domingo, 29 de março de 2020

Artefato Maldito - A Maldição da Cabeça da Múmia


O bis-avô de Clodia havia lutado ao lado de Napoleão Bonaparte nas Campanhas do Egito entre 1798-1801. Como muitos homens que serviram ao Imperador na Arme de Orient o bis-avô de Clodia vandalizou e pilhou monumentos egípcios à procura de tesouros e artefatos. Como outros guerreiros ao longo dos séculos, os soldados de Napoleão que visitaram o país das pirâmides queriam lembranças de sua passagem pelo exótico país.

O artefato mais desejado era sem sombra de dúvida, as Múmias. A maioria destes cadáveres mumificados pertenciam a camponeses e operários que trabalharam na construção daqueles magníficos monumentos e que haviam naturalmente sido preservadas pelo clima favorável. A prática de buscar múmias era tão comum que a Europa foi inundada por milhares delas. Em pleno século XIX havia uma estranha prática enraizada no seio das sociedades europeias, a de que ingerir pedaços dessas múmias era um remédio para as mais variadas doenças e um afrodisíaco eficaz. O bis-avô de Clodia, sendo um simples soldado não podia carregar muito, portanto o único artefato que ele pode contrabandear para o país foi uma pequena cabeça de múmia. Por anos ele orgulhosamente apresentou o objeto como um troféu de guerra. Seus filhos e netos se reuniam ao redor da lareira onde repousava a cabeça para ouvir as histórias sobre a campanha e grandes batalhas. Por vezes, contou o pai de Clodia, a cabeça parecia olhar com atenção, apreciando a narrativa como se conseguisse entender o que estava sendo dito.   

Os anos se passaram, e o velho soldado acabou falecendo. A cabeça da múmia foi empacotada e colocada em um depósito onde acabou esquecida, lembrada apenas em ocasionais reuniões de família onde as velhas histórias eram rememoradas. Ao menos até o fatídico ano de 1922 quando Howard Carter descobriu a tumba do menino-rei, o Faraó Tutankamon. A atenção pública pela descoberta desencadeou um efeito de interesse sem precedente por tudo a respeito do Antigo Egito e algo que passou a ser chamado Egiptologia ganhou força. Com efeito, todos objetos decorativos pertencentes ao Egito se tornaram populares. Era uma questão de estilo decorar a casa com objetos do Egito, artefatos reais ou falsos. Foi nessa época que Clodia lembrou das histórias do seu bis-avô e suas aventuras na Campanha do Egito. E ela lembrou da lendária Cabeça da Múmia. 

Clodia levou um final de semana inteiro vasculhando o velho sótão da casa de sua avó, um lugar repleto de artefatos colecionados pela sua família ao longo de séculos. O fruto de seu trabalho enfim se pagou quando ela encontrou numa mala cheia de roupas velhas, uma caixa de madeira. Dentro dessa estavam várias fotografias e uma lata com símbolos egípcios entalhados. E no interior, embalado em um pano de veludo a Cabeça da Múmia.

Era bem menor do que ela esperava, do tamanho aproximado de uma grande laranja. Embora ainda existissem alguns fragmentos de tecido presos ao crânio, a maior parte da face estava descoberta. Com as órbitas dos olhos vazios e sem o nariz, a cabeça do cadáver era grotesca, mas sabendo que ela havia vindo da Terra dos Faraós Clodia deixou de lado os temores e asco, substituídos por enorme interesse. Com a concordância de sua avó, ela levou o objeto para sua casa em Montoire e colocou sobre uma prateleira na sala. Naquele dia ela estudou o artefato, impressionada pelos detalhes. Sua mente ponderava a respeito da identidade daquela pessoa e o mundo que ela conheceu milênios atrás. Aquilo a deixava de alguma forma fascinada.

Foi então que os sonhos perturbadores tiveram início. 

Clodia sonhava que estava em uma sala escura, que cheirava a incenso, coisas velhas e corrupção. Ela estava amarrada pelos pulsos e presa no que parecia ser um pilar. Uma porta se abria e três homens entravam nesse aposento. Dois deles eram grandes e musculosos, carregavam um tipo de estandarte com símbolos que ela supôs serem egípcios. O terceiro homem vestia uma espécie de robe adornado. Trazia jóias nos pulsos e em volta do pescoço enquanto na cabeça tinha uma espécie de mitra cravejada. Foi esse homem pequeno quem falou, e imediatamente os dois outros homens apanharam porretes e começaram a espancá-la. Em uma mistura de pânico e desespero ela conseguiu acordar aos gritos, coberta de suor.

Ao longo de uma semana ela teve o mesmo pesadelo noite após noite. A cena se tornando cada vez mais detalhada e violenta. Para piorar, ela não acordava mais quando a surra se iniciava, ela passava por aquilo tudo sem despertar. Cada noite ela via aquele sujeito e sentia o ódio dele transbordando. Certa noite, após a surra, Clodia viu a si mesma ser amarrada em uma espécie de mesa onde estavam colocados jarros e estranhos instrumentos. O homem, que a essa altura ela já havia compreendido, tratava-se de uma espécie de sacerdote apanhava uma faca incrustada de jóias e abria o seu abdomen. 

Ela então acordava gritando, sentindo o metal frio perfurando o seu estômago rasgando a sua pele e se enterrando na carne. Ela verificava imediatamente se estava ferida e embora não existisse sinal de corte, seu horror era indescritível. Ela sentia um arrepio na espinha ao perceber que a realidade estava de alguma forma se fundindo com seus sonhos. Sua histeria apenas aumentou quando certa noite, ela despertou com escoriações nos braços e arranhões onde os homens do pesadelo haviam lhe segurado.

Se aquilo não fosse por si só horrível, outro detalhe aterrador se somou à narrativa. Certa noite, ao despertar subitamente, Clodia descobriu que a cabeça da múmia estava na sua cama, pousada sobre um travesseiro. Foi a primeira coisa que ela viu ao abrir os olhos. Aquela coisa medonha a encarava. E o mais aterrorizante e impossível para Clodia é que a face parecia estranhamente diferente, como se nela se desenhasse um sorriso que jamais havia estado ali antes.

Ela ficou tão perturbada com o incidente que resolveu apanhar a relíquia e trancá-la no porão onde não seria obrigada a vê-la. Decidiria mais tarde o que fazer com ela.

Mas o alívio esperado não veio e os pesadelos continuaram. Eles pareciam cada vez mais violentos. As surras se intensificavam e a sensação de ser estripada era real demais. O homem de olhar cruel arrancava seus órgãos e os colocava em pequenos jarros como se estivesse realizando algum tipo de ritual sangrento. Ela podia apenas assistir aquilo.

Certa noite, Clodia teve o mais violento dos pesadelos, um no qual o homem usava um instrumento em forma de gancho que era inserido em seu nariz. Em seguida ele o enfiava cada vez mais fundo com o intuito de remover seu cérebro. Clodia acordou com o gosto de sangue que escorria em profusão de seu nariz. Ela correu para o banheiro para conter a hemorragia. Ainda confusa e trêmula, voltou até a sala e lá viu algo que fez a sua sanidade quase se despedaçar por inteiro: A Cabeça da Múmia estava sobre a mesa novamente. A coisa a observava, com olhos vazios e o sorriso ainda mais largo.

Clodia ficou sem ação e perdeu os sentidos.

Quando finalmente acordou, descobriu que estava sentada diante da coisa mumificada que repousava na mesa. Ela a encarava como se hipnotizada, sentia o corpo leve, a têmpora pulsando e a na boca um gosto enjoativo de sangue. Tinha na mão uma faca que pegou na cozinha e sentia a determinação de dar cabo da própria vida. E o teria feito, pois algo parecia comandá-la nesse sentido. No último instante, entretanto conseguiu romper o transe e horrorizada se colocou de pé e fugiu do apartamento sem olhar para trás.

Foi buscar o socorro de sua família pois acreditava ter enlouquecido por completo. Depois de contar o que estava acontecendo, o pai e um irmão foram até o apartamento para destruir a cabeça. Eles acharam a coisa amaldiçoada onde Clodia havia dito que estaria, a apanharam e atearam fogo. Enquanto a Cabeça da Múmia era reduzida à cinzas, exalando um cheiro nauseante, os cães da vizinhança ladravam enlouquecidos. Clodia decidiu deixar o apartamento e nunca mais voltar. Era impossível continuar lá depois de vivenciar tamanho horror.

Clodia decidiu nunca mais mencionar a história da Cabeça da Múmia ou os pesadelos. Ela tinha medo que as pessoas pensassem que ela havia enlouquecido. Ao menos depois de destruir a cabeça os pesadelos terminaram e sua vida voltou ao normal.

Nos anos 1950, a egiptologia ganhou destaque novamente e Clodia visitou uma exposição que estava em Paris. Entre as várias peças, esculturas e tabuletas que faziam parte dos objetos trazidos, ela se sentiu atraída por uma em especial, uma pequena estatueta que representava um sacerdote vestindo trajes idênticos ao do homem em seus pesadelos. Ela mal podia acreditar...

A estatueta representava um sacerdote que servia diretamente ao Faraó. Sua atribuição era preparar os serviçais que iriam acompanhar o Monarca em sua jornada rumo ao além. Segundo a tradição, quando o Faraó morria, alguns serviçais, os que eram seus favoritos, eram mumificados enquanto ainda estavam vivos. O objetivo era fazer com que eles acompanhassem o Faraó e o servissem na eternidade.

A cabeça mumificada pertencia a um sacerdote que tinha prazer em mumificar as pessoas e fazê-las sofrer aquele terrível destino. Por intermédio de algum elo estabelecido através do tempo, Clodia vivenciou o horror dos serviçais do Faraó submetidos à mumificação nas mãos daquele homem perverso. E ela sabia que se tivesse continuado sujeita àqueles pesadelos também se tornaria sua vítima.

A história de Clodia foi relatada pela primeira vez nos anos 1950 e causou grande repercussão e interesse na França. Ela se tornou uma das mais conhecidas narrativas a respeito de Maldição envolvendo um artefato egípcio naquele país.

quinta-feira, 26 de março de 2020

A Misteriosa Reencarnação de Omm Sety

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O que acontece conosco após a morte? Desde o início dos tempos, a humanidade tenta encontrar a resposta para essa questão. Existem muitas ideias e filosofias que tentam explicar o que acontece conosco depois do fim, assim como inúmeras crenças e doutrinas. Haveria um outro reino esperando por nós na pós-vida? Nós encontraremos entes queridos que faleceram antes? Não há nada além de escuridão e esquecimento? Ou será que existe algo? 

Um conceito que é abraçado por muitas religiões é a Reincarnação, a noção de que nossa alma é imortal  e capaz de renascer após a morte em um novo corpo destinado a viver uma vez mais. Não faltam histórias de pessoas que alegam ser a reencarnação de pessoas que já morreram, habitando novos corpos em outras épocas, por vezes expressando memórias de suas vidas passadas.

Um caso em particular se destaca e nos faz ponderar a respeito dessas possibilidades. Trata-se de um caso estranho que mistura reencarnação e terras exóticas, tesouros esquecidos e eras perdidas de um passado muito distante.    

Nascida em 1904 no subúrbio londrino de Blackheath, Dorothy Louise Eady teve uma infância bastante convencional até o dia que mudaria sua vida para sempre. Aos 3 anos de idade, Dorothy escorregou e rolou por uma escadaria. Não foi uma simples queda: a menina foi encontrada desacordada e sem respirar. Seus pais chamaram imediatamente um médico e quando este chegou realizou exames e constatou que a menina estava morta. O médico telefonou então para uma enfermeira para ajudá-lo na remoção do corpo. Em muitos casos, este deveria ser o fim da história, mas quando o médico retornou com a enfermeira, Dorothy foi encontrada miraculosamente sentada na cama, desperta e brincando como se nada extraordinário tivesse acontecido.      

Não muito tempo depois desse horrível episódio, a pequena Dorothy começou a exibir um comportamento incomum. Ela se tornou excessivamente assustada, nervosa e arredia. Ela costumava se esconder de baixo da cama ou em armários depois de se assustar com coisas simples. Ela também começou a falar coisas cada vez mais bizarras. Em mais de uma ocasião pediu que seus pais a levassem "de volta para casa", mesmo quando ela já estava em casa. Ela demonstrava uma estranha expressão de surpresa diante de objetos e coisas do dia a dia, algo que nunca havia feito até então. A menina também havia se tornado mais quieta e até certo ponto introspectiva.

Dorothy também tinha sonhos recorrentes com grandes prédios e colunas de sustentação. Certo dia, quando estava lendo um livro infantil com desenhos, ela se deparou com uma imagem representando o Antigo Egito e ficou transfixada por ela, olhando por muito tempo. Por fim disse que aquela imagem era a da "sua verdadeira casa", algo que deixou seus pais sem palavras.   


O mais estranho dos incidentes envolvendo a mudança de comportamento de Dorothy ocorreu quando seus pais a levaram para uma visita ao famoso British Museum em Londres. Enquanto apreciava o museu, eles chegaram até a exposição dedicada ao Egito Antigo, que estava cheia de todo tipo de artefato, múmias e majestosas estatuas de Deuses e Deusas Egípcias. Os olhos de Dorothy brilharam quando ela entrou na exposição, e quando se deparou com as estátuas, ela correu e se jogou no chão, beijando seus pés em sinal de respeito. Ao olhar para fotografias das ruínas do templo de Seti I, pai de Ramses, o Grande, ela proclamou que aquele lugar era sua casa, embora faltassem jardins e árvores. Ela também disse que conhecia pessoalmente Seti I, que ela chamava de "um homem velho, mas muito bondoso". Dorothy ficou fascinada pela exposição e parecia compreender a natureza de cada item exposto, mesmo os que não deveriam ser óbvios para uma criança da sua idade.

Em determinado momento ela soltou um grito e começou a recitar palavras que pareciam pertencer a algum idioma que ninguém conseguia entender. Quando seus pais decidiram dar um basta naquele comportamento, eles não conseguiram levá-la para fora sem praticamente arrastá-la aos berros. Dorothy continuava falando aquele idioma confuso e alternava dizendo que queria "ficar com o seu povo".

Essa estranha visita ao museu não seria a última estranheza da menina, de fato as coisas ficariam ainda mais esquisitas. A professora de catequese de Dorothy afirmou que a criança não queria mais estudar religião, pois não estava disposta a aceitar aquela crença. O Sol era seu Deus e ela não aceitaria nenhum outro. Ela também intercalava palavras em inglês com outras que ninguém entendia o significado. 


Nos anos que se seguiram, Dorothy fez mais visitas ao Museu para explorar a exibição dedicada ao Antigo Egito. Entre os 10 e 12 anos, ela fez várias visitas ao museu, de fato passando a maior parte de seu tempo por lá. Eventualmente ela conheceu um homem chamado E. A. Wallis Budge, curador da mostra de Antiguidades Egípcias do Museu Britânico. Ele ficou impressionado com o entusiasmo e conhecimento a respeito do Egito e encorajou a menina a estudar os hieroglifos. Ela começou a ter aulas sobre a linguagem e seus professores ficaram surpresos com seu rápido progresso em um tema que normalmente demanda anos para ser dominado. Quando perguntada como ela conseguia discernir símbolos complexos tão rápido, Dorothy deu a estranha resposta que havia aprendido aquele idioma em algum momento, mas que achava que havia esquecido.

Ao longo de sua adolescência, Dorothy estudou tudo que conseguiu encontrar a respeito do antigo Egito na biblioteca local, demonstrando um profundo interesse e saber intuitivo sobre o assunto. Nos anos da Grande Guerra, ela se mudou para  casa de um tio em Sussex após um bombardeio. Lá encontrou uma enorme biblioteca onde pode prosseguir em seus estudos. Foi mais ou menos nessa época que, aos 15 anos, começou a experimentar estranhos sonhos onde era visitada por um espírito chamado Hor-Ra. Este contou que ela era a reencarnação de uma mulher chamada Bentreshyt, que foi milênios antes uma sacerdotisa no Templo de Seti I em Abidos, no Alto Egito. Hor-Ra visitaria a garota em sonhos várias outras vezes, revelando a história de sua prévia vida. Ela foi informada que era uma sacerdotisa consagrada ao templo, mas que havia quebrado seus votos envolvendo-se romanticamente com Seti. Ao invés de enfrentar uma severa punição nas mãos do sumo-sacerdote ela decidiu cometer suicídio. Dorothy escreveu um diário usando hieroglifos, no qual relatava todas as suas lembranças dos sonhos e da sua prévia existência. Quando terminou, o caderno já tinha mais de 100 páginas a respeito de sua vida como Bentreshty. Seus sonhos também a levaram a sofrer com pesadelos e sonambulismo, o que lhe valeu ser enviada para exames mentais ocasionalmente. 


Dorothy largou a escola aos 16 anos, quando decidiu viajar pela Grã-Bretanha visitando antigas ruínas e sítios ancestrais como Stonehenge, na companhia de seu pai. Ela acabaria se mudando para Plymouth onde se tornou estudante na Escola de Arte de Plymouth, onde deu início a uma coleção de peças egípcias e participando de apresentações teatrais onde assumia o papel da Deusa Isis. Ela também se envolveu em questões políticas trabalhando em um comitê para a independência do Egito. Também se tornou escritora em uma revista, redigindo artigos e desenhando charges. Foi nessa época que ela conheceu um estudante egípcio chamado Eman Abdel Meguid, que havia acabado de se divorciar. Foi na companhia de Meguid, seu futuro marido que ela finalmente conheceu a terra sobre a qual tanto sonhara. Em 1931, ela se mudou para o Cairo e a primeira coisa que fez foi se colocar de joelhos e beijar o solo, proclamando que pela primeira vez estava em sua verdadeira casa. Ela teria um filho com Eman, que chamou de Seti, e de onde veio o apelido pelo qual ela ficaria conhecida "Omm Seti" (que significa "mãe de Seti")  

O casamento de Dorothy infelizmente não iria durar muito, e ela se separou em 1935, quando Eman conseguiu um emprego no Iraque e ela se recusou a deixar seu amado Egito. Ela se mudou sim, indo morar perto das Pirâmides de Gize, onde acabou conhecendo o arqueólogo Selim Hassan, que ficou muito interessado no conhecimento de Dorothy a respeito da história local. Ele então a convidou para trabalhar no Departamento de Antiguidades do Egito, a primeira mulher a ser aceita na instituição, tornando-se com o tempo professora e então, conselheira. Seu talento artístico foi empregado na criação de uma série de 10 volumes com ilustrações retratando as escavações em Gizé. A especialização de Dorothy em História Antiga, Hieroglifos e Antiguidades, fez com que ela se tornasse respeitada entre acadêmicos e egiptólogos famosos no período entre os quais o renomado arqueólogo Ahmed Fakhry que a contratou para auxiliar no projeto de escavação da Pirâmide de Dashur.


Durante esses anos, Dorothy mostrou várias idiossincrasias que causaram olhares suspeitos de seus colegas. Por vezes, ela passava a noite na Grande Pirâmide de Gizé, e era conhecida or se aventurar sozinha pela região para realizar estranhos rituais, recitar orações, e fazer ofertas à Horus diante da Grande Esfinge. À despeito dessas excentricidades, ela era tão respeitada pelo seu trabalho e conhecimento sobre o Antigo Egito que seus colegas nada diziam. Mas foi somente quando ela empreendeu uma longa viagem até Abydos, o local onde foi erguido o templo que ela via em seus sonhos, onde ela estava convencida, havia vivido em sua vida passada. Lá as coisas se tornariam ainda mais estranhas e bizarras. 

