terça-feira, 4 de dezembro de 2018

RPG do Mês - Starfinder - Aventura e Fantasia no Espaço Profundo (Parte 2)


O capítulo de equipamento talvez seja o mais impressionante e completo do livro. Starfinder apresenta uma VASTIDÃO de armas de energia (pistolas, carabinas e rifles), além de armas de combate corpo a corpo (como espadas, machados e lanças). Também há uma coleção de armaduras que concedem proteção mais adequada a determinados tipos de dano.

Com uma ambientação que mistura alta tecnologia e magia, é possível inventar uma quantidade absurda de equipamentos, e Starfinder não decepciona nesse quesito. É MUITA COISA! Temos desde pistolas que disparam energia concentrada, até rifles de plasma, carabinas elétricas, disparadores de ácido, espadas com moto-serras acopladas, granadas criogênicas, explosivos de todos os tipos e coisas que são até difíceis de catalogar em uma única seção. São páginas e mais páginas de armas e armaduras, cada qual com seus devidos efeitos e descrições detalhadas. É possível se perder por horas lendo as descrições de como esses engenhos podem ser usados para exterminar os inimigos. Além disso, para acrescentar um flavor todo especial, as armas possuem efeitos críticos muito bacanas que são adicionados ao dano gerando efeitos inesperados e muito divertidos.


Cada peça de equipamento tem um nível associado a ela. Isso permite calcular quais os equipamentos que os personagens podem ter acesso e quais deveriam ficar além de suas possibilidades em determinado momento da campanha. Esse sistema permite que o Mestre escolha os itens para serem dados aos aventureiros calculando aqueles que são mais adequados ao seu nível de experiência. Uma regra que, sejamos francos, é bem prática e muito bem vinda.

Outro elemento novo é que as armas podem ser manipuladas e adaptadas, fazendo com que elas ganhem características diferentes e desencadeiem efeitos inesperados. Essa "fusão de armas" tende a aumentar não apenas o poder, mas garante versatilidade. Da mesma maneira, armaduras podem ser adaptadas e melhoradas com adaptações instaladas.

As adaptações e melhorias nas armas e armaduras, contudo são apenas a ponta do iceberg quando examinamos a incrível variedade de modificações cibernéticas. Os personagens tem à sua disposição vários implementos que podem ser comprados e instalados em seus corpos para garantir todo tipo de vantagem bizarra e efeito esquisito. Se o personagem tiver suficiente dinheiro e contatos poderá adquirir os aperfeiçoamento cibernético que lhe agradarem.

Também existem armas mágicas e artefatos imbuídos com magia, embora estes não sejam mais tão comuns. Ainda assim, magia é uma força importante que não pode ser desconsiderada, mesmo em um mundo com carabinas de plasma, uma bola de fogo, continua sendo mortífera.


É claro que um jogo de ficção científica que se preze, deve ter uma quantidade de veículos e uma generosa coleção de naves espaciais. Starfinder tem um capítulo inteiro dedicado a naves espaciais que tem um tratamento todo especial. Elas são tratadas como uma mistura de NPC e equipamento, com estatísticas e características que podem ser acrescentadas a elas, conferindo-lhes atributos únicos, quase como personagens. E isso tem uma razão muito importante de acontecer...

A quantidade de diferentes modelos de naves é notável: muitas delas são incrivelmente estranhas, beirando o bizarro, concedendo um senso de estranheza que é muito bem vindo numa ambientação com tantas raças e culturas alienígenas. Há naves de vários tamanhos, desde pequenos caças de ataque rápido até colossais astronaves que mais parecem luas artificiais. Uma coisa boa é que essas naves parecem realmente diferentes e não algo calcado em clássicos como Star Wars ou Star Trek.

Naves aliás, são parte essencial de Starfinder e é através da criação de uma tripulação que se formam os grupos de aventureiros. Cada grupo de aventureiros possui a sua própria nave, que é compartilhada por todos os membros como se fosse o mais importante tesouro do grupo. As naves não são apenas um meio de transporte que te levam de um canto do universo ao outro; elas representam a casa dos personagens, onde eles passam a maior parte de seu tempo e onde vivem. Portanto, as naves podem ser melhoradas, transformadas, aprimoradas e negociadas. As melhorias visam tornar a nave cada vez mais poderosa, mas também confortável e eficiente. Nesse sentido, comprar mísseis e motores pode ser tão interessante para o grupo quanto aprimorar um laboratório de ciências, expandir o compartimento de carga ou ainda adquirir naves menores para serem transportadas no hangar.

Aventuras inteiras podem acontecer à bordo de naves e toda a ação pode transcorrer em uma acidentada viagem espacial ou depois de um defeito dos motores.


Tendo em mente como as naves são importantes para a ambientação, parece lógico que combates espaciais sejam também bastante detalhados. Há um capítulo inteiro a respeito deles, explicando como transcorrem batalhas e como o mestre deve descrever esses combates da maneira mais emocionante e excitante.

Os combates envolvendo naves espaciais ocorrem em um mapa tático hexagonal onde distâncias e tamanhos são completamente abstratos. Quem gosta e conhece minimamente Star Trek vai reconhecer muitos elementos da série nessas simulações de batalha. Cada jogador que compõe a tripulação à bordo assume um diferente papel na batalha e se dedica a trabalhar nas questões relativas a essa função. São elas: Capitão que comanda e decide as ações, Engenheiro que trata das questões relativas a movimentação, maquinário e escudos, Artilheiro que opera o sistema de armas, o Piloto que conduz a nave e trata da navegação e o Oficial de Ciências que trata de funções relativas a proteção e fornece respostas a diferentes situações.

Uma das coisas mais interessantes é que o sistema permite que qualquer tipo de personagem desempenhe uma função útil no decorrer de uma batalha. Um diplomata carismático pode assumir a função de Capitão, comandando os seus companheiros e obtendo deles o melhor desempenho. Um personagem com inclinação intelectual pode operar os sensores e evitar possíveis danos como Oficial de Ciências. O piloto irá mover a nave e colocá-la na posição perfeita para acertar o inimigo ou ficar longe dos disparos deles. No curso da batalha há muito mais a fazer do que simplesmente atirar e esquivar.

Ainda no que diz respeito às regras, boa parte da mecânica será facilmente assimilada pelos que jogam o sistema D20. Uma diferença interessante diz respeito a classe de Armadura que se divide em Armadura Cinética e Armadura de Absorção Energética, permitindo que diferentes armas sejam empregadas para cada situação visando explorar fraquezas.


Magia também possui um sistema reminiscente do D&D/Pathfinder, com a maioria das magias possuindo o mesmo nome e efeito. Com apenas duas classes de personagens com acesso a magia, estas são divididas em listas de nível zero a seis. O repertório é mais enxuto e menos intimidador. Ainda é possível usar magia para curar, controlar oponentes, encantar, ganhar vantagens, fulminar oponentes com raios e efeitos pirotécnicos etc.

O Livro Básico trás cerca de 100 páginas com informações gerais sobre a ambientação. O livro oferece um panorama geral de temas como o que torna esse universo único, os deuses, o comércio, as facções mais poderosas e ideias para criar suas histórias. Starfinder oferece inúmeras possibilidades narrativas e abre um vasto leque de opções para explorar um universo repleto de aventura e perigos.   

O Livro Básico apresenta planetas, luas, asteroides e estações que podem ser visitadas pelas tripulações em busca de ação, fortuna e glória. Esses lugares, no entanto, são descritos de maneira bastante econômica, sem aprofundar excessivamente os detalhes sobre localidades tão interessantes. O suplemento Mundos do Pacto (Pact Worlds) irá se concentrar justamente em descrever mais detalhadamente cada uma desses lugares e suas peculiaridades únicas.

Um dos lugares mais interessantes é a Estação Absolom, uma cidadela orbital que lembra muito a do jogo Mass Effect e que é um típico ponto de início de uma campanha graças a sua quantidade de opções. Verces também é muito atraente, um planeta sem translação com hemisférios fixos em dia e noite. Já Akaton, é um mundo à beira da catástrofe ambiental com um clima que remete a Athas (o mundo de Dark Sun) pela escassez e brutalidade. E esses são apenas alguns dos lugares a serem conhecidos.


A vastidão do espaço exterior contém uma infinidade de sistemas solares e de outros tantos mundos que podem ser facilmente construídos pelo narrador. Arquanad é um planeta consciente que mexe com a mente das pessoas que o visitam. Embroi, é um posto avançado de um plano infernal. Preluria é um gigante gasoso habitado por criaturas amorfas psíquicas.

Starfinder é basicamente Pathfinder em um futuro muito, muito distante, possivelmente alguns milhares de anos no futuro. O Planeta Golarion (o mundo base de Pathfinder) desapareceu, junto com a lembrança dele e arquivos a respeito de sua existência. Essa explicação ocorre por uma questão de cronologia, afim de que uma ambientação não esteja subordinada à outra e obrigue um jogo a se conformar os acontecimentos do outro. Há no entanto, enorme influência de Pathfinder na ambientação, criando um estilo de Space Opera com direito a Impérios Galáticos malignos, criaturas insectóides, piratas espaciais e outros elementos clássicos da fantasia misturados ao cenário espacial.

Uma vez que as ambientações estão tão próximas e acessíveis uma da outra, há um capítulo final que permite adaptar os personagens de sua mesa tradicional de Pathfinder para o universo de Starfinder. Isso abre algumas possibilidades interessantes relativas não apenas a viagens pelo espaço, mas pelo tempo, permitindo crossovers que podem justificar uma campanha inteira. Além disso, misturar elementos das ambientações aumenta consideravelmente a quantidade de perigos, ameaças e principalmente monstros, já que as criaturas de um, podem surgir na do outros aproveitando as mesmas estatísticas.

Se o mestre quiser alterar a perspectiva e chocar os jogadores que tal fazer com que eles viagem milhares de anos no futuro em uma época com naves e alta tecnologia? Ou o inverso, fazendo viajantes do espaço ter de lidar com perigos em terra firme num mundo de fantasia?

Eu gosto especialmente do fato de Spellfinder não ser uma ambientação Hard Sci-Fi, onde as leis da física e da natureza precisam ser respeitadas a todo momento. Uma vez que o universo de Spellfinder possui magia, tudo, literalmente tudo pode acontecer sem que pareça excessivamente forçado ou absurdo.


O livro tem o elevado padrão de qualidade presente nas publicações da Paizo. Quem já teve em suas mãos o Livro Básico ou algum suplemento de Pathfinder não vai estranhar o estilo da arte e da diagramação que recorre frequentemente a caixas de texto com informações complementares ao texto principal. As ilustrações seguem um padrão consagrado dos livros de Fantasia, com aventureiros em enfrentando situações de risco e ação. Há algumas boas imagens com paisagens alienígenas em planetas exóticos e do interior de naves e estações. O que não falta são imagens esquemáticas de armas e tecnologia que adornam páginas e mais páginas dedicadas ao capítulo de equipamentos. As ilustrações empolgam e mantém o padrão elevado que deve agradar.

Do ponto de vista do jogador, o Livro Básico de Starfinder possui tudo o que você necessita para construir seus personagens e mergulhar de cabeça nas aventuras. Da perspectiva do Mestre, falta algum suporte, nada que seja muito grave, já que muito pode ser construído, mas para a experiência completa, será preciso acompanhar lançamentos e buscar o Livro da Ambientação e de Monstros afim de expandir os horizontes.

Para fãs de Pathfinder, ouso dizer que Starfinder é praticamente obrigatório! Para aqueles que jogaram e/ou ainda jogam D&D em sua terceira edição, Starfinder será uma boa aquisição, visto que as regras são bastante próximas e não vão causar qualquer estranheza.

Além disso, Starfinder é um jogo incrivelmente divertido e com uma proposta alternativa que vale a pena conhecer. Afinal, o que pode ser mais divertido do que pilotar uma nave através de um cinturão de asteroides, enfrentar hordas de goblins ou repelir uma abordagem de piratas espaciais orcs?

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Esse incrível jogo está desembarcando no Brasil através de um Financiamento Coletivo da Editora New Order que tudo indica será um grande sucesso - de fato, ele está indo bem demais! O projeto, realizado através da plataforma Catarse possui vários níveis e contempla dezenas de recomendas bastante atraentes.

Eu convido quem achou interessante a proposta, a dar uma boa olhada no Financiamento e conhecer esse excelente jogo de aventura e fantasia.

STARFINDER FINANCIAMENTO


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