quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Conselheiro Infernal - O pequeno demônio de Napoleão Bonaparte


Espíritos malignos e demônios, em inúmeras formas e aparências fazem parte de incontáveis culturas em todo mundo. Tais lendas são ricas em aparições possuindo algum tipo de poder sobrenatural que lhes permite prever o futuro ou antever eventos decisivos que estão por vir. Uma história muito estranha envolve um suposto Homenzinho Vermelho, que há gerações espreita os belos salões dos palácios e castelos da França. Essa criatura desprezível, chamada de demônio, teria fornecido valiosos conselhos para muitos governantes franceses, inclusive, o Imperador Napoleão Bonaparte em pessoa.

A lenda remonta ao século XVI e o povo de Paris conhece a história dessa criatura que por vezes é vista como um fantasma, duende, demônio ou como o próprio Diabo. Ele se apresenta como um anão de pele vermelha, feições malignas, olhos amarelos penetrantes e um sorriso sardônico. A criatura é conhecida como Le Petit Homme Rouge, literalmente "O Pequeno homem vermelho". Essa aparição tradicionalmente assombra o Palais des Tuileries (Palácio de Tulherias), e sua primeira aparição foi documentada por uma nobre italiana, a esposa de Henry II, e Rainha da França Catarina de Medici. Ele teria sido visto pouco antes do trágico Dia de São Bartolomeu que entrou para a história como a data em que os Huguenotes foram massacrados na Capital francesa. O pequeno diabinho vermelho teria tentado avisar a Rainha para que ela alertasse alguns huguenotes e estes pudessem escapar antes do início da terrível chacina.  

A história se tornou uma lenda famosa entre os nobres e cortesões no Palácio de Paris. Alguns diziam que Catarina havia visto coisas ou simplesmente havia inventado a história, mas outros acreditavam na Rainha e defendiam que ela descreveu um incidente real que a marcou profundamente. A Rainha ia mais longe em sua história, descrevendo a criatura em detalhes. com a pele escarlate, uma corcunda proeminente, nariz em forma de gancho, uma cabeça disforme, chifres e até mesmo pés terminando em cascos fendidos. Qual o interesse do diabinho em salvar alguns dos huguenotes? Ninguém, nem mesmo a Rainha sabia dizer.

Depois desse incidente, a lenda evoluiu para um lado mais sinistro, uma vez que as aparições do demônio pareciam sempre estar associadas a algum grande desastre ou uma tragédia próxima. Suas aparições estariam relacionadas a mortes ou destruição iminente, o que lhe valeu o apelido de "Homem Vermelho do Destino". Ao longo dos séculos o diabinho teria aparecido em diversos momentos de relevância histórica, como na noite do assassinato de Henry IV ou ao lado da cama onde agonizava Louis XVI. Auxiliares de Maria Antonieta afirmaram ter visto a criatura em 1792 poucas horas antes da invasão do Palácio das Tulherias por revoltosos que capturaram a Rainha.


Na época, testemunhas escreveram a respeito do acontecimento:

"As damas de companhia de Maria Antonieta estavam aguardando na Salle des Gardes, quando perceberam uma presença súbita do que julgaram ser, à princípio, uma criança totalmente vestida de vermelho. Ela, no entanto, tinha olhos medonhos e comportamento selvagem. Todas ficaram paralisadas de terror ao concluir que era o lendário pequeno homem vermelho das lendas. Elas correram para os aposentos reais de Madame la Dauphine onde relataram o ocorrido implorando para que ela tomasse alguma medida já que o aparecimento da criatura geralmente antecedia alguma tragédia. Se tivesse levado em consideração tal alerta, talvez a história da França tivesse sido diferente".

O Homem Vermelho seria visto novamente por guardas na prisão para onde a Rainha foi mantida prisioneira poucas horas antes de sua execução. Supostamente, ele estaria observando sorridente os preparativos para a montagem da guilhotina no pátio. Segundo uma lenda, ele teria oferecido a Maria Antonieta uma forma de escapar de seu destino, conquanto vendesse sua alma ou aceitasse uma barganha. A Rainha teria dito que jamais aceitaria tal coisa e que aceitaria seu destino, não importando qual fosse. No momento final, quando subiu ao patíbulo, prestes a ser decapitada, ela teria olhado ao redor em busca do diabinho, como se tivesse se arrependido. Alguns sugerem que até o fim, a Rainha acreditava que seria de alguma forma salva por algum milagre. Outros supõem que ela estivesse esperando ver o diabinho e acenar com a cabeça para ele já que mudara de ideia. Nunca saberemos ao certo.

Uma vez que as repercussões da sangrenta Revolução Francesa ainda se faziam sentir, a presença do Homem Vermelho foi reportada por diversas testemunhas. Ele teria sido visto por testemunhas, todas elas devotas revolucionárias espreitando pelas ruas da capital assoviando músicas revolucionárias. Em outra ocasião teria sido apontado como o responsável pelo desaparecimento da cabeça de um eminente nobre que devera ter ficado em exposição no alto de uma murada. Segundo rumores, a criatura teria oferecido um acordo para que o nobre escapasse ao menos daquela derradeira indignidade. Uma outra lenda afirma que o homem vermelho foi visto nas ruínas de uma morada oficial do Rei, brincando em uma fonte que misteriosamente depois de sua aparição começou a verter sangue ao invés de água.

Há uma infinidade de relatos com o estranho personagem sendo visto onde quer que ocorresse um distúrbio violento, uma batalha sangrenta ou alguma chacina, o que nos tempos da Revolução eram ocorrências horrivelmente frequentes. Alguns parisienses inclusive chegaram a cunhar o termo "as pegadas do pequeno homem vermelho" para sinalizar acontecimentos desagradáveis e tragédias.

O Pequeno Homem Vermelho apareceu mais uma série de vezes, mas a lenda a respeito dele ganharia ainda maior relevância quando o grande general, líder e eventual Imperador Napoleão Bonaparte galgo os degraus do poder. Segundo alguns, Bonaparte não apenas teria conhecido o Demônio, como teria recebido conselhos dele que ajudaram a construir sua carreira e guiar suas bem sucedidas campanhas militares.


O primeiro contato de Napoleão com a criatura teria acontecido em 1798 durante a Campanha do Egito, logo após a Batalha das Pirâmides. A criatura teria oferecido a Napoleão um vislumbre de 10 anos no futuro, mostrando as vitórias e conquistas do então general. Ele também teria bajulado o militar, afirmando que o observava desde que ele era uma criança.  

O Homem Vermelho faria outras aparições durante a Campanha do Egito, alegadamente se materializando para contar a Napoleão que os seus soldados não estavam cumprindo suas ordens e que a campanha estava fadada ao fracasso. Napoleão teria expulsado a criatura de sua tenda em certa ocasião ordenando que ela fosse fuzilada. Tal coisa não aconteceu uma vez que a criatura disse que viveria para ver a coroação do General.

A entidade supostamente esteve na companhia de Napoleão na qualidade de conselheira em muitas vitórias, em especial a decisiva Batalha de Wagram travada contra britânicos e austríacos, que ocorreu em 5 de julho de 1809. Ele também teria estado presente em meados de 1812 quando o Exército de Bonaparte passou a conquistar quase toda Europa. Lá o diabinho teria dito: "Você não é o primeiro general a conquistar essas batalhas ao meu lado, eu estive ao lado deles assim como estou ao seu, meu caro comandante".

Para alguns, Napoleão teria firmado um pacto com o diabinho vermelho que lhe garantiu dezenas de vitórias. A única condição imposta a Napoleão era de jamais lançar uma campanha militar contra a Rússia, condição que Napoleão obviamente não honrou. Eventualmente, quando as tropas francesas se encontravam próximas da fronteira com a Rússia, o demônio surgiu exigindo que Napoleão desistisse de seu intento. Na ocasião, uma reunião teria ocorrido na tenda de Napoleão ocasião em que uma acalorada discussão ocorreu, testemunhada pelo Conselheiro de Estado Louis Mathieu Conde de Mole, que escreveu sobre o estranho incidente em suas memórias: 

"No mês de janeiro de 1812 (durante o severo inverno que precedeu a invasão da Rússia), um anão de pele vermelha se apresentou diante da tenda do Imperador desejando ter com ele uma conferência de máxima urgência. Os Sentinelas cogitaram expulsar o estranho, mas um dos guardas mais próximos do Imperador reconheceu a criatura da Campanha do Egito e mandou que ela esperasse. Depois de falar com o Imperador, este ordenou que o anão fosse expulso. Quando o soldado deu a negativa, o anão o empurrou para o lado e adentrou a tenda furioso. Uma conversa à portas fechadas se seguiu, com argumentos sendo expostos pelo Estranho e pelo Imperador. Os dois pareciam se tratar como velhos conhecidos, ainda que estivessem claramente discutindo de lados opostos. Finalmente, a porta se abriu e o homenzinho vermelho saiu com uma expressão contrariada. Ele foi escoltado para fora e desapareceu na noite sem dizer uma única palavra". 


