sexta-feira, 6 de julho de 2018

Decifrando Hereditário - Pistas e Indícios no melhor filme de Horror do ano


O filme mais aterrorizante da temporada possui várias camadas.

Nem todas as pistas e indícios lançados ao longo do filme são perceptíveis e muitos podem passar batidas. Há muitas coisas interessantes e que ficam apenas no background e aqui nesse artigo fiz uma compilação com o resumo de algumas coisas curiosas que percebi no decorrer do filme e outras que pincei na internet e que nem tinha me dado conta. Alguns deles são bastante óbvios, mas outros me deixaram surpreso, ainda mais quando comecei a correlacionar e fazer pesquisas para ir um pouco mais fundo.

É claro, estamos falando de temas centrais na trama de Hereditário e portanto é impossível não incorrer em SPOILERS.

De fato, teremos MUITOS SPOILERS daqui em diante e por isso, quem não viu o filme deveria parar de ler nesse exato momento. Mas volte aqui assim que tiver visto o filme para comparar suas suposições com o que levantamos a respeito.

Ok?


Então vamos em frente...

Hereditário conta a sinistra história de uma família que enfrenta aterrorizantes segredos e horríveis relações no mundo sobrenatural. O diretor do filme Ari Aster tomou cuidado para construir uma narrativa cinemática ao mesmo tempo atraente e assombrosa. Se você assistiu esse filme, você deve saber que alguns detalhes, definitivamente precisam de mais explicações.

O filme faz o máximo para amarrar todas as pontas, mas nem tudo fica cristalino no fim das contas. Aqui estão alguns dos detalhes sobre Hereditário que podem ter ficado de fora para quem assistiu o filme.

1) O Símbolo/Selo de Paimon



A maioria das pessoas que assistiram o filme devem ter percebido que um símbolo dourado aparece em vários momentos.


Ele está no amuleto que Annie usa durante o funeral (que foi dado de presente pela mãe, Ellen), ele foi colocado em volta do pescoço da mulher ao ser enterrada, ele pode ser visto na casa de Joan em um quadro, desenhado com sangue sobre o cadáver decapitado da matriarca, em várias fotos nos álbuns e na casa da árvore na sequência final.

Esse é o Símbolo do Rei Paimon, uma entidade demoníaca venerada pela Seita comandada pela mãe de Annie. Paimon é um demônio considerado real pela Ars Goetia e citado em vários tratados sobre o assunto desde os séculos XV e XVI. 

                                                     

No filme Paimon é descrito como um dos oito Reis do Inferno, frequentemente descrito como um devoto e obediente aliado de Lúcifer. Paimon é retratado como um homem com face feminina, cavalgando um dromedário, usando uma coroa que possui exatamente esse símbolo em destaque emitindo chamas.

O símbolo representa quatro indivíduos postados de joelhos olhando para o oeste que é o ponto cardial da entidade e para onde seus devotos precisam estar voltados durante as reverências. O Símbolo ou Selo, parece desempenhar um importante papel durante as invocações e rituais já que ele aparece inscrito nas paredes da Casa da Árvore transformada em um Templo Satânico. Além disso, os membros do culto, que podem ser chamados de Paimonitas, usam o símbolo como algum tipo de indumentária, uma espécie de distintivo importante que une o cultista à entidade. Finalmente, ele deve ser parte importante em rituais, já que é desenhado com sangue no local em que o cadáver decapitado da Rainha Leigh foi colocado. 

2) Manipulação



Um dos temas centrais no filme e um aspecto bastante explorado são os dioramas em miniatura criados por Annie, uma artista plástica respeitada.

Logo no início do filme há uma cena sensacional de um quarto numa casa de bonecas (que depois ficamos sabendo que é uma réplica exata do chalé em que a família vive), na qual a imagem vai se aproximando até ficar estática e percebermos que se trata de uma filmagem e não de uma miniatura.

Em vários momentos nós vemos Annie trabalhando em suas miniaturas de maneira cuidadosa com uma devoção impressionante. Essa é uma potente metáfora para um dos aspectos centrais do filme, a "manipulação".

Todas as mulheres da família são extremamente habilidosas realizando algum tipo de tarefa manual: Ellen fazia capachos personalizados com o nome bordado das pessoas, Annie é uma artista conceituada especializada em miniaturas e mesmo Charlie aparece em vários momento alterando e manipulando brinquedos ou objetos.

As três tem em comum essas habilidades manuais (uma espécie de Herança comum se preferir). Elas transformam as coisas em que colocam as mãos e fazem o mesmo com os demais personagens, manipulando-os com a mesma facilidade, obrigando-os a fazer o que desejam, da maneira que desejam e da forma que desejam.

3) Doenças Mentais Hereditárias


Um dos aspectos mais brilhantes a respeito de Hereditário reside nas metáforas.

Fica claro desde o início do filme que a família de Annie é amaldiçoada por uma série de problemas de natureza mental. O pai sofria de Depressão Psicótica e morreu de inanição, o irmão tinha Esquizofrenia e cometeu suicídio, enquanto Ellen apresentava um quadro de Transtorno Dissociativo de Personalidade (o aparecimento de personalidades dominantes que se alternam no controle do corpo).

Uma interpretação subjetiva poderia levar ao questionamento de que Annie também sofria de alguma doença mental e que essa era sua "herança", transmitida para ela pelos genes defeituosos de seus pais. Estudos recentes apontam que doenças mentais podem ser transmitidas de pai para filho, e que estes, tem uma chance maior do que outras pessoas de desenvolver perturbações mentais. Em mais de um momento do filme não fica claro se Annie realmente está enfrentando um ataque sobrenatural, ou se tudo aquilo não passa de algo que ela está imaginando em virtude de um agudo quadro clínico.

Annie se comporta como uma típica pessoa que sofre de dissociação: ela ri de maneira estranha, discute com o filho, sorri quando seu marido morre, tem alucinações e ainda sofre com episódios de sonambulismo. Ficamos sabendo em determinado momento que ela teve uma experiência traumática onde, por pouco não ateou fogo nos seus filhos.

A própria Annie parece temer que a loucura da mãe e do pai sejam sua herança. Que ela também esteja enlouquecendo e que possa se tornar um perigo não apenas para si mesma, como para sua família (marido e filhos). Ela também imagina, e teme, que Peter e Charlie podem sofrer dos mesmos problemas, já que através de seu sangue ela transmitiria a loucura da família para eles.

O filme não menciona, mas podemos supor que Steve sabe dos problemas mentais da família de Annie, já que ele em determinado momento proibiu que Ellen visitasse sua família. Também é possível intuir que Steve se mantinha atento a degradação mental de Annie. Quando o corpo de Ellen aparece no sótão da casa, ele acredita que o responsável pela profanação do cemitério tenha sido a própria Annie e que ela tenha escondido o cadáver lá. Ele acredita que a mulher precisa de ajuda profissional e que talvez o melhor seja interná-la para que ela receba o devido tratamento.

No fim, descobrimos que a loucura da família de Annie tem uma razão de existir e que ela é motivada por fatores externos: o sobrenatural, não a genética é a culpada. Ellen, a líder do culto demoníaco, foi a responsável por toda tragédia que levou seu marido e filho. Foram seus planos, que só vão ter resultado anos mais trade, através de Annie e de seus netos, que deflagraram tudo aquilo.

4) Charlie constrói um protótipo da Estátua de Paimon



Em determinado momento parece claro que Charlie está trabalhando em alguma coisa em seu quarto.

Em diversos momentos é possível perceber que ela tem em suas mãos algum objeto ou brinquedo que ela está transformando, cortando ou colando. Durante uma cena no colégio, a professora comenta que Charlie deveria estar se concentrando em um exercício e não brincando e que ela teria tempo de sobra para isso depois. Nós não ficamos sabendo exatamente qual o seu objetivo final, mas podemos conjecturar que ela está trabalhando em uma versão da estátua vista na sequência final e que representa ninguém menos do que o Rei Paimon em tamanho real.

Uma das pistas que remete a isso é quando Charlie corta a cabeça do pombo que se chocou com a janela e morreu. A cabeça seria usada para dar uma face a Paimon, como fica claro em um desenho em seu bloco no qual vemos o pássaro com uma coroa na cabeça.

Talvez ela estivesse trabalhando em um modelo em escala reduzida da estátua, um protótipo para a estátua em tamanho humano. Por ironia do destino, a cabeça da estátua em tamanho natural acaba sendo exatamente a cabeça decepada de Charlie em uma imagem absurdamente sinistra.

4) Por que Charlie estala a língua?


O diretor Ari Aster explica que o som feito por Charlie em vários momentos do filme é uma "ferramenta necessária" para que a personagem possa ser identificada.

Ela está lá para que os espectadores saibam que Charlie está presente, não importando a forma de seu corpo. É por essa razão que sabemos que Charlie passou para o corpo de Peter no final do filme, imediatamente quando Peter produz o mesmo som. A escolha por esse som em particular se deu por ele ser considerado estranho e incomum, sendo que no roteiro inicial a menina assoviava uma música recorrente. 

O ruído do estalo foi escolhido também baseado na crença de que o Demônio Paimon é, conforme algumas tradições, incapaz de se comunicar verbalmente e por isso prefere se comunicar projetando seus pensamentos. O único som que ele seria capaz de produzir verbalmente seria esse estalar de língua. 

5) O Simbolismo da Decapitação



O ato de decapitar (a ação de cortar a cabeça) está presente em várias cenas do filme e parece desempenhar um papel muito importante na mitologia do Culto de Paimon.

A morte de Charlie é um dos momentos chave da trama, o fechamento do primeiro ato, é um incidente tão repentino que ninguém poderia imaginar. Quando a menina abre o vidro do carro e tentando respirar melhor coloca a cabeça para o lado de fora ouvimos o som da batida e o choque, mas não imaginamos de imediato a gravidade do que acaba de acontecer.

É quando a cena continua e vemos a cabeça caída num trecho de estrada, coberta de formigas e os gritos desesperados de Annie, que temos o choque de entender o que aconteceu. Charlie é literalmente decapitada e sua cabeça arremessada para o meio fio onde permanece já que Peter em estado de choque não consegue lidar com o incidente.

Mas é claro, isso não é um simples acidente bizarro e aleatório.

Olhando em retrospecto, é notável que a decapitação de Charlie  ecoa o mesmo destino de sua mãe e avó: Annie é decapitada por fios de piano e a cabeça de Ellen é removida de seu corpo pelos membros do culto que a retiram de sua sepultura.

A decapitação tem um simbolismo bastante importante no universo do ocultismo, sendo uma ferramenta para destruir seres muito poderosos ou para permitir a sua liberação espiritual. Muitas civilizações antigas consideravam a Cabeça como sendo o local em que residia a alma imortal. Para que o espírito fosse liberado de seu simulacro material, era necessário que a cabeça fosse separada do restante do corpo. Apenas através da decapitação a alma poderia ascender ou ser definitivamente liberada.

Na mitologia definida pelo filme, o Ato de Decapitar é uma ferramenta essencial para os rituais dedicados a Paimon. Em mais de uma representação, Paimon aparece montado em seu dromedário com três cabeças humanas amarradas pelos cabelos na sua sela.

Faz sentido portanto, que Paimon tenha uma ligação singular com a decapitação. Ele próprio só pode ser libertado de um corpo mortal em que esteja habitando por intermédio de uma decapitação. Quando Charlie é decapitada, o espírito do demônio sai de seu corpo e passa a vagar livremente em busca de um novo simulacro. Quando ele habita Annie, ela termina por decapitar a si mesma (em uma cena medonha) usando para isso cordas de piano. Nós não vemos Ellen ser dominada por Paimon, mas é possível conjecturar que tal coisa possa ter acontecido uma vez que o cadáver dela aparece na casa da árvore sem a cabeça.

As três mulheres da família devidamente decapitadas compõem o altar de Paimon no Templo improvisado na Casa da Árvore: Ellen e Annie estão ajoelhadas diante do Totem de Paimon, enquanto a cabeça de Charlie foi colocada na própria estátua.

Cada vez que uma decapitação ocorre no filme, o espírito é liberado e pode adentrar um outro hospedeiro até fazer a sua escolha final e possuir o corpo idealizado pelos cultistas, pertencente a Peter.

6) Charlie sempre foi Paimon



No final de Hereditário é revelado que o espírito do Demônio Paimon agora vive no corpo que pertencia a Peter, graças a um ritual sangrento e medonho.

Até então, a entidade habitava o corpo de Charlie, um corpo feminino que não era o adequado para conter o espírito do Rei Demoníaco e que precisava ser transplantado para o receptáculo correto. Do momento em que Charlie nasceu, até sua morte chocante, o demônio habitava o corpo da menina. Quando Charlie morre, Joan, a segunda na liderança do culto coloca o plano em ação e força o espírito de Peter a ser expulso do corpo cedendo lugar ao seu mestre. "Um corpo masculino e saudável", era o que eles demandavam para a compleição do ritual.

Na Mitologia Goética, Paimon é descrito como uma entidade masculina ainda que seu corpo aparente ser o de uma mulher. Há espaço para suposições relacionadas a essa entidade ser hermafrodita.  

A despeito de sua preferência por habitar um corpo masculino, o  corpo de Charlie se mostrou um receptáculo bom o bastante até que chegasse o momento ideal para transferir Paimon para o corpo de Peter. Não há razões para supor que a própria Charlie/Paimon soubesse qual da sua origem. Ao que tudo indica, enquanto ocupava o corpo da menina, o demônio não tinha noção de sua verdadeira natureza diabólica. Desse ponto de vista, Charlie não era má, embora a alma de Paimon sem dúvida terminaria por aflorar em algum momento.  

Da mesma forma, podemos supor que quando Charlie/Paimon revive no corpo de Peter, ele ainda não tem noção de quem é. De fato, cabe a Joan contar a ele sua origem, explicar quem ele é, e cobrar dele a recompensa para o culto. O filme termina nesse momento, ecoando o final de "O Bebê de Rosemary" no qual o mal vence no fim e seus cultistas atingem seu objetivo.

7) Verdades dolorosas


Uma das cenas mais pesadas e incômodas de Hereditário acontece quando Annie é confrontada por Peter que pergunta por que ela o odeia tanto e por que age daquela maneira com ele.

Colocada contra a parede, Annie começa a revelar verdades dolorosas a respeito do nascimento de Peter. Ela conta que não queria ter engravidado dele, que desejava abortá-lo e que preferia que ele jamais tivesse nascido.

Annie acrescenta ainda que "fez de tudo para abortar", mas não conseguiu de forma alguma. Isso nos leva a imaginar se de alguma forma o Culto já estava de alguma maneira protegendo aquele que eles desejavam transformar no receptáculo para o Rei Paimon. Uma mulher grávida poderia arranjar muitas formas de perder seu bebê, mas ela deixa claro que, "por mais que tentasse", não conseguia encerrar a gravidez. Parece claro que, de alguma forma, o Culto conseguiu preservar a gestação de Annie para que seus planos pudessem funcionar conforme o desejado.

Outro detalhe que pode passar desapercebido diz respeito ao motivo pelo qual Annie acaba revelando essas coisas para seu filho. Convenhamos, nenhuma mãe deveria contar ao filho que havia tentado de todas as formas abortá-lo, mas é exatamente o que Annie acaba fazendo, o que deixa Peter arrasado.

Numa cena anterior a essa discussão, Annie havia visitado Joan em seu apartamento e durante o encontro havia bebido um chá. Em determinado momento ela percebe que havia alguma coisa na xícara, ela retira essa coisa da boca e tudo indica se tratar de um comprimido. Minha suposição é que seja algum tipo de droga que faz com que Annie "perca as estribeiras" e que a leva a falar aquelas coisas para o filho. Em mais de um momento, depois de falar, ela tenta tampar a própria boca, como se as palavras tivessem escapado sem que ela quisesse.

É possível que Joan tenha colocado a droga na bebida de Annie durante a visita, o que acabou levando à discussão e afeta seu julgamento, obrigando-a a falar o que não devia. 

8) Ellen alimentava Charlie



É um detalhe menor que pode passar desapercebido, mas ele é levantado por Annie quando ela comenta a respeito dos estranhos costumes de sua mãe.

