segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Oráculo de Cthulhu - Algumas previsões para 2013 baseado no Mythos

2012 chegando ao fim...

O MUNDO TENTACULAR deseja a todos os leitores e frequentadores do Blog um Feliz Ano Novo com muita felicidade, sucesso e realizações.

Enquanto os Outer Gods e Great Old Ones fazem as suas contas de como foi o ano, nós nos preparamos para 2013 esperando tê-los conosco.


"Eu deixarei alguns humanos para quando Cthulhu despertar

- Ah Nyarlathotep, esse fanfarrão sempre se divertindo às custas da humanidade.

Inspirado por outros tantos blogs que fazem previsões para o ano seguinte, que tal colocar aqui algumas previsões baseadas no Mythos para 2013?

Vamos a elas:

JANEIRO

- A Seita do Portal Dourado realiza no Sul da Califórnia um ritual cujo objetivo é abrir um portal para uma outra dimensão onde eles irão se juntar ao seu "Deus". Após o fracasso, o líder da Seita conduz os fiéis de volta a uma propriedade privada que serve como Templo do Culto. Denúncias de que ele estaria impedindo a saída de membros insatisfeitos acaba envolvendo o FBI que realiza um cerco. Os agentes são recebidos à tiro pelos membros da seita fortemente armados. O Cerco ao Templo dura 20 dias e termina com o suicídio coletivo de 450 pessoas.

FEVEREIRO

- Uma Escola de Samba no Carnaval do Rio de Janeiro, apresenta o Enredo: "A Incrível jornada do Rei Amarelo pelas Terras do Sonhar em busca da Antiga Kadath" e fecha o desfile apresentando o críptico Símbolo Amarelo no alto de um carro alegórico. O Caos se espalha e o sambódromo se transforma em uma praça de guerra. As forças armadas são convocadas para conter os distúrbios que continuam fora de controle semanas depois.

MARÇO

- O Assassino em série apelidado pelos jornais e tablóides de "Observador Noturno" continua à solta em Londres fazendo vítimas. Em meados de março é encontrado o décimo terceiro cadáver. Segundo rumores, o maníaco remove a glândula pineal de suas vítimas o que leva a polícia a acreditar que se trata de alguém com conhecimento médico/anatômico. A Scotland Yard se mostra incapaz de capturar o maníaco que prossegue em seu sangrento trabalho. Desde o notório Jack, o estripador, Londres não vivia situação semelhante e a população se entrega ao medo.

ABRIL

- Renomado cientista e prêmio nobel de física afirma que Large Hadron Collider (LHC) construído na Suiça pode realmente representar um perigo para a humanidade. "Estamos mexendo com forças que não estamos prontos para enfrentar" diz ele. Nas semanas seguintes, ele abandona suas pesquisas e cria um culto messiânico apocalíptico que prega o fim dos tempos "quando as estrelas estiverem certas" ou quando "Yog-Sothoth for invocado pela ação do acelerador de partículas". A comunidade científica ridiculariza as teorias do cientista.

MAIO

- A Banda "Discípulos do Caos Rastejante" começa sua carreira de sucesso conquistando público e crítica. A turnê, "Haunter in Dark 2013" viaja por 12 países e 4 continentes com shows lotados. A revista Rolling Stones lança artigo afirmando que "O Metal Apocalíptico" chegou para ficar.

JUNHO

- Autoridades no estado americano da Geórgia negam rumores alarmantes a respeito de uma praga que estaria transformando a população de várias cidades em zumbis. Estradas são fechadas para várias dessas cidades,  o toque de recolher é decretado e a Guarda Nacional realiza uma quarentena em toda área. Em meados de 20 de junho uma parcela da população de Atlanta é evacuada seguindo diretrizes da Organização Mundial de Saúde e do Centro de Controle de Doenças. A Administração Federal afirma que a medida visa controlar um foco de epidemia da gripe H1N1. Uma equipe de televisão consegue se infiltrar clandestinamente e realiza filmagens na capital que mostram multidões de indivíduos maltrapilhos andando sem destino pelas ruas devastadas da cidade. A filmagem é considerada um golpe de publicidade e a rede de televisão responsável processada.

JULHO

- As ruínas da legendária cidade perdida de Irem são finalmente descobertas por uma equipe norte-americana de prospecção de petróleo no deserto da Arábia Saudita. Estudos preliminares de arqueólogos indicam que a cidadela é muito mais antiga do que se poderia imaginar. Antes de concluir seus trabalhos de escavação, a equipe é evacuada e as ruínas são destruídas por uma tempestade de areia.

AGOSTO

- Um estranho fenômeno atinge o Rio Ganges na India. A água assume uma coloração vermelha-escura como sangue e se torna venenoso para o consumo. Cientistas se mostram surpresos com o fenômeno e desconfiam da existência de uma super bactéria ou da ação de um agente capaz de devastar o equilíbrio ambiental. Ao mesmo tempo, grupos religiosos afirmam que o acontecimento marca o início de uma nova era de caos e destruição. Nos submundos de Bangalore, há rumores que o Culto de Kali está se re-organizando.  

SETEMBRO

- Navio cargueiro Pantang desaparece misteriosamente no Pacífico. Até o final do mês seis outras embarcações somem na mesma região sem deixar vestígios. Em 25 de setembro o navio tanque Kei- Lung é encontrado encalhado na Costa da Ilha de Madagascar, a tripulação desapareceu e há sinais de luta à bordo. Rumores da existência de um sobrevivente são negados. Os boatos afirmam que o sobrevivente consegue repetir uma única palavra: "Dagon". Autoridades consideram os rumores absurdos.

OUTUBRO

- Cientistas russos descobrem curiosos fósseis na Antártida que indicam a existência de animais até então desconhecidos durante o período pré-histórico no continente gelado. Em meados de outubro, a equipe envia uma série de informações surpreendentes a respeito da descoberta de vários outros fósseis encontrados próximos a uma cadeira montanhosa. Perto do fim do mês, a expedição deixa de enviar notícias e teme-se pelo pior. Uma equipe de resgate chega a base avançada no início de dezembro, mas não encontra sobreviventes. As autoridades afirmam que os membros da expedição morreram durante uma repentina tempestade.

NOVEMBRO

- Em Chicago, no fim de semana de estréia do filme "O Chamado das Profundezas" levemente inspirado pelo conto "The Call of Cthulhu" de H.P. Lovecraft, um atirador entra em um cinema lotado e faz 26 vítimas. Ele é capturado por seguranças. Durante o julgamento ele afirma estar agindo influenciado pelas vozes do Sonhador nas Profundezas em sua mente. Ele conclama outros que assim como ele são capazes de captar as emanações psíquicas do Sonhador para fazer a sua parte. Uma epidemia de assassinatos semelhantes atinge várias cidades do mundo - cinemas, estádios de esportes e teatros fecham as portas. 

DEZEMBRO
   
- Um tremor submarino com epicentro nas coordenadas 47°9'S 126°43'W atinge o Pacífico Sul. O maremoto resultante forma um imenso tsunami que atinge a costa do Chile, Peru, Equador, América Central, México, Nova Zelândia, Austrália e Indonésia. Os danos são incalculáveis e o número de vítimas atinge a casa das centenas de milhares. Cientistas divergem a respeito do que provocou o fenômeno no leito oceânico, alguns afirmam que o sismo deslocou uma enorme massa de terra que irá emergir antes do final do ano.

Mais uma vez, Feliz ano novo!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Cinema Tentacular: Citadel - "Eles podem ver o seu Medo"


Esses dias, eu vinha voltando para casa depois de anoitecer e precisava atravessar uma avenida movimentada para pegar o ônibus do outro lado. A única maneira de cruzar em segurança as três pistas era descer dois lances de escada e entrar em um túnel que passava por baixo da rua.

Desci as escadas e olhei para dentro do túnel que estava em obras. A passagem estreita permitia apenas uma pessoa de cada vez, desviando de cavaletes, tábuas de compensado e uma calçada esburacada. O túnel era iluminado, mas exatamente na metade havia uma luz branca que teimava em piscar. O farol dos carros passando em velocidade surgiam nas frestas do teto e o som das rodas no asfalto soava abafado como no interior de uma caverna. Não havia ninguém no túnel, de fato, parecia que ninguém passava por ali fazia tempo. Uma mistura de garranchos grafitados com spray cobria os ladrilhos azulados do chão ao teto. Um deles me chamou a atenção, juro por deus que li, "O bicho vai te pegar!", e depois li corretamente "O bicho vai pegar!".

Com um sorriso amarelo comecei a atravessar o túnel, quando nesse exato momento apareceu na outra extremidade uma senhora puxando um carrinho de feira. Atrás dela vinham umas três crianças vestindo casaco com capuz sobre a cabeça. Elas estavam correndo na direção dela. Nada de mais, certo?

Errado!

Eu tinha acabado de assistir o filme Citadel na noite anterior e as imagens do filme estavam bem frescas na minha mente. Frescas o bastante para causar aquela sensação incômoda de "por que diabos eu decidi passar por aqui"?


Citadel é um filme irlandês recém lançado, em meados de Novembro de 2012. É claro, sendo uma produção independente, dificilmente vai ser lançado por aqui nos cinemas ou estar disponível para locação ou Streaming. Uma pena, pois sem recorrer a torturas mirabolantes, celebridades sendo retalhadas, baldes de sangue ou sustos baratos, ele consegue ser bastante assustador. É um daqueles filmes de horror que fica na sua cabeça por algum tempo e que provavelmente vai continuar na sua cabeça sempre que você tiver que passar por uma situação como essa que eu descrevi aí em cima.

Deixa eu falar um pouco sobre o filme sem revelar spoilers:

Citadel começa no dia em que o casal Tommy (Aneurin Barnard) e Joanne (Amy Shields) estão terminando de fazer a mudança de seu apartamento em um prédio soturno de Glasgow, na Escócia. Quando Tommy fica preso no elevador, ele assiste impotente sua esposa, grávida de oito meses, ser cercada por um grupo de crianças encapuzadas que começam a agredi-la sem motivo aparente. Quando finalmente ele consegue sair do elevador descobre a mulher ferida com golpes de martelo e uma seringa espetada em sua barriga. O ataque deixa Joanne em coma e faz com que ela tenha o bebê antes da hora.

Tommy começa a sofrer de um severo quadro de agoraphobia (medo de espaços abertos). Ele passa seus dias (e noites) trancado em um apartamento deserto, cuidando da filha recém nascida. Quando tem que sair precisa superar seu temor mortal do mundo exterior. Sua rotina envolve empurrar o carrinho de bebê até o hospital onde a mulher está hospitalizada e dali para um grupo de ajuda à vítimas de violência. Sem emprego, fragilizado e arrasado física e mentalmente as coisas parecem não poder piorar.


Eventualmente ele acaba percebendo que as estranhas crianças responsáveis pela sua tragédia continuam espreitando e que seu pesadelo está apenas começando. Ao que tudo indica, as tais crianças (se é que são realmente crianças), querem sua filha e estão dispostas a qualquer coisa para tê-la. Apavorado, Tommy se pergunta se não está imaginando essas coisas: se a sua mente agorafóbica não está criando esses horrores e se ele não estaria simplesmente enlouquecendo. Um perturbado padre irlandês (James Cosmo) parece ser a única pessoa que sabe quem são as bizarras crianças de capuz e o que elas querem. Ou será que ele também sofre dos mesmos delírios do rapaz?

Citadel é um filme incomum. A Glasgow onde ele se passa  é uma cidade estéril, impessoal e fria. Não há pessoas nas ruas, tudo está sempre deserto e quieto, mas não é uma quietude tranquila, longe disso. Quando Tommy tem que apanhar um ônibus, o veículo está sempre vazio. Ele não parece ter vizinhos no prédio onde mora ou amigos além das pessoas no grupo de ajuda. As casas são tristes e sombrias com as janelas sempre fechadas, os prédios baixos parecem torres medievais abandonadas, recortadas num horizonte sempre cinzento. É quase como se Tommy e seu bebê fossem as única pessoas vivas no mundo. Isso dá ao espectador uma sensação de isolamento a medida que as jornadas monótonas se tornam cada vez mais angustiantes.  


Outro elemento perturbador do filme é a maneira como a agoraphobia do personagem principal é mostrada. O ator parece se transformar depois da cena inicial, o pavor dele fica bem claro, estampado na sua expressão de pânico, na sua palidez e nas suas enormes olheiras. Não há exagero, as cenas em que ele precisa superar seu medo e sair de casa, são escruciantes. Por exemplo, quando ele pega o ônibus errado e acaba sendo deixado num lugar distante, sua viagem de volta é um tormento. As ruas parecem cada vez mais sufocantes e em cada esquina uma sombra sugere a presença de uma das malditas crianças de capuz. 

A razão pela qual as cenas em que o personagem sofre de agoraphobia são tão reais, acredito eu, se devem ao fato do diretor (e roterista) do filme ter sofrido exatamente dessa condição. Ciaran Foy, o diretor, escreveu Citadel como uma forma de exorcizar seus próprios demônios. Quando tinha 18 anos, ele foi atacado brutalmente por um bando de adolescentes de 14 anos que o agrediram com um martelo. Após a agressão gratuita - ele jamais descobriu porque foi vítima de tamanha violência, Foy, assim como o personagem de seu filme, passou a sofrer de desordem de ansiedade. 

Incapaz de sequer cruzar a porta de casa, levou anos para que ele conseguisse superar o medo que sentia do mundo. O horror que está expresso no filme é legítimo e as situações descritas fizeram parte de seu dia a dia. Isso por si só, torna o filme assustador.


Pessoalmente eu gostei muito de Citadel. As situações de claustrofobia literalmente transbordam da tela direto para o espectador, há um clima de expectativa, você sabe que algo está prestes a acontecer e que é inevitável assistir. O roteiro não explica no final das contas exatamente qual a origem do horror que atormenta os personagens principais, ele deixa em aberto para o público preencher as lacunas e tentar arranjar uma explicação para o que está sendo mostrado. Quando isso é feito de forma competente o efeito é muito bem feito e se torna duradouro na memória de quem assiste o filme.

O que me leva de volta a minha estória lá no início...

Felizmente, as crianças que vinham atrás da senhora empurrando o carrinho de feira, estavam com ela. Deviam ser os netos ou algo assim. Pelo menos foi o que eu pensei comigo mesmo depois de parar bruscamente na metade daquele túnel mal-iluminado ao vê-los aparecendo do outro lado. E quando eles passaram ao meu lado, não quis olhar para seus rostos para, digamos assim, não ter alguma surpresa desagradável.

Bons filmes de horror são aqueles que ficam com a gente depois que as luzes se acendem e que são lembrados na calada da noite... eles permanecem conosco como uma casca de ferida que você sabe que é melhor não coçar, mas que, por alguma razão - quando você menos espera, você já arrancou.

Trailer (legendado em espanhol):

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

The Unspeakable Oath - Resenha do número #20 da revista


Por Clayton Mamedes

Para quem não sabe ainda, a revista The Unspeakable Oath é uma competente publicação dedicada exclusivamente aos jogos de RPG baseados nos contos de H.P. Lovecraft e a outros assuntos relacionados ao Mythos. Neste ressurgimento, a revista apresenta uma periodicidade quadrimestral; assim em Julho de 2011 foi publicado o exemplar de número 20. Depois de muito tempo, consegui ler e sintetizar o seu conteúdo para esta resenha. Antes tarde do que nunca...

Essa edição começa com uma bela ilustração de Todd Shearer, que já havia realizado um bom trabalho com a edição de re-estréia, a #18. Escolha de cores e nível de detalhes adequados para uma cena bem violenta.

Como de praxe, a primeira seção é o editorial, chamado de The Dread Page of Azathoth. Estas breves palavras estão se tornando a minha parte favorita da revista, sempre apresentando opiniões interessantes. Desta vez a discussão gira em torno do combate em aventuras de Call of Cthulhu. São realmente necessários? Quais vantagens posso tirar deles?

Adam Gauntlet é o responsável pelo primeiro Tale of Terror desta edição. Em uma página são descritas 3 maneiras distintas de utilizar uma lista de nomes de pessoas encontradas nas ruínas da sede de um culto derrotado. Coisa bem simples e de utilidade duvidosa.

The Eye of Light & Darkness concentra uma das poucas críticas que faço a TUO. Apesar do conteúdo desta seção ser interessante e útil (resenhas sobre jogos e outros relacionadas ao Mythos), eu não entendo a razão pela qual esta seção é dividida ao meio: algumas resenhas são apresentadas nas páginas 6 e 7, continuando somente na 57, sendo que até mesmo a conclusão dos parágrafos é fracionada. Apesar desta mancada, este volume trás algumas obras conhecidas do público brasileiro, como Cthulhu Invictus, Watchers in the Sky, The Curse of Yellow Sign: Act I, e uma análise de uma coletânea de DVD do Marble Hornets (O Slender Man ataca novamente!). Acho interessante ler análises sobre obras que você já conhece; muitas vezes são abordados temas diferentes. Outro ponto de vista sempre é bem-vindo.

Jeffrey Moeller assina o primeiro cenário deste volume, feito para CoC nos dias atuais. Nas próximas 11 páginas temos uma idéia original e bem trabalhada (não entrarei em detalhes para evitar spoilers), que provavelmente surpreenderá os jogadores. Contudo, também existe o risco do Keeper ser pego com as calças arriadas, já que a trama é complexa e precisa ser lida e relida para ser entendida plenamente.

Mysterious Manuscript de Dan Harms ocupa apenas 2 páginas, mas é um dos pontos altos desta edição de TUO. Neste breve artigo é contada uma trama sobre corpos de jovens mulheres que aparecem vitimadas por golpes de facas. O fato curioso é que em suas coxas esquerdas existem runas esculpidas na carne, com profunda habilidade. Tais caracteres apresentam um intricado código criptográfico – The Monongahela Carver Cipher. Bem original, horripilante e útil.

O Arcane Artifact é chamado de Eye of Daoloth, que precisa ser armazenado em condições refrigeradas para não libertar o Mal que está aprisionado em seu interior. Nada muito inspirador, porém curioso. Seria interessante ver como os jogadores lidariam com o artefato em uma situação que o sistema de refrigeração falhasse...

As próximas 18 páginas são preenchidas por um detalhado estudo sobre a seita dos assassinos, cobrindo as suas origens, ligações com o islamismo, fatos históricos relevantes e, obviamente, a sua relação com o Mythos. Este tratado feito por David Hardy e Scott Glancy (com pontos semelhantes à história dos Assamitas do World of Darkness) é extremamente útil para o Keeper, seja para um cenário historicamente fiel, fantasia medieval ou envolvendo o Mythos de uma forma mais Pulp. Sem sombra de dúvida, este é o texto medalha de ouro deste volume de TUO.

James Haughton assina o segundo cenário desta edição, chamado Let’s learn Aklo! Nesta rápida trama para Delta Green, os investigadores se envolvem com um caso de múltiplas mortes envolvendo o aprendizado de um novo idioma. Aqui, as referências a obra The Courtyard de Alan Moore (!!) são evidentes, estando a mesma relacionada na bibliografia do cenário. Um cenário competente, com uma boa dose de investigação e uma revelação final interessante.

O próximo Arcane Artifact é feito também para Delta Green, desta vez escrito por Bret Kramer. Trata-se de uma caixa e armazenamento com um braço esquerdo dentro. Porém, um braço que tem vida própria, como nos filmes mais trash que você pode imaginar. Nem preciso falar mais nada...

Fechando o volume, temos Scott Glancy trazendo Delta Green: Directives from a Cell. Neste ensaio, Scott escreve sobre uma constante crítica de muitos usuários de DG: a falta de material exclusivo no mercado. Como solução, o autor considera o uso de elementos de outros jogos, justificando que o RPG é uma arte colaborativa e em eterna expansão. Assim, o Keeper não precisa ficar restrito ao universo de Lovecraft para encontrar o antagonista para a sua próxima mesa de DG. Um texto que trás algumas boas idéias.

Enfim, costumo relacionar o sucesso de alguma publicação de RPG com a quantidade de idéias para cenários que a mesma fornece durante a leitura. Este sempre foi o ponto forte da TUO e, pelo jeito sempre será. Apesar de este edição ser a menos inspiradora até o momento (considerando o período pós-hiato), ela ainda apresenta material de altíssima qualidade, como a idéia do Carver Cipher e o estudo sobre os assassinos. Materiais estes que podem facilmente ser encaixados nas mais diversas mesas de jogo. Os materiais para Delta Green obviamente vieram para saciar um pouco a sede do publico que clama por este tipo de jogo. Uma pena que esta ambientação não é a minha favorita – fato este que ajudou a diminuir a minha avaliação sobre mais este volume de TUO. Mas afinal, não é uma falha dos editores; eles precisam ter jogo de cintura para mesclar material que interesse aos diversos públicos do Mythos. E este objetivo foi alcançado novamente.

The Unspeakable Oath 20

por Shane Ivey, John S. Tynes e outros
Arc Dream Publishing – 66 páginas, capa colorida, U$ 9,99

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Mundo é Selvagem - Savage Worlds atinge todas as metas do Financiamento Coletivo


Olá pessoal,

Notícia sensacional para animar os mais pessimistas críticos do Mercado Brasileiro de RPG.

O Financiamento Coletivo iniciado pela Editora Retropunk para o lançamento nacional do sistema SAVAGE WORLDS  foi um sucesso retumbante.

A meta original de 13 mil reais foi batida facilmente, mas os números continuaram a subir cumprindo cada etapa e fechando cada recompensa, garantindo assim TODAS as recompensas estipuladas.  

Os números são extremamente animadores, o projeto de Financiamento Coletivo foi concluído com a expressiva marca de 454 apoiadores e 50.925 reais arrecadados. Os últimos quatro dias da corrida para chegar aos sonhados 50K, meta que garantiria os dois livros de Deadlands foram dignos de filme de suspense. Mas o fator Natal falou mais alto e muita gente deixou para a última hora - literalmente no apagar das luzes, para garantir a sua edição do Savage Worlds. Deve ter sido o Financiamento mais emocionante da história.

Para ser totalmente sincero, eu achei que não seria possível chegar aos 50 mil... faltando 4 dias a meta almejada estava 9 mil reais abaixo do número necessário. Achei que seria impossível atingir a quantia. Que bom que eu estava errado!

Esses números demonstram que o mercado de RPG no Brasil está vivo e que lançamentos corajosos e interessantes podem contar com o apoio de um público fiel.  

Parabéns a RETROPUNK pela decisão corajosa de trazer o Savage Worlds e por ter encarado de frente esse enorme desafio. A Retropunk dá uma mostra definitiva de que respeito com o público, transparência, profissionalismo e iniciativa são a chave para o sucesso. E o sucesso sempre favorece aos bravos! 

Parabéns a todos os APOIADORES do Projeto que compraram essa briga, que acreditaram na proposta original e que ajudaram a tornar tudo isso possível. O boca  a boca, as propagandas nas redes sociais, blogs e afins foram essenciais para espalhar a notícia.          

Parabéns aos JOGADORES brasileiros que terão uma excelente opção de sistema com inúmeras possibilidades narrativas. Tenho certeza de que nos próximos anos, Savage Worlds vai se tornar um dos sistemas mais jogados e que vai conquistar um lugar de destaque nas mesas e corações dos jogadores.

No link abaixo estão os números finais do projeto:

http://catarse.me/pt/SavageWorldsBrasil

Em breve teremos em nossas mãos:




Achou Interessante? Então leia isso:





terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Secret Shoggoth - Chegou o meu presente de amigo oculto do Mythos


Todo ano os leitores do Forum yogsothoth.com organizam uma espécie de amigo oculto no qual os interessados sorteiam colegas ao redor do mundo para trocar presentes de natal. Uma das regras é que os presentes oferecidos devem ter algum tipo de ligação com o universo criado por H.P. Lovecraft.

Esse ano, meu amigo oculto foi Donald Lowel da Austrália. Ele recebeu uma edição de Cthulhu Gaslight e mais um livro Abismo Infinito. Espero que ele goste do livro do John Bogea, pelo qual ele demonstrou interesse lendo (na verdade, vendo as fotos) que eu postei aqui no Blog. Eu expliquei a ele em um e-mail qual era a proposta do jogo e ele se mostrou muito interessado, inclusive disposto a aprender um pouco de português.

Espero que ele receba o pacote sem problemas lá em Sunbury (próximo de Melborne).

A boa notícia é que eu também recebi o meu presente de Secret Shoggoth mais cedo esse ano - normalmente ele só chega aqui depois do ano novo.

E foi um presente muito legal... embora eu não tenha como agradecer ao meu remetente já que ele colocou apenas as iniciais K.L no pacote. Tudo o que sei é que ele é americano e vive na cidade de Boulder, Colorado.

De qualquer forma, gostei muito do presente. 

As fotos dos livros que vieram no pacote estão abaixo:


A Campanha recém lançada "Terror from the Skies" da Chaosium e o livro de contos "The Horror Tales of Robert E. Howard" uma coletânea que inclui as estórias de Howard envolvendo o Mythos.


Eu sei bem pouco a respeito dessa campanha, ela foi lançada no início do mês e se desenvolve ao longo de nove cenários. "Uma corrida para salvar a humanidade de um futuro negro" - parece promissor.


Uma coisa que eu achei legal é que ele escreveu uma pequena dedicatória no verso da capa do livro:

"Chaos and Destruction are in the Gamemaster's hands. Choose your weapons wisely".

ou seja: "Caos e destruição estão ao alcance das mãos do Mestre do Jogo. Escolha suas armas sabiamente".

Putz... achei muito legal!


E esse livro não fica atrás. Robert E. Howard escreveu alguns contos de horror simplesmente apavorantes. Eu já tinha alguns dessa coleção em outros volumes, mas é a primeira vez que vejo todos reunidos.


Sem falar que a Editora Del Rey tem uns livros com acabamento maravilhoso. Ao folhear o livro descobri que ele tem algumas ilustrações em preto e branco sensacionais.


E essas imagens no alto de cada estória. Por falar no conteúdo, "The Black Stone" foi um dos primeiros contos sobre os Mythos que li. Na minha opinião esse conto de horror envolvendo história, feitiçaria e velhas maldições no leste europeu é um dos melhores escritos por Howard dentro do gênero horror.

Nos últimos anos eu tive sorte também:

2011 - Secret Shoggoth 2011

2010 - Secret Shoggoth 2010

sábado, 22 de dezembro de 2012

Este é o Fim do Mundo... ou não? - Algumas previsões sinistras do Fim dos Tempos


Bom o dia 21/12/2012 veio e se foi, e o mundo continua aí...

O tal do Calendário Maia furou. TOTAL FAIL! 

Pode sair de seu bunker, caro leitor.

Não teve noite substituindo o dia, dilúvio ou terremoto, não rolou o início de uma segunda Era do Gelo, o Sol não explodiu, um meteoro do tamanho do Texas não se chocou com a Terra, os polos magnéticos do planeta continuam no lugar, tsunamis não engoliram os continentes, zumbis não levantaram para comer o cérebro dos vivos, o Apocalipse não se concretizou e mais importante: R'Lyeh continua submersa e o Grande Cthulhu (esse dorminhoco!) permanece roncando.

É, não foi dessa vez... mas não desanime, logo, logo alguém vai descobrir alguma profecia biruta ou presságio sombrio garantindo que o mundo vai acabar e uma nova contagem regressiva vai se iniciar para  a humanidade. Se tem uma coisa certa é que desde que o mundo é mundo tem alguém prevendo que ele vai terminar.

De qualquer forma, os entusiastas do fim do mundo que acreditavam na veracidade do Calendário Maia não estão sozinhos. Ao longo da história MUITOS outros previram o Fim do Mundo.

Eu reuni uma coletânea de previsões absolutamente furadas do Fim do Mundo, mas que de alguma forma causaram comoção:

O Negro ano de 992


O estudioso e filósofo alemão, Bernardo da Turíngia baseou-se em uma série de cálculos matemáticos para prever que a legendária Serpente do Apocalipse iria se libertar no final de 992 e transformaria o mundo em um Inferno. Suas previsões se espalharam rapidamente pela Europa, da Inglaterra até a Grécia, passando pela França e pela Alemanha. A notícia bombástica talvez tenha sido levada em conta pelo fato de Bernardo ser amplamente respeitado.

Seja como for, a previsão fez com que inúmeras pessoas largassem tudo e peregrinassem para a Terra Santa, local que alguns acreditavam seria o único ponto seguro para sobreviver ao Apocalipse. Cronistas da época descrevem o movimento de peregrinos como "algo nunca visto antes". Quando eventualmente o ano terminou e o mundo não acabou, Bernardo abandonou tudo e se converteu em um eremita. Ele passou então a dizer que o mundo terminaria dentro de 32 anos. Algumas pessoas levaram em consideração essa previsão, mas a maioria nessa época não tinha muito com o que se preocupar já que a expectativa de vida não era lá muito grande. Quando os 32 anos se encerraram pouca gente lembrava da funesta previsão do eremita que já tinha morrido na obscuridade.

Seja como for, as previsões equivocadas de Bernardo de Turíngia, que incluíam cenas que pareciam chupadas de um filme de Godzila com direito a colossais monstros marinhos surgindo das profundezas, merecem destaque. Foi uma das primeiras previsões registradas a atingir um grande número de pessoas e causar comoção. 

31 de Dezembro de 999 - Histeria varre a Europa

Um dos Livros Apócrifos da Bíblia dizia claramente que o Juízo Final aconteceria mil anos após o nascimento de Jesus Cristo. O final do primeiro milênio seria marcado pelo Apocalipse e o retorno de Jesus para julgar os vivos e os mortos. Ao longo do ano houve casos documentados de histeria em massa, suicídios e pânico de que a destruição viria de forma dramática com direito a fogo e chamas, água e peste.

Reza a lenda que o pânico era tamanho, que a população de um país inteiro, a Islândia, teria se convertido ao cristianismo no decurso do ano temendo morrer como pagãos. Há relatos coletados pelos historiadores da época de pessoas distribuindo seus bens como forma de garantir um lugar no paraíso e de indivíduos se entregando a oração para expiar seus pecados. Novamente a Terra Santa era um dos destinos preferidos para aqueles que queriam estar seguros no momento do fim. Peregrinos marchavam pelas estradas, orando, gritando e se auto-flagelando.

Há relatos de que alguns povos ainda pagãos da Europa Oriental se assustaram de tal forma ao ver o movimento de pessoas se dirigindo para a Terra Santa que temeram se tratar de uma invasão. Cidades se fecharam para essa multidão e foram incendiadas pela massa histérica. Casas foram invadidas, colheitas devastadas e embarcações roubadas para que elas os levassem até Jerusalém, aparentemente valia tudo para chegar a Cidade Santa antes do fim.

Em Roma, o Papa Silvestre II presidiu uma missa solene realizada na noite de 31 de dezembro. Conta-se que as mãos do pontífice tremiam, suas vestes estavam encharcadas de suor e que ele não foi capaz de concluir a celebração, tamanho seu horror. Precisamente a meia-noite, os clérigos presentes começaram a chorar copiosamente, houve soluços e gritos de desespero entre os presentes. Vários caíram de joelhos, e permaneceram prostrados em silêncio aguardando o fim que viria a qualquer momento: deu uma, duas, quatro e nada... o sol nasceu e um novo dia começou como se nada tivesse acontecido. 

Para todos os efeitos, Deus parecia ter se apiedado dos homens e concedido a eles o direito de viver por mais algum tempo. Alguns não satisfeitos disseram que a previsão estava errada e que a data do fim dos tempos estava marcada para 1000 anos após a Morte e Ressurreição de Cristo, ou seja, a data fatal seria 1033.   

1 Fevereiro 1524 - O Grande Dilúvio


Essa previsão apocalíptica foi marcante sobretudo por ter se iniciado através com rumores espalhados por astrólogos. Vários planetas aparentemente estavam em conjunção com a Casa de Peixes, o que significava: água, muita água à caminho!

Em junho de 1523 um grupo de influentes astrólogos que viviam em Londres concluíram que a capital inglesa seria o marco zero de uma imensa enchente que engoliria não apenas a Inglaterra, mas todo o continente europeu. Não haveria terras intocadas pela fúria das águas que se ergueriam mais de 100 metros engolindo terras baixas e tragando a vida de todos em seu caminho. A data final foi prevista com exatidão: 1 de fevereiro de 1524.

O pânico se espalhou rapidamente, mais de 20 mil pessoas em Londres abandonaram as suas casas e se dirigiram para colinas e lugares elevados onde talvez estivessem protegidos do dilúvio. Em St. Bartholomey, o priorado organizou a construção de um fosso e murada para proteger o monastério da ferocidade da água. Nobres e ricos senhores de terras começaram a estocar alimentos para um longo período, em Leeds houve revoltas quando a população protestou contra leis que confiscavam a comida. Mas o temor não foi sentido apenas na Inglaterra. Na Alemanha, a histeria fez com que um êxodo ocorresse para áreas mais elevadas. Na França, um certo Conde Igglenhein ordenou a construção de uma grande embarcação, uma arca se preferirem, onde ele planejava enfrentar o dilúvio como um verdadeiro Noé. A construção da arca demandou meses de trabalho árduo empreendido por camponeses e pessoas contratadas especificamente para essa tarefa.

Em 1 de fevereiro, muita gente deve ter ficado desapontada quando não houve sequer uma chuvinha. Provavelmente, ninguém ficou mais chateado do que o Conde Iggenhein que foi apedrejado até a morte quando ficou óbvio que o mundo não iria terminar e que ele não tinha dinheiro para pagar a construção da sua arca.

Diante do que havia acontecido, os astrólogos se reuniram e descobriram que haviam cometido um erro de cálculo em sua previsão. O mundo terminaria da forma como eles haviam previsto, isso era certo (!!!), mas eles erraram por 100 anos. No mesmo dia em 1624 astrólogos ficaram desapontados por se encontrarem vivos e totalmente secos.

1666 - O Ano da Besta


A segunda metade do século XVII foi marcada por diversos fenômenos astronômicos impressionantes, incluindo dois eclipses solares completos, a passagem de importantes cometas riscando os céus e frequentes eclipses lunares. As pessoas que assistiam assombradas a esses fenômenos dominando os céus, ficavam naturalmente aflitas imaginando se aqueles eventos sinalizavam tempos ainda mais tenebrosos.