O fato de Napoleão ter ignorado os avisos do Demônio acarretaram em graves repercussões para sua obstinada conquista militar. Os franceses foram derrotados não apenas pelos Russos, mas pelo Inverno que aniquilou seus planos de invasão. No fim da campanha, o exército francês composto de meio milhão de homens havia sido devastado e nada restava a eles senão fazer um dramático recuo. Não ouvir os argumentos do diabinho custou caro a Bonaparte. Os franceses não estavam preparados para enfrentar as táticas dos russos, que cortavam linhas de abastecimento e deixavam os franceses sem suprimentos para suportar o rigor do inverno. Após uma batalha nos Campos de Borodino, o exército francês já muito debilitado teve de enfrentar o frio, a fome e as guerrilhas de russos que atacavam e fugiam. Quando os últimos homens da outrora orgulhosa tropa cruzaram a fronteira da Rússia, não haviam mais do que 10 mil deles. A catastrófica derrota eventualmente levou Napoleão à sua queda.


Talvez por conta de sua desobediência diante dos avisos de seu enigmático conselheiro, Napoleão enfrentou várias derrotas em importantes batalhas como em Leipzig, Fontanebleau e é claro, Waterloo que obrigou os franceses a abandonar suas ambições de invadir a Inglaterra. Segundo rumores, o demônio apareceu novamente após cada derrota para se vangloriar e informar o Imperador que ele teria apenas mais três meses à frente de suas tropas. Mais ainda, alertou que era questão de tempo até os inimigos de França invadirem Paris e condenar o Imperador a viver seus dias finais em uma escura e remota ilha. 

Napoleão teria ordenado que a criatura fosse fuzilada, mas ele desistiu de levar à cabo as ordens, quando o monstrinho sorridente perguntou a ele: "O que o irrita mais? Minhas palavras ou o fato de você não tê-las ouvido?"

Conforme havia sido previsto, em 31 de março de 1814, os aliados invadiram Paris e em primeiro de abril Napoleão foi forçado a abdicar. Também conforme previsto, ele foi enviado para o exílio na isolada Ilha de Santa Helena, onde lamentou suas escolhas erradas até sua morte em 1821. 


O Homem Vermelho faria uma aparição final em 1871 na véspera do saque e incêndio do Palácio das Tulherias. Um relato da aparição do demônio foi feita por um jornalista que testemunhou a aparição do ser: 

"Enquanto fazia meu passeio certa noite, com lanterna nas mãos, através das ruas silenciosas, percebi uma forma agachada. Era uma figura pequena, humana em aparência, embora tivesse pele vermelha. Estava escondida perto do muro de uma casa, com braços cruzados e cabeça pendendo em uma atitude de profunda aflição olhando para o vazio. A princípio, achei que se tratava de um ladrão, mas quando lhe dei ordem de parar onde estava, ele sibilou e disse algo sobre Tulherias. A seguir, sumiu da forma mais misteriosa. Um guarda que veio em resposta aos meus gritos lembrou imediatamente da lenda do Homme Rouge, e não perdeu tempo. Ele voltou com alguns colegas de armas que começaram a procurar pelos arredores. Infelizmente a busca foi infrutífera, mas logo um clarão no céu chamou a atenção de todos: disseram que se tratava de um incêndio no Palácio de Tulherias. Foi então que entendi que a criatura estava consternada sobre o incêndio que àquela altura, já consumia o prédio" 

Com o incêndio, a casa do Demônio Vermelho foi destruída de uma vez por todas e curiosamente as lendas sobre a entidade passaram para a obscuridade. O quanto podemos realmente acreditar a respeito desses relatos? Seria apenas folclore e rumores sem fundamento, ou Napoleão realmente contava com o apoio de um misterioso ser das trevas? Se isso é verdade, o quanto ele teria influenciado na Campanha Militar e nas famosas Guerras Napoleônicas? O que aconteceria se Napoleão tivesse ouvido os conselhos de seu assessor e evitado a fatídica invasão da Rússia? 

Não podemos responder essas questões e aparentemente elas não possuem respostas. O Conselheiro Infernal que esteve envolvido em tantos acontecimentos da história da França desapareceu e jamais surgiu novamente.

6 comentários:

  1. SIM EU ACREDITO SE DEUS EXISTE O DIABO TAMBÉM EXISTE

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    1. Agora na forma de um impertigado baixinho de calças apertadas cabeça grande mulher feia e atende por Macrom
      Pobre França

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  2. História fascinante. Será que esse diabrete realmente existiu?

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  3. E é por isso que o Diabo tem bigode e cavanhaque estilo francês! Fim!

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  4. Será que o mesmo apeteceu para Giuseppe Garibaldi , Mussolini , Hitler , Stálin , Bolsonaro kkkkkkkkkkk

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  5. Não só isso, um dos conselheiros de napoleão escutou a conversa dele com o "pequeno homem de vermelho", e até assinou um documento no cartório afirmando o que viu.

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