Para começar, foi Ellen quem incentivou a filha a ter uma segunda criança, já que ela já havia tido Peter e não queria outros filhos. Ellen acabou engravidando para que talvez ela e a mãe pudessem ficar mais próximas e de alguma forma pudessem reatar seu relacionamento conflituoso. Uma das miniaturas mostra Annie e seu marido, Steven tendo sexo e um boneco de Ellen observando da porta. Como se ela estivesse monitorado a concepção de uma segunda criança que cumpriria os planos do culto.

Annie comenta com Charlie que a menina era a "favorita" da avó (o que faz sentido, já que ela era o simulacro que encerrava Paimon). Comenta também, em determinado momento, que Ellen insistia em cuidar de Charlie, como se ela fosse filha dela e não de Annie. Mas essa reação não era obviamente uma relação de avó e neta, mas de cultista e demônio.

Fica subentendido que o zelo de Ellen para com  Charlie ia além de um cuidado normal. Ellen chegava a alimentar a menina, o que segundo Annie a deixava furiosa. Não aparece em momento nenhum o que significa "alimentar", mas em um diorama vemos claramente um boneco de Annie deitado em uma cama com Charlie no colo e uma boneca de Ellen de pé ao lado da cama com um vestido aberto na frente. É possível compreender que para tornar a ligação entre Ellen e Charlie/Paimon, a avó a alimentasse o bebê com seu próprio leite (o que justificaria porque Annie ficava furiosa com tal coisa).

Amamentar é uma das formas mais íntimas de contato entre mãe e filho uma ligação extremamente íntima e indissolúvel.

É possível supor que Ellen estivesse tentando se tornar a "mãe espiritual" de Paimon e fazer com que ele se tornasse mais próximo dela do que Annie jamais deveria ser. Prova disso é o momento em que Charlie pergunta à mãe quem vai cuidar dela agora que a avó estava morta. Na cabeça dela, a avó era uma figura materna muito mais preponderante do que a própria mãe.

9) As estranhas Palavras



Ao longo do filme, a câmera atrai nossa atenção em alguns momentos para misteriosas palavras arranhadas nas paredes da casa dos Graham. As palavras incluem termos curiosos incluindo  "satony," "liftoach", "pandemonium," e "zazas."

O filme nunca explica de maneira direta o que essas palavras curiosas significam.

Por isso fizemos uma breve pesquisa para satisfazer a curiosidade e entender o que essas palavras tão sonoras significam:

"Satony" - Uma busca pelo "Google Search" me levou a um site chamado ancestry.com, o que leva a supor que possa se tratar de um nome próprio, mais provavelmente o nome de uma família. Tentando acrescentar um pouco mais de precisão, acrescentei a palavra "occult" para minha busca de termos. Não havia muito, mas um dos links parecia promissor já que ele era chamado "spellsofmagic.com". Não posso precisar o quanto essa página é confiável, mas lá encontrei "Satony" como uma espécie de palavra mística relacionada a Rituais de Necromancia. Ao que parece trata-se de uma espécie de "Palavra de Poder", que tem relação com o comando de enviar os mortos de volta ao mundo espiritual. Isso faz perfeito sentido no contexto do final do filme. 


"Liftorch" - A palavra faz parte do idioma hebraico e tem como significado direto "abrir", "escancarar", "desimpedir o caminho". Essencialmente pode ser compreendido coo uma palavra de comando, ordenando que algo - possivelmente as fronteiras entre os mundos, se abram, permitindo o acesso entre os mundos.

"Pandemonium" - O termo é usado coloquialmente para descrever situações de caos e confusão e foi incorporado ao dicionário dessa forma. A origem da palavra, no entanto, está ligada a obra Paraíso Perdido de John Milton que não por acaso, trata de temas ligados a mitologia Judaico Cristã, em especial a Queda de Lúcifer. Pandemonium seria o local criado por Lucifer para acolher as hordas demoníacas que desafiaram a Graça divina e por essa razão foram expulsos. Em algumas versões, o Pandemonium seria nada menos do que a Capital do Inferno.

"Zazas" - A curiosa palavra "zazas" é encontrada por Steve Graham arranhada em uma parede. O termo está relacionado ao universo do sobrenatural. Ele tem uma ligação com o famoso ocultista Aleister Crowley que teria usado a palavra como uma espécie de mantra "Zazas Zazas Nasatanada Zazas" que permitiria a ele limpara  sua mente e expandir sua consciência. Na ocasião e que usou esse mantra, Crowley estaria tentando invocar um demônio chamado Choronzon. A explicação e o indivíduo parecem se encaixar muito bem, mas não é a única.

Zazas também parece estar associado ao Ouija, o famoso método de contato com o mundo espiritual utilizando um tabuleiro e copo. Zazas seria uma resposta obtida quando os espíritos não estão interessados em estabelecer comunicação e preferem ignorar as tentativas de obter alguma resposta. 

10) Paimon deveria ser Homem


O Culto de Paimon está tentando encontrar um corpo masculino para o demônio possuir e usar como seu novo avatar. Isso possivelmente tem uma ligação direta com a mitologia de Paimon, uma entidade retratada como um homem, mas com o corpo delicado e com predicados femininos. As imagens de Paimon sempre mostram um indivíduo de corpo esguio e frágil. A dualidade de Paimon, sugere que ele poderia ser ao mesmo tempo masculino e feminino, mas essa noção parece ter sido abandonada pelo filme já que o aspecto sexual é de suma importância.


No início do filme, Annie conta como seu irmão, considerado esquizofrênico, cometeu suicídio, acreditando que Ellen (sua própria mãe), estaria tentando "colocar pessoas dentro de seu corpo". Tudo leva a crer que Ellen havia tentado usar o corpo de seu filho como um recipiente para Paimon e que esse plano foi frustrado quando ele conseguiu por um fim à sua vida.

Ellen basicamente sacrificou sua família inteira, o marido e filho, para ressuscitar Paimon. Quando esse plano falhou ela esperou pacientemente até que a família de Annie (sua herdeira direta) pudesse ser usada no mesmo esquema. Para tanto ela não se importava em absoluto em sacrificar Annie, Steve, Charlie e Peter, meros peões em sua conspiração satânica.

Infelizmente a própria Annie assume, quando começa a descobrir indícios da conspiração, que tudo não passa de efeitos colaterais da doença mental de sua família. Em retrospecto a noção de que a doença da família possa ter sido passada hereditariamente para seus filhos torna difícil para Annie aceitar o que está acontecendo.

A razão pela qual Ellen não se vale de Steven, seu genro para receber Paimon está relacionada ao fato de que ele não faz parte da família. A Hereditariedade, o vínculo de sangue entre mãe, filha e netos, parece ser de enorme importância para os cultistas e é possível que o Ritual só funcione se envolver os indivíduos com laços diretos de sangue.

11) Tudo é Premeditado


Em um primeiro momento, os eventos que conduzem à trágica morte de Charlie parecem aleatórios.

Em sua última noite, Charlie não demonstra interesse em ir à festa. Ela não foi convidada, não conhece ninguém lá e Peter não parece muito interessado que ela o acompanhe, já que ele tem seus próprios planos. Annie é quem acaba obrigando Peter a levá-la, mesmo que Charlie não tenha interesse de ir.

Quando os irmãos estão à caminho da casa vemos um poste na beira da estrada com o símbolo de Paimon arranhado na madeira. Este será exatamente o poste que causará o horrível acidente que arrancará a cabeça de Charlie e dará início a espiral destrutiva da família Graham.

O fato do poste ter o símbolo de Paimon parece ser um indicativo de que tudo, absolutamente TUDO, é premeditado.

Quando chegam à festa, os adolescentes estão preparando um bolo com nozes. Quando Charlie se serve de uma fatia de bolo (aconselhada a fazê-lo justamente por Peter) sua alergia acaba se manifestando e ela precisa ser levada às pressas para o hospital. Mais uma vez parece ser uma perfeita conjunção de fatores. Peter não procura ajuda com os colegas, não pensa em chamar uma ambulância ou paramédicos para tratar da emergência. Ao invés disso, ele coloca Charlie no banco de trás do carro e sai em disparada por uma estrada escura. O "acidente" é exatamente o que o Culto precisava. Uma morte que libertasse o espírito de Paimon no interior de Charlie através de uma decapitação. 

Não há coincidência nesses eventos, eles são perfeitos demais para que afastemos a presença de fatores sobrenaturais orquestrando cada acontecimento nos mínimos detalhes.

12) Por que Peter aparece nos desenhos com os olhos cruzados?


Quando vemos o bloco pertencente a Charlie que é usado como foco para invocar Charlie/Paimon, vemos vários desenhos de Peter.

Nesses desenhos, o irmão mais velho aparece com os olhos cruzados/riscados.

Segundo teorias de vários povos, os olhos simbolizam a janela para a alma, é através dele que a alma imortal enxerga o mundo ao seu redor e interage com tudo à sua volta. Quando eles aparecem cruzados ou riscados, é possível que isso se refira a noção de que a alma original de Peter está de alguma forma condenada a ser extraída/expulsa. É exatamente o que Joan faz ao gritar para Peter que ele está "expulso".

Existe uma teoria de que em uma cena, possivelmente em um sonho, Peter apareceria arrancando os próprios olhos e estes seriam preenchidos pela luz azulada que represneta as aparições extra-corpóreas de Paimon. Há inclusive rumores de que essa cena teria sido filmada, mas que ela acabou sendo cortada da edição final.

13) Quem eram as pessoas que compunham o Culto?


O filme não deixa claro quem eram as pessoas que faziam parte do Culto de Paimon.

Há vários indícios de que eles estão sempre próximos da Família Graham, prestando atenção em suas ações e aguardando ansiosamente para que seus planos frutifiquem e tenham resultado.

O primeiro momento em que vemos os Cultistas é no Funeral de Ellen, quando a própria Annie se surpreende em encontrar tantos rostos estranhos, ou seja, pessoas que ela desconhecia e que ela assume fossem "velhos amigos de sua mãe", uma mulher extremamente reservada. Durante o funeral vemos algumas pessoas que provavelmente aparecem na sequência final do filma, na Casa da Árvore.

Sem dúvida, uma das figuras mais sinistras durante o funeral é um sujeito grande e loiro que parece sorrir para Annie e Charlie com uma expressão perversa, como se soubesse de alguma coisa. O que provavelmente é verdade.

A seguir vemos os membros do Culto em fotografias nos álbuns pertencentes a Ellen. Nessas fotos podemos ver um grupo de pessoas de várias idades reunidos em uma espécie de sociedade ou assembléia de caráter religioso. Várias dessas pessoas usam o amuleto de Paimon, participam de rituais e estão sempre acompanhados de Ellen e Joan que tudo indica são membros proeminentes no Culto (Ellen é tratada como Rainha Leigh, uma espécie de título).

Na sequência final é possível ver os membros do Culto uma vez mais, reunidos para obter as graças de Paimon que foi invocado no corpo de Peter. Os membros do grupo, nus e transbordando satisfação, parecem ter concluído seus planos e finalmente conseguirão aquilo que tanto almejaram.

Algumas pessoas interpretaram os membros do Culto na Casa da Árvore como fantasmas ou entidades espirituais, mas o mais provável é que eles sejam tão somente indivíduos envolvidos com o Culto de Paimon, gente degenerada e perversa, mas em última análise de carne e osso.

A título de curiosidade, um dos pôsters mais impressionantes do filme dá uma dica a respeito do envolvimento direto do Culto na tragédia dos Grahan. Ele revela a presença de indivíduos nus escondidos em meio às árvores prestes a entrar na Casa da Árvore.

14) O que era a Luz Azulada?



Como muitos dos espectadores concluíram corretamente, a luz azulada que é vista em alguns momentos centrais do filme é a presença invisível do Demônio Paimon rondando a nossa realidade.

O diretor contou que era necessário que Paimon fosse compreendido como uma presença sempre à espreita dos personagens, em especial depois que ele deixa o corpo de seu hospedeiro original, Charlie, e é invocado por Annie. Ele precisava aparecer em cena, ainda que não fosse àquela altura compreendido por inteiro.

Originalmente o roteiro contemplava que Paimon seria visto como um inseto, possivelmente uma mosca ou um gafanhoto que apareceria seguido Peter e sendo visto em vários momentos da trama. Esse conceito foi alterado e Paimon passou a ser associado a um flash de luz azulado.

A cena mais importante envolvendo a luz azulada é quando o corpo de Peter, logo depois de despencar da janela do sótão, é atravessado por um globo azulado. Isso representa o momento em que a alma de Paimon assume o corpo de Peter, logo depois que sua alma é expulsa.

15) O Contato com o Espiritismo



O Culto de Paimon entende que seu esquema precisa da anuência de Annie e de sua participação direta no esquema. Ela precisa realizar o ritual para chamar Paimon (não pode ser outra pessoa, novamente a Hereditariedade se mostra um fator central na trama).

O Culto planeja nos mínimos detalhes como manipular Annie e fazer com que ela realize o Ritual de Invocação, acreditando se tratar de uma forma de comunicação com o Mundo Espiritual. A primeira tentativa de fazer Annie se interessar pelo mundo espiritual ocorre quando ela encontra os livros que pertenciam a mãe e que incluíam livros a respeito de espiritismo. Annie encontra uma carta da mãe, aconselhando-a a ler o livro e buscar nele um consolo para seu luto.

Quando isso não funciona, vemos que o culto faz uma nova tentativa enviando para a casa dos Graham um folheto com a propaganda de uma médium que encoraja os céticos a presenciar uma sessão e testemunhar o fenômeno pessoalmente. Os Graham não parecem dar a menor atenção ao panfleto, que provavelmente foi deixado em sua caixa de correspondência pelos membros do Culto tentando mais uma vez atrair Annie.

Finalmente, o Culto decide ser mais incisivo e planta Joan, um membro importante na congregação, dentro do grupo de apoio que Annie frequentava. O plano então é ganhar a sua confiança, inventando uma história a respeito de uma tragédia para assim aproximar as duas mulheres. Quando Annie encontra Joan "por acaso" depois da chocante morte de Charlie ela não demora a oferecer um conforto espiritual, na forma de uma comunicação com os mortos. Ela faz uma demonstração para Annie até então cética a respeito, e quando tem sucesso em invocar seu "neto", Annie passa a acreditar que pode fazer o mesmo.

O plano é muito bem elaborado, mas ao invés de invocar o espírito de Charlie, quem é chamado para nossa realidade é Paimon, deflagrando todas as horríveis consequências do ato final.

16) Os Objetivos do Culto


O Culto de Paimon tem um papel muito importante nos acontecimentos em Hereditário.

Embora Ellen seja a responsável direta por promover toda tragédia que atormenta os Graham e conduz a destruição de sua própria família,os membros do Culto também tem uma importância crucial nos acontecimentos. Sem eles, os planos dificilmente teriam resultado e a conspiração orquestrada traria frutos.

Mas o que esperam os membros do Culto? O que eles ganhariam como recompensa por ajudar a trazer Paimon e coroá-lo em um novo depositário humano?

A resposta para isso está na cena final em que Joan informa Paimon, agora no corpo de Peter que eles finalmente tiveram êxito em seus planos:

"Nós olhamos na direção do oeste e o invocamos. Nós trouxemos os seu primeiro corpo feminino e demos a você um saudável hospedeiro masculino. Conceda-nos seu conhecimento sobre todas as coisas, traga-nos honra, riqueza, e bons familiares. Permita que controlemos todos os homens com a nossa vontade, assim como permitimos que tu nos controle agora e sempre. Ave, Paimon"

As palavras de Joan deixam claro que o Culto busca uma série de recompensas pela sua devoção e por ter realizado uma importante façanha: a de fornecer a um Demônio um corpo mortal para que ele habite a nossa realidade.

Segundo a mitologia do Rei Paimon ele é um dos demônios mais "acessíveis" da Goétia e um dos que aceitam compartilhar com seus discípulos o saber da ciência e misticismo, que ele domina. Ainda segundo a crença, o Rei Paimon conhece a localização de tesouros ocultos do mundo e pode fornecer aos seus seguidores essa localização como uma forma de recompensa. Joan menciona "Familiares", que são os famosos animais companheiros dos feiticeiros, seus servos mais fiéis e devotados, criados com feitiçaria e compelidos a servir bruxos. Paimon poderia ensinar a magia para invocar familiares especialmente poderosos, algo que seria de grande utilidade para cultistas com sede de poder.

17) Rainha Leigh


Não há uma menção específica a respeito do título "Rainha Leigh", o nome que Ellen aparentemente utilizava quando presidia o Culto de Paimon.

O título Rainha, entretanto, é bastante significativo, sobretudo se consideramos que a divindade central é tratada com o título de "Rei". É possível que a Rainha Leigh fosse de alguma forma associada a uma co-regente, ao lado de Paimon, a pessoa escolhida para governar o Culto ao lado do Demônio que todos veneravam. Por outro lado, quando o corpo de Ellen é exumado pelos cultistas ele é colocado em uma posição de subserviência na cena final, ajoelhado humildemente diante da estátua/totem do Rei Paimon.

Não resta dúvida que Ellen era a líder da congregação, e que sua importância se caracteriza pelo seu comprometimento em sacrificar toda a sua família para que os planos do Culto possam florescer. Esse grau de devoção parece ser típico de um líder de culto, ou alguém com carisma e comando sobre todos os demais, alguém capaz de urdir uma conspiração tão medonha e perversa.

Vemos em uma das fotografias que a Rainha Leigh está sendo coberta com moedas douradas que são despejadas sobre ela pelos demais cultistas. Talvez seja uma espécie de Ritual de Consagração ou uma forma de conceder a Ellen uma recompensa pelo seu trabalho bem feito. As recompensas oferecidas pelo Rei Paimon aos seus cultistas parecem ser consideráveis, mas será que Ellen teria a oportunidade de desfrutar delas já que havia morrido? É possível que ela acreditasse que sua recompensa viria após a morte, já que em vida ela não parece ter desfrutado de tais benefícios...

De qualquer maneira, mesmo morta, a Rainha Leigh parecia ainda ter enorme importância para os membros do Culto. Respeitada a ponto ser homenageada com uma fotografia no Templo do Rei Paimon, presente ao menos em lembrança como a responsável por promover a vinda de Paimon e sua Coroação.

18) Formigas


Existe uma incrível quantidade de conexões entre formigas e rituais ocultos.

Há um tipo de ritual associado diretamente a formigas chamado "Myrmomancia", no qual profecias e previsões são obtidas seguindo os padrões de movimento de formigas, onde elas se concentram e em qual quantidade. Diferentes culturas utilizam diferentes técnicas para obter informações utilizando formigas. Povos antigos, como nativos norte-americanos conduziam sacrifícios próximos a formigueiros acreditando que as formigas por habitarem o interior do solo poderiam de alguma forma trazer uma sabedoria proveniente das profundezas da terra, ou do submundo.

Em uma cena bastante perturbadora e visceral, Annie sonha com Peter coberto por formigas, sendo devorado por elas no que poderia ser compreendido como um ritual de Myrmomancia. Em outra cena vemos a cabeça de Charlie decapitada pelo choque com o poste também coberta de formigas que a devoram.

As formigas também são consideradas por algumas culturas como insetos que possibilitam a dissolução da carne e a liberação do espírito. Faz sentido, portanto, que elas tenham um papel central em alguns acontecimentos na trama, sendo muito mais do que um recurso para causar choque.  

19) O Templo e o Totem


Na cena final do filme, quando o Culto revela a atônita Charlie/Paimon, no corpo de Peter quem ela é na verdade vemos a casa da árvore transformada em um Templo Satânico.

Em um momento do filme, Annie menciona que a casa era estranhamente fria e que o lugar parecia sempre gelado, tanto que ela leva para lá um aquecedor. Charlie costumava se esconder na casa da árvore. Acordava durante a noite e ia até lá, em uma espécie de transe confundido com sonambulismo.

O filme não revela o que acontecia na casa da árvore quando Charlie estava lá sozinha, mas é de se supor que ela experimentasse algum tipo de sonho. Talvez esses sonhos fossem uma preparação para que ela entendesse sua origem que seria revelada mais tarde - naquele mesmo local!

Não fica claro como e quando os Cultistas agem na casa. Como eles conseguem transformar a Casa no Templo de Paimon, mas é de se supor que, com Ellen morando na casa, ela concederia a eles os meios de entrar e sair quando bem entendessem. Dessa forma eles conseguiriam levar para o sótão o corpo decapitado da própria Rainha Leigh e preparar o ambiente para o ato final do ritual. Assim eles também conseguiriam arrumar a casa da árvore para o ritual final.

Uma das coisas que mais chama a atenção nessa cena final é a estátua/totem dedicado ao Rei Paimon, uma das coisas mais sinistras e aterrorizantes do filme. A estátua leva em suas mãos um cajado, enquanto a outra mão parece estendida em uma representação característica das figuras católicas. Contudo, diferente das imagens sacras, a mão da estátua de Paimon está voltada para baixo. O diretor disse desde o início que queria evitar pentagramas e crucifixos invertidos que são tipicamente associados com satanismo. Entretanto, ele permitiu esse sinal que mostra a contrariedade de Paimon diante do divino.

Outro detalhe aterrorizante é a cabeça de Charlie ocupar o lugar da cabeça coroada da estátua. Cercada por um halo de metal, ela é uma espécie de escárnio para com o divino bem nos moldes das seitas satânicas que procuram perverter o significado religioso das imagens. 