Havia a certeza de que o mundo caminhava em direção a uma catástrofe que poderia significar o Fim dos Tempos. A data mais propícia para isso, sem dúvida era o ano de 1666. A data por si só vinha acompanhada de desconfiança, afinal de contas o número 666 era conhecido como o "número da besta", aquele que identificava a presença do demônio ("yep, six, six, six... the number of the beast").

É claro, a Grande Peste que varreu a Europa em 1665 não ajudou a tranquilizar o panorama de nervos à flor da pele. Milhares de pessoas morriam de Peste Bubônica e os cadáveres se acumulavam nas ruas e campos. Cidades eram abandonadas às pressas quando sinais da doença se tornavam evidentes. Guerras haviam varrido nações inteiras e o flagelo da fome flutuava sobre as populações desmazeladas como um espectro sombrio. Não deve ter sido uma visão agradável e se há uma coisa que ajuda a criar o clima ideal para a crença no fim do mundo, essa coisa é a incerteza no futuro. Em 1666 as pessoas não tinham realmente certeza se iriam continuar vivas, parecia que forças demoníacas realmente estavam em ação. 

Boatos sobre o fim dos tempos se alastravam entre pregadores itinerantes em toda Europa Ocidental que carregavam notícias sobre maus augúrios afirmando que os sinais eram claros. Em Meinz, um homem chamado Joachin Clinger conduzia uma carroça abarrotada de gaiolas contendo ratos pretos. Ele dizia que aqueles ratos eram a prole de Satã e que os animais haviam saído do ventre de mulheres durante um eclipse lunar. Em Salamanca, outro pregador do apocalipse, Thiago de Ajueba, dizia que a única maneira de afastar o demônio era purificando as cidades da presença dos pecadores. Sua idéia de purificação incluía crucificar prostitutas e mulheres adúlteras nas amuradas da cidade. Até na distante Constantinopla, um ex-rabino, Sabbatai Zevi, afirmava ser ele próprio o novo messias judeu que salvaria seus seguidores do apocalipse que se aproximava.

Felizmente 1666 não foi o ano do Fim do Mundo, embora os habitantes de Londres pudessem contestar essa afirmação. Em setembro daquele ano a cidade ardeu em um Incêndio como jamais visto na história da Grã-Bretanha. Mais de 13 mil casas foram destruídas e algo em torno de 80 mil pessoas perderam as suas vidas. Quando o fogo chegou ao fim, quatro dias depois de ter se iniciado, tudo o que restava da cidade eram ruínas fumegantes e destruição. A data ficou conhecida como "O Grande Incêndio de Londres", mas para alguns foi o Fim do Mundo.  

1840 - O Apocalipse dos Milleritas 


William Miller talvez seja um dos mais famosos auto-proclamados Profetas do Apocalipse. Por volta de 1830, o ex-pastor batista norte-americano William Miller começou a pregar ardorosamente a Segunda Vinda de Jesus e consequentemente o Fim do Mundo. O Profeta baseava a sua previsão na Profecia de Daniel 8:14, na qual o mundo terminaria em meio a fogo e chamas purificadoras. À princípio, o pastor declinou de revelar a data exata do fim dos tempos, contudo seu rebanho implorou para que dissesse a data fatal, que segundo seus estudos ocorreria em algum momento do ano de 1844.

Talvez em função dessa profecia, o movimento millerita se transformou de um obscuro movimento regional que congregava poucas centenas de pessoas em uma campanha nacional de conversão que se espalhou velozmente pelos Estados Unidos. O movimento Millerita contava com importantes indivíduos no ramo gráfico e editorial, o que garantiu uma ampla divulgação de suas idéias na forma de livros, panfletos e cartazes alertando as pessoas dos tempos difíceis que estavam por vir. 

Em um espaço de tempo relativamente curto, os milleritas já contavam com mais de 100.000 seguidores. Entre os mais fiéis havia um pastor chamado Samuel S. Snow, que a partir de cálculos pessoais determinou que o Fim dos Tempos ocorreria precisamente em 22 de agosto de 1844. A notícia, que passou a ser conhecida como a "Mensagem do Sétimo Dia", abalou os seguidores e se espalhou entre seguidores e não seguidores de forma similar. A América passou a viver em tremenda expectativa a medida que a data se aproximava.

Finalmente o dia marcado para o Juízo final chegou e (surpresa!) nada aconteceu. Miller foi duramente criticado e o movimento perdeu inúmeros seguidores, muitos dos quais haviam vendido ou dado tudo o que tinham como ato de redenção antes do fim. Houve episódios de violência e depredação de templos milleritas, pastores tiveram de procurar abrigo diante de uma turba furiosa. A data ficou conhecida como "O Grande Desapontamento". Um número considerável de milleritas decepcionados com as falsas previsões, abandonaram de vez o culto e engrossaram as fileiras dos Quakers, enquanto um grupo formou a Igreja Adventista do Sétimo Dia.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Contagem Regressiva - O Importante é manter a calma e...

Caro leitor do Mundo Tentacular,

É provável que 21/12/2012 seja apenas um dia como outro qualquer.

Mas se algo "estranho" acontecer e se por acaso o amanhã não chegar, apenas lembre-se:



Boa sorte para todos nós.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Transformando a "Sem Expressão" em um horror do Mythos - estatísticas de Call e Rastro de Cthulhu


Eu estava ponderando sobre como inserir a Lenda Urbana conhecida como "Sem-Expressão" em um panorama lovecraftiano para ambientações de horror cósmico. Confesso que não é um horror tipicamente cthulhiano, mas isso não significa que a "Mulher sem-Expressão" não tem lugar no panteão de horrores do Mythos.

Minha melhor opção foi considerar a "Mulher sem-Expressão" como um avatar de Nyarlathotep.

Caos Rastejante possui inúmeras formas em seu repertório de "máscaras", sendo algumas delas femininas.

Um de seus avatares mais tenebrosos é justamente a Bloated Woman (Mulher Inchada). Um avatar costuma que aparece no folclore chinês e se apresenta como uma mulher absurdamente obesa com uma boca larga dotada de inúmeras fileiras de dentes afiados. Em alguns casos, a Bloated Woman traja um vestido de seda que esconde as suas formas e oculta e um leque que ela usa para disfarçar sua boca disforme.

Considerei a "Mulher sem-Expressão" como uma obscura manifestação de Nyarlathotep. O avatar seria uma entidade que representa a busca pela perfeição física e juventude eterna, uma forma sardônica que atormenta aqueles que se dedicam a cultuar as aparências e são obcecados pela aparência exterior. Nyarlathotep é uma das únicas entidades criadas por H.P. Lovecraft que interage com a humanidade... ao seu modo ele adora brincar com os seres humanos e fazer com que eles encarem horrores impronunciáveis.

Nesse contexto, "Eu sou Deus" não parece uma frase fora de lugar ou os devaneios de uma mente acometida pela loucura. "Eu sou Deus" não seria uma reticência vacilante, mas uma afirmação pessoal de sua real identidade.

Levando para esse lado do Mythos (que na minha opinião é o que cabe melhor no contexto) criei uma estória alternativa e as estatísticas de uma entidade chamada a "Dama sem-Expressão" para Call/Rastro.

A DAMA SEM-EXPRESSÃO, Avatar de Nyarlathotep

Ela era estranha. Na ausência de uma explicação coerente, é tudo que se podia dizer. Havia algo de perturbador e incomum naquela mulher, algo que ele podia sentir mas que só compreendeu quando vislumbrou a sua face. As feições eram perfeitas, o rosto moldado de uma boneca, impassível. Uma face ausente de emoção, calor ou sentimento. Ela parecia morta, mas os olhos então se moveram para observá-lo e um leve sorriso se desenhou nos seus lábios. E ele teve medo... mesmo sem saber o motivo.

Esse obscuro avatar de Nyarlathotep se manifesta como uma figura feminina de altura mediana, cabelos negros e pele pálida. A característica mais marcante, que confere o nome pelo qual o avatar é conhecido, é a ausência de uma expressão facial. O rosto se assemelha a uma máscara mortuária destituída de qualquer emoção, mas para todos os efeitos essa é sua face real. Embora não seja particularmente terrível de ser vista, a face é incrivelmente perturbadora transmitindo uma sensação de enorme desconforto.

CULTO: Esse obscuro avatar de Nyarlathotep raramente foi venerado ao longo da história humana sendo cortejado por indivíduos em busca de acordos. Seu propósito único parece ser plantar sementes de caos e loucura.

CARACTERÍSTICAS: Geralmente quando se manifesta nessa forma, Nyarlathotep surge para negociar pactos envolvendo aparência física, beleza e imortalidade. Suas barganhas prometem uma aparência física sem paralelo e juventude eterna em troca de favores e condições que em geral conduzem à loucura e desespero. Sacrifícios e a total devoção podem ser oferecidos como moeda de troca ao barganhar com a Dama sem-expressão.

Há rumores que personagens da história, reconhecidas por sua lendária beleza, de alguma forma negociaram com esse avatar. Helena de Tróia, Elizabeth Bathory, Ana Bolena entre outras, estariam entre aquelas que se envolveram com a Dama sem Expressão. Não raramente a busca vã pela beleza se converteu na ruína dessas e de outras mulheres. Supõe-se que na era de ouro de Hollywood, algumas divas da sétima arte recorreram a esse avatar para perpetuar sua imagem e se converter em lendas imortais. Algumas talvez tenham conseguido mais do que isso...

A Dama sem Expressão reluta em revelar seus poderes sobrenaturais a menos que seja pressionada a fazê-lo. De acordo com a vontade do avatar, ela é capaz de transfigurar seu rosto em uma máscara de indescritível horror capaz de levar seus observadores a loucura ou causar violentas reações emocionais (ver abaixo). Ela também pode fazer surgir horríveis presas afiadas em sua boca, que lhe permitem morder seus inimigos causando ferimentos grotescos.

Se fisicamente destruída, o corpo imediatamente sofre uma transformação monstruosa, alçando aos céus e desaparecendo logo em seguida.

TRANSFIGURAÇÃO FACIAL: O rosto da Dama sem-Expressão pode ser transfigurado em uma máscara absurda de horror, desespero e náusea. Quando o avatar opta por um desses aspectos, aqueles que a observam devem tentar um rolamento de POWER x2  para desviar os olhos e evitar um contato direto. Aqueles que conseguem o rolamento evitam qualquer efeito danoso. Em Rastro de Cthulhu, a habilidade Sentir Perigo com dificuldade cinco, evita o pior.

Indivíduos afetados pela transfiguração facial sofrem os efeitos de acordo com o aspecto escolhido:

Horror - A face se transfigura em uma máscara de horror indescritível. O choque é tamanho que ocasiona a perda imediata de 1/1d10 pontos de sanidade. Em Rastro de Cthulhu, o efeito é um teste de Estabilidade de 6 pontos.

Desespero - A face se transfigura em uma expressão totalmente desalentadora transbordando impotência e frustração. Qualquer um afetado por esse aspecto é incapaz de reagir e não consegue fazer nada além de chorar copiosamente.

Náusea - A face se transfigura em uma visão grotesca que causa ondas de náusea e vertigem. Indivíduos confrontados perdem o controle e vomitam sem parar, sendo incapazes de agir enquanto o efeito se mantém.

Em todos os aspectos, o efeito se mantém ativo por 2d6 rodadas.

Estatísticas para Call of Cthulhu

DAMA SEM EXPRESSÃO, Deusa Blasé.

STR 18 CON 40, SIZ 10, INT 86, POW 100, DEX 19

Damage Bonus: +1d4
Hit Points: 25

Ataques: Grapple (agarrar) 85%, dano: imobiliza para morder na próxima rodada. Alvo pode tentar STR vs STR na Tabela de Resistência.

Bite (Mordida), automática quando o alvo está imobilizado, dano 1d8, vítima perde ainda 1d4 pontos de APP.

Armor: Nenhum. Ao chegar a zero HP a Dama sem Expressão morre, muda de forma (sempre para alguma forma monstruosa, que ocasiona um novo teste de sanidade) e então voa para o espaço. Ela pode reformar sua forma posteriormente.

Magias: A Dama sem Expressão conhece todas as magias do Mythos.

Sanidade: 0/1d4 pontos ao ver a Dama sem Expressão. Perder pontos de APP em decorrência de um ataque da Dama sem Expressão ocasiona a perda de 2 pontos de sanidade por ponto.

Estatísticas para Rastro de Cthulhu

Embora deuses e entidades do Mythos em Rastro de Cthulhu não possuam estatísticas de jogo eu abri uma exceção nesse caso. Ainda que nessa concepção a Dama sem-Expressão seja um avatar de Nyarlathotep, e portanto uma entidade de poder incalculável, ela é também uma manifestação menor, uma forma que pode ser "enfrentada", sobretudo por indivíduos ignorantes de sua real natureza ou tolos o bastante para se opor a um deus.

Usei como base o fato de que o Caos Rastejante possui várias formas humanas que são até certo ponto suscetíveis a ferimentos físicos, ainda que sua destruição não importe em nada mais do que um revés temporário já que ele pode reformar seu corpo poucos instantes depois.

DAMA SEM-EXPRESSÃO

Habilidades: Atletismo 12, Briga 12, Vitalidade 10

Limiar de Acerto: 4

Modificador de Alerta: +1

Ataques: -1 (punhos), +0 (mordida)

Armadura: Nenhum, mas ao chegar a -12 de vitalidade, a dama se expressão se transforma em uma criatura monstruosa e voa para o espaço. Ela pode retomar a sua forma posteriormente.

Perda de Estabilidade: Não existe perda de Estabilidade meramente por ver a Dama sem-Expressão. Quando ela deixa clara sua natureza não humana, o custo é de +1.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Adaptando "Sem-Expressão" para Mundo das Trevas

Bom é claro que a estória contada dessa forma é interessante. Mas vamos tentar elaborar um pouco:

Primeiro os Fatos:

O Cedar Sinai fica em Los Angeles e é um dos centros hospitalares de referência da Califórnia com um atendimento considerado um dos melhores dos EUA. O serviço de transporte e remoção deles é feito por ambulâncias com equipes treinadas em primeiros socorros.

A fotografia no artigo anterior supostamente foi tirada enquanto a "mulher sem-expressão" recebia os primeiros socorros já no hospital, provavelmente depois dela ter sido limpa e trocada. Segundo o texto, ela tinha um gato morto em sua boca e a  camisola estava empapada de sangue. O fato do sangue ainda estar pingando denota que ela havia acabado de matar o animal.

Na foto, não é possível ver os dentes afiados que causaram tanto estrago na garganta do médico e que foram capazes de matar o animal.

Acho que o mais importante é tentar definir o que poderia ser a "Mulher sem-expressão"?

Em um primeiro momento a descrição dela, usando uma camisola branca manchada de sangue remete a um tipo de manifestação fantasmagórica, uma daquelas "mulheres de branco" da vida. Mas logo fica claro que a equipe médica teve contato físico com ela, afinal, a conduziram até o hospital e provavelmente realizaram exames de rotina. Isso desfaz qualquer ilusão quanto a se tratar de uma assombração.

 Então o que poderia ser?

Eu gosto da idéia de que a "Mulher sem-expressão" é o resultado de algum tipo de experiência genética bizarra conduzida por alguma companhia médico-farmacológica localizada nas imediações do próprio hospital. O fato dela estar usando uma camisola pode indicar justamente isso, já que essa é a roupa normalmente usada por pacientes em tratamento. Ela poderia ter alguma pulseira de identificação, mas não há menção a nada disso. Assim como não há menção a marcas de correntes, algemas ou cordas que a restringissem. Isso parece um roteiro perfeito para uma estória se passando no Mundo das Trevas ou quem sabe Esoterrorists.

Talvez ela seja vítima de algum sádico cirurgião plástico testando uma droga artificial bizarra que "congela" a expressão facial. O rosto é imortalizado para sempre, como uma máscara viva. As presas teriam sido inseridas com próteses cirúrgicas de porcelana, feitas a partir do molde de predadores, como tubarões ou crocodilos. Novamente, o Mundo das Trevas surge como boas opções para esse cenário, mas é algo que poderia aparecer tranquilamente em um cenário de Kult ou Esoterrorists.

Também é possível que a "mulher sem-expressão" seja um organismo artificial, uma espécie de manequim que adquiriu vida através de algum método científico bizarro ou feitiço sobrenatural profano que a animou como um ser vivo. A lenda do golem me vêm a mente nesse momento. Supondo que uma equipe médica realizou exames preliminares e não percebeu que ela era "diferente", há de se imaginar que esse método a transformou em algo bem próximo de uma pessoa de carne e osso.

Apesar disso, é impossível disfarçar sua natureza artificial e fica bem claro que há algo profundamente errado com a mulher sem expressão. Confusa e odiando sua existência ela sente que não é mais do que uma boneca viva. Uma boa premissa para "Prometheus, the Created" e cenários no Mundo das Trevas. 

Seja como for, ela teria escapado de seu confinamento, seja matando seus feitores ou aproveitando de alguma distração.

Faminta e vagando pelas ruas, consegue apanhar um filhote de gato. Enquanto o devora lentamente, alguém vê a cena e liga para 911 a fim de pedir ajuda. Uma ambulância que passava por perto a leva para o hospital sem saber se ela representa um perigo ou não. A equipe médica fica chocada, mas francamente, o pessoal do Pronto Socorro já viu muita coisa estranha então supõe que a mulher seja uma fugitiva de algum manicômio ou alguém com uma deformidade facial que passou por uma cirurgia fracassada resultando em uma face totalmente artificial.

Bom resta saber porque ela atacaria a equipe que tentava apenas ajudá-la... bem, se ela é uma vítima de uma experiência cirúrgica bizarra, a mera visão de injeções e agulhas nas mãos de homens e mulheres de jaleco, justificaria uma reação imediata. Sem entender o propósito do exame, ela tentaria se defender usando os meios ao seu alcance fazendo a equipe médica em pedaços. Quase como um animal selvagem, ela usaria as presas para dilacerar seus inimigos.

Agora, porque a frase "Eu sou Deus"?

Talvez as experiências a tenham deixado completamente insana e essa loucura se manifesta como uma enorme megalomania. Quem sabe, o fato dela ter poder para matar tão facilmente faz com que ela encare esse "poder" como uma faculdade quase divina. Quem sabe...

Estatísticas para O Mundo das Trevas:

Mulher sem-Expressão

Atributos Mentais: Inteligência 2, Raciocínio 3, Perseverança 4
Atributos Físicos: Força 3, Destreza 4, Vigor 4
Atributos Sociais: Presença 3, Manipulação 3, Autocontrole 2

Habilidades Físicas: Briga 4, Esportes 3, Sobrevivência 3
Habilidades Sociais: Astúcia 3, Intimidação 4

Vantagens: Esquiva [Briga], Reflexos Rápidos 2, Resistência Férrea 2, Segunda Chance.

Força de Vontade: 7

Iniciativa: 7
Defesa: 4
Deslocamento: 20
Tamanho: 6
Vitalidade: 10

Presas Afiadas - Os dentes da Mulher sem-expressão infligem dano letal, o teste de ataque é sujeito a um modificador de +1. É necessário que a Mulher sem-expressão consiga agarrar o alvo para então realizar a mordida.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sem Expressão - Uma lenda Urbana bizarra e apavorante

Extraído do blog Miltonious

Essa estória tem circulado pela internet e apareceu em vários Blogs dedicados a horror e Redes Sociais. Eu fiquei sabendo dela através de uma postagem na comunidade do Mundo Tentacular no Facebook e decidi fazer uma pesquisa a respeito dela.

Mas antes, que tal repetir a estória novamente? É curioso que a versão mais comum em português omite um detalhe que está na versão em inglês. Supondo que o texto tenha surgido em idioma inglês, imagino que o original seja este, portanto fiz uma nova tradução e traduzi o título como "Sem Expressão", ao invés de "A Expressão".

SEM EXPRESSÃO


Em junho de 1972, uma mulher deu entrada no Hospital Cedar Senai, vestindo nada mais que uma camisola branca coberta de sangue. Por si só, isso não deveria ser surpreendente já que muitas vezes as pessoas têm acidentes nas proximidades e vão para o hospital para receber atendimento médico. Mas havia duas coisas naquela mulher que fizeram com que as pessoas que a vissem sofressem de náuseas e terror.

A primeira é que ela não era exatamente "humana". Ela parecia algo próximo a um manequim, mas possuía a destreza e fluidez de um ser humano normal. Seu rosto, era perfeito como uma boneca, mas desprovido de sobrancelhas e coberto de algo como maquiagem. Mas não era por isso que ela fazia as pessoas vomitarem ou correrem.

Ela tinha o que parecia ser os restos de um filhote de gato em sua boca, a mandíbula estava tão firmemente fechada em torno dele, a ponto de não ser capaz ver seus dentes. O sangue ainda vertia do animal empapando a camisola e escorrendo pelo chão. Finalmente ela puxou a coisa para fora da boca, jogou-o de lado e desmaiou.  
bizarra e
A partir do momento em que ela atravessou a entrada, ela foi levada para um quarto do hospital e limpa antes de ser preparada para a sedação, ela estava completamente calma, inexpressiva e imóvel. Os médicos acharam melhor contê-la e esperar até que as autoridades chegassem e ela não protestou em momento algum. Eles não foram capazes de obter qualquer reação dela e a maioria da equipe se sentia desconfortável de olhar diretamente para ela por mais de alguns segundos.

Mas no momento que a equipe tentou sedá-la, ela lutou com força extrema. Dois membros da equipe tentaram segurá-la, a medida que ela se erguia da cama com aquela mesma expressão imutável.

Ela virou os olhos sem emoção para o médico do sexo masculino e fez algo incomum. Ela sorriu.
Quando o fez, uma médica gritou e ficou completamente em choque. Na boca da mulher não haviam dentes humanos, mas longas presas com pontas afiadas. Muito longos para a sua boca fechar completamente sem causar nenhum dano...

O médico olhou para ela por um momento antes de perguntar "Que diabos é você?"

Ela girou o pescoço na altura do ombro do médico para observá-lo, ainda sorrindo.

Houve uma longa pausa, a segurança foi alertada e era possível ouvi-los vindo pelo corredor.

Mas antes de algo poder ser feito, ela saltou para a frente, afundando os dentes na garganta do medico, rasgando a sua jugular e deixando-o cair no chão, lutando para respirar e medida que engasgava no próprio sangue.

Ela levantou e se inclinou sobre ele, o rosto perigosamente próximo enquanto a vida se esvaía diante de seus olhos.

Ela se aproximou e sussurrou em seu ouvido.

"Eu... sou... Deus..."

Os olhos cheios de medo do médico a observaram aguardar calmamente a chegada da segurança. Ela iria acabar com cada um deles um por um.

A médica que sobreviveu ao incidente deu a ela o nome de "A sem expressão".

Ela não foi vista desde então.

*   *   *

A seguir, vamos desenvolver essa lenda urbana...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Na Trilha do Diabo - Estranhas pegadas aterrorizam a Inglaterra Victoriana


Na manhã do dia 16 de fevereiro de 1855, os moradores de Londres leram no jornal The Times a seguinte notícia:

O Diabo andando em Devon

"Uma grande comoção foi causada nas cidades de Topsham, Lympstone, Exmouth, Teignmouth e Dawlish, ao sul de Devon, por causa da descoberta de um vasto número de pegadas estranhas e misteriosas. Os supersticiosos chegam ao ponto de crer que são as pegadas de Satã em pessoa; e o grande temor causado nas pessoas de todas as classes pode ser julgado pelo fato do assunto ter chegado aos púlpitos locais.


Parece que na noite de quinta-feira houve uma forte nevasca na região de Exeter e no sul de Devon. Na manhã seguinte os habitantes dessa região foram surpreendidos pela descoberta de rastros de um animal estranho e misterioso, imbuído da capacidade de onipresença, já que as pegadas foram encontradas em muitos lugares inacessíveis – no telhado de casas, no alto de muros muito estreitos, em jardins e praças cercados por paredes e muros altos ou cercas fechadas assim como em campo aberto. Era raro um jardim em Lympstone onde as pegadas não estivessem presentes.

A julgar pelas trilhas, elas teriam sido causadas mais provavelmente por um animal bípede e não quadrúpede e o espaçamento entre os passos era de aproximadamente 20 centímetros. As impressões das pegadas se assemelhavam muito às das ferraduras de um jumento e mediam de 6 a 10 centímetros de uma ponta a outra. Aqui e ali elas tomavam a aparência de cascos fendidos, mas na sua maioria a forma de ferradura era constante e, pela neve acumulada no centro, apenas mostrando os contornos exteriores, as pegadas eram côncavas.


A criatura parece ter se aproximado das portas de inúmeras casas e então ter se afastado, mas ninguém foi capaz de descobrir os pontos de partida ou chegada do visitante misterioso. No último domingo o reverendo Mr. Musgrave citou o ocorrido em um de seus sermões e sugeriu a possibilidade das pegadas terem sido causadas por um canguru; mas isso dificilmente seria o caso, já que foram encontradas de ambos os lados do estuário de Exeter.

Até o momento o acontecido permanece um mistério e muitas pessoas supersticiosas que habitam as cidades já citadas estão realmente com medo de sair de suas casas depois que escurece".

Essa matéria foi o ponto de partida para uma enorme confusão que varreu a região ao sul da Grã-Bretanha. O medo se espalhou rapidamente a medida que rumores sobre a estranha figura de aparência demoníaca se multiplicava entre a população.

A notícia era assustadora: Satã estava andando de casa em casa e pelas estradas que ligavam os povoados entre Devon e Exeter.

É claro, o rumor fez com que as pessoas ficassem alarmadas. Há relatos de famílias se trancando dentro de casa para rezar e pedir proteção, de crianças sendo proibidas de sair e de homens portando armas de fogo para auto-defesa contra a presença demoníaca. No povoado de Topsham pequenas medalhas, supostamente abençoadas, começaram a ser vendidas uma vez que se acreditava serem elas capazes de fazer com que o demônio recuasse. Símbolos de proteção antigos, as Sheelas, foram fixadas na soleira das portas a fim de afastar os maus espíritos. Em Teignmouth diziam que o leite recém tirado das vacas azedava poucos minutos após a ordenha, que pássaros despencavam mortos dos céus e que um bezerro de duas cabeças nasceu, chorou como uma mulher e morreu no espaço de poucos minutos. 

Em vários povoados o medo era tamanho que chegou-se a cogitar que o fim do mundo estava prestes a chegar e que a presença demoníaca era o prelúdio de coisas muito piores que estavam por vir. Um dos maiores temores é que a criatura poderia raptar crianças inocentes, como evidencia a imagem no alto desse artigo.

Mais inquietante ainda foram os relatos que começaram a se multiplicar dando conta do avistamento de uma furtiva figura demoníaca, com chifres, rabo e patas de bode. Em Dawlish, um grupo de moradores disse ter avistado a criatura demoníaca "que corria rapidamente, às vezes de quatro, às vezes como um homem" em uma estrada próxima ao cemitério local. O ser demoníaco teria passado por um grupo de cidadãos respeitáveis, saltando e gargalhando e só não os atacou porque começaram estes a rezar e pedir proteção divina. 

Três homens do vilarejo perseguiram a criatura e armados com espingardas chegaram a atirar contra ela. Os homens contaram ter sentido um profundo cheiro de enxofre e que pouco depois de retornarem, ouviram um profundo balido fantasmagórico vindo das charnecas mal-iluminadas que margeavam o vilarejo. "Como se a coisa quisesse provar que estava viva", comentou uma testemunha desconsolada.

A essa altura, a estória havia ganhado o país e as pessoas se perguntavam se o Demônio apareceria em seus quintais.

Para alguns aquilo significava que alguém na casa estava condenado a morrer e ir para o inferno, para outros era a certeza de que o demônio tinha algum tipo de pacto com alguém que residia na propriedade visitada. Essa desconfiança fez com que um pastor do povoado de Exmouth perdesse o emprego e fosse expulso depois que várias marcas foram encontradas no pátio da igreja.

Para conter a histeria, o Reverendo H. T. Ellacombe, um respeitado religioso de Clyste St. George começou a investigar o fenômeno em busca de pistas que pudessem comprovar o que para ele, não passava de uma bem elaborada fraude.


O vigário visitou Devon na semana seguinte e fez paradas nos povoados afligidos. Ele consultou os párocos locais que relatavam estórias muito similares, entrevistou testemunhas que haviam visto os rastros, mediu as pegadas ainda frescas, a distância entre elas e chegou a encomendar a feitura de rastros em gesso. Os resultados das investigações de Ellacombe preenchem um relatório de mais de 500 páginas que foi submetido a Diocese de Devon - e que foi citado anos depois pelo investigador do paranormal Charles Fort como uma das primeiras investigações sobrenaturais criteriosas, que corresponde ao capítulo XXVIII de seu "Livro dos Danados".

Os principais fatos reunidos pelo religioso foram posteriormente publicados pela revista Illustrated London News, no dia 3 de abril de 1855

Não há como supor que o acontecimento tenha sido planejado ou orquestrado por moradores que testemunharam a descoberta dos supostos rastros satânicos uma vez que um número realmente grande de pessoas se mostravam positivamente surpresas com o fenômeno. O Pastor concluiu após alguns cálculos que havia algo entre 60 e 110 quilômetros de rastros. 

As pegadas segundo a medição de Ellacombe mediam cada uma cerca de 10 centímetros de comprimento, por 7 centímetros de largura e estavam regularmente separadas por intervalos de 20 a 22 centímetros e pareciam rastros de um tipo de pata fendida de animal.

Ellacombe ressaltou alguns pontos que na sua concepção mereciam destaque:

1- Se as pegadas foram deixadas por um animal terrestre qualquer (incluindo aqui os pássaros), o elemento mais difícil de explicar é a sua colocação fantástica: "O misterioso visitante passou de modo geral apenas uma vez em cada local e o fez em quase todas as casas de numerosas partes das diferentes cidades, assim como em fazendas isoladas. Essa pista regular, percorre em certos casos áreas de difícil acesso como os telhados das casas ou por sobre os palheiros, ou pelo alto de muros muito altos (um com cerca de 4 metros e meio de altura), sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e sem modificar as distâncias entre as pegadas. Os jardins cercados de sebes altas ou de muros e com portas fechadas foram visitados, assim como aqueles que não tinha obstáculos nem eram fechados. Muitos donos dessas propriedades juraram que haviam trancado portas que conduziam aos seus pátios internos eque encontraram os mesmos devidamente trancados e sem sinal de terem sido arrombados ou abertos.

O Pastor Ellacombe afirmou ter seguido um mesmo rastro através de um campo até um palheiro. A superfície deste palheiro estava intocada sem apresentar qualquer marca mas, do lado oposto, numa direção correspondente exatamente à pista traçada até aquele ponto, as pegadas recomeçavam.


2- O mesmo fato foi observado de um lado e de outro de um muro. Dois outros habitantes seguiram uma linha de pegadas durante três horas e meia, passando sob um bosque de groselheiras e de árvores frutíferas em renques; perdendo em seguida o rastro e reencontrando-o sobre o teto de casas nas quais sua busca havia começado.

3- Mais impressionante ainda, o pastor afirmou que as pegadas pareciam atravessar um estuário de quase 3 quilômetros de largura, desaparecendo em uma margem e ressurgindo na margem oposta de forma absolutamente visível, indicando que seja o que for que tenha deixado as marcas entrou em um lado do estuário e ressurgiu do outro sem interromper sua marcha. Não há dados que corroborem a informação de que o estuário estaria congelado na ocasião o que possibilitaria a travessia. De qualquer forma, as marcas deixadas nas margens pareciam indicar que a criatura entrava nas águas gélidas até que ela apagasse suas trilhas.

4- O pastor afirmava que "De nada serve atribuir a mais de um animal estes rastros, porque isto não explica como, qualquer que seja o animal e, qualquer que seja seu número, seja ele capaz de escalar muros, andar sobre telhados e obstáculos sem reconhecer impedimentos físicos; e, também, ter capacidade de passar por pequenas vielas de 30 cm de largura. É igualmente digno de nota que os rastros não pareciam voltar para trás e nem circular aleatoriamente. Um animal, seja qual for, deveria apresentar hesitação, vacilando em alguns pontos mesmo que fosse conduzido. Ademais, ninguém entrevistado nos vilarejos declarou ter visto alguém conduzindo um animal com cascos por esse caminho. A noite em que os rastros surgiram foi quase congelante, marcada por neve contínua.

5- Muitas pessoas que se interessaram pelo caso propuseram como solução para o mistério residia em algum fenômeno natural da atmosfera incidindo sobre as marcas – que seriam rastros não tão fantásticos que, devido ao clima, teriam mudado e ficado com aquela aparência. Mas como seria possível que a atmosfera afetasse uma marca e não outras? Na manhã em que os rastros foram observados, a neve apresentava pegadas frescas de cães e gatos, coelhos, pássaros e homens, nitidamente definidas. Por que então um rastro ainda mais nitidamente definido – tão nitidamente que a fenda do meio de cada casco podia ser discernida – somente ele, teria sido afetado pela atmosfera e todas as outras marcas deixadas não o foram?

Ademais, a circunstância mais singular levantada a esse respeito era a de, onde quer que aparecesse essa marca, a neve não estava completamente revolta, como se o que quer que tivesse deixado a pegada a tivesse produzido com incrível delicadeza.

Diante dessas conclusões, incluídas em seu minucioso inquérito, o Reverendo Ellscombe foi convocado para prestar um depoimento diante da Diocese de Devon. Ele afirmou ter realizado a investigação de forma imparcial e quando pedido para explicar o que havia acontecido naquela fria noite de fevereiro simplesmente não foi capaz de oferecer uma explicação racional. A Igreja Anglicana tampouco ofereceu uma explicação para o ocorrido. Sua posição foi a de refutar qualquer manifestação sobrenatural e tentar tranquilizar a população dentro do possível.

Então, o que andou pelas estradas de Devon naquela noite?

Teria sido uma brincadeira de gosto duvidoso? Uma fraude da qual participaram os moradores de vários povoados? E se isso é verdade, com qual propósito? Uma brincadeira dessa natureza faria sentido ou justificaria o trabalho de tê-la organizado? Além disso, tal coisa demandaria um enorme planejamento e comprometimento de um grande número de envolvidos.

Então algo sobrenatural teria deixado os rastros? Hoje, é impossível saber ao certo o que aconteceu. Passados quase 150 anos, é pouco provável que um dia venhamos a descobrir. Mas os documentos e a investigação da época comprovam o inusitado teor bizarro desse acontecimento.