quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Scholomance - A verdadeira Escola de Magia do Leste Europeu


Nas Montanhas cinzentas dos Cárpatos, nas profundezas do Leste Europeu, existe uma lenda a respeito de uma Ordem de Feiticeiros. Eles estudam os meandros das Magias Ritualísticas, tentam desvendar os mistérios da Alquimia, os segredos da Necromancia e da Magia Negra. Eles se reúnem para compartilhar seu saber uns com os outros, e assim um elo entre mestres e discípulos se forma, inquebrável há séculos.

O nome dessa Ordem é Scholomance ou a Escola de Salomão.

Muito antes de ser o nome escolhido para uma Cidade de Feiticeiros em um popular jogo de MMORPG, Scholomance era um nome temido e raramente pronunciado abertamente. No Leste Europeu, ele era tido como uma lenda, mas muitos tinham motivos para acreditar na sua existência e temer a sua influência como algo vil e perigoso. Membros da Scholomance teriam encomendado ou eles mesmo perpetrado assassinatos, eliminado desafetos, manipulado pessoas importantes e até apoiado a queda ou surgimento de regimes. Mais do que sua influência política e econômica, a Scholomance era capaz de coisas muito piores, já que seus associados eram mestres nas artes místicas.

Na Europa Oriental e em qualquer outro lugar do mundo, o Rei Bíblico Salomão não é visto apenas como um homem sábio, mas também como um mestre nas artes da magia e alquimia. Salomão era capaz de operar verdadeiros milagres, alterar a realidade, prender demônios e compelir forças malignas a se submeter a ele. Hoje em dia, não são todos os estudiosos da Bíblia que reconhecem essa faceta do Rei Hebreu, mas basta apanhar o bom livro para descobrir que ele é descrito como um poderoso utilizador de magia.

Não é por acaso, portanto, que o Rei Salomão é uma espécie de patrono da Ordem.


A Scholomance surgiu como uma Ordem, mas em algum momento de sua longa história, que supostamente pode ser traçada até antes do Império Romano, ela se converteu em algo que poderia ser compreendido como uma Escola de Magia.

As classes da escola eram compostas por dez alunos que ficavam sob a tutela de magos instrutores que tinham vasto conhecimento em misticismo, alquimia e em outros ramos das Ciências Proibidas. Não se sabe quanto tempo durava o período letivo, mas é provável que ele compreendesse pelo menos cinco anos, tempo em que cada aprendiz era testado, recebia treinamento em diferentes técnicas, aprendia idiomas esquecidos e tinha acesso a um saber restrito. 

As instalações da Escola, localizada encravada em algum lugar quase inacessível das Montanhas da Romênia, no território fantasmagórico da Transilvânia, escondiam sua verdadeira natureza. Dizem que ela se apresentava como uma Ordem Monástica que se organizava num sistema asceta muito parecido com o cristão. Seus membros tinham regras muito rígidas, e horários severos que deviam ser respeitados sob pena de expulsão. Havia um voto de silêncio a respeito do propósito da Escola. Quebrar a promessa de jamais revelar o que acontecia atrás dos altos muros do Mosteiro podia dar ensejo a punições e até à morte. Recorrendo a esse sigilo, a Scholamance sobreviveu por incontáveis séculos, mesmo durante o período mais perigoso das perseguições religiosas. 

No interior do mosteiro haviam diferentes salas de aula, cada qual destinada a transmitir uma disciplina. Elas eram conhecidas como Capelas (ou Chantrias) e cada qual tinha um mestre responsável por cuidar de todos aspectos relacionados ao seu funcionamento. Uma Chantria podia se devotar a ensinar os princípios da Alquimia, contando com um vasto laboratório, ingredientes raros e material para criação de fórmulas. Outra Chantria se destinava a ensinar Necromancia e portanto possuía um laboratório de dissecção e um estoque de cadáveres frescos comprados no mercado negro. Outras Chantrias tratavam de magia enoquiana, magia planetar, astronomia, demonologia e assim por diante. Não se sabe os detalhes a respeito do que era ensinado, mas é razoável supor que a maioria das tradições místicas clássicas estavam à disposição dos alunos.


Mais famosa do que as Disciplinas ensinadas nas Chantrias, talvez fosse a renomada Biblioteca de Magia da Scholomance. Famosa em várias partes do mundo, motivo de curiosidade para ocultistas e feiticeiros ao longo da Idade Média, o acervo era tido como dos mais completos. Além de possuir tomos raríssimos e Grimórios famosos, a Biblioteca tinha a fama de reunir algumas edições únicas. Estariam nas suas prateleiras obras vindas do oriente distante, escritas em árabe, aramaico, sânscrito e até chinês. As coleções não reuniam apenas obras de magia, mas também uma fartura de material a respeito de filosofia, teologia, medicina, alquimia e ciências em geral. Haviam ainda manuscritos únicos extremamente valiosos, pergaminhos escritos por mestres e textos talhados em tábuas de barro cozido que haviam sobrevivido a passagem dos séculos. Supostamente, todos os magos que vinham de longe para visitar a Scholomance tinham de fazer a doação de alguma obra, para assim ganhar acesso ao acervo como um todo. Os vetustos bibliotecários, tinham como prerrogativa avaliar os livros oferecidos e julgar se ele teria lugar na coleção. Baseado em seu julgamento, o acesso podia ser vedado ou garantido.

Nenhum livro jamais deixava a biblioteca depois de incorporado ao acervo. Eles podiam ser consultados nas mesas e laboriosamente copiados, mas a regra da Scholomace era que nenhum trabalho veria o exterior dos muros. Essa regra pétrea, garantiu que a Biblioteca do Mosteiro se tornasse uma das mais completas e invejáveis da era das trevas.

Era tradição que nove aspirantes a magos, após aprender o suficiente, eram dispensados e podiam voltar para seus lugares de origem. Eles não tinham permissão para ensinar o que haviam aprendido na Scholomance, mas podiam indicar novos aprendizes quando julgassem adequado. Depois de receber seu treinamento estes voltavam, em geral para o mago que os havia indicado, para se tornarem discípulos.  

Um dos aspirantes, no entanto, era escolhido para ficar na Escola em caráter perpétuo. Aqueles que se destacavam eram convidados a assumirem o posto de  Dragão; um membro efetivo da Scholomance, escolhido para se tornar instrutor, mestre ou bibliotecário. Os Dragões eram os defensores de vanguarda da Escola, escolhidos à dedo para receber um conhecimento secreto que ia muito além daquele ensinado para os demais. Este recebia um livro onde suas magias e rituais eram copiados para posteriormente serem incorporados à biblioteca. Os Dragões dominavam técnicas superiores, aprimoravam seu repertório místico e aprendiam magias que lhes permitiam entre outras coisas se comunicar com animais, invocar demônios, controlar o clima, mudar de forma e em alguns casos, alcançar a imortalidade.


Supostamente, alguns agentes da Scholomance vagavam pela Europa em busca de candidatos para a escola. Se ouviam falar de algum feiticeiro ou bruxa, os procuravam, tencionando transformá-lo em um recurso valioso para a Ordem.  Os agentes também prestavam atenção a alguns detalhes: cabelos ruivos era uma marca distinta de estudantes em potencial. Crianças nascidas com polidactilia ou caudas vestigiais também eram tidos como bons candidatos.

Muitos falavam da influência da Scholomance na Europa e no poder que seus membros possuíam sobre as casas reais em várias nações. Acredita-se que Reis e Rainhas da Idade Média se aconselhavam com indivíduos que haviam recebido instrução da Scholomance e que estes os auxiliavam a governar recorrendo sempre que necessários às suas habilidades místicas. Uma vez que a Ordem se esforçava para ter um de seus alunos em cada corte importante da Europa, não é exagero dizer que ela era capaz de manipular decisões políticas e escolher o que lhe seria mais vantajoso. Em um jogo de intrigas, a Scholamance estava sempre disposta a tirar vantagem de suas conexões. Também era mencionada a habilidade dos magos de matar à distância e eliminar obstáculos recorrendo sempre a magia para alcançar seus objetivos. Um recurso valioso para os monarcas da Europa.

Um elemento bizarro frequentemente associado a Scholomance e seus membros diz respeito ao vampirismo. Em muitas histórias, membros da Ordem milenar seriam vampiros. As ideias de alquimia, dragões e vampirismo acabaram sendo unificadas na lenda da Família Tepes, ninguém menos do que o próprio Dracula. Vlad, o terceiro, o nobre que seria a inspiração para a criação do Drácula de Bram Stoker era um membro de uma Ordem de Cavalaria conhecida como Ordem do Dragão. Seria possível que esta fosse uma face pública da Scholomance?

 O que devemos nos perguntar é sobre a origem da escola. Em geral os historiadores acreditam que no final da Idade das Trevas, no início da Primeira Cruzada, dois cavaleiros, possivelmente templários, descobriram a biblioteca secreta do Rei Salomão em Jerusalém. Os cavaleiros retornaram a sua terra natal, a Wallachia e começaram a estudar os curiosos livros que haviam trazido consigo como espólios. Entre estes haviam importantes tomos a respeito de magia e alquimia. Um dos cavaleiros se devotou ao estudo da Cabala e eventualmente desenvolveu um sistema de magia similar ao que é descrito na Chave de Salomão. O outro cavaleiro, dizem, reviveu as tradições a respeito do culto do Dragão de seus ancestrais em um sistema de magia que combinava elementos de magia cerimonial e pagã com a figura do Dragão como uma divindade simbólica. Em algumas lendas, este dragão seria ligado a Chernebog, Deus da Noite, do inverno e do eclipse do Sol.


As imagens recorrentes de dragões indicam que o símbolo da Scholamance era possivelmente baseado na bandeira da Dacia, um Dragão com cabeça de lobo e um corpo de cobra formando um oroborus. Alguns supõem que o cavaleiro que acolheu o caminho da cabala teria seguido para o ocidente e mais tarde teria dado início a Ordem chamada Illuminati. A tradição do outro cavaleiro teria dado origem ao que é comumente chamado de Caminho da Mão Esquerda.

Digno de nota, novamente, são as similaridades entre esta lenda e o saber de Set e Sutekh, do Egito Antigo. Sutekh teria os cabelos vermelhos e favorecia os ruivos com o dom para a magia; como Chernebog, Sutekh era o Deus da noite e dos eclipses. As duas divindades divergem no fato de que Chernebog é um deus de frio e do inverno, enquanto Sutekh favorece o calor e o verão. No geral, essa diferença parece muito grande, mas é preciso levar em conta o ambiente de cada cultura, ambos atendem a mesma corrente de destruição e entropia.   

No final dos anos 1980, a lenda da Scholamance foi cooptada por um grupo de ocultistas com ligações na Europa Oriental. Em 4 de maio de 1990 (a Noite do Dragão segundo a tradição romena), este grupo composto por nove homens fundaram uma ordem baseada em sua interpretação da lenda da Scholamance. Relacionando Chernebog e Sutekh com os dogmas da Ordem, eles conceberam a noção de que vampirismo e a existência de um Deus da Noite, estavam de alguma forma ligadas. Eles acreditavam que a Scholomance havia sido fundada por indivíduos que tiveram contato direto com vampiros que por sua vez faziam parte de uma raça chamada Upyreshi. Essa Sociedade havia se espalhado pelo mundo, carregando seu conhecimento, o que explicava como o vampirismo estava presente em várias culturas. 

Os excêntricos membros da Nova Scholamance afirmavam ser estudiosos de várias tradições místicas e ocultismo e que também dominavam a alquimia e inúmeras modalidades de magia ritualística. A Scholamance passou a oferecer instrução mística em cinco disciplinas: Magia Ritual, Feitiçaria, Taumaturgia, Arcanismo e finalmente a Ciência dos Pactos. Cada membro da Ordem conhecia as disciplinas, mas se especializava em apenas uma ou duas, tornando-se assim mestres. O Vampirismo continuava tendo grande importância, visto que cada membro acreditava possuir uma descendência entre os Upyreshi. Esse revival da Scholamance tencionava se converter em uma nova e poderosa Ordem de Magia, que abriria aos seus interessados a chance de alcançar a iluminação.


Apesar de seus grandes sonhos, a Ordem durou apenas alguns anos e se separou após brigas e disputas internas entre os seus associados. Com o fim da Nova Scholamance, nos anos 1990, surgiu uma nova sociedade que atendia pelo nome Ordo Tenebri Astrum, ou O.T.A. Hoje ela é uma das Ordens Herméticas mais respeitadas da Europa, dedicada ao estudo do ocultismo.

Para alguns a Scholamance original continua ativa, alguns teóricos da conspiração acham que ela nunca deixou de existir. Ela permaneceria instruindo feiticeiros, criando novos magos e agindo nas sombras como os regentes ocultos do mundo de um mundo secreto.

Um comentário: