sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Suicídio em Massa - Os bizarros rituais secretos de uma estranha família


O texto a seguir contém elementos perturbadores que podem ser incômodos para algumas pessoas. Recomenda-se discrição ao ler.

Nos anais dos grandes crimes e mortes surpreendentes, alguns casos se destacam por serem especialmente estranhos, sinistros ou simplesmente bizarros além do comum. Esses incidentes em geral estão envoltos por circunstâncias inesperadas, pistas e evidências que não fazem sentido ou ainda elementos tão inesperados que deixam aqueles que tomam conhecimento dos fatos imaginando o que de fato aconteceu. Também passam a assombrar a existência daqueles incumbidos de investigar os acontecimentos e que buscam a verdade. 

Um caso particularmente bizarro que se encaixa na descrição acima ocorreu recentemente na India. Trata-se de um crime envolvendo morte em massa, repleto de detalhes macabros, rituais bizarros e pistas que não levam a lugar nenhum, a não ser presumir a existência de algum elemento sobrenatural. 

O caso envolve diretamente a família Chundawat, da cidade de Burani, India. A Família consistia da matriarca Narayan Devi, de 77 anos, seus filhos Bhavnesh Bhatia (50) e Lalit Bhatia (45), suas respectivas esposas Savita (48) e Tina (42), uma filha Pratibha (57) e cinco netos e netas, Priyanka (33), Neetu (25), Monu (23), e Dhruv e Shivam (15). Para todos os efeitos, os Chundawat eram uma família absolutamente normal de classe média. Eles residiam no bairro de Burari Sant Nagar, uma vizinhança tranquila e agradável de Burani e tiravam seu sustento de um negócio de móveis e uma pequena venda. Embora eles tivessem experimentado a perda recente do patriarca da Família Bhopal Singh, não havia nada indicando uma nuvem negra pairando sobre o clã.


Em primeiro de julho de 2018, o comércio que administravam, localizado no primeiro andar da grande casa que servia como lar para a família não abriu as suas portas no horário normal, o que era muito estranho. Por anos, o negócio funcionou como um relógio, abrindo e fechando no horário estipulado, contudo, naquele dia a loja permanecia com as portas fechadas, o interior escuro e nenhum ruído vindo do interior. Vizinhos que conheciam a família estranharam e começaram a se perguntar o que poderia ter acontecido. Por volta das 10 horas da manhã, um vizinho chamado Gurcharan Singh decidiu entrar na loja e ver o que estava acontecendo. Ele descobriria que de fato algo muito, muito errado havia acontecido.

Subindo até a casa, Singh encontrou uma cena simplesmente aterradora. Os corpos de 10 membros da família Chundawat estavam pendurados em um aposento, balançando sem vida em cordas presas ao pescoço. A boca e os olhos de cada um deles haviam sido vendadas. A polícia foi chamada imediatamente e com a chegada dela o local foi isolado para que se buscasse pistas do que parecia ser uma chacina sem precedentes em Burani. Mas a medida que os policiais analisavam a tétrica cena de crime, detalhes perturbadores vinham à tona. O detetive responsável pelo caso, Rajeev Tomar, relatou o seguinte sobre o que encontrou na Casa dos Horrores:

"Em minha carreira de mais de 17 anos na polícia eu já me deparei com coisas estranhas, mas nunca nada sequer parecido com aquela cena de crime. E eu espero jamais ver algo parecido. Era chocante! Quando entrei na casa, tive uma sensação sufocante e precisei sair de lá 15 segundos depois para evitar desmaiar. Após me controlar, consegui voltar gradualmente e examinar o aposento onde os corpos estavam. Eram muitos... pendendo do teto como galhos de uma mesma árvore. As mãos amarradas nas costas, olhos e bocas amordaçadas. Foi assustador, não apenas pelas circunstâncias, mas por algo mais... era como se a casa estivesse impregnada por algo desagradável e maligno". 

Um total de 11 cadáveres foram encontrados na casa, todos pertencentes a membros da Família Chundawat. Cada um deles havia sido enforcado, com uma corda resistente amarrada em uma trave de madeira no teto do aposento. Eles foram distribuídos em uma espécie de formação circular, sendo que o corpo da matriarca Narayan Devi foi achado em outro quarto, morta por estrangulamento manual, não enforcada como os demais. Em uma gaveta trancada a polícia encontrou oito telefones celulares pertencentes a membros da família. As baterias dos aparelhos foram removidas e a tela de cada um deles quebrada. Em outra gaveta encontraram bolsas, carteiras e bens pessoais, como alianças, relógios e jóias. Havia o equivalente a 230 dólares em moeda local.