16 comentários:

  1. Belo trabalho de pesquisa, hein! Obrigado.

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  2. Perturbador!! Parabéns pelo trabalho de pesquisa. 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽

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  3. Muito bom esse texto, assisti o filme e fiquei voando um pouco. Esclareceu e acrescentou bastante obrigado.

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  4. Uau! Cara, que texto espetacular! Estava procurando qualquer artigo que complementasse o filme de forma que me fizesse não encarar os acontecimentos de forma fantasiosa. Sempre fui muito curioso, há um tempo atrás havia lido coisas relacionadas à goétia e o filme me fez voltar às pesquisas. Obrigado por acrescentar um pouco mais de conhecimento à esta mente "curiosa".

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  5. Filme bom ,temática clássica ,porém o final cagarao e se sentaram em cima kkkk

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    1. o final é justamente a parte mais brilhante do filme. Criticar essa parte mostra que vc não entendeu poha nenhuma. Esse não é um filme para os desprovidos de inteligência, cultura e curiosidade. Essa é a obra que representa mais fielmente o satanismo cotidiano. E nem satanista eu sou, ein!

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  6. Eu acho que tem também mais uma camada sobre o significado do ato de amamentar:

    Durante as perseguições da Inquisição, era recorrente a crença de que as bruxas alimentassem o diabo ou "espíritos familiares" através de uma verruga ou alguma marca no corpo. A tal da "witch's teat". Essa amamentação das bruxas varia entre a averruga/marca verter leite, do qual o espírito familiar precisava beber pra manter o elo com a bruxa e continuar existindo, e o próprio diabo chupar sangue através do sinal, reforçando o pacto com a bruxa. Essa crença era um dos grandes motivos dos corpos das pessoas acusadas de bruxaria serem escrutinados. E não importava se a marca era de nascença ou não.

    No caso do Hereditário, penso que é uma referência não só ao simbolismo da amamentação como ligação entre mãe e prole, mas também ao aspecto místico do Sabbat entre bruxa/demônio. Nesse caso Ellen/Charlie.

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  7. Outras referências curtinhas que eu percebi são:

    1. O triângulo desenhado no chão do quarto da Ellen, que aparece logo no início do filme. Na Goetia e em outros sistemas, é dentro de um triângulo em que acontece a manifestação dos espíritos evocados. Essa cena que figura o triângulo acontece um pouco depois vemos o diorama que representa a Anne com a recém nascida Charlie no colo e a Ellen com o seio à mostra pronta pra amamentar. Acho que isso sugere que a Ellen realizava os rituais dentro da casa e, possivelmente, durante a gestação ou nascimento da Charlie, pra ligá-la ao Paimon.

    2. Durante o filme a trilha sonora é uma espécie de cacofonia, mas na cena final, com Paimon já incorporado em Peter, a trilha muda pra uma sucessão de sinos, trombetas suaves e outros instrumentos de sopro. Quem pratica Goetia relata que os daemons "descem" acompanhados de suas legiões e familiares, e nesse momento é comum se ouvir sons frenéticos, sussurros rápidos e coisas assim caóticas. Pra alguns, Paimon está ligado a sinos porque o seu nome deriva de uma palavra hebraica pra tal e também é comum ouvir o som de um quando a evocação é bem-sucedida e o daemon se manifesta. Essa perspectiva me leva a entender a trilha como uma espécie de pista sonora que informa que apesar de Paimon estar presente em Charlie, aquele não é o seu corpo definitivo e ainda há pessoas e espíritos (ou seja, suas "legiões") trabalhando pra que ele receba o corpo apropriado. O ritual até então não foi bem-sucedido. Porém quando Peter se levanta no desfecho, que som ouvimos? Sinos. O ritual está completo e Paimon presente.

    3. Os daemons quando evocados precisam ser comandados a tomar forma e a falar em língua inteligível, porque não tem essa iniciativa ao lidar com humanos. A Charlie raramente inicia uma conversa, ela só responde a perguntas diretas e de maneira bastante monossilábica. Já o som com a língua ela faz nos momentos em que está sozinha ou que referenciam a avó. O estalo seria a "língua materna" do Paimon, já que, por exemplo, logo no início do filme quando Charlie vê a avó sentada dentro de um círculo de fogo na floresta, ela imediatamente faz esse som. Língua materna literalmente, se comunicando com a mãe.

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    1. Adorei Baldessária! São coisas que eu não tinha me tocado.

      Gostei tanto que gostaria de sua permissão para adicionar esses comentários à postagem original. Obviamente, com os devidos créditos.

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  8. Gostei muito da interpretação do simbolismo da decapitação, eu não tinha sacado esse!

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  9. E aquela mulher no funeral que passa um líquido na boca da Ellen. Alguma teoria para aquilo?

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  10. Quando diziam que zombavam da santa Trindade, pensei no pai, filho e espírito santo, figuras masculinas... Enquanto no altar estavam as cabeças da avó, filha e neta como uma versão uma versão corrompida da santa Trindade

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  11. Muito bom essa pesquisa, os comentarios tb. Agora essa associação de paimon a satanismo e ao diabo nao entendi. Os 72 daemons sao descritos nas claviculas de salomao na parte "ars goetia" la nao é feita nenhuma menção a satã, diabo. A goetia salomonica é o contrario disso. É a prova da força de Deus (Adonai) onde através dele o magista coloca aos seus pés todos os 72 espíritos (que a igreja católica nomeou de denonios) É um sistema de evocação que foi transmitido a Salomão pelos Anjos.

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  12. Texto maravilhoso! O melhor que li até o momento, parabéns. Esse filme é uma obra prima

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