os jogadores precisam ser bem sucedidos no rolamento de dados para obter as pistas. O jornalista precisa fazer um teste bem sucedido na habilidade Pesquisar Biblioteca para achar um livro na biblioteca. Em outro caso, o detetive particular deve conseguir um teste em Localizar para detectar um mecanismo secreto na gaveta. Da mesma forma, um antiquário precisa traduzir um trecho em árabe gravado em um artefato recuperado de uma escavação.

O que acontece se eles não passarem no teste? Digamos que os jogadores que controlam o jornalista, o detetive e o antiquário, nos casos acima, não estão em um bom dia para rolar dados, e falham em obter a pista desejada?

Eu sempre considerei que o narrador, nesse caso, precisa exercitar o seu BOM SENSO.

Seria péssimo arruinar toda a estória por causa de um rolamento mal sucedido. Com isso, não apenas a aventura ficaria sem uma conclusão, como os jogadores se sentiriam extremamente frustrados - e acredite, você não quer frustrar seus jogadores, ao menos, se você quiser que eles joguem novamente na sua mesa.

Para sanar esse problema o Guardião não deve submeter sua aventura aos ditames dos dados. Ele precisa ter comando sobre o curso da estória. Se um determinado rolamento de dados for ESSENCIAL para resolver o caso, mesmo falhando no teste, o grupo deverá obter a pista.

Digamos que os jogadores falham no rolamento, como resolver de forma satisfatória? 

Minha resposta: Descrevendo a cena.

Vamos ao exemplo: o jornalista tenta encontrar um livro no catálogo da biblioteca e falha no teste. Ele tem 30% em Pesquisar Biblioteca, mas os dados resultam em 88. Uma falha!

O guardião descreve a cena da seguinte maneira:

"Você passa horas consultando as fichas do catálogo, esquadrinhando as prateleiras em busca do título. Mas não consegue encontrar o livro... Nisso, uma senhora se aproxima e pergunta calmamente: "O senhor precisa de ajuda?", o investigador olha para cima, enquanto a mulher se apresenta como a bibliotecária: "Percebi que o senhor está procurando alguma coisa e parece não encontrar". Você pondera se vale a pena ou não envolver uma pessoa na investigação... mas no fim explica que está em busca do Volume XII do Profecias de N'Kai, um livro extremamente raro que consta no acervo da biblioteca. A solícita funcionária pede que ele aguarde numa mesa. A bibliotecária procura por algum tempo e então retorna carregando um livro: "Sinto senhor, ele estava temporariamente fora do catálogo, havia sido levado para a restauração. Mas ele está aqui... ainda deseja consultá-lo"?

Pronto, problema resolvido! O livro era essencial? Então ele poderá ser consultado, ainda que o personagem tenha falhado em seu teste de Pesquisar Biblioteca.

Outro exemplo: O detetive está em busca de pistas na mansão assombrada. Ele entra no escritório que pertenceu ao antigo proprietário e começa a revistar as gavetas da escrivaninha. A pista está num fundo falso dentro da gaveta acionado mecanicamente. O jogador precisa ser bem sucedido em um teste de Localizar. Ele tem 55% na habilidade, mas o rolamento resulta em um 56 - uma falha... por pouco, mas é uma falha.

Contudo, o Guardião sabe que sem essa pista, não há como solucionar o caso. Ele resolve então salvar a situação através da narrativa, descrevendo o seguinte:

"Seu detetive revira o lugar em busca de alguma pista. Verifica os papéis, esvazia a lixeira, abre e fecha as gavetas... mas não acha nada. Para piorar as coisas estão todas fora do lugar agora e ele precisa arrumar tudo. Furioso você dá um soco no tampo da mesa. Nesse momento ouve um sonoro "click" que parece vir de dentro da gaveta. Parece que a pancada destravou alguma coisa no interior da escrivaninha, quem sabe um fundo falso. Tudo bem, sua mão vai ficar dolorida, mas aí estão os papéis".

Pronto, problema resolvido... o detetive acaba encontrando a pista essencial para a continuidade da investigação e ela não ficará emperrada.

Vamos para o último exemplo?

O antiquário precisa traduzir um trecho escrito em Árabe. Por sorte, ele tem 75% na habilidade "Ler Árabe" na ficha. O jogador rola confiante os dados, mas eles resultam em 98 (Ouch!).

Sem essa pista, a investigação se perderia... e agora? O que fazer? O Guardião descreve a seguinte cena:

"Você tenta fazer a tradução, mas seus esforços não resultam em nada de útil. A inscrição é tão confusa que nada parece fazer sentido. Você então lembra que na biblioteca da universidade há um excelente Dicionário Árabe do século XVIII, um livro completo sobre o tema. Você vai até a biblioteca e depois de um longo e tedioso trabalho ao longo da madrugada, consegue traduzir os trechos desejados com o auxílio do valioso dicionário. Quando você termina de traduzir o trecho já está amanhecendo lá fora e se dá conta que passou a noite em claro..."

Aí está! A pista está à disposição do personagem e a investigação pode prosseguir.

Alguns podem perguntar se essas medidas não constituem uma "trapaça" por parte do Guardião para ajudar os investigadores. Eu não vejo dessa maneira. No meu entender, o importante é uma aventura ter começo, meio e fim, e não ficar travada em virtude do azar dos jogadores ao rolar os dados. Não é justo que o azar no rolamento de dado seja um fator determinante para limitar o jogo.

Entretanto, é importante compreender que essas medidas, DEVEM SER USADAS APENAS quando a falha em obter uma pista acarreta no encerramento prematuro da investigação. Quando os jogadores já buscaram e falharam, quando já tentaram todas as opções e não tem mais nenhuma ideia de como proceder. 

Outra condição é que a "ajuda" não deve ser gratuita... o personagem recai em uma contrapartida. O personagem pode demorar muito mais para achar a pista, pode ter que envolver um inocente na investigação. pode ter que passar uma noite inteira trabalhando (e ficar esgotado na manhã seguinte) ou quem sabe, precise contratar alguém para fazer o serviço (alguém que espera ser pago). Nem preciso dizer que nesses casos específicos, os jogadores não tem o direito de marcar as caixas para aprimoramento de suas habilidades.

Bom, é isso...

Dúvidas? Questões? Comentários? Estamos abertos a suas questões...

3 comentários:

  1. Acho que seria interessante uma postagem sobre as linhas de produtos diretamente relacionados à temática lovecraftiana.

    Eu particularmente me confundo em entender se uma publicação é pra ambientação (e sistema) de Rastro de Chutlhu, da Cublicle7 ou da Chaosium, e não digo nem em identificar, mas entender as diferenças entre essas linhas de produtos, sobretudo para quem está começando.

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  2. Sugestão anotada Matheus. Uma postagem sobre diferenças entre sistemas.

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  3. Sobre as falhas nos testes para encontrar as pistas, qual a sua opinião sobre pedir para o investigador realizar novo teste? Claro que esse novo teste teria que ser justificado pela narrativa, como por exemplo gastando mais tempo procurando na biblioteca, ou buscando mais recursos para a tradução de algum tomo.

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