sexta-feira, 31 de julho de 2015

Accursed e 13a Era - Dois Financiamentos Coletivos e dois ótimos jogos


Accursed e 13th Age.

Dois importantes RPG estão prestes a desembarcar no Brasil. Dois títulos consagrados que estão cada vez mais próximos de chegar ao mercado nacional.

Curioso para saber mais a respeito dessas ambientações que atualmente se encontram em processo de Financiamento Coletivo, busquei algumas informações aqui e ali. O que descobri, me deu a certeza de que esses são títulos em que vale a pena investir. Não apenas por serem novos recursos para o Mercado brasileiro de RPG, mas porque a proposta dos jogos em si, é extremamente interessante.

Vou ser sincero, e dizer que até algumas semanas atrás eu estava em dúvida a respeito de participar ou não desses financiamentos.

Pesavam dois fatores: 

1 - É um fato que depois de algum tempo, o maior problema do jogador de RPG não é arranjar grana para comprar os livros (problema fundamental quando a gente é moleque), mas sim, arranjar tempo para ler, escrever e jogar. Na atual conjuntura um jogo tem que ser muito bom para consumir aquele valioso tempo livre no final de semana entre o almoço de família e uma saída com a esposa/namorada/filhos.

2 - O fato de ser um Financiamento Coletivo. Não me entendam mal, eu acho uma modalidade totalmente válida para vender um produto. É uma forma de oferecer ao público uma chance de participar diretamente do processo de produção. Dá ao consumidor a chance de adquirir aquilo que ele deseja dentro de suas pretenções e do seu orçamento. O problema com FC é que por vezes, eles atrasam, acabam dando problema ou demoram muito mais do que o prometido. Nem me refiro aos FC aqui no Brasil, esse é um problema que às vezes ocorre aqui, mas também é frequente lá fora. Eu fiquei frustrado com alguns financiamentos e prometi a mim mesmo que dificilmente entraria num de novo.

Diante dessas questões eu comecei a imaginar que Accursed e 13a. Era não seriam pra mim. Mas eis que comecei a pesquisar um pouco mais a respeito deles e surpresa, financiamento, aqui vou eu.

O que mudou minha concepção? O que aconteceu para quebrar minha promessa "quase" solene?

Para demolir meus preconceitos a respeito dos jogos, nada melhor do que um pouco de informação a respeito dos dois.

Primeiro Accursed lançado a ser lançado pela Retropunk:


A questão fundamental pra mim era porque eu iria querer comprar Accursed? Afinal, eu já tenho outros tantos jogos pegando poeira na prateleira, aguardando numa longa fila por uma oportunidade de ver a mesa de jogo. Não é de hoje que eu percebi que muitos dos jogos que compro acabam fadados apenas a ocupar um espaço na estante. Algumas ambientações até me agradam, alguns sistemas até são interessantes, mas no geral, há sempre outra coisa mais atraente.

O primeiro ponto positivo de Accursed foi o sistema. Eu adoro Savage Worlds. É um sistema fácil, rápido e ágil que não demanda muita preparação por parte dos jogadores e do mestre. Além disso, ele está satisfatoriamente difundido e tem uma boa base de jogadores, de modo que não é essencial ter que ensiná-lo nos eventos ou para seu grupo habitual. Já ter o livro básico do Savage Worlds também ajuda um bocado, não é de hoje que estou querendo voltar a jogar/narrar algo que use o sistema e sabendo que o jogo tem tudo para se popularizar, não vai ser difícil arranjar um grupo.

Outro fator interessante é que Accursed possui uma trama um bocado diferente, fugindo do convencional.

O que realmente me ganhou foi o twist original da ambientação, algo parecido com "O que aconteceria se Hellboy se aventurasse em Ravenloft"? (Eu sei, parece esquisito, mas acho que é a melhor definição do jogo).

Em Accursed, os jogadores interpretam monstros e outros seres abomináveis, usados como tropas de choque em uma terrível guerra travada entre os Reinos de Morden e um Cabal de Bruxas. A estória começa no momento em que as forças malignas triunfam!

Nesse mundo decadente, as forças da justiça e do bem, não conseguiram fazer frente às hordas de criaturas profanas (oito linhagens de seres que incluem vampiros, mortos vivos, golens entre outros monstros) que compunham a Elite das tropas do Cabal. Uma vez tendo vencido, as feiticeiras dividiram os reinos entre si e passaram a governar com mão de ferro. Mas a aliança entre elas não duraria para sempre; disputas, ciúmes e inveja se acumularam e fizeram com que os exércitos de seres amaldiçoados lutassem uns contra os outros. Para aumentar as fileiras das tropas, muitas pessoas normais foram transformadas em monstros sobrenaturais através de maldições blasfemas. 

