domingo, 21 de junho de 2020

A Cidade que se foi - Relatos de lugares que desapareceram


Através da história ocorreram misteriosos desaparecimentos e inexplicáveis sumiços, com muitas questões vindo à tona, questões estas que não possuem uma explicação razoável. Mas além dos indivíduos que simplesmente somem da face da terra, há casos em que um grande número de pessoas também some sem deixar vestígios. São incidentes que nos deixam sem palavras, estupefatos diante das implicações monumentais... afinal, estamos falando de várias pessoas, por vezes até multidões. O que faria cidades inteiras deixar de existir de um momento para o outro?  

Um exemplo contemporâneo e bastante bizarro sobre cidade desaparecida envolve um povoado conhecido como Urkhammer, no estado de Iowa, nos Estados Unidos. A pequena cidadezinha rural era aparentemente um lugar como qualquer outro do meio-oeste americano. Mas no final de 1928, fotografias aéreas revelaram algo estranho: não havia ninguém lá. As ruas do pequeno centro estavam desertas, enquanto os campos e lavouras das fazendas pareciam abandonados e com crescimento de mato, como se ninguém sequer achasse válido deixá-lo limpo. 

As coisas ficaram ainda mais estranhas quando o relato de um viajante que passou pelo lugarejo foi compartilhado. O sujeito estava à caminho de outra cidade e pensou em encher o tanque no posto de gasolina local antes de seguir. Ao chegar no posto, que ficava nos arredores de Urkhammer, encontrou o lugar abandonado e as bombas secas. Não havia ninguém, sendo que a oficina e loja de conveniência que compunham o posto estavam igualmente abandonadas. Cogitando que algo ruim pudesse ter acontecido, ele decidiu dirigir até a cidade que ficava a pouco mais de 2 quilômetros. É então que a coisa ganhar contornos sobrenaturais. O viajante disse que as placas indicavam que a cidade ficava próxima, mas não importava o quanto ele seguisse adiante, ele simplesmente não chegava até ela. Por mais que acelerasse em busca da cidade e as placas indicassem que ela deveria ficar ali, ele não conseguia chegar ao seu destino. 

Era como se a cidade estivesse fora do seu alcance não importando o quanto ele a buscasse. Ele andou seis quilômetros, e decidiu que seria melhor retornar antes que o tanque ficasse vazio. Ao fazer a volta para pegar a auto-estrada novamente, ele descreveu uma sensação esmagadora de desolação. Fazendo o retorno ele começou a voltar, experimentando em todo caminho aquele mesmo sentimento acachapante de que algo muito ruim teria acontecido.      


Outras pessoas dirigindo pelas cercanias da cidade também reportaram esse mesmo sentimento estranho. Alguns afirmaram ter conseguido chegar até Urkhammer, encontrando lá simplesmente casas vazias, ruas desertas e nenhum sinal de seus moradores. Conforme o senso de 1920, o lugar deveria ter ao menos 300 habitantes. Para onde eles foram, é um mistério sem aparente explicação. Segundo a história relatada pelo Clarion-Telegraph, a cidade simplesmente deixou de existir quando sua população seguiu para lugar ignorado. Quando a investigação do jornal estava no auge, a quebra da Bolsa de Valores em 1929 tomou o lugar das manchetes e as histórias sobre Urkhammer ficaram em segundo plano. Ninguém parecia se importar muito com o destino da cidadezinha ou de sua população. 

Sabe-se que o delegado da cidade vizinha, Oakmeadow chegou a visitar Urkhammer em busca de um parente que vivia na cidade. O policial escreveu um relatório no qual descrevia o estado de total abandono e desolação que encontrou no lugar. Ele chegou a entrar na casa desse parente, achando lá objetos pessoais deixados para trás, mas nenhum sinal de vida. No escritório do xerife estava tudo igualmente vazio, sem qualquer pista que pudesse permitir saber para onde todos teriam ido. 

Em 1932, novas fotografias aéreas constataram que a cidade havia sido fortemente atingida pelas  tempestades de areia que varreram a região no período, os chamados Dust bowl da década de 30. A cidade teria sido parcialmente enterrada. Onde ficava a cidade restava apenas campos abandonados cheios de poeira e cercas apodrecendo no sol. Um tacho de ferro usada para alimentar os animais permanecia sozinha na paisagem desolada, uma relíquia da presença humana. Urkhammer não existia mais.

Décadas mais tarde, uma caravana de ciganos acampou nas imediações. O Ataman (chefe) do bando, contou a um amigo romani que foi impossível ficar ali mais do que uma noite uma vez que o local estava "saturado por lágrimas e sofrimento dos que desapareceram e jamais foram encontrados". Nos anos 1990 o local chamou a atenção de grupos imobiliários que tencionavam construir na região. Empreiteiros encontraram as ruínas de uma pequena cidade enterrada nas dunas e causticada pelo sol. Até hoje não se sabe o que aconteceu com as pessoas que viviam em Urkhammer ou seu destino final. Ela é uma estranha nota de rodapé na história de Iowa e um mistério sem solução. 


Outra história confusa envolve uma cidade chamada Ashley, no Kansas. O lugar não passava de uma pequena cidadezinha de fazendeiros com cerca de 700 moradores. De acordo com o Serviço de Geologia dos Estados Unidos no dia 16 de agosto de 1952, a área foi abalada por um massivo tremor de terra de 7,9 na escala Richter. Considerando que Ashley era um lugar remoto, ninguém se importou muito em saber como estavam os habitantes, mas quando alguém tentou contatar os moradores não obteve resposta.   

Autoridades foram chamadas e decidiram ir até lá. Ao chegar descobriram uma estranha fissura medindo 915 metros de comprimento por 420 de largura exatamente no local onde antes existia a cidade. A fissura cuspia fumaça e emitia um calor abrasador. Os policiais não descobriram nem um homem, mulher, criança ou mesmo animal de estimação vivo ou morto, ainda que tenham sido conduzidas buscas por 12 dias consecutivos. A conclusão era que todos haviam sido engolidos pela cratera que se abriu no coração de Ashley. Ainda mais curioso é que um segundo abalo interrompeu as buscas e obrigou as equipes a retornar. Quando o perigo cessou, as equipes que voltaram a Ashley descobriram que a fissura havia se fechado tão repentinamente quanto havia surgido.    

Para tornar as coisas ainda mais bizarras, investigações posteriores apontaram que a área vinha sendo o epicentro de uma série de acontecimentos estranhos nos dias que antecederam o terremoto. Alegadamente em 8 de agosto houve um informe de um fazendeiro local chamado Gabriel Jonathan, que afirmou ter visto uma "abertura negra surgir no céu bem sobre  sua fazenda". A polícia se negou a visitar o lugar e verificar, mas na manhã seguinte outro morador informou ter visto algo similar. Um oficial de polícia chamado Allan Mace foi enviado, mas não chegou ao local. Segundo ele enquanto estava à caminho perdeu a consciência e desmaiou ao volante, indo parar no acostamento da estrada que levava a Ashley. O oficial ao acordar horas mais tarde retornou sem cumprir a diligência.  Hays jamais conseguiu explicar o que houve ou por qual razão perdeu os sentidos.

Outros acontecimentos se somam a estes. Anomalias atmosféricas e notificações de desaparecimentos nas semanas antes do terremoto também foram relatados. O relato mais estranho no entanto envolvia pessoas que alegaram ter conversado com parentes e amigos que já haviam morrido. O primeiro desses relatos é de uma mulher chamada Phoebe Danielewski, que relatava que sua filha havia falado com o avô falecido três anos antes. O que deixou a mãe especialmente preocupada foi o teor da conversa já que seu pai dizia à menina que eles em breve estariam todos juntos. Outros relatos semelhantes foram colhidos por policiais envolvendo fazendeiros dos arredores de Ashley.


Na tarde de 13 de fevereiro de 1952, um morador chamado Scott Luntz telefonou para a polícia afirmando que estava vendo um fogo no horizonte que ele descreveu como "vermelho vivo e alaranjado que subia no céu, mas que não produzia fumaça". Outros fazendeiros telefonaram para a delegacia dizendo que estavam vendo algo semelhante e acrescentando que o fogo parecia emanar do céu e não do chão.

Na manhã de 14 de agosto, outro fazendeiro Benjamin Endicott contatou a polícia em um estado de pânico afirmando que o céu estava em chamas. No dia seguinte, quando ocorreu o terremoto, a Sra. April Foster telefonou mais cedo para a delegacia e manteve uma conversa com o Oficial Ken Welsch. 

A ligação foi gravada:

Oficial Welsch:
Departamento de Polícia de Hays Police Department, como posso ajudar?

(estática)

Oficial Welsch:
Alô? A ligação está ruim...

Foster:
SIM... alô, eu quero falar com a polícia.

Oficial Welsch:
Pois não... quem está falando?

Foster:
Meu nome é April Foster. (tosse) Por favor senhor. Precisamos de ajuda.

Oficial Welsch:
Qual a natureza de seu problema, senhora?

Foster:
Noite passada... noite passada eles voltaram.

Oficial Welsch:
Senhora, a ligação está ruim... a senhora disse que alguém retornou?

Foster:
NOITE PASSADA ELES VOLTARAM (choro e estática)

Oficial Welsch:
Senhora, eu preciso que se acalme e fale mais claramente. O que aconteceu? Quem retornou? 

Foster:
(choro) Todo mundo.

Oficial Welsch:
Todo mundo?

Foster:
Eles vieram com o fogo.

Oficial Welsch:
O que a senhora quer dizer com todo mundo?

Foster:
Meu filho... Eu vi meu filho noite passada. Ele estava andando… na cidade. Ele estava queimado. Jesus Cristo ele estava muito queimado.

Oficial Welsch:
Senhora, eu... 

Foster:
Ele morreu ano passado. Eu cuidei dele desde bebê... era ele (incompreensível).

Oficial Welsch:
Senhora, não estou entendendo. Você disse que todos voltaram?

Foster:
VOCÊ ESTÁ OUVINDO O QUE EU DISSE? TODOS. Todos voltaram. (choro) Todo os... (estática) E eles (incompreensível) por nós. (choro e estática)

Ele…ele disse: "Mamãe eu estou bem agora. (longo trecho de estática). E eles queriam nos ver! Ah meu Deus” (lamento e choro)

Oficial Welsch:
… Senhora, onde você está agora? Precisa de ajuda imediata?

Foster:
Eu estou fora... estou fora de casa... (estática por cerca de 15 segundos)

Oficial Welsch:
Senhora, preciso saber onde está, para que eu possa ajudar. A senhora pode passar sua localização?

Foster:
(silencio)

Oficial Welsch:
Senhora?

Foster:
Não adianta (incompreensível). Não vai adiantar nada...

Oficial Welsch:
Senhora?

Foster:
Boa noite. 

Oficial Welsch:
Senhora, como posso lhe ajudar? Não desligue...

Foster:
Eu já vou... (estática)

Oficial Welsch:
Senhora, por favor... permaneça...

Foster:
(Silêncio)

Oficial Welsch:
Senhora?

Foster:
Adeus!

[FIM DA LIGAÇÃO]


No dia dessa estranha conversa o terremoto atingiu Ashley e centenas de pessoas simplesmente evaporaram no ar. Trata-se com certeza de uma história sinistra, mas não se sabe até que ponto ela é real ou se tudo não passa de uma invenção. A narrativa surgiu na Internet em meados de 2012 em fóruns de variedade do reddit e mais tarde em Creepypastas com uma sinalização dela ser baseada em um evento real. Mas a história não parece resistir a uma análise mais criteriosa. Não há registro de um terremoto dessa magnitude na data, menos ainda no Kansas. Ainda assim é uma teoria conspiratória deliciosa. 

Mais recentemente tornou-se popular na internet uma história sobre um lugar em Nova Jersey chamado New City Complex. Localizada perto de West Milford, seguindo a rota 23, a cidade foi construída próxima do Reservatório de Água de Newark para receber os operários que iriam trabalhar no local. As coisas pareciam bem normais por um tempo, até que em 1992 descobriu-se que as casas haviam sido repentinamente abandonadas, sem sinal de roubo e com tudo na mais perfeita ordem, todos os itens pessoais dos 120 residentes foram deixados para trás, e em alguns casos até refeições ficaram no fogão ou sobre a mesa, como se as pessoas tivessem sido interrompidas.

Ninguém sabe para onde foram, o que aconteceu ou o que teria motivado a deserção.

Segundo os rumores, os operários vinham reclamando de condições adversas no serviço e demandando uma reunião com seus empregadores. De fato, em algumas versões, uma reunião chegou a ser agendada e um representante iria até os patrões dali três dias para discutir. Parece então pouco provável que os operários simplesmente tivessem desistido abandonando tudo à própria sorte.

Em uma outra variante dessa mesma história, a cidade modelo teria sido destruída por uma enchente provocada por um rompimento de barragem que carregou toda pequena cidade e matou seus residentes. Os que acreditam nessa versão da história mencionam que o incidente teria recebido destaque na imprensa e que cadáveres ainda seriam encontrados de tempos em tempos, por vezes à quilômetros de distância do local de rompimento da barragem. 


É claro, essas histórias nunca são inteiramente confirmadas e quando se busca informações a respeito delas, na maioria das vezes, o que se acha são mais e mais incongruências. É provável que essas cidades e seu desaparecimento, não passem de lendas urbanas alimentadas pela internet que impulsiona tais casos, permitindo que eles atinjam milhões de pessoas. Então, o fenômeno é simples: uma mentira contada inúmeras vezes começa a parecer verdade aos olhos de alguns.

Contudo, haveria algum fundo de verdade nessas histórias bizarras? Por que esses casos interessam tanto as pessoas com um gosto pelo sobrenatural? No fim das contas, elas parecem sobreviver no limiar entre a mais pura e descarada invenção e a ínfima possibilidade. Ninguém colocaria a mão no fogo por eles, mas no fundo é difícil evitar um segundo pensamento de "e se for verdade"?

Para falar a verdade, não importa se eles são verdadeiros ou não, eles são sinistros o bastante para agitar nossa imaginação.

5 comentários:

  1. Ótimo material para campanhas, histórias realmente sinistras
    E como disse um amigo meu -As lendas são maiores que a verdade por trás delas-

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  2. Texto foda como sempre. Achei q ia citar Roanoke Tb. Apesar de tudo indicar q eles foram absorvidos pelos indígenas locais, ela em si é um ótimo material para sessão

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    1. Roanoke está aqui nesse artigo:

      http://mundotentacular.blogspot.com/2011/03/o-misterio-da-colonia-perdida-o-que.html

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  3. "Para falar a verdade, não importa se eles são verdadeiros ou não, eles são sinistros o bastante para agitar nossa imaginação." — resumiu completamente meu interesse pela ficção de terror e mistério!

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