sábado, 28 de janeiro de 2017

Rizocéfalo - O mais medonho (e assustador) parasita da Natureza


Scoop de José Luiz F. Cardoso
Com material da página Deep Sea News

Caras, isso é realmente aterrorizante!

Tanto que quando terminei de escrever parei e refleti a respeito daquele velho ditado que algumas pessoas gostam de repetir: "A Natureza é sábia!

Minha mãe adora repetir isso quando vê, por exemplo, um animal de espécie diferente adotando outro (gatinhos sendo adotados por uma cadela que lhes dá de mamar, são um must).

Ora, com todo respeito aos que pensam dessa forma, inclusive minha mãe, eu prefiro pensar de outra maneira:

A Natureza não é "sábia", ela é sim, implacável com todos os seres vivos. 

A Natureza impõe a toda e qualquer forma de vida que anda, nada, voa ou rasteja nesse planeta que se adapte da melhor maneira possível. Se a adaptação não acontecer corretamente e a tempo, a própria Natureza se encarrega de cobrar um alto preço: simplesmente varrer a espécie para baixo do tapete evolutivo em uma extinção da qual não há retorno. Sobrevivência é o nome do jogo disputado dia a dia desde o início dos tempos. Se nós estamos vivos como espécie, é apenas por que fomos capazes de superar as dificuldades impostas pela natureza ao longo de nossa existência. E se a sua espécie não se adapta às condições adversas que surgem? Bem, pergunte o que aconteceu aos dinossauros se você encontrar um deles.

Nesse jogo perigoso, algumas espécies se superam na maneira para garantir sua própria sobrevivência. No panorama inclemente da Natureza, vale tudo para garantir os três elementos fundamentais para perpetuar a espécie: alimentar, crescer, reproduzir.

Nesse contexto, nenhuma espécie é mais canalha, mais insidiosa, mais cruel do que um pequeno crustáceo marinho chamado Rizocéfalo (da classe Cirripedia que inclui entre seus primos, criaturas como a craca e o percebes).


O Rizocéfalo é um parasita grotesco saído dos pesadelos niilistas de um maníaco. E eu estou sendo bonzinho nessa descrição, pois quando li a respeito dessa coisa, perdi meu apetite e mesmo agora, ele é capaz de me dar arrepios. O pequeno Rizocéfalo faz o sangrento ciclo reprodutivo dos xenomorfos da franquia Alien parecer um conto de fadas de amor e carinho entre as partes envolvidas. E o pior, é que ao contrário dos aliens, essa coisa é real.

Por onde começar a descrever o que esse grande Filho da P*** faz com suas vítimas?

Bem, pelo começo, creio eu.

Para entender o horror que representa esse monstro, você precisa se colocar no lugar de um outro animal. No caso, a pobre criatura que será a vítima do Rizocéfalo. Imagine que você é um inocente Caranguejo do Pacífico, e para aumentar o efeito geral, imagine que você pertence ao gênero masculino.

Pois bem, você é um Caranguejo macho e como tal procura as pedras da praia e a luz do sol onde o alimento é abundante. Você atingiu seu tamanho adulto, esquivando-se de todos os perigos. A vida segue normal, até que um belo dia, depois de passar por cima de algumas pedras, as coisas começam a ficar estranhas. Você começa a desenvolver um desejo de proteção - algo quase maternal - como se alguma força dentro de você estivesse forçando um comportamento diferente do normal.

Esse é o primeiro sinal de que há algo errado acontecendo. O caranguejo não sabe, mas quando passou sobre algumas pedras no litoral, um parasita se prendeu a sua placa de quitina e se alojou na parte de baixo de seu corpo. O rizocéfalo demora apenas alguns dias para iniciar seu ataque. Ele espalha ramificações sob a pele do caranguejo que chegam até seu cérebro. O que ele faz então é assustador: ele começa a mexer com seu comportamento.

Sendo bem direto, ele transforma o Caranguejo num zumbi.

Não é por acaso que o Rizocéfalo é considerado um dos mais estranhos grupos de animais conhecidos.
Um caranguejo afetado por um parasita eclodindo em seu corpo.
No início de sua vida, a fêmea da espécie é perfeitamente normal, tendo um corpo semelhante aos das demais larvas de sua espécie. O que a difere é um tipo de agulha serrilhada que surge na sua cabeça, uma estrutura semelhante a um espinho serrilhado. Quando a larva encontra um caranguejo ela usa essa agulha para se fixar na barriga do hospedeiro, prendendo-se tenazmente. 

Dali em diante começa a mudar: ela abre mão de sua concha de quitina, de seus olhos, de suas pernas para se transformar em uma massa amorfa de filamentos semelhante a mofo negro que recobre a área em que se fixou. A medida que progride para a idade adulta, a larva do Rizocéfalo tem seu corpo retorcido e deformado tornando-se algo semelhante a um tumor.

O espinho continua crescendo no interior do pobre hospedeiro, injetando células no organismo do caranguejo como se fosse uma agulha hipodérmica. Tudo que ela faz é se espalhar como um câncer que busca cada vez mais espaço infectando os tecidos. Seus tentáculos fibrosos se alimentam da gordura e das secreções do caranguejo que vai adoecendo.

Mas quando você imagina que não pode piorar, as coisas ficam ainda piores.

O abdomen do hospedeiro começa a rachar e de dentro dele emergem as gônadas do Rizocéfalo, exatamente no lugar onde antes existiam os genitais do caranguejo. Os ovários do parasita atraem os machos rizocéfalos que se aproximam para procriar. A primeira reação do Caranguejo seria repelir esses pretendentes indesejados, mas as células do parasita já conseguiram mudar seu comportamento de tal maneira que ele sente que a procriação é bem vinda, mesmo que seja por uma espécie diferente. Em última análise ele permite ser fertilizado por uma espécie diferente da sua.

A essa altura, o caranguejo já não sabe mais o que é.

O rizocéfalo inseriu em seu cérebro filamentos que lançam doses maciças de substâncias químicas que o confundem e o controlam. O hospedeiro passa a acreditar que é uma fêmea, e que seu abdomen, carregado de ovos estranhos são, ainda assim, seus próprios ovos. A medida que os ovos amadurecem, o Caranguejo começa a protegê-los e limpá-los como se fossem seus.

O Rizocéfalo já tomou esse hospedeiro e ele está pronto para se reproduzir.
Em um dia fatídico, o pobre hospedeiro sente um irresistível impulso de se mover para o litoral. Seu corpo, antes rígido e quitinoso, foi mudado com o propósito de proteger os ovos. Ele foi emasculado e transformado em algo que não era originalmente. Na costa, sua casca arrebenta e começa a liberar centenas de filhotes, onda após onda. 

A despeito de tudo, o caranguejo acredita que está gerando uma nova ninhada e que cumpriu seu propósito reprodutivo. O pior é que seu corpo será devorado pelas pequenas criaturas que estão saindo de seu interior. O caranguejo é literalmente comido pelas larvas que eclodem de dentro dele, uma geração que irá contaminar e se espalhar entre os seus irmãos como um cancer do qual não existe salvação e nem cura.

Natureza sábia?

Natureza nobre?

Ou seria, Natureza Implacável?

*     *     *

Não sei quanto a vocês, mas o comportamento desse parasita me parece ser o mais próximo na natureza de algo realmente lovecraftiano.

Pense bem:

Totalmente alienígena, absolutamente irrefreável em seu propósito de expandir, sobreviver e proliferar. Indiferente quanto ao destino dos outros seres dos quais ele se aproveita em benefício próprio.

Essa coisa, o Rizocéfalo, é um monstro absurdamente assustador.

Imagine agora se a humanidade fosse afetada por algo desse tipo, algo que altera o comportamento, que causa mudanças corporais severas, que se aproveita de um hospedeiro e que o usa como alimento depois que seu propósito principal se encerra.

Eu não gostaria de viver no mesmo mundo que essa coisa medonha.

9 comentários:

  1. Um bom exemplo de como isso poderia ocorrer no universo lovecraftiano, seria através da prole de Eihort. A natureza realmente não tem piedade.

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  2. Demorou um ano pra começar a escrever? Sinceramente eu me perdi várias vezes se o texto queria dizer o que o bicho faz ou se ele queria explicar a origem do universo.

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  3. Ola MT!Vcs poderiam fazer um post falando sobre em que obra os Deuses mais desconhecidos dos Mythos surgiram?

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  4. Existem espécies desse grupo de animais que após procriar, não matam o hospedeiro, mas sim liberam o "saco de ovos" (chamado externa) e permitem ao hospedeiro realizar a muda e crescer. Para então gerar um novo externa e começar o ciclo novamente - literalmente vivendo através do caranguejo.

    E esse não é o único crustáceo parasita marinho estranho. Já conhece este?
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Cymothoa_exigua

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  5. Esse bichinho amaldiçoado me lembra um certo grupo de psicopatas, a maioria deles pertencentes à política...

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