quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A Besta (continua) entre nós - Mais histórias reais de Lobisomens


Leia aqui a primeira parte do artigo: A Besta entre Nós

Na história européia, há muitos casos documentados de pessoas que cometeram o crime de Licantropia e que foram condenados por serem Lobisomens. 

Em suas confissões, muitos acusados descreviam a transformação sendo causada por algum objeto mágico: um cinturão ou manto de pelo de lobo, um unguento mágico, uma poção encantada ou algum outro instrumento místico. Historiadores acreditam que tais objetos faziam parte da ilusão experimentada por mentirosos patológicos ou esquizofrênicos limítrofes que sofriam alucinações capazes de alterar a realidade. De certa forma eles falavam a verdade ao dizer que eram lobisomens, uma vez que acreditavam realmente serem lobos. Sua percepção assim interpretava e reconhecia os seus delírios. A psiquiatria compreende nos dias atuais que vários esquizofrênicos agudos realmente experimentam alucinações vívidas, sendo que a "transformação do homem em besta" é um dos relatos mais frequentes.

Mas o que dizer dos casos que possuem testemunhas que presenciaram homens se transformando em lobo? É preciso lembrar que a existência da licantropia e de lobisomens era um fato incontestável, mesmo para estudiosos e acadêmicos do período que davam por certa a possibilidade da transformação. É possível que os testemunhos decorressem de mera fabricação, de loucura ou mais provável da histeria em massa, motivada pelas muitas superstições.

Afinal, lobisomens não existem... ou será que existem?

Aqui estão mais alguns casos chocantes e verdadeiros envolvendo Lobisomens.

O Lobo Magistrado de Ansbach



A maioria dos casos envolvendo Lobisomens acabam sendo descobertos após uma pessoa cometer os crimes e confessá-los diante de um tribunal.

Mas nem sempre é assim... às vezes o Lobisomem veste a Toga de Magistrado.

Em 1685, um terrível lobo descrito como uma "besta feroz e incontrolável" aterrorizou a cidade de Neuses no Principado de Ansbach no que hoje e a Alemanha. A fera fazia vítimas e parecia determinada em caçar e matar suas presas com requintes de crueldade. O medo era tanto que as pessoas se trancavam em casa assim que escurecia e ninguém ousava sair. Havia o rumor de que a criatura não era um lobo comum, mas um lobisomem tamanha sua ousadia ao adentrar o vilarejo para aplacar sua sede de sangue.

Na época, o Chefe dos Magistrados de Neuss era um homem cruel e odiado por todos chamado Michale Leicht. Ocorre que esse sujeito acabou morrendo de repente - oficialmente de causas naturais, mas a família não permitiu que ninguém visse o cadáver que foi enterrado. Logo, um estranho boato se espalhou por Neuss, o de que o lobisomem havia sido visto nos arredores da casa do Juiz Leicht espreitando em mais de uma ocasião. Isso fez com que as pessoas passassem a acreditar que o espírito do juiz havia reclamado o corpo do lobo pelos seus muitos pecados.

Certo dia, um grupo de caçadores chegou a cidade e se comprometeu a caçar a fera. Eles conseguiram emboscar o lobo perto de um poço onde o mataram. Até aí, nada de mais, contudo, o que se seguiu a isso foi deveras macabro. O povo de Neuss levou a carcaça do enorme animal até a praça central da cidade onde o prepararam para ser apresentado. Eles colocaram no animal uma toga negra, chapéu e peruca semelhantes às usadas pelos magistrados e um óculos que lembrava o que o juiz usava. Então penduraram o corpo da fera antropomorfizada em uma forca para que toda cidade pudesse apreciar a visão. Dizem que ao longe, a criatura realmente parecia um homem animalesco. Gente de toda região viajava para ver a criatura que muitos acreditavam ter sido morta vestindo aquelas roubas em uma medonha paródia de homem e fera.

Depois de algum tempo, o lobo foi removido da trave de madeira e os restos cuidadosamente empalhados por um taxidermistas. Eles ficaram em exibição na prefeitura local até 1910. Eventualmente foram colocados no museu da cidade por serem considerados excessivamente bizarros.

O terrível caso de Jacques Roulet



Dentre todos os incidentes envolvendo licantropia na França, um se destaca pela natureza absurdamente bizarra e perturbadora dos detalhes. Trata-se do incidente de Jacques Roulet, um caso que nos faz pensar se realmente não haveria algo sobrenatural nos mitos do Homem Lobo.

O ano era 1598 e o lugar, os arredores da cidade de Angiers, na França.

Dois caçadores encontram os restos destroçados de um rapaz de 15 anos. Um enorme lobo está se alimentando do cadáver, arrancando a carne que ainda se agarra aos ossos. Um dos homens atira, mas o animal foge para a floresta. Um deles decide persegui-lo pela mata, lá acaba encontrando um homem semi-nu tentando se esconder atrás de uma moita. Ele está coberto de sangue, sua boca e barba cerrada estão manchados de vermelho com restos de pele, seus olhos são ferozes e animalescos... imediatamente os caçadores decidiram levá-lo até as autoridades.

O homem foi identificado como sendo um vagabundo chamado Jacques Roulet. A investigação a respeito do sangue concluiu que se tratava de sangue humano e depois de ser interrogado ele admitiu ter matado o rapaz de 15 anos. Jacques explicou então que era um lobisomem e que havia contraído licantropia através de uma bebida mágica dada pelos seus pais que eram feiticeiros. Jacques afirmava que seu irmão e primo também se tornaram licantropos da mesma maneira. A seguir, voluntariamente ele começou então a relatar os muitos crimes que o trio havia cometido sob influência da licantropia. 

Além do rapaz recém assassinado, Roulet confessou pelo menos mais uma dúzia de assassinatos brutais. As vítimas em geral eram crianças que andavam sozinhas pela floresta ou recolhidas em aldeias isoladas. O trio costumava capturar essas crianças, soltá-las na floresta e então "caçá-las" da mesma forma que fazia os predadores. Roulet afirmava que o trio assumia a forma de lobos e então perseguiam as vítimas até encontrá-las e matá-las. A excitação da caçada terminava com uma orgia de sangue, na qual a presa era morta e então devorada. O vagabundo contou que o grupo preferia jovens, pois estes tinham a carne mais tenra e saborosa. As descrições de Roulet eram tão minuciosas que as autoridades não tiveram dúvidas de que eram verdadeiras.

Roulet foi condenado por todos os crimes que admitiu ter cometido, a despeito de que apenas o corpo da vítima de 15 anos tenha sido comprovado. Ele foi condenado por assassinato, licantropia, bruxaria e canibalismo e a sentença foia  morte. Contudo um magistrado apelou à Corte de Justiça em Paris alegando que o homem era meramente insano. Ele foi então confinado em uma instituição mental.

O caso de Jacques Roulet é considerado o caso mais documentado a respeito de lobisomem na história da França. Existem dezenas de documentos e precedentes legais no arquivo de Paris à  respeito desse caso em especial. Historiadores acreditam que Roulet sofria de surtos condizentes com um quadro agudo de esquizofrenia e que teria cometido vários crimes nessas circunstâncias. Ele é considerado um precursor dos assassinos em série, e extremamente prolífico para sua época.

O Lobisomem de Allariz


Mas as histórias de Lobisomem não acontecem apenas na França e Alemanha e não estão confinadas apenas ao século XV e XVI.

Notório na Espanha como o primeiro assassino em série daquele país, Manuel Blanco Romasanta foi um lobisomem ativo durante a metade do século XIX. De fato, Romasanta é um caso extraordinário de muitas maneiras.

Nascido em 1809, ele foi criado como menina por uma mãe extremamente autoritária até completar aproximadamente seis anos de idade. Essa condição gerou nele um profundo ressentimento que seria carregado por toda a vida. A mãe havia ameaçado repetidas vezes cortar seu pênis com uma tesoura, o ridicularizava e diminuía. Quando um médico descobriu  que ela estava fazendo, a afastou e Manuel foi morar com tios. Ele cresceu e se casou, arranjando emprego como tecelão. Quando sua esposa faleceu em 1833, ele assumiu o trabalho de vendedor, fazendo frequentes viagens para Portugal e interior da Espanha.

As viagens ajudavam Romasanta a ocultar suas atividades criminosas. Ele era um assassino em série extremamente frio e calculista que usava de sua educação e aparência frágil para se aproximar e matar. Não bastasse as mortes, Romasanta também canibalizava as vítimas, cortava pedaços de pele e buscava órgãos internos que pudesse comer aos bocados. Acreditava ser um lobisomem, quando matava, sentia-se livre de culpa pois era um predador da natureza e como tal não tinha porque atender às leis. Seus crimes eram tenebrosos e entraram para o imaginário popular das nações Ibéricas.

Logo depois, descobriu que poderia remover a gordura dos cadáveres para com ela fabricar sabonetes. Um de seus clientes perguntou como o sabão de qualidade era feito e Romasanta contou em tom de brincadeira que aquela gordura havia vindo de uma menina de determinada cidade. Ocorre que o cliente havia ouvido falar desse crime e preocupado resolveu denunciar o sujeito.

Depois de 12 dias na masmorra ele pediu para ver o delegado responsável pela investigação e disse que queria fazer uma confissão. Manuel Romasanta contou que era culpado de 13 assassinatos. Ele descreveu cada um deles em detalhes, mas afirmou que não poderia ser considerado culpado pois não tinha controle sobre suas ações pois havia cometido os crimes usando a pele de um lobo. Disse também que a última morte havia terminado com sua maldição e que portanto não representava mais um perigo.

Romasanta foi julgado e considerado culpado de quatro mortes. As evidências forenses haviam determinado que os demais crimes que ele assumiu teriam sido cometidos por lobos de verdade, e para não aceitar a teoria de que ele era um Lobisomem, o juízo não admitiu que ele era o responsável. Um exame à luz da Frenologia (um tipo de exame criminalístico muito em voga no período) apontou que Romasanta era insano e não não podia ser culpado pelas suas ações.

Ele foi condenado a pena de morte com garrote, mas esta acabou sendo transformada em prisão perpétua a pedido de um famoso hipnólogo francês. A teoria colhida sob hipnose era de que ele sofria alucinações nas quais acreditava realmente ser um lobo. Em uma das sessões, Romasanta chegou a se comportar como uma fera, sendo inclusive acorrentado para não morder as pessoas que acompanhavam o experimento. Médicos franceses e espanhóis fizeram uma petição para estudar cientificamente o caso de Romasanta, considerado então um legítimo licantropo.

Anos depois de sua prisão, ele recebeu um indulto especial assinado pela própria Rainha  graças a médicos que acreditavam tê-lo curado. Ele passou os seus anos finais em um vilarejo sem que ninguém soubesse de sua verdadeira identidade e do que ele havia feito.

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