terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Parque Fantasma - A Vila de Albanoel que se tornou uma sinistra ruína


É véspera de Natal e buscamos algum artigo para aquecer o coração dos nossos leitores, ou levar um pouco de medo e estranheza até ele.

Essa é a Vila de Albanoel, um pequeno Parque de Diversões construído no município de Itaguaí a cerca de 80 quilômetros do Rio de Janeiro. Seu objetivo, como todos os parques de diversão, era trazer um pouco de alegria aos seus frequentadores. Mais do que isso, Albanoel seria uma espécie de terra de encantamento, onde todos os dias seus visitantes poderiam experimentar as alegrias do Natal. 

Hoje, quando muito, ele consegue causar estranheza e desconforto.

Os letreiros caíram ou descascaram deixando frases desconexas nas paredes e muros pichados. Os bonecos de fibra de vidro espalhados pelo jardim foram cobertos pelo mato e ervas daninhas. Eles estão sujos e quebrados, com um aspecto leproso. A pintura dilapidada é um testemunho do flagrante abandono. O que havia de metal enferrujou, criando pontas e fragmentos perigosos para quem transita por essas ruínas.

O parque temático natalino à beira da rodovia Rio-Santos, chegou a ter milhares de visitantes no início dos anos 2000. Excursões e famílias passavam o dia se divertindo de graça.

Depois que Albanoel fechou, a maior parte do que havia no parque ficou sem manutenção; com o tempo, foi estragando sob o sol e a chuva. O tempo e o clima, inclementes, trataram de transformar o sonho de uma Vila Natalina o ano inteiro, numa ruína à céu aberto. Uma que causa arrepios em quem passa ou visita seus restos mortais expostos.

O encanto se perdeu, e a visão sinistra dos papais noéis sorridentes em decomposição e das Renas tombadas rendem uma nova fama a Albanoel, que volta e meia aparece em vídeos e listas na internet sobre parques temáticos abandonados ao redor do mundo.

Há algo de realmente aterrorizante nesses lugares depois que são abandonados. Seria a ironia de um local construído para ser divertido e causar risos de diversão, se tornar um local tão triste? Ou seria somente a decrepitude que impera? Cada pessoa tem direito a sua opinião. Fato é que esse lugar chama a atenção pela estranheza.

Em Albanoel os sorrisos e a diversão se foram há muito tempo. O que restou é uma zona deprimente e de certa forma assustadora. Um esqueleto macabro que conjura, quando muito, sensações de apreensão e arrepios involuntários naqueles dispostos a explorá-lo. 

O local é quieto e silencioso, como convém a um cemitério de metal, plástico e boas intenções enterradas faz tempo. Andar pelas ruas internas de Albanoel é como transitar por algo semelhante a um mundo arrasado e perdido. Faz com que se pense em como seria o mundo se ninguém estivesse aqui e se todos sumissem de um momento para o outro, vítimas de uma guerra genocida ou de uma peste implacável.


O encanto original deu lugar a um aspecto sinistro que conferiu uma nova fama ao parque temático. Assombrado. Tudo ali remete a uma sensação acachapante de opressão.

Chega a ser claustrofóbico observar as imagens sorridentes de Papais Noel depredados e sujos saudando quem entra com uma expressão que mistura gentileza e pena.


Sob o sol e a chuva, muitos bonecos e brinquedos se desgastaram, restando deles apenas uma casca arranhada e desgastada. Outros estão se esfacelado aos poucos, fazendo surgir rachaduras que atravessam as faces sorridentes desenhando cicatrizes. 

Nessas fissuras vivem animais e insetos em busca de esconderijo, os únicos habitantes desse lugar perdido.


Albanoel aparece com frequência nas listas de parques temáticos abandonados ao redor do mundo. Ela é lembrada sobretudo nessa época do ano, quando estamos mais atentos aos preparativos e enfeites para a Noite de Natal.

Hoje, os únicos visitantes que aparecem são alguns curiosos que vêm fotografar ou filmar, ou as pessoas que aproveitam a parada na beira da estrada para um lanche na barraca de pastel e caldo de cana em frente à entrada para fazer fotos inusitadas que rendem um punhado de curtidas.

Nem sempre foi assim...

Idealizado pelo Deputado Estadual do Rio de Janeiro, Albano Reis, a vila era um sonho de infância. A criação de um Parque de Diversões onde as famílias poderiam vir e se divertir o ano inteiro e de graça. 

Albano era conhecido como o "Papai Noel de Quintino". Ele ganhou esse apelido porque distribuía todos os anos na véspera de Natal brinquedos (para as crianças) e dinheiro (para os adultos) em Quintino Bocaiúva, bairro na Zona Norte do Rio, onde foi criado.

O político costumava contar que ele e seus irmãos haviam sido muito pobres quando crianças. Costumava dizer que jamais teve um Natal alegre e feliz, tudo que conheceu foi privação e necessidade.

Albano prometeu para si mesmo que se melhorasse de vida, ajudaria outras pessoas em dificuldade. Ele conseguiu prosperar e se tornou uma pessoa de muitas posses. Nunca esqueceu de sua promessa e na época do Natal sempre se apresentava para ajudar os que não tinham condições de proporcionar às suas famílias uma boa festa de final de ano.


Albano Reis se tornou bastante conhecido pela sua generosidade e esta o impulsionou em uma bem sucedida carreira política. Ele cumpriu repetidos mandatos como Deputado Estadual no Rio de Janeiro.

Um de seus projetos pessoais foi justamente a construção de Albanoel. Ele comprou o terreno e deu início às construções do Parque de Diversões em meados de 1990. Com brinquedos, roda gigante, carrinhos de bate-bate, além de toboáguas e piscinas de ondas, o complexo deveria ser uma área de lazer para as famílias da região carente de atrações. O Parque tinha entrada gratuita e aqueles que vinham, traziam alimentos ou doações para serem distribuídas para os mais pobres. Os planos incluíam ampliar a área e construir um complexo de restaurantes e uma cidade cenográfica que imitaria as cidades do velho oeste.

O Parque chegou a ficar pronto e atraiu milhares de visitantes, mas Albano jamais viu a conclusão de seu sonho.


A tragédia se abateu sobre o político que morreu bem em frente ao parque que ajudou a erguer.

Albano Reis tinha 60 anos de idade. Ele havia construído uma casa para sua família no terreno do parque, onde passava a maior parte do seu tempo. Na noite de 18 de dezembro, bem perto do Natal, decidiu sair para jantar. Albano estava caminhando pela lateral da estrada, como costumava fazer, toda noite. Um motorista invadiu o acostamento, o atropelou e fugiu sem prestar socorro.

A família chegou a suspeitar que ele havia sido assassinado por algum opositor político. Mas a investigação policial concluiu que foi um acidente, ela chegou ao culpado, que confessou o crime.

O parque ainda funcionou por mais dois anos depois da morte de Albano. Mas a família, enfrentando problemas na Justiça, decidiu fechá-lo em 2006.


Após o fechamento, a área começou seu lento e gradual processo de transformação em uma ruína.

A falta de manutenção se encarregou de destruir os brinquedos. A roda gigante foi caindo aos poucos, bem como os carrinhos e tobogãs que se cobriram de ferrugem e poeira. Ainda é possível reconhecer leões e pavões esculpidos, mas eles estão sujos e carcomidos.

As piscinas foram esvaziadas, os ladrilhos que cobriam o fundo e as paredes se soltaram e elas agora parecem mais trincheiras cavadas no chão. As estátuas de renas e figuras religiosas foram cobertas com musgo e a vegetação que cresceu selvagem foi lentamente devorando as atrações que um dia fizeram a alegria de adultos e crianças.


Até algum tempo atrás, havia o desejo de reconstruir Albanoel e trazê-la de volta ao funcionamento, mas esses planos jamais foram levados adiante. O sonho esbarrava na falta de recursos e investimento.

Enquanto nada acontece, a Vila de Natal vai desaparecendo.

Veja algumas fotografias de Albanoel:




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3 comentários:

  1. Minha cidade consegue ser muito bizarra.

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  2. História triste. Na adolescência cheguei a fazer um curso que levava o nome dele.

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  3. Já passei muito em frente a esse local indo a Costa Verde. É uma desolação mesmo. Obrigado pelo post

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