segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

True Detective - Resenha do episódio 3 - "The Big Never"


Três episódios e aparentemente a terceira temporada de True Detective vai nos contar duas linhas de história entrelaçadas. A primeira envolve o mistério central, que diz respeito ao Caso Purcell e ao desaparecimento das crianças Will e Julie, ocorrido em novembro de 1980. O mistério segue ao longo de três linhas temporais simultâneamente em 1980, 1990 e 2015. A segunda linha se refere a obsessão em três diferentes momentos da vida de um detetive incumbido de investigar o caso e como sua vida é alterada por essa tarefa.

O caso Purcell que inclui assassinato e sequestro começa como qualquer outro caso para Wayne Hays em 1980. Por volta de 1990 ele já causou um verdadeiro descarrilhamento em sua vida e azedou tanto as suas relações profissionais como policial e quanto pessoais, enquanto pai e marido. O caso parece se recusar a morrer. Não bastasse ele ter dado o ponta-pé inicial na carreira da esposa Amelia como escritora, ele volta à superfície com as evidências de que Julie Purcell está viva - graças à descoberta de suas digitais numa cena de assalto. "Eu me sinto cansado dessa coisa sendo parte de nossas vidas", Wayne comenta com Amelia no lado de fora da farmácia onde as digitais apareceram. Mesmo que os dois estejam em um encontro de sexta à noite, o caso continua sendo o tópico central deles. Wayne parece aqueles veteranos de guerra, que após 50 anos continuam falando sobre o desembarque da Normandia, pois foi a coisa mais interessante de sua vida. Em 2015, o caso persiste em assombrá-lo, mesmo com ele já aposentado. Sonhos e alucinações começam a se misturar e ele parece ser afetado pelas lembranças. Esse caso é como uma infecção que corrói tudo que toca, não importa quanto tempo tenha passado.

Tempo aliás parece ser algo importante nessa temporada.


Como acontecia na primeira temporada, quando Rust Cohle explicava como o Tempo era como um círculo que estava fadado a se repetir uma e outra vez, na terceira temos menções sucessivas a respeito de Tempo e Repetição. Em 1990, Wayne se ressente com o trabalho investigativo de Amelia que remexe no lodo do caso levantando a sujeira que ele gostaria, ficasse para sempre enterrada. Quando sua filha some por alguns minutos em um supermercado, a reação de Wayne é desproporcional. Quando ele coloca a filha no mesmo papel de vítima da menina desaparecida, a sensação é quase esmagadora. Tudo parece estar se repetindo, ainda que por alguns instantes. Tempo e Repetição atormentam o detetive e parecem que vão ser uma tônica na temporada.

Mahershala Ali e Carmen Ejogo se empenham em vender essa noção ao conversar a respeito de Tempo em duas cenas. A primeira enquanto auxiliam  grupo de resgate no parque que busca por indícios das crianças em 1980. A segunda quando, o velho Hays tem uma espécie de visão na qual Olívia (que faleceu anos atrás!) aparece para ele e fala a respeito da necessidade de continuar investigando. Ela menciona ainda Einstein e dimensões paralelas. Hmmm....


Não vou ficar surpreso se a qualquer momento o detetive começar a interagir com ele mesmo em diferente linhas temporais, o que já foi sugerido em alguns momentos quando ele parece ouvir vozes e completar palavras em diferentes épocas como se estivesse lembrando de momentos específicos. Semana passada eu mencionei que seria ótimo ver algo semelhante a From Hell, no qual o tempo se comporta de maneira estranha para o personagem de Sir William Gull. Quem sabe isso ainda pode acontecer em True Detective.

A trama mais pé no chão continua atada em 1980 e permanece bem intrigante. Buscando por mais pistas no quarto das crianças, Wayne e Roland descobrem uma série de indícios, incluindo um mapa, uma bolsa com o logotipo de uma empresa processadora de alimentos e sinais de que Will gostava de jogar RPG. Não há menção nenhuma a D&D, mas os dados e manuais estão ali. Nos anos 1980, a paranoia com satanismo atingiu também os jogos de interpretação, como Wayne comenta em dado momento a respeito de um jogo que os pais temiam podia afetar os filhos se estes o jogassem. Assim como aconteceu no episódio da semana passada, quando se mencionou desconfiança quanto a bandas de heavy metal, temos um novo aceno para a paranoia de satanismo do período. Vamos ver como isso se desenvolve.

A pista da empresa de alimentos Hoyt é curiosa. Será que a pessoa que sequestrou Julie e matou Will trabalhava na empresa? E por que eles estariam pagando por informações a respeito do caso? Um dos empregados diz que se trata de mera filantropia, ainda mais que as crianças são filhos de uma ex-funcionária. Mas será que é apenas isso? Ou há alguma coisa mais sinistra? Veremos...


A pista de que as crianças tinham um amigo secreto com quem brincavam em um lugar isolado e afastado também alimenta teorias interessantes. No lugar, Wayne encontra dados, alguns brinquedos que os Purcell não reconhecem ter comprado e mais daquelas estranhas bonecas de palha. Uma testemunha que mora numa fazenda ali perto diz ter visto as crianças repetidas vezes brincando na companhia de duas pessoas, um homem negro e uma mulher branca que dirigem um bonito carro marrom. Em 2015, a repórter que faz a entrevista com Wayne menciona que pode ter havido algumas falhas na investigação e que alguns aspectos parecem ter sido negligenciados. Um destes é justamente um testemunho que cita um homem negro bem vestido na companhia de uma mulher, vistos num sedan luxuoso de cor marrom que se destacava naquela região de gente simples. Quem são esses? O que eles querem com as crianças? E será que eles tem alguma ligação com a pista acima da Indústria alimentícia?

Na linha temporal de 1990, nós passamos algum tempo na companhia de Roland que descobrimos ter se tornado um Tenente na Polícia de Arkansas. Ele ajudou Tom Purcell, o pai a se reerguer e se manter sóbrio, e parece ansioso em reabrir o caso quando a promotoria oferece a ele a chefia de uma Força Tarefa. Wayne e Roland não se vêem faz tempo, o fim da investigação em 1980 parece ter colocado os dois em lados opostos, na medida que Wayne sofreu algumas sanções e Roland ganhou uma promoção. Wayne atribui isso a uma questão racial (a "cor da pele" teria influenciado), o que acabou falando mais alto para determinar quem era punido e quem ganhava um tapinha nas costas. De qualquer maneira, Roland parece disposto a envolver Wayne mais uma vez no caso, oferecendo a ele uma participação na tal Força Tarefa que ele vai liderar. A investigação em 1990 vai se tornar oficial, afinal de contas.


Pistas Intrigantes e Suspeitas:

- O que teria acontecido com Roland em 2015? Será que o detetive simplesmente se aposentou ou algo mais sério teria ocorrido quando a Força Tarefa reabriu o caso em 1990? Será que Roland recebeu sua promoção para ficar de bico fechado, diferente de Hays? Se ele foi colocado como Chefe da Força Tarefa, seria mais fácil acobertar possíveis descobertas, mas se for assim, por que envolver Hays novamente? Vamos ficar de olho.

- Parece que há alguma coisa oculta nessa relação entre pai e filha, no caso do detetive Hays e Rebeca. Na primeira temporada Marty tinha uma relação tumultuada com a filha mais velha, supostamente a ação do Rei Amarelo (ou do caso) azedando as relações familiares. Aqui há indícios de algo semelhante. A cena do supermercado com a menina sumindo e Hays agindo em um frenesi paranoico parece uma preparação para o que está por vir. Algo que culminou com um rompimento de pai e filha e a mudança dela para a Califórnia.

- A descoberta de um álbum de fotos, com uma fotografia em especial, de Will na primeira comunhão, causou alguns arrepios no episódio de ontem. O menino parece ter sido colocado exatamente na mesma posição quando morreu. As mãos juntas como se estivesse rezando. Esquisito! Será que o assassino teve acesso a essas fotografias? Ou ele esteve na primeira comunhão do menino e quis encenar isso? De qualquer maneira um componente religioso é tudo que True Detective precisa para ficar mais sinistro.


- As coisas ficaram feias para nosso amigo Woodward, também conhecido como o o índio catador de lixo. O sujeito passa por maus bocados nas mãos dos habitantes de West Finger que mandam um aviso de que ele não é bem vindo, sobretudo se for visto na companhia de crianças. O fato de Woodward voltar para sua cabana e apanhar um embrulho misterioso leva a crer que a coisa vai render repercussões e que o veterano de guerra deve reagir em algum momento. Provável que isso ainda vá render alguma tragédia, sobretudo porque aquele embrulho parecia muito com um souvenir de guerra, tipo um rifle de assalto M16. Será que foi isso que acabou manchando a credibilidade de Hays e custou sua carreira? Um massacre desse tipo parece aparecer sempre em True Detective, ao menos ocorreu nas duas temporadas anteriores.

- O título do livro de Amelia continua me intrigando: "Harvest of the Moon", algo como "Colheita da Lua" (ou "ao luar"). O que diabos isso significa? Eu ainda acho que mais coisas estranhas vão aparecer nesse caso e que vão justificar porque um documentário está sendo feito sobre ele 35 anos depois. Sem dúvida, o caso se tornou muito mais do que um "corriqueiro" assassinato e desaparecimento, alguma coisa muito séria deve ter acontecido em algum momento, algo que vai muito além do que foi mostrado até agora.

Vamos esperar...

semana que vem tem mais!

4 comentários:

  1. Exatamente Luciano! A despeito das criticas, a 3ª Temporada nos trouxe de volta aquela ansiedade pelo proximo capitulo, o sofrimento com os personagens e as ilações sobre o que esta acontecendo! A magia do Pizollato em trafegar com maestria nesse tipo de narrativa "time travel" gera sempre muitas perguntas não respondidas! Vamos aguardar!

    ResponderExcluir
  2. Ainda estou curioso com aquele foco no anel da maçonaria do Roland no segundo episódio. Passei esse terceiro tentando ver se continuava no dedo dele, mas agora ele usa um anel no mesmo lugar, mas com uma pedra, que parece meio marrom.
    Pode não significar nada, mas talvez esse contato do personagem com uma ordem dessas tenha um significado maior pra trama.

    ResponderExcluir
  3. Excelente artigo. Louco pra ver este 3 episódio!!!

    ResponderExcluir
  4. Luciano quando sairá resenha do quarto episódio!? Abraço parabéns pelo seu trabalho!!

    ResponderExcluir