A viagem de Dorothy até Abydos ocorreu depois do fim do Projeto de Darshur em 1956, quando ela se viu desempregada e aceitou uma oferta de emprego como desenhista, algo que o Rei Seti I salientou em sonhos que era a decisão correta. Ela decidiu morar em um humilde vilarejo próximo do templo, onde ela passou a ser chamada exclusivamente de "Omm Sety". Seu trabalho em Abydos era desenhar os blocos em ruínas completar os símbolos ausentes que o tempo havia se encarregado de fazer sumir das pedras. De forma intuitiva, Omm Sety era capaz de preencher as lacunas e completar as partes ausentes de forma perfeitamente coerente. Ela era conhecida por remover os sapatos antes de entrar no templo e fazer sinais que afirmava serem sagrados. Ela reverenciava os deuses antigos que acreditava ainda viverem naquelas ruínas milenares. Ela passava tanto tempo dentro do templo que chegou a transformar uma das salas em seu escritório.   

Omm Sety se tornou uma das principais pesquisadoras sobre o Egito Antigo enquanto estava em Abydos, e se tornou uma espécie de referência para acadêmicos e estudiosos. Seu conhecimento da escrita e dos símbolos egípcios era notável, ao ponto dela conseguir ler textos de forma corrente apenas olhando para eles, sem necessidade de recorrer a livros. Ainda que jamais tenha recebido qualquer treinamento nessa área, ela se tornou uma autoridade reconhecida em linguagem ancestral, uma das únicas pessoas do mundo fluente em um idioma morto há milênios.

Além de suas habilidades em tradução, Omm Sety dispunha de um profundo conhecimento da história do Egito Antigo, seus costumes e tradições, bem como um fenomenal entendimento sobre medicina e práticas religiosas obscuras. Tudo isso, fazia com que ela fosse consultada frequentemente a respeito de tais temas. Ela chegou a escrever uma série de livros e artigos sobre os costumes do Egito para o Centro Americano de Pesquisa em 1960. O que mais impressionava à todos é que Omm Sety demonstrava um conhecimento inato de tais coisas que parecia ir muito além do teórico - ela parecia conhecer tudo aquilo por vivência.


Omm Sety demonstrava um amplo conhecimento a respeito da Arquitetura e engenharia responsável por erguer o Templo de Seti I em Abydos. Em livros e artigos escritos sobre o local, ela mencionava a função de vários aposentos e como eles eram utilizados no dia a dia. Chegava ao ponto de afirmar quem foram os dignatários que ocuparam determinados quartos e em que período. Em certa ocasião, o diretor do Departamento de Antiguidades decidiu testar as habilidades de Omm Sety. Ela foi conduzida para o interior do templo vendada e convidada a encontrar o caminho até a saída recorrendo apenas à sua memória. Ela conseguiu atravessar o templo, passando de sala em sala descrevendo o que existia em cada uma delas, mesmo incapaz de enxergar.     

Sua sensacional habilidade incluía ainda uma espécie de sexto sentido para localizar objetos e passagens secretas. Para isso, ela se concentrava por alguns minutos como se estivesse buscando nos recessos de sua mente pela informação desejada. Em uma determinada ocasião, ela disse aos arqueólogos onde eles deveriam cavar para localizar uma passagem enterrada que permitiria adentrar uma cripta até então desconhecida. Quando escavaram o local, acharam uma escadaria exatamente como ela havia descrito. Essa habilidade também permitiu que ela encontrasse importantes artefatos, como se tivesse simplesmente "lembrado" onde eles estavam. Para tanto, ela precisava apenas se concentrar e entrar numa espécie de transe no qual descrevia a sala como ela havia sido no tempo dos Faraós. Mais de um arqueólogo se disse atordoado pela habilidade dela de relatar detalhes sobre objetos e mais tarde a localização dos mesmos. Esse dom era tão impressionante que um importante estudioso teria dito: "Se Omm Sety fosse encarregada de localizar artefatos, nosso trabalho seria muito mais fácil. Não seria necessário derrubar paredes e as escavações seriam mínimas, já que ela parece saber onde procurar"

Não por acaso, ela se tornou uma espécie de consultora em vários sítios arqueológicos, tendo carta branca para escolher o lugar mais indicado para iniciar uma escavação.  


Em certa ocasião, em 1970, Omm Sety afirmou ter descoberto através de uma visão a localização secreta da tumba de Nefertiti, que vinha sendo procurada pelos arqueólogos há décadas. Ela descreveu a localização como "o mais inesperado local" no Vale dos Reis, próximo da Tumba de Tutankamon. Essa noção ia contra o consenso geral na época, já que os arqueólogos acreditavam que não havia mais nenhuma tumba a ser encontrada na área já muito escavada. Entretanto em 1976 duas leituras anômalas feitas com sonar revelaram que parecia haver um complexo intocado próximo da Tumba de Tutankamon. 

Apenas em 1998, o arqueólogo Nicholas Reeves começou a escavar a área descobrindo vários selos intactos pertencentes à XX Dinastia. Em 2000 outra leitura de radar produziu evidências da existência de duas câmaras subterrâneas. Infelizmente a investigação foi interrompida após suspeitas de que antiguidades inestimáveis haviam sido removidas do sítio. Em 2006, outra expedição penetrou em uma dessas câmaras e encontrou equipamento bem preservado, nem como curiosos objetos que sem dúvida seriam usados no processo de mumificação de dignatários. A suspeita era que a câmara teria servido para preparar os restos de indivíduos ilustres, talvez até de Reis e Rainhas no passado distante. As escavações na área foram novamente interrompidas em 2011, com as tensões políticas despertadas no Egito.    

Além do impressionante conhecimento a respeito do mundo egípcio, outra habilidade de Omm Sety causava sensação. As pessoas no vilarejo onde ela decidiu viver contavam que ela não tinha medo de nenhuma serpentes venenosa que infestava aquela região desértica. Mais do que não temer os répteis ela parecia ser capaz de hipnotizá-los. Omm Sety conseguia apanhar as mortais áspides e najas com as próprias mãos sem jamais ter sido picada. Ela também teria poderosas habilidades medicinais. Omm Sety era capaz de eliminar doenças e neutralizar venenos apenas pousando suas mãos sobre as pessoas afetadas. Muitos relataram que ela abençoava a Sagrada Piscina de Osireion dentro do Templo e que suas águas tinham a faculdade de curar artrite, apendicite e outras aflições. Ao banhar uma pessoa com o intuito de curá-la, ela recitava antigas orações de uma maneira similar ao que sacerdotes faziam no passado.  


Embora muitos arqueólogos e egiptólogos se mostrassem reticentes a respeito das histórias sobre reencarnação e suas habilidades mágicas, eles não podiam negar a impressionante contribuição de Omm Sety em inúmeras escavações. A maioria dos especialistas preferiam considerá-la meramente excêntrica. As pessoas que a conheceram em pessoa, a descreviam como uma mulher fascinante e absolutamente lúcida, à despeito de suas alegações. Ela claramente acreditava ser capaz de recorrer às suas memórias de vidas passadas e usá-las em seu trabalho, mas não exigia que seus colegas reconhecessem isso.

Não importa o que Omm Sety dissesse, os resultados que ela produziu, falavam por si só. Ela foi muito respeitada durante sua carreira e seus colegas eram unânimes ao elogiar seu conhecimento, seriedade e meticulosidade ao tratar de todos os assuntos relacionados ao Egito Antigo. Ela foi consultora e autora em inúmeros trabalhos de campo assinados por arqueólogos de renome. Uma façanha impressionante para uma mulher que jamais entrou numa sala de aula para estudar arqueologia. O famoso Egiptólogo alemão Klaus Baer disse a respeito de Omm Sety: 

"Ela afirmava ter visões do passado e venerar os antigos deuses do Egito. Eu não posso afirmar se ela falava a verdade ou não. Mas eu posso dizer, sem sombra de dúvida, que seu conhecimento e seus métodos eram impressionantes. Omm Sety me deixou mais de uma vez sem palavras, fazendo com que eu tivesse de rever meus conceitos e preconceitos diante da pura realização de que não haveria como ela ter tal conhecimento, a não ser que realmente tivesse vivido tudo aquilo". 


Omm Sety se aposentou oficialmente em 1964 por conta da idade, mas ela continuou trabalhando como conselheira no Departamento de Antiguidades até meados de 1979. Ela também gostava de conduzir turistas e visitantes pelo Templo de Seti, mostrando o local e relatando histórias até falecer em 21 de abril de 1981. Sua morte deixou um vazio difícil de ser preenchido no campo da Egiptologia e ela recebeu a devida reverência de seus colegas.

Será que Dorothy Eady realmente era a reencarnação de uma Sacerdotisa Egípcia de Bentreshyt? Especulações ao longo dos anos se concentraram nas suas incríveis habilidades e conhecimentos, mas o debate está bem longe do fim. Como explicar que uma mulher sem nenhum treinamento acadêmico soubesse tanto sobre um tempo ancestral e fosse capaz de se referir a ele com a familiaridade de alguém que viveu aquelas experiências?  

O que acontece conosco após a nossa morte física? É possível que passemos de um corpo para outro carregando conosco o potencial para lembrar de uma vida pregressa? Não importa no que as pessoas acreditem, mas o caso de Dorothy - ou melhor de Omm Sety, certamente nos confronta com noções incríveis que nos fazem ponderar a respeito daquilo que julgamos ser simplesmente inexplicável. 

segunda-feira, 23 de março de 2020

13 conselhos para os Cultistas nesses tempos de Crise de Saúde


Nesses tempos de incerteza, a única coisa que não pode faltar é bom senso e informação.

Em tempos de Crise, precisamos manter a calma e seguir o Conselho dos Grandes Antigos para a Prevenção de Contaminações e infecções indesejáveis como esse Vírus Cthulhiano que nos aflige. 

Com certeza, aqueles que desrespeitarem estas normas claras, serão os primeiros a serem devorados por Cthulhu e suas hostes malignas. E ninguém quer isso, quer?

Tentemos então manter a nossa Sanidade e seguir as normas abaixo.

CADA CULTISTA DEVE FAZER A SUA PARTE:

1 - Lave suas mãos (e tentáculos, conforme for o caso) cuidadosamente várias vezes ao dia. A contaminação é facilmente eliminada pela ação mística da espuma do sabão comum, sem a necessidade de magias, rituais ou feitiços de alto círculo.

2 - Mesmo que você não disponha do raríssimo artefato purificador conhecido como Álcool Gel de Yuggoth, não é motivo para perder sua sanidade. O vírus é facilmente obliterado lavando as mãos com sabonete. O sabonete é seu amigo, trate-o como um Familiar. 


3 - LEMBRE-SE gripes, resfriados e outras maldições mundanas continuam existindo, mantenha a calma pois provavelmente, se você estiver apresentando sintomas, estes são causados por alguma moléstia corriqueira. 

4 - Preste atenção se você tiver febre alta, dor de garganta, dor no corpo, tosse e PRINCIPALMENTE falta de ar. Nesse caso busque ajuda de profissionais.

(O crescimento de múltiplos apêndices, olhos ou bocas em lugares indesejados ou a incômoda Aparência de Innsmouth, fazem arte de outras doenças e não são importantes nesse momento).


5 - EVITE cumprimentar apertando as mãos e dentro do possível evite tocar em objetos.

(Prefira a saudação de Cthulhu - colocando a mão espalmada sob o queixo, agitando os dedos como se fosse uma barba de tentáculos)

6 - EVITE se deslocar até Hospitais, Postos de Saúde e Manicômios. Abra mão de explorar Templos Malignos e vagar por Ruínas Ancestrais, pois se você não estiver contaminado poderá ter contato com portadores do vírus que infestam esses lugares insalubres.


7 - FIQUE NA SEGURANÇA DE SEU SANTUÁRIO! 


8 - Se tiver de se aventurar numa jornada além dos limites de seu Santuário, seja para obter víveres, realizar rituais ou cuidar de membros de sua congregação que residem em outras localidades, tome todas precauções possíveis. Mantenha ao menos 1 metro de distância das pessoas e evite falar próximo para não ter contato com emanações espúrias indesejáveis.


9 - Deixe Crianças, Pessoas de Idade, Asseclas e Shoggoths em casa quando for obter ingredientes para suprir seu santuário. Lugares públicos podem ser uma área de contaminação e expor seus minions a esses ambientes é muita burrice. 

10 - Ao retornar da rua, lave criteriosamente as mãos (e tentáculos também). Se possível faça suas abluções sob água corrente e troque seu manto. 


11 - Crianças, Idosos, Asseclas e Shoggoths muitas vezes tem dificuldade em entender o risco a que estão expostos. Explique a eles o perigo, seja claro, mas evite alarmismo ou revelações apocalípticas que custem sanidade. 

12 - CONVERSE com seus minions uma, duas, três, dez vezes ao dia. O isolamento face a face é necessário, mas existem várias maneiras de manter o contato (telefone, internet, tábuas ouija, magias de contato etc.) para que saibam que não estão sozinhos ou foram abandonados em calabouços escuros.


13 - Tente se manter ocupado em casa lendo tomos profanos, informado dos acontecimentos através de divinações e positivo de que a crise irá passar em breve e você terá acesso a toda ajuda psicológica para restaurar sua Sanidade a níveis aceitáveis. 

É questão de tempo e de comprometimento.

*     *     *

Pessoal, brincadeiras à parte, vamos ter consciência e fazer o que é certo! Não é fácil, mas vamos superar isso!

Desejamos a todos amigos leitores do Mundo Tentacular boa sorte e muita saúde. Esperamos de coração que essa pandemia passe o mais rápido possível.

domingo, 22 de março de 2020

Criando Múmias - Os métodos egípcios de mumificação


Um dos costumes mais conhecidos no Egito Antigo envolvia a prática conhecida como Mumificação.

A Mumificação é o processo de preparação e preservação de restos mortais. Os egípcios não apenas refinaram esse método através dos séculos, como elevaram a prática a um patamar quase artístico, tamanho o zelo, cuidado e dedicação com que tratavam o material humano e nele empregavam as mais diversas substâncias preservativas.

Havia uma razão muito boa para todos esses cuidados.

Os antigos egípcios acreditavam que quando uma pessoa morria, ela iniciava uma viagem espiritual a caminho de outro mundo. Para que essa viagem fosse bem sucedida, era necessário preservar seu corpo da maneira mais intacta possível, ao menos na aparência externa. Estes corpos preservados são o que conhecemos nos dias atuais como múmias (a palavra múmia vem do árabe mummiya, que significa betume, um dos produtos essenciais para confecção da múmia). 

No início, não havia uma única forma de preservar os corpos. Aqueles responsáveis pela mumificação foram aprendendo através de tentativa e erro quais os métodos mais satisfatórios e que resultavam no melhor efeito final. De fato, a técnica usada por eles para preparação dos cadáveres foi sendo aprimorada ao longo de muitos séculos até que um método se tornasse o mais difundido e utilizado.


Os primeiros embalsamadores simplesmente enterravam os cadáveres em covas rasas no deserto. A areia quente e seca servia para remover a umidade do corpo, criando uma mumificação natural quase perfeita. Para isso, no entanto, era necessário sepultar o cadáver diretamente na areia e esperar anos para que ele pudesse ser removido. Embora isso garantisse as condições ideais, os egípcios consideravam indigno que pessoas ilustres fossem simplesmente colocadas no solo sem um caixão ou ataúde. Eles perceberam que quando os corpos eram depositados nessas caixas ou mesmo envolvidos em tecido, os restos não eram preservados como desejavam. Isso ocorria porque para preservar o cadáver e evitar sua decomposição era essencial privá-lo da umidade e da ação do oxigênio. Quando exposto a esses elementos a decomposição é certa e o corpo acaba sendo rapidamente consumido por micro-organismos.
       
Para deter esse processo, os egípcios descobriram que a preparação era essencial.

O processo deveria começar o mais rápido possível, de preferência logo após a morte. Dali em diante, cada etapa precisava ser conduzida com extremo cuidado, exigindo um grau de habilidade que apenas alguns poucos possuíam. Não por acaso, o ofício de embalsamador era muitíssimo bem remunerado, tornando esses profissionais pessoas bastante ricas e influentes na sociedade local. Eles tinham de conhecer o suficiente de medicina, em especial anatomia, além de ter noções a respeito de química para misturar e produzir as substâncias e compostos necessários. Mas outro tipo de conhecimento era necessário; o embalsamador devia conhecer rituais religiosos e cerimônias sagradas que permitiam purificar o cadáver.   


Esses profissionais eram tão habilidosos que pessoas mumificadas quatro mil anos atrás ainda possuem pele, cabelo e feições perfeitamente reconhecíveis. Também é possível identificar cicatrizes e tatuagens nos cadáveres.

O corpo era entregue por parentes e amigos aos embalsamadores assim que a pessoa falecia. Uma equipe era comandada por um Mestre Embalsamador, que podia ser assistido por algo entre 5 ou até 15 indivíduos que o auxiliavam, cada um dentro de uma especialização. No caso de nobres e dignatários, o mestre embalsamador chegava a residir na casa ou palácio, o mais perto possível do moribundo, para que pudesse dar início aos trabalhos tão logo fosse possível. O método mais eficiente de mumificação era destinado apenas aos indivíduos mais ricos da sociedade que podiam bancar os elevados custos. Um embalsamador de qualidade podia cobrar uma pequena fortuna pelo seu trabalho, mas haviam aqueles que ofereciam métodos alternativos para os menos abastados.

O filósofo grego Heródoto, que viveu no século V a.C, descreveu diferentes métodos de preservação usado pelos profissionais egípcios. Os mais simples envolviam tão somente remover os órgãos, usar sais preservativos por alguns dias e mergulhar o cadáver em betume. Ao fim do processo que levava entre 7 e 10 dias, o cadáver era devolvido para a família envolto em tecido cru para ser disposto em um mausoléu ou tumba. Todos no Egito se preocupavam com o destino de seus restos e mesmo os criminosos mais abjetos tinham direito a receber um tratamento mínimo de preservação de seus restos. Nada poderia ser mais indigno para um egípcio do que partir para o além sem que seu corpo recebesse os cuidados mínimos.   

A seguir cobrimos os detalhes do Processo de Mumificação mais cerimoniosa que podia demandar até 70 dias desde os preparativos iniciais até sua conclusão.

1 - O corpo era despido e entregue a pessoas que se ocupavam de lavá-lo com uma solução de vinho e água do Nilo. Durante essa lavagem, um grupo de pessoas cantavam louvores ou declamavam poesias a respeito do falecido, enaltecendo suas realizações em vida e pedindo aos deuses um salvo conduto pelas terras do além. Crianças eram muitas vezes empregadas nessa atividade. Durante todo o processo de lavagem, uma pessoa se ocupava de acariciar a cabeça do morto e verificar se ele não estaria simplesmente desacordado.


2 - Uma vez limpo, o corpo era entregue ao Mestre Embalsamador que realizava o primeiro corte usando uma lâmina extremamente afiada que era purificada. O corte que media entre 15 e 25 centímetros era feito no flanco esquerdo do abdomen. Através dele, intestinos e o estômago eram removidos. A seguir, com e espaço interno limpo, o mestre acessava o fígado e os pulmões.

Os egípcios não removiam o coração do morto, uma vez que acreditavam ser ele o centro das emoções e da inteligência, imprescindível em sua viagem pelo submundo. A crença era que o Deus Anúbis, Guardião do Submundo deveria realizar uma pesagem do coração do morto colocando-o em uma balança. No outro prato, ele depositava uma pena. Se o coração fosse mais pesado que essa pena, ele não poderia ser admitido no além, pois apenas os que vinham diante de Anúbis com o Coração leve seriam aceitos. Aqueles recusados tinham o coração devorado por entidades sobrenaturais chamadas Ammut (monstros com corpo de leão, crocodilo e chacal). Estes eram forçados a voltar para um limbo onde purgavam seus pecados até receberem a permissão de seguir com sua jornada.

3 - Uma das etapas mais conhecidas da preparação envolvia a remoção do cérebro da cavidade craniana. Os antigos egípcios não consideravam o órgão importante e não devotavam a ele qualquer ritual específico. Ele era removido usando-se um instrumento em forma de gancho inserido pela cavidade nasal até atingir o cérebro. Uma vez posicionado, o Mestre girava o objeto fazendo com que a massa prendesse nos ganchos para ser então removida.


Para nós, o método parece incrivelmente perturbador, mas os egípcios acreditavam que todos os órgãos desnecessários precisavam ser descartados para não atrapalhar a viagem espiritual do morto. O cérebro era nesse caso uma espécie de peso morto que precisava ser removido. Uma vez feito isso, ele era simplesmente jogado fora.

4 - O corpo era lavado novamente e seco com toalhas absorventes de algodão. Ele era entregue então para a conservação, um estágio fundamental no processo. Nele, as cavidades esvaziadas eram preenchidas com Sal de Natron e depois seladas com fios de linho, cera de abelha ou resina de vela.

O Natron é uma substância mineral branca e cristalina semelhante ao nosso sal grosso. Ele tem propriedades especiais que permitem a absorção da umidade do corpo e dos arredores. Abundante no Egito, podia ser encontrado no leito de lagoas secas. Algumas variedades eram mais desejadas que outras, sobretudo pela grande concentração de sódio que gerava o efeito mais eficaz.


Além de preencher as cavidades com Natron para agir internamente, o cadáver era depositado em uma caixa contendo a mesma substância para que assim ele agisse externamente. Uma vez colocado nessa caixa vedada o corpo descansava sob o sal por um período de 40 dias para remover toda umidade e a gordura corporal.

5 - Enquanto parte dos embalsamadores cuidam do corpo, outros se especializam em tratar dos órgãos importantes removidos dele.

Os órgãos são lavados e secos com algodão, antes de serem envolvidos em faixas de linho para o acondicionamento em vasos especiais chamados canópicos. A tampa de cada um desses vasos possui a forma dos quatro filhos do Deus Horus. O fígado é colocado no vaso com a cabeça humana de Imset. Os pulmões são associados a Hapi que possui cabeça de babuíno. O estômago é associado a Duamutef que tem cabeça de chacal. Já os intestinos e vísceras ficam guardadas no vaso com a cabeça de águia de Kebechsenef. Os filhos de Horus são guardiões protetores cuja função é proteger os órgãos no além vida.




6 - Após 40 dias descansando no Natron, o corpo já secou e encolheu consideravelmente graças a absorção de toda a umidade residual. Ele é limpo com toalhas de algodão e então esfregado cuidadosamente com óleo, temperos, ervas e perfume. 

O natron no interior do corpo também é totalmente removido e substituído por serragem e pedaços de tecido para não ficar vazio. Uma peruca confeccionada com cabelos humanos é colocada na cabeça. A face recebe especial cuidado, pintada com cosméticos para garantir uma aparência natural de vida. Qualquer pedaço perdido é substituído por próteses de resina, cera ou mesmo madeira.

Amuletos de proteção, em especial colares de escaravelho e o olho sagrado Wedjat são colocados em volta do pescoço como uma forma de guardar e proteger os restos.

7 - Na etapa seguinte, os embalsamadores começam a cobrir o corpo com bandagens de linho semelhantes a ataduras. Cerca de 20 camadas de ataduras são enroladas ao longo de 20 dias, cada qual antecedida por complexos rituais e abluções.


Cada camada é coberta com uma combinação de betume e cânfora que ajuda a preservar o corpo e evita o surgimento de organismos decompositores e fungos. Quando a  última camada é colocada, o corpo é coberto por uma mortalha (um grande manto de linho) que é amarrado por várias tiras de linho.

Uma máscara funerária com as feições do morto é colocada em sua face, esta podendo ser de madeira com uma pintura (para pessoas mais modestas) ou de ouro cravejada com jóias para dignatários.  

8 - Quando os preparativos se encerram, o Chefe Embalsamador realiza a "Cerimônia da Abertura da Boca" que é um dos momentos mais importantes da mumificação.


Nela o Mestre veste um traje ritualístico com direito a uma máscara representando Anubis (Deus dos Embalsamadores) e posiciona a múmia em um promontório ou altar especialmente consagrado. Ele (desempenhando o papel de Anúbis encarnado) toca levemente a face do cadáver embalada pelas ataduras com instrumentos que visam restaurar sua fala, sua visão e sua audição no além vida. Esses objetos são símbolos que garantem ao morto poder, proteção e renascimento. 

9 - O corpo é então colocado em uma caixa de madeira simples para ser devolvido à família. Esta poderá providenciar um caixão adequado, chamado sarcófago (palavra derivada do latim sarcophagos que significa "pedra que come a carne") para o descanso dos restos. Os sarcófagos poderiam ser simples de madeira e pedra talhada ou extremamente luxuosos de madeira pintada com metais preciosos, dependendo do estado econômico do morto.

O sarcófago era então levado para uma tumba especialmente construída para receber o morto. Lá dentro seriam colocados os objetos e tesouros mais valiosos do falecido e que ele expressou desejo de carregar consigo para o além. Além desses itens, artesãos talhavam pequenas peças de madeira chamadas shabtis que representavam os serviçais que continuariam a servir seu mestre do outro lado.

             

A complexidade dos rituais e todos os preparativos continuam a surpreender os arqueólogos que de tempos em tempos fazem alguma nova descoberta sobre o processo de mumificação. Cada múmia parece ter uma história a contar, e cada uma delas constitui um testemunho silencioso de uma arte que parecia até recentemente perdida.

Digo "recentemente" uma vez que o famoso Egiptólogo Robert Brier, o maior especialista em múmias do mundo, recebeu a permissão de realizar um procedimento em um voluntário que doou seu corpo para a ciência.

Brier foi a primeira pessoa em mais de 2000 anos a mumificar um cadáver humano usando exatamente as mesmas técnicas e ferramentas usadas pelos egípcios antigos. Valendo-se dos mesmos componentes e ingredientes que os embalsamadores dispunham, ele conseguiu realizar um feito repetindo a façanha dos especialistas do passado.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Maldição da Múmia - A Descoberta da Tumba de Tutankamon


Há poucos lugares no mundo imbuídos com um senso de fascínio e mistério quanto o Antigo Egito. 

Esta é a Terra que nos deu os mistérios das pirâmides, da Esfinge, dos conhecimentos perdidos no Livro dos Mortos e muitos outros enigmas legendários que se estendem até os limites da história e do próprio tempo. De todos os incontáveis mistérios, um que se sobressai diz respeito às ancestrais maldições que foram lançadas sobre as antigas tumbas dos Reis que um dia governaram essa terra repleta de misticismo. Tais rumores se tornaram tão difundidos e se popularizaram de tal maneira que para muitos é impossível dissociar crendice e fato. De mera especulação, eles se tornaram uma espécie de certeza no sobrenatural. 

Nesse artigo investigaremos um pouco dessa crença irrefreável num mundo paranormal no qual o proibido não é apenas alertado, mas combatido por intermédio de maldições. Essa é a Maldição do Rei Tut.    

Os Governantes do Antigo Egito eram chamados Faraós. Eles não eram simples governantes apontados para conduzir seu povo, muito mais que isso, eles eram verdadeiros Deuses andando entre os homens devendo ser respeitados e reverenciados como ta. Sua influência era tamanha que nem mesmo a morte apagava sua importância. Os corpos eram cuidadosamente preservados, meticulosamente embalsamados até serem transformados em múmias. Com o intuito de garantir que seus amados Reis fossem lembrados para sempre, os antigos egípcios construíam imensos monumentos em sua homenagem. Era nessas extravagantes tumbas que os cadáveres por fim eram depositados. Ao redor das ilustres múmias, acondicionadas em sarcófagos ricamente decorados, repousavam vastas riquezas, incontáveis artefatos e belíssima arte, além de animais e servos que deveriam acompanhar o morto em sua derradeira jornada pelo além. Tudo era selado nessas câmaras profundas construídas exclusivamente para esse propósito funesto. Quando a porta era fechada e um lacre colocado nos umbrais, nada mais deveria perturbar seu descanso. Ou ao menos, esse era o plano.

As tumbas eram cuidadosamente seladas para evitar que ladrões de sepulturas chegassem até os tesouros guardados em seu interior. Por vezes, elas possuíam corredores que formavam verdadeiros labirintos, construídos especificamente para dificultar e confundir exploradores. Além disso, é sabido que armadilhas engenhosas foram desenvolvidas com o intuito de impedir que profanadores chegassem ao local de descanso eterno. Tais armadilhas por vezes ajudavam a afugentar os saqueadores ou mesmo eliminavam sua incômoda presença. Contudo, nem todos eles eram dissuadidos por tais medidas.


Entra em cena então uma forma de intimidação mais direta que ajudou a sedimentar as bases para uma lenda duradoura. Afim de coibir a ação dos ladrões, os sacerdotes espalharam a crença de que as tumbas eram magicamente protegidas. Não apenas por encantamentos, mas por maldições terríveis que iriam se abater sobre todo aquele corajoso (ou tolo) o bastante para invadir as tumbas.

As primeiras maldições surgiram durante a nona e décima Dinastias. Em uma tumba dedicada Khentika Ikhekhi, podia ser lido no portão de entrada a seguinte sentença:

"Para todos os homens que adentram minha tumba… impuros… haverá julgamento… todos que o fizerem enfrentarão a ruína… Eu irei partir seu pescoço como o de um pássaro… Eu lançarei o medo de minha presença em sua alma. E para aquele que destruir essa inscrição: Que jamais chegue em sua casa. Que jamais seja abraçado pelos seus filhos. Que jamais tenha sucesso  que sua existência seja repleta de infortúnios" 

Maldições como essa se tornaram algo comum na entrada selada da maioria das tumbas e mesmo os ladrões mais experientes acreditavam que não era algo simples lidar com essas ameaças. Muitas delas ameaçavam não apenas o saqueador, mas sua família e seus entes queridos, algumas iam além e condenavam o invasor não apenas a uma existência desgraçada, mas sua própria alma imortal com tormentos de além túmulo.

A ameaça era tão séria que muitos saqueadores acabavam dissuadidos de tomar parte na pilhagem. Alguns, mais experientes chegavam a contratar sacerdotes ou feiticeiros com poderes místicos capazes de anular as maldições e remover os selos que lhes impingiam malefício. Estranhos rituais de proteção, o uso de óleos especiais, filtros destilados com esse propósito e amuletos consagrados podiam reduzir esse perigo ou fazer com que ele desaparecesse por completo. Mas esse serviço era caro e difícil de ser contratado, afinal, havia muito risco envolvido e as maldições de um Faraó (um Deus na Terra) não eram algo simples de ignorar.


Rumores a respeito da "Maldição dos Faraós" bem como antigos segredos do Egito conquistaram enorme popularidade no mundo ocidental durante os séculos XIX e XX, misturando-se com o romântico encantamento de uma terra exótica e cheia de mistérios. Apesar das maldições pesando sobre as tumbas, ladrões de sepulturas conseguiram localizar esses locais sagrados e resgataram de seu interior relíquias sem preço. Os artefatos egípcios conquistaram incrível interesse e se converteram em uma verdadeira febre. A obtenção daqueles tesouros se converteu em uma paixão que varreu a Europa e contagiou inúmeros aventureiros e estudiosos. Ao redor dela se formou uma nova ciência, a Arqueologia. Contudo nem todos estavam em busca de conhecimento ou de causas nobres. A certeza de que existiam câmaras intocadas há milênios apenas aguardando por alguém que as encontrasse e removesse delas as riquezas ocultas motivou uma verdadeira multidão a viajar para o Egito. Como uma espécie de corrida do outro, estrangeiros chegavam ao país munidos de pás e picaretas, dispostos a arrancar do chão objetos que fariam sua fama e fortuna.

Essa foi uma época de grande agitação, na qual exploradores e acadêmicos se confundiam e por vezes, em nome da glória que essas descobertas poderiam lhes proporcionar, agiam como verdadeiros saqueadores. Sob o sol inclemente do deserto, expedições varriam as areias em busca de tumbas perdidas e de velhas histórias sobre templos, palácios e ruínas abandonadas.     

Um destes aventureiros que viajou para o Norte da África em busca da riquezas dos Reis Egípcios foi o arqueólogo britânico Howard Carter. Obcecado com a descoberta de artefatos e riquezas, Carter acreditava que conquistaria a glória encontrando a lendária tumba do Grande Rei Tutankhamon, comumente chamado de Rei Tut. Em vida, Tutankamon se tornou  o governante de todo Egito em 1332 a.C, quando assumiu o lugar de seu pai, o Faraó Akhenaten, na tenra idade de 9 anos. Isso lhe valeu o título de Menino Rei. Como governante, ele realizou enormes mudanças em seu reino e embora popular acabou atraindo inimigos. Tut morreria sob circunstâncias misteriosas com apenas 19 anos, depois que sucessores em potencial fizeram de tudo para removê-lo da história apagando para sempre seu nome. Obviamente isso não funcionou e Tut se tornou o mais famoso Faraó de todos os tempos, em parte porque sua Tumba permaneceu perdida milênios após sua morte.   

Carter chegou ao Egito em 1890 acompanhado de Lorde Carnavon, outro ávido egiptólogo que acreditava saber a localização aproximada da famosa tumba. Carnavon realizou inúmeras pesquisas e levantamentos topográficos, que ajudariam a encontrar mausoléus ainda soterrados pelas areias do deserto. Ele e Carter passaram vários anos em escavações sem sucesso e Carnavaon por pouco não cancelou as expedições achando que não seria capaz de obter resultados. Justo quando Carnavon estava prestes a cortar os recursos, Carter tropeçou em algo curioso, um pilar semi-enterrado na base de uma pirâmide. Era 22 de novembro de 1922 e após escavações preliminares, ele encontrou uma câmara selada e mais além degraus. Descendo através da escuridão perpétua, atingiu um portão lacrado onde emocionado leu o nome do Faraó Tutankamon.  


Na época foi uma descoberta impressionante; uma fabulosa tumba de Faraó, intacta e preservada do ataque inescrupuloso de ladrões de túmulos. As possibilidades do que existia além daquele grosso bloco de pedra que encerrava a tumba eram imensas. Carter enviou imediatamente a Carnavon uma mensagem insistindo para que ele viesse o mais rápido possível e se juntasse a ele quando os lacres fossem rompidos. Ninguém havia cruzado aquele portão em milênios e olhos humanos haviam visto a câmara adiante pela última vez muito antes do nascimento de Cristo.

Na noite em questão uma tempestade de areia varreu a região. Carter e Carnavon começaram a remover os lacres usando martelo e cinzel, o que daria início a uma longa sucessão de incidentes estranhos.

O primeiro evento que instalou o pânico entre os escavadores foi a aparição de uma serpente venenosa que saltou de um nicho e atacou os canários que estavam em uma gaiola usada para sondar a qualidade do ar. Os operários assumiram que aquele era um aviso de além túmulo e supostamente alertaram Carter de que o réptil seria um servo do Faraó na forma de serpente, enviado para matá-los. Um dos homens ficou tão aterrorizado que sofreu um ataque epilético, caindo no chão se retorcendo e gritando. Isso assustou outros dois homens que fugiram e não mais foram vistos.     

O ar estagnado no corredor também conspirava para criar uma ilusão perturbadora. As tochas carregadas pelo grupo ardiam com uma luminosidade esverdeada graças ao ar saturado de sódio. Uma luz fantasmagórica iluminava a face transparecendo de expectativa dos arqueólogos.

Estranho como fosse a situação, Carter era um homem de ciência e não acreditava nos rumores supersticiosos sobre maldições sussurradas pelos locais. Quando a tumba foi enfim aberta, Carter começou a iluminar o interior com uma vela através de um pequeno buraco. Seus olhos vasculharam o compartimento e silhuetas de artefatos se desenharam na penumbra. Seu comentário foi simples: "maravilhoso, simplesmente maravilhoso".


Após afastar a porta, Carter rastejou pelo vão aberto, sua sede por descobertas o levando a penetrar na câmara sem se importar com as alegadas maldições. Ali dentro ele se deparou com o brilho dourado de um inestimável tesouro espalhado por toda parte. A Expedição havia encontrado o grande prêmio, aquele era sem dúvida o Tesouro do Faraó mais famoso do Egito Antigo.

Aqueles que acreditavam na lenda sobre a maldição ficaram mortificados pela ousadia dos arqueólogos. A novelista  Marie Corelli, lamentou ao saber da descoberta: "As punições mais terríveis aguardam aqueles que invadem a tumba do Faraó".

É claro, em um primeiro momento, esses alertas foram abafados pelas celebrações pela notável descoberta. Carter e Carnavon foram saudados como grandes descobridores, os responsáveis pela maior descoberta arqueológica do século. Na tumba acharam um tesouro inestimável com objetos religiosos, riqueza, ouro, pinturas, estatuetas, pergaminhos e um incrível sarcófago contendo os restos mumificados do Rei Tutankamon em pessoa. 

De acordo com as histórias, encontraram ainda uma tabuleta de pedra com uma inscrição simples e ameaçadora onde se lia: "A Morte virá em asas rápidas para aquele que perturbar a paz do Rei". Carter mais tarde negaria a existência de tal inscrição, mas os estranhos incidentes que ocorreriam em seguida acabaram falando por si próprios e ajudaram a espalhar a lenda. 


Uma das primeiras vítimas da "Maldição do Rei Tut" seria o próprio Lorde Carnarvon, que foi picado por um mosquito em sua bochecha após a descoberta. Ao fazer a barba ele acabou cortando o inchaço e este acabou infeccionando. Bizarramente, o ferimento progrediu para uma inflamação aguda e ele acabou morrendo. Estranhamente, circulou o rumor de que o cadáver do Rei Tut tinha uma ferida semelhante na bochecha, aproximadamente no mesmo local que a lesão que matou Carnavon. 

A morte de Carnavon ganhou enorme destaque e catapultou os boatos a respeito da Maldição para as manchetes de jornais e revistas. Embora os acadêmicos mencionassem que a maldição não passava de mera superstição para assustar os tolos, ela acabou se tornando cada vez mais difundida.

As histórias acabaram sendo alimentadas por figuras ilustres como Artur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, que especulou que a morte de Carnavon pudesse ter sido causada por um espírito elemental que guardava a tumba. Outros rumores davam conta que na noite em que Lorde Carnavon faleceu, seu cão de estimação uivou como se enlouquecido e foi encontrado morto. Nessa mesma noite houve uma tempestade no Cairo e as luzes da cidade se apagaram.

Outro notório aspecto da maldição do Rei Tut surge na forma de um bracelete de escaravelho dourado que teria sido encontrado no braço da múmia e que foi presenteado a Sir Bruce Ingham. O bracelete tinha a seguinte inscrição gravada: "Maldito seja aquele que mover o meu corpo. Para ele virá fogo, água e pestilência". E incrivelmente a casa de Ingram pegou fogo em circunstâncias misteriosas pouco depois dele  receber o bracelete. Enquanto isso, Carter, que não acreditava em absoluto nos rumores sobrenaturais, afirmou ter sentido a presença de uma criatura semelhante a um chacal espreitando por uma faixa do deserto onde eles não eram vistos há décadas. Um beduíno teria aparecido no acampamento da expedição, meio enlouquecido e gritando que o Deus Anúbis havia despertado para extrair vingança contra os invasores da Tumba.


A despeito de Carter não acreditar no sobrenatural, a sequência de mortes envolvendo pessoas ligadas à expedição ou diretamente ligados a descoberta continuou a crescer. O Principe Ali Kamel Fahmy Bey do Egito, que deu permissão para as escavações foi baleado mortalmente pela sua esposa em 1923, Sir Archibald Douglas Reid, que ajudou a realizar exames de raio-x na múmia, morreu em 1924 em um estranho acidente. George Jay Gould I, que visitou a tumba na companhia de Carnavon, morreu em 1923 depois de contrair uma febre, Sir Lee Stack, Governador-Geral do Sudão, morreu após um atentado em 1924, Arthur Mace, membro da equipe de escavação de Carter, morreu envenenado com arsênico em 1928, o secretário de Carter Richard Bethell sufocou em sua cama em 1929, o pai de Bethell cometeu suicídio em 1930, e Lorde Westbury morreu após cair ou se jogar do telhado de sua casa. De fato, por volta de 1935 um total de 21 mortes de pessoas ligadas a descoberta e escavação da tumba ocorreram. O próprio Howard Carter morreria vítima de linfoma em 1939 aos 64 anos de idade, ironicamente logo depois de dar uma entrevista afirmando que os rumores sobre a maldição não passavam de tolice. 

A quantidade de pessoas mortas entre os "amaldiçoados pela tumba" foi motivo para especulação ao longo dos anos que se seguiram. Algumas pessoas tentaram oferecer uma explicação científica para as mortes mencionando que as substâncias químicas usadas para embalsamar a múmia poderiam ter ocasionado graves problemas de saúde às pessoas que entraram na tumba e respiraram seu ar estagnado.

Havia a ideia de que a maldição poderia ser na verdade uma forma de doença respiratória causada por um tipo de fungo conhecido como "mofo preto" (Aspergillus niger), que causa entre outros sintomas febre, falência do sistema respiratório, falência nos órgãos e em certos casos, a morte. A exposição prolongada ao mofo pode ser fatal, mas mesmo em pequena quantidade ele pode ser bastante debilitante.


É claro, há muito ceticismo no que diz respeito a maldição. Quando a tumba foi aberta havia muitas pessoas presentes, a maioria delas jamais tendo sido afetadas e gozando de uma vida longa e saudável. Mesmo aqueles que faleceram nos meses ou anos seguintes já tinham problemas de saúde, e obviamente todos acabam morrendo mais cedo ou mais tarde.

Já foi apontado que não há nada particularmente absurdo no número de pessoas envolvidas com a tumba do Rei Tut e que morreram, então é possível que não haja nada de diabólico ou aterrorizante presente. Talvez não seja nada de mais além de mera coincidência. É difícil dizer. Tudo se encaixa em um padrão similar no qual tumbas e artefatos egípcios parecem atrair coincidências estranhas que conjuram a presença de algo sobrenatural. Seja lá qual for o caso, a maldição da Tumba do Rei Tut se tornou lendária e permanece como uma curiosidade histórica que acompanha uma era de descoberta e aventura como nenhuma oura antes ou depois.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Egito - Cenário de Sonhos, Terra de Fascinação


"Então nós soubemos que havíamos deixado para trás o Cairo Sarraceno, e que iríamos experimentar os mistérios mais profundos do Egito primal - do obscuro Kem, Re e Amen, Isis e Osíris"

H.P. Lovecraft
Aprisionado com os Faraós 

O Egito sempre fez parte do imaginário popular, conjurando imagens de exotismo e glamour. Poucas pessoas são imunes a aura de romance e excitação ligada à antiga Terra dos Faraós.

A abertura da lendária Tumba de Tutankamon em novembro de 1922, e os tesouros de perder o fôlego encontrados em seu interior, geraram uma onda de Egiptomania que varreu o mundo inteiro. Jóias com design egípcio eram usadas por mulheres elegantes, executivos vestiam tarbouches nos escritórios de Wall Street, tapetes de trama intrincada adornavam os mais requintados salões, bares e restaurantes ofereciam cachimbos de narguilé e todos falavam a respeito de múmias, pirâmides, misticismo e história do Egito Antigo. A arte egípcia se misturou com as linhas limpas da Art Noveau criando todo um novo estilo decorativo.

Arqueólogos voltaram seus olhos para o Vale dos Reis com interesse renovado. De um momento para o outro, todos os Museus do mundo cobiçavam ter em seu acervo peças legítimas vindas do Egito. O público demandava ver com os próprios olhos tais tesouros. Expedições de vários países foram organizadas com o intuito de conduzir escavações próximas aos colossais monumentos - as pirâmides, a esfinge, todas as maravilhas de um tempo perdido. 

Havia uma legítima excitação no ar do deserto, a certeza de que tesouros inestimáveis estavam esperando ocultos, bastava procurar. E muitos os encontraram! Ouro, jóias e objetos de arte afloravam de antigas câmaras, tumbas e ruínas. Exploradores mergulhavam na escuridão, em aposentos que não eram adentrados há gerações. Emergiam deles com seus prêmios reluzentes. Artesãos faziam fortuna copiando tais itens, muitos dos quais vendidos como peças genuínas em bazares e mercados. Muitos ficavam ricos negociando artefatos legítimos para ricos e excêntricos colecionadores. Verdadeiras fortunas eram pagas por estatuetas, tabletes, jóias e é claro, múmias.

O interesse pelo Egito motivou o surgimento de Sociedades Secretas que incorporavam antigos rituais egípcios em suas cerimônias. Religiões esquecidas foram redescobertas. Algumas se aproveitavam dos crédulos com promessas de magia, misticismo e até mesmo vida eterna. Pessoas de posses enviavam seus representantes para vasculhar o Egito em busca de algum resquício de seu esplendor. Isso quando não iam, em pompa e circunstância, formando verdadeiras entourages, visitar o país pessoalmente. O turismo arqueológico ficou em evidência incentivando o surgimento de hotéis luxuosos e toda uma estrutura para receber os visitantes. A alta sociedade bebia dessa fonte com uma sede insaciável. 

Cairo, a Capital do Egito, lucrou imensamente com a atenção do resto do mundo. Os bazares ficavam lotados, as ruas fervilhavam, os portos transbordavam com o fluxo de navios despejando multidões de curiosos dispostos a experimentar o que esse Cenário de Sonhos, Terra de Fascinação, tinha a oferecer.

É provável que ainda hoje, não exista no mundo lugar semelhante.

O Egito oferece incontáveis histórias, uma tapeçaria rica de lendas e narrativas remetendo às fabulosas Mil e Uma Noites. É uma terra de estranheza e surpresas, com maldições e mistérios, morte e renascimento, terror e maravilhas sem igual.

Com isso, abrimos uma série de artigos a respeito do Egito Antigo, tendo por alvo tudo aquilo que é estranho, inusitado, horripilante e bizarro.

Venha conosco, sahib, o Egito aguarda...


segunda-feira, 16 de março de 2020

Doces para o Doce - Candyman história e estatísticas


Aqui estão duas versões do personagem Candyman, a primeira do conto "O Proibido" e a segunda do Filme de mesmo nome.

As estatísticas são para Chamado de Cthulhu e Rastro de Cthulhu, mas não me parece difícil criar um personagem como ele para qualquer outra ambientação em que o Horror possa estar presente. 

O PROIBIDO 

"Ele brilhava a ponto de ser espalhafatoso: sua carne, um amarelo pálido; seus lábios finos, um azul claro; seus olhos selvagens, reluzentes como se suas iris contivessem rubis incrustados. Sua jaqueta parecia feita de retalhos; as calças a mesma coisa (...) Ao se aproximar, seu paletó puído se abrira, e ela pode ver - embora seus sentidos protestassem - que o conteúdo de seu tronco apodrecido e oco estava ocupado por um ninho de abelhas. Elas enxameavam sua caixa torácica e agarravam-se em uma massa fervilhante, aos restos de carne que haviam ali." (versão de O Proibido - Livros de Sangue Vol. 5)


A criatura do conto "O Proibido" é um fantasma que assombra a região de Butt´s Court, nos arredores da metrópole de Londres. Essa vizinhança decadente é marcada por construções abandonadas, prédios em ruínas e ruas cobertas de lixo. Um dia o lugar foi um endereço requintado e luxuoso, mas esses tempos se foram há muito. O abandono agora é completo, apenas mendigos e vagabundos costumam se aventurar nessa área e mesmo estas almas perdidas evitam passar ali a noite.

Isso por conta das horríveis lendas sobre o local.

Pergunte a qualquer um dos vagabundos mais velhos e este será capaz de contar alguma história sobre o Proibido. Mais do que isso, ele contará à respeito de uma de suas vítimas sem nome. Pessoas de quem ninguém sente falta ou deseja recordar.

O Proibido é uma lenda urbana, uma criatura espectral que se alimenta do medo e do pavor das pessoas. Há lendas a respeito de sua origem, mas não um consenso. Na versão mais difundida ele seria o espirito de uma pessoa que viveu no período áureo de Butt´s Court quando as casas não estavam dilapidadas, os muros em pedaços e as janelas estilhaçadas. Ele teria obtido uma súbita ascensão social que lhe permitia residir com sua família naquele ambiente suntuoso. Entretanto, os que lá viviam consideraram ele e sua família como indesejados. Passaram a odiá-los por não se encaixarem no perfil da maioria. O destino interviu na forma de um acidente. A família teria sido vítima de circunstâncias que poderiam ser evitadas, mas os demais escolheram não mover um músculo. A existência do Proibido e daqueles que ele um dia amou se encerrou em meio a explosão, chamas e dor, mais dor do que ele acreditava ser possível sentir em uma única existência.

Mas ainda que corpo e sangue tenham ardido, o ódio e ressentimento fizeram com que ele retornasse exigindo o lugar para si. Ele também começou a buscar vingança sobre aqueles que lhe viraram as costas.

A aura do Proibido contaminou Butt´s Court e aos poucos a vizinhança foi se tornando mais e mais decadente. Todos que podiam deixaram o local, partiram, sentindo que havia algo ruim nas ruas.  Com o tempo as pessoas abandonaram a região, preferindo partir a se arriscar em ambiente tão opressivo.

Mas embora o Proibido seja o incontestável senhor de Butt´s Court, ele é também seu prisioneiro. Ele não é capaz de cruzar seus limites e não consegue se afastar sem perder seus poderes e ameaçar se desfazer. Em compensação, sua prisão é como uma gaiola dourada que lhe oferece poder. Nada que acontece na vizinhança escapa de sua atenção: ele pode ver, ouvir e sentir a menor perturbação.

