quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Lugares Estranhos: Lago Poyang - As águas da Loucura ficam na China


Por razões desconhecidas, alguns lugares de nosso planeta parecem ter o costume de fazer aqueles que se aproximam deles desaparecer. São lugares onde forças além de nosso controle e compreensão conspiram para apagar da existência aqueles tolos o bastante para se aventurar através deles. Nesses lugares estranhos, nada resta para que possamos conjecturar o que aconteceu.

A maioria das pessoas, é claro, já ouviu falar do infame Triângulo das Bermudas, mas o que muitos não sabem é que ele é apenas um desses lugares predatórios distribuídos ao redor do mundo. Um outro lugar igualmente enigmático pode ser encontrado na China. O maior lago do país conquistou a reputação de ser não apenas um lugar onde pessoas desaparecem no esquecimento, mas também uma fonte de estranheza que continua a surpreender e mexer com nossa imaginação.

Situado na região rural da Província de Jiangxi, o Lago Poyang possui uma extensão de 3,500 quilômetros quadrados, e é o maior lago de água doce do país. Ele é também um habitat migratório para milhões de pássaros, bem como o lar de ouriços apelidados  pelos locais de jiangzhu, ou "porcos do rio". Além dessa rica biodiversidade, o lago também possui uma rica história ao longo de séculos. Sua formação se deu em meados de 400 d.C e ocorreu quando o Rio Gan desviou seu curso inundando o interior, engolindo a região de Poyang e Haihun, criando um êxodo desesperado de habitantes que lá viviam. Em determinado momento, durante a Dinastia Tang, o crescimento fenomenal do lago reclamou quase 6,000 quilômetros quadrados de terra. O fluxo de flagelados  favoreceu o crescimento da cidade de Wucheng, que beneficiou-se da população que tentava escapar da voracidade das águas.


Em 1363, o Lago Poyang talvez tenha sido o palco de uma das maiores e mais sangrentas batalhas navais da história, quando as enormes frotas das Dinastias Han e Ming se encontraram nos dias finais do reinado sino-mongol liderado pelo Clã Yuan. A Batalha ficou conhecida como a Batalha do Lago Poyang, mas entrou para a história como a Batalha da Água Escarlate, pois dizem as lendas, foi desta cor que suas águas se tingiram ao final do confronto. Em parte, a intensa batalha foi marcante pelo fato dos dois lados terem feito uso de tecnologia moderna, empregando pela primeira vez pólvora negra e armas de fogo. As enormes embarcações que tomaram parte da batalha eram verdadeiras fortalezas que se lançavam umas contra as outras com o objetivo de abalroar e afundar os adversários. Em determinado momento - os cronistas descrevem - eram tantos os destroços, restos e cadáveres boiando no lago que alguns marinheiros conseguiam correr sobre eles para fugir da batalha.  

No final do confronto, a poderosa Marinha Ming saiu vitoriosa e tomou o controle do país. Seu líder Zhu Yuanzhang se tornaria então o Primeiro Imperador da longeva Dinastia Ming que marcou época no comando da China.

A sinistra e violenta história do lago é também pontuada por mistérios. Muitas embarcações partindo de uma extremidade do lago, jamais chegaram ao outro lado, tantas que o Lago Poyang é conhecido como "Lago sem volta" ou o "Lago das Águas mortais". Estranhamente, boa parte dos barcos perdidos jamais foi encontrado o que leva alguns a acreditar que não jazem nas profundezas, como seria de se esperar, mas são tragados da existência. Para onde? Quem sabe?


Um dos mais estranhos desaparecimentos ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando a invasão e ocupação japonesa estava em seu auge. Em 16 de abril de 1945, um enorme cargueiro japonês de duas mil toneladas, o Kobe Maru, com uma tripulação de 200 homens, partiu da Ilha de Laoye. Lá os soldados reuniram tesouros e preciosos artefatos que haviam sido removidos de vários Templos budistas na região. A viagem deveria ser tranquila, mas em algum momento o navio naufragou sem motivos conhecidos. Na noite em questão as águas estavam tranquilas, não havia tempestade e qualquer informe sobre inimigos. 

A embarcação naufragou rapidamente, sem permitir escapatória para os tripulantes, arrastados para as profundezas insondáveis. Após esse misterioso naufrágio, a Marinha Imperial Japonesa enviou uma equipe de resgate composta de mergulhadores para recuperar a carga. Segundo boatos, apenas alguns mergulhadores sobreviveram à tarefa marcada por acidentes fatais. Um dos mergulhadores mais experientes teria sido retirado das águas em estado delirante. Ele se mostrou incapaz de falar, visto que foi tomado por um horror incontrolável. Por muito tempo circulou o boato de que os homens haviam visto algo inexplicável nas profundezas, algo que custou sua razão e arruinou sua sanidade para sempre. Embora tenham determinado a localização exata do Kobe Maru no leito do lago, nenhum tesouro foi recuperado.      

Em dado momento, a Marinha Imperial concluiu que uma operação de resgate seria dispendiosa em recursos e perigosa para os homens envolvidos. Elas foram abandonadas logo em seguida.      


Quando a guerra terminou, o Governo Chinês também fez sua tentativa de recuperar a carga do Kobe Maru, esperando resgatar as antiguidades e relíquias roubadas pelos japoneses. Em 1951, os chineses contrataram o famoso especialista em resgate submarino Edward Boer para localizar os restos do cargueiro. Infelizmente, ele não apenas falhou em sua missão, como sequer localizou os destroços do navio no local assinalado pelos japoneses: para todos os efeitos o Kobe Maru havia desaparecido sem deixar vestígios.

Para tornar o caso inteiro ainda mais bizarro, os japoneses cederam os registros oficiais com a localização do naufrágio além de fotografias tiradas pelos mergulhadores. Estas apontavam o local exato visitado cinco anos antes. Contudo, não havia sinal dos restos que deveriam estar em um ponto relativamente raso, com pouco mais de 12 metros de profundidade. O próprio Boer permaneceu em silêncio a respeito de toda busca, até decidir publicar um estranho relato usando o Canal das Nações Unidas em 1958. Ao longo de seu artigo, ele descreveu acontecimentos inexplicáveis e cada vez mais estranhos. Boer contou que sua equipe encontrou luzes brancas cegantes nas profundezas, bem como misteriosas ondas sonoras capazes de serem detectadas mesmo na superfície. Ainda mais peculiar e desconcertante, ele descreveu o avistamento de estranhas formas de vida marinhas habitando as trincheiras. Criaturas enormes, mas estranhamente humanoides, vivendo no leito lamacento e em cavernas submarinas.

Boer descreveu ainda inesperadas atividades sísmicas no fundo do rio, causando o surgimento de fissuras e vórtices que ameaçavam engolir os mergulhadores. Em uma dessas ocasiões em que uma fissura se abriu, Boer descreveu o surgimento de um imenso globo luminoso que circulou um sino de mergulho causando surpresa aos homens que o viram bem de perto. Segundo a descrição a coisa emitia uma luz pulsante e nadava velozmente.  

  
O desaparecimento do Kobe Maru e de vários mergulhadores não é de modo algum o único caso estranho ocorrido no Lago Poyang. Suas águas engoliram inúmeros barcos de pesca, catamarãs, iates de passeio, transportes de carga e navios militares. Durante o período de 1960 até 1980, um impressionante número de 200 embarcações sumiram ali sem deixar vestígios, junto com um número estimado de 1600 pessoas que jamais foram vistas novamente. 

Em 3 de agosto de 1985, durante um dia claro e tranquilo, um total de treze embarcações de diferentes tamanhos desapareceram misteriosamente. Aqueles que navegam por estas águas contam histórias sobre tempo perdido, um profundo senso de desorientação e uma doença crônica mental que faz com que não lembrem detalhes de suas viagens. Alguns se referem a essa condição como a "Febre do Poyang", e culpam as águas insalubres e o ar empesteado por um denso nevoeiro. 

Em 1989, ocorreu outro incidente bizarro, dessa vez envolvendo um pequeno navio de carga achado à deriva. A tripulação composta de sete homens experientes havia sumido. Dentro da embarcação encontraram sinais claros de luta e sangue, mas nenhum cadáver. No diário do capitão, escondido em uma caixa no seu camarote, havia uma anotação macabra na última página: 

"Estamos enlouquecendo e perdendo o controle! As coisas que vimos são inacreditáveis e não há como descrever sem que achem que ficamos loucos. Eu adoraria explicar em detalhes, mas não ouso fazê-lo. Não acho que voltaremos com vida e se voltarmos o que posso dizer a respeito desses dias? Os homens estão confusos, não posso oferecer explicação para aquilo que não faz sentido".


Ninguém jamais conseguiu explicar o que aconteceu e o paradeiro final dos tripulantes.     

Barcos continuam desaparecendo nas águas do Lago Poyang até os dias atuais. Em 2001 um grande cargueiro carregando areia foi atingido por uma enorme onda em um dia até então tranquilo, com calmaria. O navio afundou em poucos minutos e simplesmente desapareceu. Outro incidente ocorrido em 2010 envolveu o desaparecimento de um transportador de mil toneladas que afundou em um dia de mar calmo e claro, sem razão discernível. Seus destroços nunca foram localizados ainda que a posição tenha sido relatada por rádio momentos antes do navio ir à pique.

A coisa mais estranha a respeito dos desaparecimentos, além de seu número alarmante é que eles ocorrem em condições descritas como ideais para navegação. O sumiço de destroços, em um lago cuja profundidade média não excede os 8 metros também causa estranheza. Deveriam haver destroços em todo canto, ainda assim, não há nada. À despeito das inúmeras expedições enviadas para localizar essas embarcações, que varreram as profundezas em busca de sinais, muito pouco foi encontrado. 

Jiahu Jiang, respeitável pesquisador ligado ao Instituto Nanjing de Geografia e Navegação passou considerável tempo pesquisando o mistério do lago e expressou seu assombro diante dos muitos incidentes inexplicáveis. Ele afirma que o número de navios desaparecidos no lago e a falta de explicação para a ausência de destroços constitui um enigma inimaginável. Um dos únicos sinais de destroços localizados ocorreu no ano de 2000, quando uma expedição arqueológica submarina usou um avançado equipamento de sonar e bombas de sucção para explorar 16 anomalias magnéticas espalhadas no fundo do Poyang. Uma dessas anomalias tinha a forma de um navio, mas no local descobriam apenas alguns restos de sucata metálica.


Por que os restos de tantos naufrágios continuam desaparecidos? O que explica o número assombroso de navios sumidos? Teria o lago digerido os navios para sempre?  

Além dos navios e mergulhadores engolidos pelo lago, ocorreram outros incidentes estranhos que permanecem sem uma explicação razoável. Em 1977, três represas foram construídas no lago, com a maior delas medindo 600 metros de comprimento, por 50 de largura e 15 de altura. Certo dia, essa imensa represa teria simplesmente afundado, sem deixar sinal de ter existido no local.

Outro caso bizarro envolve um mergulhador de resgate chamado Shen Dahai, que desapareceu depois de procurar por navios naufragados. Informes alegam que seu corpo foi encontrado no dia seguinte flutuando próximo ao Rio Changba Shan, que fica a 15 quilômetros do lugar que ele estava explorando e que não é conectado ao Lago Poyang. Acrescentando a esses mistérios, há inúmeros avistamentos de ondas, redemoinhos, luzes submarinas e globos de luz que flutuam sobre o lago. Violentas tempestades que começam repentinamente, mesmo em dias de calmaria climática também são relatados pelos que vivem nos arredores. O mesmo vale para descargas de eletricidade que riscam o céu atingindo o lago escuro provocando um estrondo ensurdecedor. 


Com todos esses acontecimentos, é claro, não faltam teorias sobre o que acontece no Lago Poyang, algumas delas sensatas, outras beirando o absurdo. Uma das teorias é que os naufrágios são causados por baixios e deslizamentos no leito submarino, o que foi confirmado por um estudo de imagens aéreas. Navios podem ter sido engolidos por estes baixios, explicando o desaparecimento, uma vez que tamanho volume poderia criar súbitos vórtices. Os deslizamentos também poderiam ser responsáveis pelo desaparecimento dos destroços que afundariam em camadas lodosas do leito. A explicação é convincente, contudo, mesmo os maiores baixios não poderiam justificar o completo desaparecimento embarcações de grande porte. Algo deveria ser encontrado!

Outros teóricos colocam a culpa em incidentes variados como o surgimento de portais inter-dimensionais, vórtices submarinos, buracos negros, anomalias magnéticas, descargas energéticas, forças sobrenaturais e é claro, abdução alienígena. Muitas das teorias bizarras apontam a localização do Lago a 30 graus de latitude norte. Esta é significativa pois existem muitos lugares ancestrais de importância que também se encontram nessa latitude, como as Pirâmides do Egito, bem como outros notórios locais de misteriosos desaparecimentos como o mencionado Triângulo das Bermudas.   

O que existe de concreto a respeito desse lugar aparentemente maldito? Existe alguma certeza a respeito dele que possa ajudar a explicar seus mistérios? Seria ele meramente um lugar atormentado pelo azar? Ou essa localidade é apenas maligna e fora de nossa razão? 

Enquanto ninguém consegue atravessar o véu de segredo e mistério que recai sobre o Lago Poyang, os naufrágios, bem como as muitas vítimas continuam perdidas. E provavelmente, jamais saberemos o que aconteceu com elas em seus momentos derradeiros.

4 comentários: