Em 28 de novembro de 1930, um correspondente especial chamado Emmett Kelleher, foi enviado para cobrir a estória em primeira mão. Ele entrevistou policiais e testemunhas e publicou um relatório dos eventos em um jornal local o “Le Pas Manitoba”.
A manchete com forte apelo sensacionalista e arte condizente (um dos desenhos está no topo desse artigo) causou comoção nacional: "Tribo Perdida no Norte Gelado - Vilarejo dos Mortos descoberto pelo caçador Joe Labelle".
Em sua entrevista, Labelle não poupou detalhes sobre a experiência que marcou sua vida:
“Eu senti imediatamente que havia alguma coisa de errado… ao encontrar os pratos de comida ainda na mesa, eu sabia que eles haviam sido perturbados e pegos de surpresa. Os rifles estavam guardados e nenhum esquimó vai a lugar nenhum sem carregar uma arma… logo eu compreendi que alguma coisa horrível havia acontecido com aquelas pessoas.”
É claro, que a história sobre o mistério do Lago Anjikuni se espalhou rapidamente por toda a América do Norte, nos Estados Unidos o paralelo com a colônia de Roanoke foi inevitável: a "Roanoke do Norte", assim chamaram o caso na imprensa americana.
O primeiro inquérito de investigação, foi iniciado em janeiro de 1931 e coordenado pelo sargento J. Nelson da Real Polícia Montada Canadense. Nelson era descrito como um homem diligente e sério que não se deixaria perturbar pelo clima de paranóia que a imprensa havia criado.
O policial ficou intrigado com os testemunhos obtidos pelos jornalistas que haviam coberto o caso e começou a conduzir entrevistas pessoalmente. Ele afirmou que um número alarmante de pessoas mencionava as tais luzes e estranhos objetos voadores na área, mas foi taxativo ao apontar que a maioria dessas narrativas haviam sido inventadas por pessoas que queriam simplesmente vender a estória para os jornais.
Nelson escreveu no inquérito que "a maioria dos testemunhos parece ter sido contaminado por relatos infundados e exageros por parte de pessoas que querem ter, de alguma forma, participação nos fatos".
Curiosamente o sargento Nelson não se preocupou em entrevistar Joe Labelle ou a família Laurent que havia visto estranhas luzes. Nelson sequer se deslocou para a área do Lago Anjikuni, todas conclusões de seu inquérito foram baseadas no testemunho de outros policiais e do dono de bar que desqualificava o caçador. Alguns colegas de Nelson afirmavam que desde o início ele parecia mais preocupado em contradizer as testemunhas do que apurar os fatos.
O inquérito assinado pelo Sargento Nelson se encerrava da seguinte forma:
"O caso do desaparecimento dos habitantes da vila inuit é sustentado apenas pelo testemunho dúbio de um negociante de peles dado a arroubos imaginativos. O mais provável é que os habitantes tenham abandonado a região em busca de outra localidade mais aprazível e que impusesse menores provações a sua permanência".
Na opinião da maioria das pessoas que estudou o caso, o inquérito do Sargento J. Nelson parecia incompleto e objetivava somente dar um encerramento rápido ao acontecimento.
Em novembro de 1976, a Revista Fate, especializada em mistérios, conduziu uma ampla investigação entitulada: "Revisitando o Vilarejo Desaparecido". O artigo escrito por Dwight Whalens apresentava pela primeira vez declarações e os relatórios oficiais, liberados pela primeira vez dos arquivos da Polícia Montada.
Os policiais admitiam ter encontrado o vilarejo deserto e acreditavam à princípio que os inuit haviam simplesmente abandonado o assentamento. Investigações posteriores mostraram que os policiais ficaram surpresos ao encontrar objetos pessoais e itens que de fato não poderiam ter sido deixados pelo grupo, mesmo que eles tivessem abandonado o local em caráter temporário. Em mais de um relatório, os policiais aviltavam que o campo parecia ter sido esvaziado às pressas em conformidade com o testemunho de Joe Labelle. O episódio envolvendo os cães enterrados e o cemitério escavado eram sustentados pelos relatórios oficiais, mas tais fatos não chegaram a ser sequer incluídos na peça final redigida pelo Sargento J. Nelson.
Um dos policiais escreveu: "É inexplicável. O cemitério foi examinado e constatamos que havia sido escavado e várias sepulturas se encontravam abertas. Nenhum dos policiais presentes foi capaz de determinar a razão para essa profanação que incluiu a remoção dos cadáveres antigos e recentes".
Teóricos de Conspirações é claro, afirmam que as investigações realizadas posteriormente por Nelson visavam unicamente abafar o caso e fazer com que a imprensa e o público perdessem o interesse no ocorrido. Verdade seja dita, o resultado do inquérito foi diretamente divulgado para a imprensa pela própria Polícia Montada -- conduta bem pouco comum naquela época.
Muito bem, então 30 pessoas simplesmente sumiram, o que poderia ter acontecido com elas?
Sem dúvida, esse é o ponto nevrálgico do mistério. O desaparecimento chocante dessas pessoas permanece um enigma que desafia qualquer conclusão.
É difícil imaginar que tipo de força seria capaz de compelir um grupo de pessoas -- famílias inteiras -- a deixar a segurança de suas casas sem as mínimas ferramentas, comida ou meios necessários para preservar sua integridade diante de um clima inclemente. O fato de não haver sinais evidentes de luta, indica que a partida pode ter sido voluntária, o que adiciona mais um elemento enigmático.
Se os Inuit de Anjikuni foram mortos ou feitos reféns então deveria haver alguma pista que apontasse nessa direção. Os relatórios oficiais da polícia atestavam que não foram encontrados rastros nas cercanias do vilarejo. Em 1930, a Polícia Montada era treinada pelos próprios nativos em técnicas avançadas de rastreamento na tundra. Se houvesse algo, quanto mais um rastro deixado por 30 pessoas, algo teria de ser localizado. Um dos policiais escreveu à respeito de rastros: "Nenhuma pegada foi encontrada nos arredores imediatos. A neve estava sedimentada há pelo menos alguns dias. Não fui capaz de precisar a rota usada pelos moradores de Anjikuni para deixar o povoado".
Diante da ausência de uma explicação lógica, é necessário pensar fora da proverbial caixa. Há várias teorias sobre o que poderia ter acontecido, sendo que as mais frequentes incluem: abdução alienígena, o ataque de criaturas sobrenaturais do folclore inuit, um surto de febre da cabana e finalmente um Time Slip.
A teoria mais forte, a da Abdução Alienígena, é reforçada por vários fatores entre os quais as alegadas luzes brilhantes nos céus noturnos e os objetos cilíndricos vistos pela família Laurent. Embora tenham surgido muitas outras testemunhas que alegavam ter visto estranhas formas sobrevoando o Lago Anjikuni, não se sabe ao certo se estas alegações resultaram de testemunhos incentivados pela imprensa. Há de se lembrar que a "febre dos discos voadores" ainda não havia se difundido nos anos 30 e que relatos sobre luzes misteriosas não eram tão frequentes.
Se alienígenas foram responsáveis pelo ataque, o que eles desejavam? Ufólogos sempre apontaram o desaparecimento dos inuit de Anjikuni como um caso clássico envolvendo o fenômeno OVNI. Para alguns o sequestro ocorrido em uma comunidade isolada visava a obtenção de espécimes para a realização de experiências biológicas.
Outros se voltam para o sobrenatural como força responsável pela tragédia. O folclore esquimó é rico em estórias envolvendo maldições e espíritos da floresta. O Wendigo, uma besta feroz que devora suas vítimas é apenas uma das criaturas que habitaria a tundra canadense. Há várias outras criaturas mitológicas que poderiam ter atacado o povoado, desde fantasmas desencarnados, os Tornrark, passando por monstros marinhos, até duendes com a cabeça de caribou.
De fato, o Lago Anjikuni sempre foi evitado pelas tribos inuit. Não há reservas nos seus arredores e para muitos desses povos, as terras eram proibidas. O povo de Anjikuni havia rompido com muitas de suas tradições e ocupado as margens do Lago há pelo menos meio quarto de século.
A febre da cabana é um fenômeno reconhecido. Ele ocorre quando uma pessoa vivendo em total isolamento, começa a desenvolver um cresente perfil paranóico que descamba para a sociopatia. É algo raro, mas não inteiramente impossível que tal coisa aconteça em uma comunidade tão isolada. Por outro lado, os povos inuit sempre viveram em asssentamentos rústicos nos limites da civilização e casos de febre da cabana envolvendo esses povos são raríssimos. Além disso, tal situação limítrofe importaria em evidências claras de violência no local.
O Time Slip, é um fenômeno paranormal no qual "janelas e portas" supostamente se abrem para outras épocas, afetando a realidade objetiva. A teoria é controversa e sua natureza não é aceita pela ciência convensional e tratada apenas à luz da parapsicologia.
Através de um Time Slip seria possível ver acontecimentos do passado e segundo alguns interagir com figuras de outra época. Os indivíduos que defendem essa teoria afirmam que um Time Slip poderia ter se formado e atraído os habitantes do vilarejo que acabaram presos em outro contínuo do tempo.
Após 70 anos é provável que jamais venhamos a saber o que de fato aconteceu às pessoas que viviam no entorno do Lago Anjikuni. À despeito das explicações oferecidas e teorias aventadas, este mistério tem tudo para continuar fascinando aqueles que se dedicam a tentar explicar o que parece simplesmente inexplicável.