As vendas e mordaças que cobriam respectivamente olhos e bocas foram improvisadas com tiras de uma mesma roupa de cama, como se concluiu posteriormente. Além disso, tiras de outro lençol foram usadas para atar as mãos das vítimas nas costas. Curiosamente chumaços de algodão foram inseridos no nariz e no ouvido de cada indivíduo. Não encontraram sinal de luta na casa e exceto pelo estrangulamento nenhum corpo apresentava sinal de violência. As autópsias mostraram que a causa de cada morte foi enforcamento por ligadura condizente com corda. Os peritos não encontraram ferimentos defensivos, nenhum traço de drogas ou veneno na corrente sanguínea. Tudo apontava para um elaborado e bem planejado suicídio coletivo. 

Haviam outras estranhas pistas, como banquinhos virados no aposento onde as pessoas morreram, sugerindo que eles teriam sido usados para auxiliar no suicídio. Mas ao mesmo tempo alguns elementos sugeriam discrepâncias da presunção original. Primeiro: quem teria vendado e amordaçado os membros da família e como teria conseguido fazer o mesmo depois para também cometer o suicídio? Além disso, três dos 10 corpos que pendiam no teto tinham o pé arrastando no chão, o que evidenciava que teriam caído de uma altura insuficiente para partir o pescoço e que teriam de receber ajuda para se enforcar, possivelmente com alguém forçando os corpos para baixo. Finalmente, quem teria matado a matriarca por estrangulamento manual?

Sem nenhum membro sobrevivente na família para contar a história, não haviam testemunhas para os eventos. De fato, apenas o cão da família havia sobrevivido. O animal foi amarrado no terraço e preservado dos acontecimentos dramáticos envolvendo seus donos. Os Chundawat não tinham empregados ou funcionários que vivessem na casa e nenhum amigo próximo os visitou na véspera do suicídio. 

O caso permanecia como um mistério insondável, e a medida que a polícia tentava compreender a cronologia dos eventos, novas pistas ainda mais enigmáticas foram surgindo. Entrevistas conduzidas com vizinhos apuraram que nos dias que antecederam a tragédia, um dos membros da família Lalit Bhatia vinha apresentando um comportamento atípico. Descrito como um sujeito jovial e animado, ele parecia inquieto e irritado. Uma testemunha disse ter visto Lalit andando pela vizinhança aos prantos na noite anterior à sua morte, mas ele não quis revelar o que o afligia. 


Outra pessoa afirmou ter encontrado o homem em um templo, dois dias antes de sua morte. Na ocasião, Lalit parecia transtornado e revelou que estava experimentado sonhos recorrentes em que falava com o falecido pai. Ele teria comentado que outros membros do clã também estavam tendo sonhos semelhantes. No fim, deu a entender que temia que o pai estivesse querendo assumir o controle de seu corpo. Tudo aquilo era muito estranho, e as autoridades começaram a presumir que aquela narrativa poderia de alguma maneira ter causado a tragédia. No quarto usado por Lalit e sua esposa, os detetives encontraram uma prateleira oculta onde estavam guardados 22 livros de notas e diários cujo conteúdo se mostrava ainda mais perturbador.

Os cadernos eram um apanhado de anotações desconexas de um período de 11 anos, feitos numa caligrafia reconhecida como pertencente a Lalit. Boa parte das informações eram mundanas, mas outras chamavam a atenção pelo caráter perturbador. Muitas das anotações eram uma espécie de desabafo a respeito de coisas que aconteciam dentro da família e que passavam desapercebidas para quem os conhecia. Os membros do clã pareciam cobrar uns dos outros uma espécie de conduta moral estrita. Tinham de se sujeitar a trabalhar e dormir nos horários definidos, só podiam comer e beber alguns alimentos, deviam restringir determinados assuntos, tinham de rezar e jejuar frequentemente... além disso, Lalit descrevia alguns estranhos rituais que envolviam flagelação e auto-punição pelas menores transgressões. Em determinado momento ele descreve que apenas pensar em alguma conduta era passível de punição. 

Aqueles que se desviavam desse severo código eram punidos pelos demais membros da família que se reuniam para essa atividade. Cada um era chamado para o centro de um círculo onde tinha de confessar suas falhas naquela semana. Cabia aos demais então estabelecer as punições que podiam ser meras advertências, até a realização de tarefas humilhantes ou então severos castigos físicos. Lalit descreve que um chicote curto de equitação, feito de couro, era usado para essas punições. Quando uma criança confessava ter sentido vontade de brincar fora do horário ou um adulto reconhecia sua fraqueza por doces, podia receber entre uma e vinte chibatadas. Lalit descreve vários desses acontecimentos, dando a entender que a família aceitava essas medidas como algo natural do dia a dia. 


O patriarca, segundo Lalit, era quem tinha a decisão final e quem levava às punições à cargo. Foi ele quem ordenou que a boca de sua nora fosse colada com fita, que um filho recebesse vinte chibatadas por ter tirado dinheiro do caixa da venda e que um adolescente recebesse uma queimadura com soda cáustica na mão após ter confessado se masturbar. Bhopal Chundawat controlava a família com mão de ferro e era respeitado na mesma medida que temido. Ele chegou a mandar que um filho batesse no rosto da mãe até arrancar dela sangue, apenas pela mulher ter assistido televisão demais.

As anotações relatavam um clima de constante medo e crescente paranoia. Os membros da célula familiar começaram a denunciar condutas erradas uns dos outros como forma de receber elogios. O próprio Lalit reconhece ter apontado sua filha depois dela ter falhado em uma tarefa doméstica. A menina recebeu cinco chibatadas e ele as refeições que a menina teria direito. 

Nas perturbadoras anotações, Lalit revela outro detalhe bizarro. Ele afirma que o pai havia invocado quatro espíritos guardiões para habitar a casa da família. Estes tinham a função de observar como testemunhas invisíveis tudo que acontecia na morada e relatar os acontecimentos para o patriarca, de modo que nada escaparia à sua atenção. Os espíritos se manifestavam para Bhopal e em raras ocasiões para outros membros do clã, sempre dispostos a revelar alguma falha cometida. Aqueles que eram flagrados podiam diminuir sua punição confessando previamente o que haviam feito de errado. Lalit envergonhado escrevia no diário que não apenas temia esses espíritos, como havia visto um deles, um homem de barba cerrada e olhar severo o observando certa vez... ele acabou confessando uma falha por temer que o espírito contasse ao seu pai o que ele havia feito.  

Bhopal também se referia frequentemente a algo chamado Mokha como uma forma de ameaçar a família e cobrar deles melhorias. O Mokha, cuja tradução mais próxima seria "dia da punição" é uma espécie de ritual religioso raramente empregado por monges, que visa trazer a purificação do corpo e do espírito. Através de sua realização, a pessoa comete um suicídio ritualístico no qual seus pecados e faltas são sublimados no momento da morte. Segundo as anotações de Lalit, Bhopal dizia que se a família se comportasse de modo inadequado, eventualmente a única solução seria invocar o Mokha.


Eventualmente, quando o patriarca morreu de causas naturais, a família se viu perdida, sem saber como deveria se comportar dali em diante. Coube à Matriarca assumir as rédeas da estranha unidade familiar e dar prosseguimento aos seus estranhos costumes. Uma das primeiras medidas de Narayan Devi foi encomendar um ritual de agradecimento da família para Bhopal Singh e por tudo que ele havia feito, já que os negócios prosperavam. O ritual chamado badh tapasya, também era, de acordo com Lalit, uma forma de liberar os espíritos que habitavam a casa. 

Tudo muito sinistro e perturbador, mas é claro, havia espaço para se tornar ainda pior...

Após o ritual, Narayan afirmou que os espíritos haviam sido liberados, mas que o fantasma de seu falecido marido passaria a ficar entre eles, sempre alerta para ver o que os membros da família estavam fazendo e como estavam agindo. A mulher revelou que o espírito de tempos em tempos iria possuir seu corpo, ou o corpo de seus filhos, para falar e agir através deles quando fosse de sua vontade. Na ocasião, segundo Lalit, a mãe falou com a voz de Bhopal, causando uma reação emocional nos demais membros da família. 

Um grupo de policiais se revezava na tarefa de ler os diários e descobrir o que vinha acontecendo. A medida que mergulhavam naquela narrativa truncada, alguns pediram afastamento da função tamanho o incômodo que sentiam ao ler a respeito daquilo. Um deles teria pedido até demissão.

A medida que se aproximavam do derradeiro caderno de notas, Lalit mencionava outro ritual chamado havan que deveria ser realizado para firmar um comprometimento entre os membros da família. O havan envolvia a queima de oferendas em um fogo sagrado. Um psicólogo incumbido de ler o material detectou que Lalit sofria de uma profunda instabilidade mental que parecia se agravar, tornando-se uma animosidade a medida que ele narrava os acontecimentos. Em mais de uma ocasião ele se perguntava se não havia passado do momento de tomar as rédeas da situação e colocar um fim naquela loucura. 


Uma anotação pertinente escrita por Lalit afirma que ele havia planejado eliminar a família inteira. Usando para isso o Mokha, no qual cada membro seria morto por enforcamento. Ele chegava a descrever como deveriam ser feitos os nós, como os corpos seriam pendurados e dispostos.

Então, isso significava que Lalit estava por trás das mortes? É difícil dizer já que ele também foi encontrado pendendo como os demais. Ele não parece ter agido diretamente para provocar as mortes, mas seu papel pode ter sido o de incentivar a realização do Mokha, convencendo os demais de sua necessidade. Um video de uma loja mostra o irmão e a cunhada de Lalit comprando cordas que seriam usadas para o enforcamento, bem como incenso e outros objetos que seriam usados no ritual de havan. Na véspera do suicídio, a família fez vários pedidos de entrega de comida e se reuniu para o que pode ser interpretado como uma última refeição.

Uma das anotações finais no diário sugere que Lalit teria convencido os outros membros da família a realizar o Mokha, permitindo que Bhopal falasse através dele. O patriarca teria dito que a única solução para libertar toda a família, seria através da morte.

"Todos terão de ser amarrados para evitar arrependimento. Mãos nas costas. Olhos e bocas tampadas para impedir que voltem atrás" escreveu ele. Mais adiante afirma que alguns acreditavam que o ritual não chegaria ao fim e que Bhopal apareceria para liberá-los no último instante, mas que para isso acontecer, eles deveriam levar até as últimas consequências sua intensão.   

Extensivas investigações e entrevistas com parentes distantes, amigos e vizinhos pintaram um curioso perfil psicológico da família Chundawat. Em momento algum as pessoas suspeitavam de seus alegados costumes, mesmo os mais próximos sequer desconfiavam do que acontecia entre eles. Muitas pessoas se mostraram espantadas com o conteúdo do diário de Lalit, a ponto de supor que aquilo tudo poderia ser uma farsa. Afirmavam que a Família tinha planos para eventos futuros o que claramente contradizia qualquer noção de suicídio planejado. Priyanka estava noiva e deveria se casar dali a quatro semanas, e a família estava planejando o evento em detalhes. Eles haviam pego um empréstimo bancário e contratado uma firma para fazer melhorias nas lojas. Tudo isso parecia um comportamento estranho para uma família que realizava rituais secretos e contemplava se matar.


Em face de tudo isso, muitas pessoas acreditavam que o ritual poderia ter sido usado para acobertar um plano de assassinato levado à cargo por Lalit. Os psicólogos contratados para analisar o caso sustentam que a família parecia compartilhar de alguma modalidade aguda de desordem psicótica. Se não todos, Lalit com certeza sofria de paranoia. No entanto outros afirmavam que a família nada tinha de estranha e que a ideia deles participarem de rituais era absurda. De fato, muitos dos ferimentos descritos por Lalit em seu diário, não foram achados nos cadáveres e marcas de antigos macucados deveriam ter sido deixadas pelas "punições" ao longo de anos. 

Muitos sustentam o ceticismo diante dos acontecimentos e insistem que o que transcorreu na casa teria sido um assassinato, tendo como arquiteto ninguém menos que o próprio Lalit. Afirmam ainda que os diários seriam anotações alucinantes e delírios de alguém perturbado que imaginava aquelas situações em face do seu estado mental. Levado às raias da loucura por uma realidade - presente apenas em sua mente fraturada, ele teria sido o responsável por aquele horror. E depois, o perpetuador simplesmente teria tirado sua própria vida.

Os testemunhos, a palavra de vizinhos, as filmagens e especialmente os macabros diários deixados por um dos membros da família apontam para um sinistro ritual de suicídio, mas quem pode saber ao certo o que aconteceu naquela fatídica noite?

O caso permanece aberto e ainda levanta acalorados debates na India. Para alguns, a família teria mergulhado em uma histeria fatal, para outros, um de seus membros seria o responsável pela tragédia e outros ainda, creem em explicações mais esotéricas para o incidente. Teriam essas pessoas sucumbido a uma loucura coletiva que daria vazão ao que foi escrito ao longo de 11 anos em diários? Ou estes não seriam nada além da narrativa demente de uma mente perturbada? Quem teria organizado o ritual? Quem teria estrangulado a matriarca? Quem teria forçado a morte dos que ficaram pendurados? Quem, quem, quem?

A verdade só poderia ser contada por aqueles que estiveram naquela morada, naquela noite macabra, mas estes não são mais capazes de falar. Seja lá o que tenha acontecido, talvez seja até melhor nunca sabermos...

6 comentários:

  1. Que história bizarra. A forma como você escreveu o post ficou muito bacana, quase parece um conto de terror... BUT IS TRUE

    ResponderExcluir
  2. seria um tremendo conto de horror e suspense, se não fosse real, o que só torna tudo pior.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. tempo voa. já faz mais de um ano desde que li esse post e deixei um comentário.

      Excluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir