quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A Família de Lobisomens - A Dinastia partida dos Gandillon


Um lobisomem já é difícil de acreditar, mas o que dizer de uma família inteira de lobisomens? 

Tal história aconteceu na região de Jura no oeste da França em 1598. No verão dquele ano, um garoto chamado Benoit Bidel e sua irmã estavam colhendo morangos próximo da vila de St. Claude. Enquanto o menino estava escalando uma árvore, um lobo com mãos humanas surgiu do meio da floresta e agarrou sua irmãzinha. Benoit pulou da árvore e tentou esfaquear o lobo, mas o monstro arrancou a arma de sua mão e desferiu uma mordida em seu pescoço antes de correr para o interior da floresta.

Alguns camponeses que estavam passando ouviram os sons de gritos e correram para ver o que era. Eles encontraram Benoit sangrando em profusão, sua irmã estava caída ao lado em choque. Antes de morrer pelo ferimento, Benoit fez uma descrição da criatura que o atacou. Os camponeses furiosos com oq ue havia acontecido entraram na floresta para procurar a besta responsável pela tragédia. Ao invés disso descobriram uma menina chamada Pernette Gandillon vagando sem rumo por uma trilha. Os aldeões perceberam que o vestido de Pernette estava coberto de sangue, então concluíramq ue ela deveria estar ligada ao ataque. Quando se aproximaram, ela rosnou com um animal selvagem e atacou o bando. Eles reagiram e em maioria a mataram.


A despeito de Pernette ter confessado ou não que era um lobisomem, ainda que algumas testemunhas tivessem certeza disso, havia uma razão a mais para toda aquela violência contra uma moça de pouco mais de 17 anos. A família dela, os Gandillon eram bastante impopulares. Pernette e os demais membros da família viviam na floresta, em uma cabana isolada do restante de St. Clause. 

Havia muitos rumores a respeito do estranho clã. As más línguas sugeriam que eles guardavam algum segredo terrível e que por essa razão preferiam se manter afastados para que ninguém descobrisse. Outros afirmavam categoricamente que o patriarca mantinha relações pouco naturais com as filhas e que pelo pecado cometido, as meninas haviam desenvolvido estranhas características: seis dedos em cada mão, orelhas pontudas e rabos de lobo. Outros diziam que todos os Gandillon eram satanistas que veneravam Lúcifer e sacrificavam crianças na floresta. Havia ainda a suspeita de que eles seriam lobisomens e que como tal matavam quando tomados pela licantropia.

O corpo de Pernette foi arrastado até St. Claude e colocado na frente da prefeitura com umaplaca onde se lia "Filha de Lobisomens" em volta do pescoço. Após esse assassinato, seus irmãos Pierre e Antoinette foram também acusados de serem lobisomens. Uma família de vizinhos dos Gandillon relataram uma história medonha de que os irmãos haviam sido vistos participando de uma missa negra e de uma orgia. Em uma das versões, Antoinette que tinha apenas 13 anos teria sido visto fazendo sexo com um bode preto, um dos mais conhecidos disfarces do demônio. 

A loucura se apossou do povo de St. Claude e uma turba seguiu para a casa dos Gandillon exigindo que os irmãos se entregassem. Quando se negaram, simplesmente entraram na casa e os levaram amarrados para a praça da cidade. Após serem torturados, Pierre acabou confessando que as acusações eram verdadeiras. 

 Ele admitiu que o Demônio havia oferecido à família peles de lobos que tinham o poder de transformar os Gandillon em lobisomens. Jogando as peles sobre a cabeça, os Gandillon eram capazes de se transformar em lobos e correr pelos campos com as quatro patas, devorando animais e humanos. O Patriarca da Família, Georges e sua esposa também foram acusados de participar das barganhas demoníacas, ainda que a confissão de Pierre eximisse seu pai e mãe de qualquer envolvimento. As coisas não pararam por aí, primos próximos e distantes, dois tios e mais um avô que vivia no vilarejo vizinho também foram acusados. Segundo rumores, até mesmo uma família de uma aldeia longe de St. Claude, que tinham por sobrenome Gaudilion acabaram arrastados para a teia de acusações e boatos. Por pouco não acabaram sofrendo represálias.

Para azar dos Gandillons, o infame Juiz Henri Boguet, um homem severo e temido foi colocado à frente dos trabalhos legais. Embora muitas pessoas acreditassem em lobisomens, a maioria se mostrava cética que tal coisa poderia existir. Existia a crença de que o demônio podia corromper as pessoas e fazer com que elas acreditassem que haviam se transformado em lobos.

Boguet, levava muito à sério as histórias sobre lobisomens. Ele era autor de "Examen de Sorcieres" (Exame das Feiticeiras), um livro popular, publicado em 1590 que detalhava as confissões de mais de 40 bruxas versando a respeito de adoração, missas negras, conjunção carnal com demônios e claro, licantropia. De fato, um dos capítulos, era justamente a respeito de homens que se transformavam em lobos e como tal coisa se espalhava pela França como uma epidemia profana. O Juiz afirmava que em sua carreira havia sentenciado mais de 600 lobisomens e que seu trabalho era essencial para manter a paz.

Enquanto visitava os Gandillon na cadeia, o Juiz percebeu que Georges, Antoinette e Pierre manifestavam claros indícios de terem licantropia. Por exemplo, quando Bouguet espetou Pierre com um alfinete de prata ele imediatamente gritou e se atirou no chão como se estivesse sofrendo convulsões. Além disso, a face e as mãos da família apresentavam o que o Juiz chamava de sinais inequívocos da Licantropia, na forma de arranhões, unhas em determinado formato e o sinal de um sexto dedo amputado. A respeito de Pierre, que estava muito ferido pela tortura sofrida, o Juiz disse: "Esse monstro sequer parece com um ser humano e não há como olhar para seu semblante bestial sem sentir horror".

O juiz afirmou que a família deveria ser mantida presa na masmorra até que se transformassem em lobisomens provando assim que as acusações eram verdadeiras. É claro, os Gandillon jamais se transformaram em lobos e isso começou a chamar a atenção da população que passou a levantar dúvidas sobre as histórias cada vez mais exageradas. Para muitos, o Juiz estava meramente se promovendo às custas da desgraça alheia ou sendo um completo idiota. Percebendo que as coisas poderiam virar contra ele, o Juiz atribuiu a falta de transformação a falta das capas encantadas e de unguentos sabidamente usados pelos licantropos para iniciar a transformação.


Os irmãos Gandillon foram sentenciados a morrer na fogueira, mas no último momento a pena de Antoinette foi comutada para que ela pudesse viver em um convento até o fim de seus dias. Pierre foi executado, seguido de seu pai e de dois tios. 

Após os trabalhos, Henry Boguet conquistou enorme fama em toda França sendo conhecido como um dos mais importantes Demonologistas e Caçadores de Bruxas de sua época. Em 1602 ele publicou Discours exécrable des Sorciers (Discursos Execráveis sobre a Feitiçaria) um Manual que tratava de bruxaria que teve doze reedições em doze anos. O Magistrado teria morrido na pobreza extrema e louco em 1619, ele acreditava ter sido vítima dos malefícios de bruxas que o amaldiçoaram.

Um comentário:

  1. Na epoca da santa inquisição não se precisava de prova alguma para condenar alguém a fogueira, e se houve-se qualquer indício era pena de morte na certa.

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