Contudo, por vezes, alguns seres malditos portadores da Witchmark (a Marca da Bruxa), conseguem superar o controle das entidades que os criaram. Assombrados pelo que foram forçados a fazer, eles escapam do jugo das Bruxas e ganham o mundo. Incapazes de reconstruir suas vidas, em suas moradas ou entre seus entes queridos, esses Malditos vagam sem rumo: escondidos, desprezados, temidos... tentando redimir seus muitos pecados. 

Alguns deles conseguem se juntar a Ordem dos Penitentes, uma organização cujo propósito é livrar o mundo da presença maligna das Bruxas. Outros oferecem suas habilidades únicas, tornando-se guerreiros, alquimistas ou espiões para quem pagar a maior soma. Outros ainda, acabam se deixando tomar pelas trevas, abraçando a corrupção e a loucura.     

Em Morden, a luz se apagou, as trevas estão se espalhando - e nesse mundo deformado, apenas os monstros podem enfrentar o horror de igual para igual. Com sorte eles conseguirão encontrar a paz que tanto desejam e salvar suas almas, mas o mais provável é que morram tentando. 

Accursed é um dark fantasy que combina aventuras perigosas e monstros desafortunados em busca de redenção. Não falta espaço para questionamentos profundos (e uma boa dose de horror pessoal). Sem dúvida, é um terreno fértil para ótimas aventuras e oportunidade para excelentes interpretações.

E quanto a 13a. Era?

Minhas dúvidas a respeito de 13a. Era encontravam eco nos questionamentos sobre Accursed. Talvez aqui, meus preconceitos fossem ainda mais profundos e estivessem ainda mais enraizados.


Confesso que eu conhecia bem pouco sobre a proposta do 13a. Era, além do fato dele ter sido criado como uma opção ao D&D Quarta Edição. Para muitos, ele seria tudo aquilo que a contestada quarta edição não conseguiu ser: um jogo que trazia rapidez, diversão e narrativa fluida, colocando esses elementos acima de conceitos exaustivos sobre mecânica e tática.

Para construir esse RPG, a Pelgrane Press (responsável pelo lançamento de 13a Era, nos EUA) juntou dois nomes de peso, veteranos considerados como lendas vivas na comunidade do RPG internacional. Estou falando de Rob Heinsoo e Jonathan Tweet (que vai estar no Brasil na RPGFest esse ano), responsáveis por alguns dos jogos mais populares das últimas décadas. 

O objetivo deles com 13a Era, era conciliar elementos do D&D clássico (o RPG mais jogado do mundo) com uma pegada dos sistemas independentes como Fate e Dungeon World. O resultado seria um jogo clássico com um espírito revigorado na tradição dos indies.

Eu coloco muita fé no taco dos Senhores Tweet e Heinsoo, sobretudo porque os dois são veteranos de longa data, jogadores/mestres old school, reunidos com o propósito de escrever um sistema de RPG composto por "aquilo que eles sempre desejaram jogar". Quando você concede tamanha liberdade a dois mestres, geralmente o resultado é algo empolgante.

A característica principal de 13a. Era é colocar os holofotes sobre os personagens e não sobre a ambientação. E isso faz uma enorme diferença já que normalmente os jogadores estão inseridos em uma ambientação estática na qual os jogadores desempenham seu papel num pano de fundo pré-definido. 13a. Era quebra essa noção, oferecendo aos jogadores a possibilidade de alterar a ambientação por completo, de uma maneira verdadeiramente épica. Para isso, os personagens são construídos de uma forma singular, possuíndo algo único, que lhes permite fazer coisas incríveis.

As estórias são criadas em cima do histórico dos personagens e daquilo que os torna especiais. Talvez um deles seja o último representante vivo de sua raça, outro pode ser o detentor de um artefato ancestral, enquanto um terceiro é o herdeiro legítimo do trono. Seja lá o que for, o personagem é único em face desse detalhe. Além disso, cada aventura se desenvolve ao redor do grupo e da relação deles com seres poderosos (os Ícones). É uma ideia muito interessante colocar os jogadores desde o início ao lado das forças transformadoras da ambientação.

Para quem busca uma campanha épica (no sentido estrito da palavra), 13a. Era é imprescindível. Esqueça as simples explorações de masmorras e as aventuras centradas em explorar e conseguir tesouros, os personagens de 13a. Era estão fadados a coisas muito mais importantes. Liderar exércitos, construir dinastias, servir diretamente aos Deuses, vencer vilões e salvar Reinos. Em jogos normais os personagens encontram heróis lendários e interagem com eles, aqui os jogadores tem o potencial para se converter, eles mesmos, nessas lendas.

Outro elemento que me interessou em 13a. Era diz respeito a mecânica, tratada como uma verdadeira jóia de simplicidade e rapidez. Eu dei uma pesquisada e entendi perfeitamente as diretrizes do jogo que me deixaram empolgado. Em uma primeira análise ele parece muito com o D20 clássico, mas há elementos variantes que o tornam algo mais vibrante. O resultado é um D20 turbinado. Uma ótima opção para quem tem trocentos livros de D20 e quer dar novo uso a eles. Além disso, o jogo é "rápido e rasteiro", ele não fica travado em função de regras de rodapé e condições específicas que precisam ser checadas. E mais importante: esqueça os combates com mapa tático, não há necessidade de miniaturas, posicionamento ou grid.

Com tudo isso, 13a. Era possui elementos suficientes para me convencer a embarcar sem medo. Além das ideias narrativas, o jogo acena com várias regras que podem ser incorporadas a outros RPG, uma mesclagem que me atrai muito.  
  
Tudo muito bem, tudo muito bom... mas restava a questão final: O fato de ser um Financiamento Coletivo (FC).

Mas nada como um pouco de informação. Felizmente, as coisas mudaram de uns tempos para cá no reino dos FC. Mudaram para melhor!

Não é de hoje que as editoras estão buscando reparar alguns problemas experimentados no início da febre dos FC, quando eles pareciam a solução para tudo. Erros foram cometidos, financiadores se afastaram, mas com certeza muitas lições foram aprendidas. Houve, sem dúvida, um amadurecimento extremamente benéfico por parte das editoras nacionais, algo que resultou numa crescente onda de profissionalismo. Editoras como a New Order (de Ygdrasil, Numenera, Legend of Five Rings e agora a responsável pelo 13a Era) e a Retropunk (que lançou Rastro de Cthulhu, Savage Worlds, Fiasco e agora Accursed) tem buscado ouvir as demandas do consumidor. 

Elas estão oferecendo ao público compensações em caso de atrasos, garantia nos prazos e soluções práticas ao invés de meras desculpas. Isso tudo, somado a uma política de transparência, serviu ao meu ver, para revitalizar esse tipo de venda. Financiamento é algo baseado na confiança e isso deve ser preservado. Eu arrisco dizer que hoje o Financiamento está mais forte do que há alguns anos. E isso se deve ao trabalho maduro de novas e ousadas editoras que compraram a briga de trazer novidades para o mercado nacional.

Com tudo isso, você deve estar se perguntando: "Ok, mas para de ficar em cima do muro! Qual dos dois Financiamentos Coletivos é melhor"?



Caras, eu vou ser muito sincero, e ficar devendo uma resposta, porque ela depende exclusivamente de vocês.

Os dois jogos são excelentes e valem a pena serem conhecidos, lidos e jogados. Cada qual oferece ótimas opções para seu grupo e arrisco dizer que ambos serão bem utilizados (a despeito de seu tempo e disposição para criar estórias).

Portanto, se você puder encarar os dois Financiamentos, faça isso sem medo.

Entretanto, se por N motivos (tempo, gosto pessoal, grana...), você só pode optar por um, escolha aquele que melhor se encaixa nas suas pretenções como jogador/narrador. Eu sei, é algo meio óbvio dizer isso, mas as vezes, a gente se deixa levar pelo gosto alheio. Dê preferência aquele que você mais provavelmente vai jogar ou mestrar. Como saber disso? Pergunte aos seus jogadores e veja o que eles acham. Boas campanhas surgem em decorrência da relação entre um Mestre pilhado e um grupo entusiasmado. Se você conciliar as duas coisas, você estará no caminho certo para construir algo divertido, duradouro e memorável. Ao invés de surpreendê-los com um livro já comprado, pergunte o que eles desejam para uma campanha vindoura.

Mas não deixe passar o prazo... os dois Financiamentos já estão em curso e se encerram em breve.

Abaixo coloquei o link para a página oficial das duas campanhas, dê uma lida em cada um:

Financiamento do ACCURSED no Kickante

Financiamento do 13a Era no Catarse

4 comentários:

  1. Ola amigos, beleza.
    Estou tentando encontrar um e-mail de contato com vocês, mas não consegui achar. Gostaria de saber se algum de vocês tem interesse no livro Night´s Black Agent? Está novo, infelizmente não tenho tempo de jogar mais e não queria deixar ele parado pegando poeira.
    Se houver interesse me comunique.
    Grande abraço

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  2. Bom, eu comprei o 13a Era (financiamento via Catarse) e digo que dá pra encarar os dois financiamentos sem ficar "apertado" porque eu consegui dividir no cartão em 3x s/ juros.

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  3. Bom, eu comprei o 13a Era (financiamento via Catarse) e digo que dá pra encarar os dois financiamentos sem ficar "apertado" porque eu consegui dividir no cartão em 3x s/ juros.

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  4. Lembrando que toda a tradução do Accursed já está pronta e mesmo antes do final do financiamento quem contribuiu já recebeu o pdf. Então é só questão de fazer uma última revisão, esperar a plataforma liberar o dinheiro, e mandar para a gráfica. Sim, já foi financiado.

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