sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Lugares Estranhos: Lago Medusa: O Lago mais extremo da África


Existe um corpo de água em um dos recantos mais remotos da África que é possivelmente um dos locais mais extremos e inóspitos de todo continente. Conhecido como Lago Natron, ele fica na Região de Arusha no nordeste do Tanzânia, próximo a fronteira com o Quênia. Apesar de ser conhecido como Natron, o lago de 57 quilômetros de comprimento por 22 de largura é mais famoso pelo seu outro nome: Lago Medusa.

Com uma composição química e uma oscilação de temperatura intolerável para a maioria das formas de vida se estabelecerem, ele ainda assim possui a estranha habilidade de atrair pássaros e outras pequenas criaturas. Lá animais mortos são lentamente transformados em estátuas como se tivessem sido afetados pelos poderes da mítica górgona. 

Nas margens do enigmático lago podem ser encontradas carcaças bizarras de várias criaturas que à primeira vista parecem estátuas feitas de pedra, mas que são na verdade animais petrificados pela exposição prolongada aos vapores tóxicos. Elas são uma espécie de testamento vivo dos maravilhosos, e por vezes estranhos poderes transformadores da natureza.


As águas plácidas do Natron parecem estranhamente densas e com uma coloração pouco saudável. Por vezes bolhas sobem à superfície e estouram quebrando o silêncio enervante. Curiosamente ele é bem raso, chegando a três metros de profundidade máxima. O lago ganhou seu nome graças à altíssima concentração de sal e soda cáustica oriundas de depósitos subterrâneos e do abastecimento vulcânico proveniente do Grande Vale do Rift, Ol Doinyo Lengai. Com sua acentuada concentração de sal e extrema alcalinidade - que chega a pH nível 12, o lago já seria altamente perigoso, mas soma-se a esses fatores a acachapante temperatura que atinge facilmente os 60 graus durante o dia. Essa combinação torna o corpo de água um verdadeiro inferno líquido no qual poucas formas de vida conseguem sobreviver. 
     
As emanações do Natron são tão poderosas que podem ser sentidas há mais de cinquenta quilômetros de distância. O vento quando sopra da região e atinge as planícies próximas, castiga as plantas que crescem frágeis em relação ao restante da luxuriante savana. Marcas amareladas e de coloração castanha pontilham a vegetação. Ele tem um impacto marcante no ecossistema inteiro e faz com que animais e vegetação sejam diretamente afetados. Manadas de antílopes e búfalos d'água evitam a área, contornando quilômetros para não transitar pelo local, peixes não sobrevivem em seu interior e mesmo insetos não parecem confortáveis nas proximidades insalubres. Não há aldeias ou sentamentos humanos nas proximidades do Natron e as tribos africanas há muito desistiram de tentar se estabelecer ali.


O odor nauseante da soda cáustica pode ser sentido de longe. Os olhos parecem queimar, a garganta fica seca e as mucosas se incham quando se respira tempo demais os vapores nocivos. Os massai tinham um nome para o Natron que prescede todos os títulos dados pelos exploradores europeus: o chamavam de "Água Venenosa" ou de "Lago Impuro". O folclore massai, aliás, é rico em narrativas sobre esse lugar, muitas dizem que nem sempre ele foi o horror no qual se transformou. Os contadores de estórias mencionam lendas sobre terríveis demônios de fogo que viviam no Vale do Rift e que migraram para o fundo do lago quando o mundo ainda era jovem, transformando-o ao longo dos séculos em uma morada perfeita. Esses demônios de fogo precisavam de água para apagar suas chamas eternas e só resfriando seu coração flamejante eles poderiam habitar o fundo do lago. Outras lendas dizem que as águas do lago foram transformadas em sal pelo sopro de um terrível demônio crocodilo que se estabeleceu na parte mais funda. Finalmente, uma outra lenda menciona uma maldição que se abateu sobre um povo nativo que não ofereceu ao Deus do Lago sacrifícios em troca de seu uso. Como forma de punição, o Deus vingativo transformou o lago em um corpo de água impuro no qual vida alguma poderia progredir.

No século XVIII, quando exploradores europeus realizaram o mapeamento da área, o lago chamou a atenção e se tornou uma curiosidade. Tribos que viviam há quilômetros dele, no entanto, advertiam os forasteiros que se aproximar poderia trazer sérias repercussões. A presença de invasores deixaria as divindades que habitavam o lugar furiosas. Uma expedição britânica em 1856, realizou levantamentos topográficos e mapeamento do lago. No ano seguinte, uma forte seca se abateu sobre toda a região causando fome. Os nativos não esqueceram os exploradores a quem culparam pelo flagelo que castigou seus campos e lavouras. Quando uma nova expedição veio até a mesma tribo anos depois, os nativos massacraram os exploradores e lançaram seus corpos em pedaços nas águas cinzentas, como uma oferenda aos deuses. Por muito tempo, o Natron ficou inacessível e apenas no final do século seguinte ele pôde ser explorado novamente.


Mas o que faz esse Lago insalubre ser tão estranho e incomum?

As únicas formas de vida capazes de se fixar no interior do Lago Natron são tipos de algas e microorganismos especialmente adaptados a salinidade extrema como as cianobactérias, que se alimentam dos depósitos de sal evaporado. A tilápia alcalina (Alcolapia alcalica) também sobrevive nas águas do lago, mas mesmo estes peixes incrivelmente resistentes são afetados pelas condições extremas. Elas possuem uma coloração vermelha alaranjada e uma carne, virtalmente impossível de ser consumida. As algas que cobrem as margens do lago no verão liberam um pigmento vermelho derivado do processo de fotossíntese que se espalha como uma maré sangrenta. A visão do lago em sua cor chocante também valeu ao lago o apelido pouco acolhedor de "Lago de Sangue".


É essa pigmentação incomum que faz com que o Lago engane suas presas desavisadas. A coloração escarlate vibrante é como um ima que atrai uma quantidade considerável de pássaros lacustres, como flamingos e garças. Pássaros despencam do céu chocando-se com a superfície por vezes vitrificada do lago. Além da cor e da concentração de algas, a ausência de predadores nas margens é extremamente convidativa para os pássaros que não percebem o perigo que estão correndo.
O Lago Natron deve boa parte de sua notoriedade a capacidade de transformar animais mortos na sua proximidade em verdadeiros fósseis vivos. Esse fenômeno, ainda que por vezes exagerado pela mídia, tem base na realidade. Não se trata obviamente de um efeito instantâneo, mas de um processo gradual de calcificação que ocorre graças às condições únicas do lago. Muitos animais acabam morrendo pela exposição prolongada aos vapores cáusticos, eles sufocam lentamente e por vezes permanecem em posições bastante naturais. Com o passar do tempo, a mistura de componentes químicos no próprio ar forma uma crosta de bicarbonato de sódio sobre a carcaça sem vida. Em conjunção com o ar seco e quente, a camada vai cozinhando até assumir uma consistência sólida como pedra, fazendo com que o animal pareça ter sido petrificado. 




Pássaros são de longe os animais mais afetados pelo fenômeno que incide sobre milhares de animais. Morcegos, pequenos roedores e répteis também são vítimas dos "poderes petrificantes" do lago. Algumas vezes, um búfalo desgarrado acaba sendo atraído pelo lago e morre em suas margens. Alguns deles permanecem de pé, como se tivessem sido imediatamente petrificados. Estes pobres animais se espalham pelas margens e muitas vezes são recolhidos por nativos que os vendem como curiosidade para turistas.

Há muitos anos, existe o plano para a construção de uma usina de extração de soda nas margens do Lago Natron, mas até o momento, as obras jamais se concretizaram. Em parte, isso se deve às condições insalubres demais para operários realizarem o trabalho no local. Se um dia a área for explorada industrialmente quem sabe o que será descoberto nas profundezas do misterioso Lago Natron.

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Nem é preciso dizer que esse Lago bizarro com todas as suas peculiaridades assustadoras possui elementos suficientes para figurar como um lugar tocado pelos Mitos de Cthulhu.
Não bastasse ele ser vermelho, afastar populações, ter várias lendas e ter sido o local de um massacre de exploradores, o lugar ainda apresenta misteriosas estátuas animais fossilizadas recobrindo as suas margens avermelhadas. É difícil imaginar um lugar mais estranho, perturbador e incomum. Imagina a expressão dos exploradores que chegaram a esse lugar em meados do século XVIII sem saber o que encontrariam ali e tendo de confiar apenas nas descrições cheias de superstições de nativos.
Isso já é combustível para um cenário pulp de alta octanagem, mas para tornar tudo ainda mais interessante que tal incluir alguns componentes de horror cósmico na coisa?

Um culto nativo dedicado ao medonho Grande Antigo Ghatanathoa pode ter se estabelecido nas cercanias, o que oferece uma explicação bem diferente do processo natural de petrificação de animais (e porque não) de pessoas no lago. Qu etal se esse grupo de cultuadores degenerados se encontrar para seus ritos abomináveis de tempos em tempos? E uma dessasreuniões ocorre justo quando uma Expedição patrocinada pela Universidade Miskatonic está explorando o Lago.
Outra possibilidade assustadora? A desolação do lago e suas peculiaridades mortais podem ser resultado da queda de um asteróide transportando uma ou mais Cores do Espaço. Talvez essas cores tenham aterrizado no lago causando sua drástica alteração. Talvez algo no lago tenha impedido a Cor de sofrer sua mutação natural e de partir de volta para o espaço, como normalmente ocorre com essas criaturas vindas do espaço exterior. Quem sabe, a cor tenha se transformado em algo muito diferente e bizarro, algo diferente de tudo que existe no universo. Um ser que se alimenta da vida e deixa cascas fossilizadas após a sua passagem.

Mais um cenário dantesco? A existência de um portal aberto há milhares de anos e abandonado em um local remoto do lago. Essa abertura para uma outra dimensão, realidade, plano ou esfera distante, contaminou o lago com elementos distintos que tiveram um impacto no ecossistema. Pior ainda! O portal continua aberto e de dentro dele algo ainda mais bizarroe alienígena atravessou para o nosso lado, arrastando consigo morte, loucura e pestilência... um grupo de cientistas que veio estudar o lago acaba tropeçando nessa descoberta e tem que encontrar uma maneira de lidar com essa criatura que não pertence a nossa realidade.

E para finalizar que tal o Lago Natron ser o reduto de uma uma tribo de nativos que sofreu mutações ao longo de séculos pela exposição aos vapores cáusticos tornando-se algo parecido com os Sand Dwellers. Essa tribo perdida, que habita um complexo de cavernas profundas, acessada apenas por meio de um túnel oculto, jamais teve contato com a civilização. Os nativos massai conhecem essa tribo através de lendas ancestrais e os temem há séculos. Não apenas por eles serem terríveis caçadores que se alimentam de seres humanos, mas por eles terem contato com as divindades ancestrais que amaldiçoaram o lago, hoirrores que eles chamam de Clulu e Zadoqua (nomes dados aos nativos aos nossos amigos Cthulhu e Tsathogua).

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