Parques de Diversão são lugares de alegria e diversão, onde famílias inteiras podem se reunir e aproveitar de sua companhia. E embora isso possa ser verdade na maioria das vezes, também é certo que esses lugares podem ser absolutamente sinistros, sobretudo quando os parques são abandonados.
Há uma certa aura de pavor, algo quase palpável envolvendo parques de diversão abandonados. Talvez seja a contradição entre a felicidade que eles conjuravam, com rostos sorridentes e a algazarra de crianças, contrastando com o silêncio sepulcral, o vazio e as estruturas de metal, semelhante a esqueletos de grandes bestas, enferrujando lentamente, expostos aos elementos.
Talvez seja nossa aversão natural a lugares esquecidos e deixados para apodrecer. Ou talvez haja algo mais, algo ainda mais esquisito e difícil de colocar em palavras. Algo que nos faz ter arrepios, que causa desconforto e impinge nas pessoas mais sensíveis um sentimento opressivo.
No Estado da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, existe um Parque de Diversões marcado por uma passado trágico e por estórias tão brutais de azar e morte que tais elementos macabros se fundem para criar um lugar verdadeiramente perturbador de se visitar. Isso e a aparência grosseira do lugar, com mato dominando o maquinário conferindo aos restos carcomidos uma aparência de completa ruína e decadência.
Algumas pessoas chamam esse lugar amaldiçoado de "O mais aterrorizante Parque de diversões do mundo" e não por acaso, ele é considerado um dos lugares mais assombrados da América. O Parque de Diversões de Shawnee Lake nos dá razões suficientes para continuar temendo esses lugares onde a alegria se foi a muito tempo.
Localizado no Condado de Mercer, na Virgínia Ocidental, apenas algumas milhas de distância da Universidade de Princeton, a área onde o Parque de Diversões do Lago Shawnee foi construído possui uma longa e sombria história. Acredita-se que a área era usada pelos nativos da Tribo Shawnee como cemitério.
Os Shawnee foram quase que completamente extintos pelos colonos brancos nas Guerras Indígenas do século XIX e sabe-se muito pouco a respeito de sua estória. Arqueólogos, no entanto, atestaram que aquela porção de terra, às margens de um lago sinuoso eram utilizadas para enterrar seus mortos. De fato, alguns sugerem que mais de 3000 ossadas humanas tenham sido removidas do solo lamacento quando as obras do parque se iniciaram.
Mas muito antes disso, o lugar testemunhou acontecimentos igualmente tenebrosos.
Em 1781, uma família de colonos brancos conhecida como os Clays, consistindo do pai Mitchel Clay, sua esposa Phoebe Belcher Clay, e suas três crianças, Bartley, Tabitha e Ezekiel se estabeleceram na área onde construíram uma fazenda bem em cima do cemitério. Os Shawnee obviamente ficaram furiosos com o que eles consideravam um sacrilégio para com seus antepassados. Os Clay eram os primeiros colonos a tentar se estabelecer tão longe e desde o início enfrentaram a resistência dos nativos.
A tribo, enfurecida pela profanação de sua terra, alertou repetidas vezes os Clay para que abandonassem o local, mas eles obstinadamente ignoraram os avisos. Em agosto de 1783, um bando de nativos decidiu dar um basta na situação, sobretudo porque havia planos de mais famílias se instalarem na área. Os guerreiros invadiram a propriedade na calada da noite, arrastaram os membros da família para fora e os assassinaram com golpes de machadinha e porretes. Phoebe e Mitchel foram amarrados numa cerca e escalpelados, antes porém, tiveram de testemunhar suas crianças, Bartley e Tabitha, serem empalados e morrerem lentamente. O filho mais velho Ezekiel havia desaparecido e os rastros indicavam que ele havia sido levado. O horror daquela noite sangrenta só foi descoberto semanas mais tarde quando um viajante encontrou os restos da fazenda ainda ardendo em chamas.
O sujeito correu para o assentamento mais próximo onde relatou a estória sem poupar detalhes do horrível incidente. Logo uma posse se formou para caçar os responsáveis por aquele massacre. O bando foi engrossado por voluntários e soldados da 45a Cavalaria que estavam lotados em um forte próximo e eram veteranos de Guerras contra os Sioux, tendo portanto "experiência com índios". Além da vingança, a grande preocupação era descobrir o paradeiro do jovem Ezekiel de 16 anos.
A retribuição dos colonos foi rápida e violenta. Fortemente armados, eles capturaram e persuadiram um nativo a revelar a localização da aldeia Shawnee - supostamente fixada na margem oposta ao cemitério. Eles rumaram para lá com uma sede de sangue incontrolável. Mesmo para os padrões da época a mortandade foi exagerada: em meio ao ataque, mulheres e crianças foram chacinadas, o mesmo acontecendo com velhos que foram perfilados e fuzilados.
Mas foi quando os homens encontraram indícios do que havia acontecido com o jovem Ezekiel que tudo passou a ser justificado em meio ao frenesi justiceiro. Os Shawnee tinham costumes severos e haviam sequestrado Ezekiel com um propósito horrendo. O xamã da tribo realizou um ritual no qual a pele das costas e peito do rapaz fora esfolada e usada para confeccionar um tambor, usado para apaziguar os maus espíritos. O clamor de sangue após essa descoberta dantesca só aumentou e resultou em mais barbárie.
Narrativas da época detalham como bebês Shawnee foram colocados em sacos de couro e atirados no lago para morrerem afogados. Como mulheres foram violentadas repetidas vezes e depois incendiadas vivas com alcatrão. E como o escalpo de todos os guerreiros foi removido com facas para se tornarem mórbidos troféus daquilo que passou a ser chamado corriqueiramente de Campanha Shawnee.
O Horrível Massacre lançou uma nuvem rubra e maligna sobre todo entorno do lago. Nas décadas seguintes, os colonos se recusavam a ocupar a área alegando que vozes abafadas, gritos e luzes espectrais costumavam se erguer dos barrancos lamacentos que terminaram por engolir os cadáveres insepultos e os restos da aldeia.
Mas o tempo passou, e embora a memória dos acontecimentos pérfidos daquele ano brutal ainda fossem lembrados, muitos detalhes foram se apagando.
Com o crescimento do Condado de Mercer, a região da fazenda Clay passou a atrair novamente o interesse de pessoas que almejavam ocupar as terras, a despeito de seu passado tumultuado. Foi lá que um empreendedor do ramo da diversão chamado Conley T. Snidow resolveu arrendar as terras em 1926. Não se sabe ao certo se Snidow tinha conhecimento do passado sangrento ou simplesmente não se importava, o fato é que ele acreditava que a área poderia ser o local perfeito para montar um Parque de Diversões. Desde a metade do século XIX muitas famílias de mineradores haviam sido atraídas pela pujante indústria de carvão que se estabeleceu na Virgínia. Todas essas pessoas precisavam de passatempo e diversão e Snidow farejou um mercado consumidor.
De início não parecia nada muito complicado em montar o parque. Alguns carrinhos, uma roda gigante e pequenos pedalinhos para deslizar pelo lago foram trazidos de New Jersey. Gradualmente o parque foi aumentando de tamanho com a adição de um salão de dança, piscinas e pequenas estruturas oferecendo jogos de azar e atrações circenses. O Parque foi um sucesso imediato e por algum tempo a aura de horror sobre o local pareceu desanuviar.
Nos anos 1950 as atrações incluíam carrinhos de bate-bate, uma pista de motocicletas infantis, passeios de pônei e até uma Montanha Russa. Ao que parecia, o Parque de Diversões ironicamente batizado com o nome Lago Shawnee era um lugar agradável para se passar o dia entre família e amigos. Mas a tragédia logo iria lançar uma sombra sobre toda diversão e brincadeiras, e proporcionar ao lugar um novo gosto de morte.
Foi em 1950 que ocorreu a primeira morte no Parque do Lago Shawnee. Uma menina de 9 anos foi atropelada por um caminhão de entregas que estava dando ré. Ele esmagou a criança enquanto ela estava brincando nos balanços. A morte foi trágica, mas nada que abalasse a frequência do público ou suscitasse medo. Então em 1966, outra morte, dessa vez de um garoto de 11 anos chamou a atenção da mídia. O menino se afogou no lago do parque depois de ser arrastado pelo sistema de escoamento - até hoje, alguns afirmam que ele teria sido assassinado e lançado no lago. A criança foi considerada desaparecida por semanas até que mergulhadores localizaram o corpo jazendo num atoleiro.
Embora essas tenham sido as mortes mais famosas ocorridas no parque, há rumores que muitas outras tenham acontecido, como um inexplicável acidente no qual um homem caiu (ou se atirou) da Roda Gigante e outros seis incidentes (alguns segundo relatos fatais) envolvendo brinquedos com a manutenção falha. Teria havido ainda um trágico acidente na montanha russa, mas uma vez que não há registros concretos do ocorrido, não há como dizer ao certo se ele de fato ocorreu.
Em 1967, após o incidente com o garoto afogado, o Parque do Lago Shawnee foi fechado. O dono do empreendimento foi acusado de desfalques e envolvido num escândalo de prostituição infantil. Ele declarou falência e sem dinheiro, a área foi toda abandonada caindo em desuso.
O Parque ficaria abandonado por décadas, a ferrugem corroendo os restos dos brinquedos cercados pela vegetação até 1985, quando um homem chamado Gaylord White conseguiu comprar as terras almejando reabrir o parque. Entretanto, talvez por conta da história de mortes ocorridas e pelo passado, o empreendimento foi um terrível fracasso. Ele se manteve aberto por apenas três anos até fechar novamente após um acidente na Montanha Russa que por milagre não terminou em tragédia.
A essa altura, estórias de fantasmas já haviam se espalhado atraindo a atenção de curiosos. Presenças incorpóreas, espíritos de índios e o som de gritos eram frequentemente ouvidos e vistos por aqueles corajosos (ou tolos) a ponto de visitar o local à noite.
O Parque foi transformado em um Pesque e Pague em 1989, mas este também fracassou, sobretudo porque havia um rumor persistente de que cadáveres foram encontrados boiando no lago. Em 1993, ossadas vieram à tona num barranco e arqueólogos chamados para verificar se eles pertenciam a nativos Shawnee julgaram impossível determinar sua origem. Alguns afirmavam que eles eram mais recentes, talvez do início do século XX. A quem pertenciam aquelas ossadas, ninguém até hoje sabe.
Considerando seu passado assustador, os arredores do Parque Lago Shawnee parece perfeito para estórias sobre fantasmas e assombrações. Alguns dos fenômenos mais comuns associados com o parque abandonado envolvem uma misteriosa sensação de estar sendo observado ou seguido, súbitos ataques de pânico e a sensação de mãos incorpóreas agarrando e empurrando. Há também testemunhos de objetos se movendo, sombras ameaçadoras espreitando e pontos que repentinamente se tornam frios. Isso além, é claro, de balanços que se movem a despeito de não haver vento, estalos e ranger de máquinas e peças caindo. Há muitas descrições de ruídos inexplicáveis no parque, desde risadas de crianças, a choros de bebês e brados furiosos no que muitos alegam ser palavras no dialeto Shawnee. Alguns já citaram ainda ver um espírito de um guerreiro nativo-americano vagando pelo parque com a parte de trás da cabeça arrebentada por um disparo de rifle. Esse suposto Guerreiro Shawnee teria corrido atrás de mais de uma pessoa criando o rumor de que o fantasma pertenceria a um chefe tribal. Fotos tiradas no Parque supostamente provam a presença de vultos e globos de luz inexplicáveis se erguendo do lago ou dos atoleiros próximos.
Gravações feitas por parapsicólogos garantiram ao Parque do Lago Shawnee muito de sua reputação como assombrado. Uma gravação feita em 1987 é possível ouvir um som arrepiante de objetos batendo e de gritos em um idioma desconhecido. Em outra gravação de 1992 é possível ouvir várias vezes a palavra "Não" sendo sussurrada, seguindo de gemidos e de um forte estrondo, causado por um banco da roda gigante que naquela noite caiu. Uma terceira gravação obtida por um programa de "caçadores de fantasmas" em 1998 registrou o que parece ser uma voz infantil repetindo as palavras "Eu quero balançar" e "Eu estou balançando" enquanto os balanços se moviam sem parar.
A área dos balanços aliás é considerada a mais assombrada do parque. Visitantes relatam ter visto os balanços enferrujados de ferro rangendo e e se movendo sozinhos. Aqueles que sentam nos balanços também sentem um estranho frio. Há rumores do avistamento de uma menina sentada nesses balanços sempre triste e chorando. Algumas testemunhas identificaram o fantasma como a criança que morreu na década de 1950.
A reputação pelo inexplicável, bem como a atmosfera assustadora reinante transformou o Parque de Lago Shawnee em uma atração para caçadores de sustos e alegados parapsicólogos. O parque foi foco de vários programas de TV a respeito do sobrenatural, incluindo o "Scariests Places on Earth" da ABC, o "Ghost Lab" do Discovery Channel e "The Most Terrifying Places in America" do Travel Channel. Ele também possui um episódio especial no "Lugares mais Assombrados" da National Geographic.
Durante uma filmagem em 2005 do programa "Scariest Places", a equipe se recusou a entrar no parque depois de ouvir sons estranhos à noite e o bater de um tambor. Um dos médiuns do programa supostamente teve um ataque de pânico que resultou em sua hospitalização. Na mesma noite, uma estrutura de ferro pertencente a Montanha Russa desabou no exato local onde a equipe de filmagem planejava colocar seu equipamento de mixagem. É claro, todos esses acontecimentos serviram para manter aceso o interesse e curiosidade macabra sobre o Parque.
Embora a área esteja aberta a visitação pública e exista um camping próximo, há placas avisando aos visitantes para tomar cuidado e não explorar o local à noite devido ao perigo de acidentes. Não obstante os avisos, desde 2000, as autoridades de Mercer reportaram pelo menos 15 acidentes nos arredores do Parque, sendo dois destes fatais.
Recentemente, indivíduos tem tentado obter lucro com a reputação do Parque oferecendo visitas guiadas para visitantes. Entre 25 e 31 de outubro uma festa chamada Dark Carnival, apresentando visitas e até uma Casa Assombrada que é montada nos arredores do Parque abandonado. Visitantes desse tour podem explorar os arredores, desde que se comprometam a ficar na companhia dos guias. Desde que as visitas se iniciaram, não houve nenhum incidente grave, embora algumas pessoas insistam que sentem tremores, mãos espectrais e áreas gélidas.
Se lugares abandonados são naturalmente assustadores, então parques de diversão devem ser ainda mais arrepiantes. Se existe alguma assombração responsável por acidentes que marcaram a história do Parque do Lago Shawnee nós jamais saberemos, mas com certeza esse lugar traduz uma sensação esmagadora de desamparo, desolação e pavor. Seria esse sentimento de medo e a tendência a ver fantasmas em lugares semelhantes apenas a força de nossa imaginação aflorando? Ou tais lugares realmente parecem transbordar com energia negativa represada pelas suas muitas tragédias?
Talvez, a melhor maneira de descobrir a verdade seja dar uma volta pelo Parque abandonado após o cair da noite e esperar que algo aconteça...
Se você tiver coragem.
* * *
Só um pequeno adendo:
Esses casos sempre são mais bacanas quando a gente tem um testemunho particular para contribuir com o texto.
E nesse caso eu tenho um.
Quando eu era criança, acho que devia ter uns 9 ou 10 anos de idade, fiz uma viagem com meus pais e ficamos na casa de uns parentes em Santa Catarina. Eles tinham uma casa de praia no litoral sul e todos fomos para lá naquele ano. Lembro que perto havia um terreno baldio com os restos de um parque de diversões abandonado, um daqueles bem fuleiros que costumam ser montados nas férias, principalmente em cidades do interior.
Meus tios contaram que o parque havia sido montado dois anos antes e que não foi desmontado pelo responsáveis, ficando abandonado daquele jeito. "Uma vergonha!". Nesse meio tempo, os brinquedos haviam enferrujado, havia enormes poças de água estagnada e mato crescendo para todo lado. Claro, disseram que não era para ir até lá, já que poderia ser perigoso.
Mas é óbvio que para quem cresceu nos anos 1980, dizer a uma criança que ela "não pode ir a um lugar", soava como um convite, quase uma obrigação. Meus primos, é claro, conheciam o parque e estavam acostumados a visitá-lo. Após muito insistir, naquela tarde demos um jeito de escapar e explorar as ruínas do Parquinho. Lembro até hoje que o nome dele era "Parque de Bombinhas", o nome estava em um letreiro quase apagado, sobre o portão de entrada que saltamos para entrar.
E realmente, o lugar era sinistro!
Sabe aquelas estruturas de ferro retorcido? Mato selvagem crescendo em todo canto? Piscinas de água barrenta? Lixo, ferragens e lembranças descartadas? Pois é... tinha tudo isso.
Havia um bate-bate com alguns carrinhos amassados num canto, um roda-roda tipo centopeia todo descascado e várias estruturas que deviam ter sido usadas para brinquedos desativados. Ah sim! Tinha um carrossel com os cavalinhos e carruagens mais medonhas que eu já vi na minha vida.
Mas pior do que a aparência de ruína e abandono, era o silêncio que reinava. Sabe quando o silêncio é completo e a gente torce para ouvir qualquer coisa para quebrar aquela sensação inquietante? E mesmo nós, crianças que éramos, ficamos sem ousar fazer brincadeiras típicas de nossa idade. Não parecia certo... simplesmente parecia inapropriado romper o silêncio daquela ruína onde risadas não eram mais bem vindas.
Fantasmagórico? Assombrado? Eu realmente não vi nada... mas se há certos lugares que não são bons para a imaginação, aquele parquinho mequetrefe apodrecendo ao sol, era um deles. O cenário ideal para um conto de Stephen King, que até então eu nem pensava em ler.
Nós fomos embora logo... estava perto do fim de tarde e ninguém queria ficar ali depois do anoitecer, ainda mais que lembranças de "Pague para Entrar, Reze para Sair" estavam frescas na nossa memória, graças às Sessões Corujão da época.
Eu ainda tenho que perguntar aos meus primos o que aconteceu com o Parque de Bombinhas e se ele ainda existe naquele terreno baldio, sendo comido pelo vento e maresia.
Não duvido nada que ainda esteja lá, desafiando crianças a rir em seu interior.