Os poucos visitantes que exploram o lugar depois do anoitecer experimentam uma sensação desagradável no ar. É uma comoção indescritível, como se pressentissem a proximidade de uma grande ameaça pairando sobre suas cabeças. Alguns se referem a uma forte sensação de estar sendo observado. O Proibido prefere permanecer dessas forma, invisível e à espreita.

Ele sobrevive graças a esse medo que o atrai e faz com que ele se manifeste fisicamente. O Proibido é capaz de farejar o medo como um tubarão sente o cheiro de sangue. Sua intenção geral é extrair desse sentimento o sustento para permanecer ativo. O desespero, pânico e dor são como temperos que tornam o medo mais saboroso e ele sabe como causar essas sensações nas sua vítimas.

Os ataques do Proibido são extremamente violentos. Ele utiliza como arma um gancho extremamente afiado que substitui sua mão. As vítimas são brutalmente retalhadas, anda que ele tenha por hábito deixar algum sobrevivente como testemunha de sua arte sangrenta. 

Duvidar de sua existência, questionar quem foi o assassino ou invalidar seu boato de  alguma forma acaba o atraindo. O Proibido persegue as pessoas que duvidam de sua existência e quando estes adentram seus domínios são os primeiros a sofrer com a sua ira.

Estatísticas para O Proibido:

Estatísticas para Call of Cthulhu

CANDYMAN, Assombração Vingativa de Butt´s End

FOR 80 
CON 80 
DES 90 
TAM 60 
INT 50 
APA 20 
POD 100

Bonus de Dano: +1d4
Manobra: 1
Pontos de Vida: 14 

Ataques: Gancho 70%, dano 1d6+ 1+ BD.

Armadura: Nenhuma, contudo Candyman não pode ser ferido por nenhuma pessoa sob influência de sua Aura de Medo. Outras pessoas podem causar dano normal.

Indivíduos que falham no Teste de Sanidade ao ver o Proibido são consideradas sob influência da sua Aura de Medo. Elas perdem um adicional de +1d4 pontos de sanidade para cada teste de sanidade subsequente relacionado a ações do Proibido. 

Sanidade: 0/1d8 pontos ao ver Candyman.

Estatísticas para Rastro de Cthulhu

PROIBIDO


Habilidades: Atletismo 10, Briga 14, Vitalidade 12

Limiar de Acerto: 4

Modificador de Alerta: +1

Ataques: +1 (Gancho), dano 1d6

Armadura: Nenhum, mas pessoas que tenham falhado no Teste de Estabilidade não podem causar dano ao Proibido. Se ferido ele chegar a chegar a -12 de vitalidade, o Proibido se desfaz em uma explosão de abelhas. Ela irá se reformar se um grupo de pessoas acreditar em sua lenda. 

Perda de Estabilidade: Quando a natureza sobrenatural do Proibido fica clara, o custo é de +1.


CANDYMAN

"Era um homem negro, de quase dois metros. Bem vestido com um sobretudo marrom sobre os ombros e feições muito bonitas. Suas palavras eram doces, e havia um cheiro de mel no ar. Foi então que ela percebeu que dele gotejava sangue, e que no lugar de sua mão havia um gancho enferrujado de carne. "Seja minha vítima" ele disse convidativo, como quem propõe uma dança". (versão do filme Candyman)


O Candyman do filme homônimo é um ex-escravo negro que prosperou em vida após construir e patentear uma máquina para produzir sapatos. O engenho fez muito sucesso e ele conseguiu um contrato vantajoso durante a Guerra Civil como fornecedor de sapatos para as Tropas da União.

Candyman (cujo verdadeiro nome é desconhecido) prosperou e comprou uma propriedade nos arredores de Chicago. Ele passou a fazer parte da sociedade local e foi aceito em face de seu dinheiro. Diz a lenda que ele eventualmente acabou se apaixonando e tendo seu amor retribuído pela filha de um rico Dono de Terras que era seu vizinho. Candyman e o homem tinham sérias disputas por terrenos, o que acirrava a animosidade entre eles. O fato da jovem estar envolvida romanticamente com um homem de cor fez com que a sociedade local condenasse Candyman e virasse as costas a ele. Aquelas pessoas racistas podiam tolerar um homem negro e rico entre elas, mas jamais aceitariam uma jovem branca se tornando sua amante.

Certo dia o Senhor de Terras ordenou que homens a seu serviço armassem uma emboscada para seu desafeto. Eles o derrubaram do cavalo e o arrastaram até um descampado próximo onde hoje fica a vizinhança de Cabrini-Green. Lá o surraram até que ele perdesse os sentidos, então, cortaram sua mão com uma serra como uma punição por ele ter ousado colocar sua mão na moça. Em seguida, o levaram até uma fazenda próxima onde havia várias colmeias. Eles o chamaram de Candyman ("Homem Doce") e passaram mel em todo seu corpo, atiçando as abelhas em seguida. Nuvens de insetos furiosos o circularam e começaram a pousar em seu corpo, picando e ferroando sem parar até que ele expirasse em meio a terrível agonia.

O corpo de Candyman ficou largado no local até ser encontrado dias mais tarde, apodrecido e inchado com o veneno. Decidiram então acender uma pira e queimá-lo até não restar nada além de cinzas que seriam espalhadas pela área de Cabrini-Green.

Nos meses que se seguiram, ninguém disse nada a respeito do que havia acontecido, embora todos tivessem ouvido os gritos desesperados do homem enquanto ele era torturado. Demorou apenas mais algum tempo para que as mortes tivessem início: uma sucessão delas, uma mais violenta que a outra e sem explicação. "O trabalho de um maníaco" diziam as testemunhas que viram os cadáveres reduzidos a retalhos sangrentos por golpes de gancho.

Os primeiros a morrer foram justamente os homens envolvidos no assassinato, mas não parou por aí. Pessoas sozinhas que cruzavam o descampado: homens, mulheres e crianças, seja lá quem passasse através de Cabrini-Green poderia se tornar a próxima vítima. Algumas pessoas mencionam então um vulto, uma figura sombria com mão de gancho e vestindo um casaco longo. E o cheiro enjoativo de mel que ficava suspenso no ar atraindo abelhas de todo canto.


Os crimes de Cabrini-Green continuariam, muito embora a área passasse a ser evitada por todos. A transformação de Chicago em uma metrópole acabou engolindo mesmo aquela parte preterida e a cidade em seu ritmo alucinante de expansão cresceu por para aquelas bandas. Na década de 50, Cabrini-Green se tornou área de construção para Conjuntos Habitacionais, grandes prédios de apartamento para a população de baixa renda. Ironicamente, a maioria dessa população residente era composta por negros. Nos anos 60 e 70, o lugar se tornou sinônimo de superpopulação e miséria, situação que descambou para crime nos anos 1980 e 1990 com o surgimento de gangues.

Mas havia algo mais em meio à decadência... Poucos falavam a respeito, mas todos conheciam a Lenda do Candyman. "O mais Doce de Todos", assim o chamam em sussurros, uma figura espectral que podia ser invocada por aqueles que recitavam seu nome cinco vezes diante de um espelho. Candyman ouve o chamado e se materializa diante da pessoa disposto a torná-la sua próxima vítima e assim perpetrar sua lenda.

Candyman é uma assombração poderosa, motivada por um desejo irrefreável de matar e provocar dor em seres vivos. Para ele, não importa quem é sua vítima, desde que esta ajude a criar uma aura de medo, apreensão e paranoia na região sob seu controle. O estado normal desse espírito é incorpóreo e invisível. Quando ele opta por se fazer perceptível, em geral para sua vítima, e esta o vê, naturalmente é dominada por um medo incontrolável. É este medo que o torna  torna imediatamente corpóreo e o torna capaz de ferir e matar.

Candyman só consegue deixar a região de Cabrini-Green, que é seu ninho de poder, quando persegue alguém que caiu em sua Aura de Medo. Outras pessoas são imunes. 

Na iminência de seu corpo ser suficientemente ferido, ele se desfaz em uma explosão de abelhas. Ele poderá, no entanto se rematerializar através da crença de um determinado número de pessoas.

Em se tratando de estatísticas, Candyman é considerado como uma Assombração e uma Criatura Única.

Estatísticas para Chamado de Cthulhu

CANDYMAN, Assombração Vingativa de Cabrinni-Green

FOR 100 
CON 90 
DES 70 
TAM 90 
INT 70 
APA 70 
POD 100

Bonus de Dano: +1d6
Manobra: +2
Pontos de Vida: 18

Ataques: Gancho 85%, dano 1d6+ 1+ BD.

Abelhas, automático em qualquer pessoa a uma distância de 5 metros de Candyman. Todos precisam testar Sorte ou receber picadas que causam 1d4 pontos de dano.

Armadura: Nenhuma, contudo Candyman não pode ser ferido por nenhuma pessoa sob influência de sua Aura de Medo. Outras pessoas podem causar dano normal.


Indivíduos que falham no Teste de Sanidade ao ver Candyman são consideradas sob influência da sua Aura de Medo. Elas perdem um adicional de +1d4 pontos de sanidade para cada teste de sanidade subsequente relacionado a ações de Candyman. 

Sanidade: 0/1d8 pontos ao ver Candyman.

Estatísticas para Rastro de Cthulhu

CANDYMAN

Habilidades: Atletismo 12, Briga 14, Vitalidade 14

Limiar de Acerto: 4

Modificador de Alerta: +1

Ataques: +1 (Gancho), dano 1d6

Armadura: Nenhum, mas pessoas que tenham falhado no Teste de Estabilidade não podem causar dano a Candyman. Se ferido ele chegar a chegar a -14 de vitalidade, Candyman se desfaz em uma explosão de abelhas. Ela irá se reformar se um grupo de pessoas acreditar em sua lenda. 

Perda de Estabilidade: Quando a natureza sobrenatural de Candyman fica clara, o custo por vê-lo é de +1.