terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A Casa da Bruxa - Keziah Mason e o endereço mais macabro de Arkham


No final do século XVII, o Demônio deixou suas pegadas na Nova Inglaterra, ou assim muitos acreditavam.

A Caça às Bruxas estava em seu momento mais agudo. Inocentes eram acusados sem motivos, homens e mulheres eram capturados no meio da madrugada e levados para interrogatórios, alguns chegavam a ser submetidos a torturas nos porões das igrejas e casas de justiça. A histeria atingiu seu ápice quando um simples nome podia resultar em uma avalanche de delações. A febre que se instalou no Vilarejo puritano de Salem se espalhou com velocidade como uma epidemia de medo e zelo por toda Massachusetts. Crianças apontavam adultos, que apontavam vizinhos, que apontavam membros da família, que apontavam amigos... o ciclo vicioso ia se alimentando com a fofoca e rumores, aquilo parecia não ter fim.

Em meio a loucura, não é exagero afirmar que a maioria esmagadora dos acusados jamais teve qualquer ligação com feitiçaria ou magia negra. A maior parte dessas pessoas era absolutamente inocente, mas devido as circunstâncias aviltantes, aceitavam fazer o jogo dos acusadores. Afinal, aqueles que reconheciam sua alegada culpa e que entregavam outros nomes eram poupados da forca.

Mas e quanto aos verdadeiros culpados?

Entre os milhares de cidadãos inocentes que jamais professaram as artes negras ou malefícios blasfemos, haviam alguns poucos que de fato comungavam com as trevas. Eram realmente bruxas e feiticeiras perversas, que conheciam segredos ancestrais, se valiam de poderes aterrorizantes e de rituais profanos para obter poder. Mas ao contrário do que os caçadores de bruxas acreditavam, elas não serviam ao Demônio, mas a coisas muito mais tenebrosas que habitam os recessos do Tempo e Espaço. Nas noites sem lua, ou diante de fogueiras eles não imploravam pela intercessão de Satã, mas do Mythos de Cthulhu.

As primeiras cabalas de feiticeiras se fixaram na Nova Inglaterra quando os colonos pioneiros cruzaram o mar em busca de um Mundo Novo. Alguns destes bruxos já sabiam o que existia além do oceano salgado, pois seus mestres profanos os haviam enviado sonhos e presságios sobre o que achariam do outro lado do oceano. O conhecimento do Novo Mundo, e do que nele vivia, também estava escrito em alguns volumes proibidos. Eles sabiam que aquela não seria a Nova Canaã como sonhavam os puritanos, mas uma terra perigosa em que os seres do Mythos andavam livremente: furiosos e selvagens. Esse era um território a ser explorado e conquistado e no afã de obter mais poder, mais influência sob uma parte do mundo até então pouco conhecida, certos bruxos empreenderam a longa jornada.


Supõe-se que Keziah Mason tenha se misturado aos primeiros colonos que se fixaram na costa da Nova Inglaterra. Não há praticamente nenhum registros dela até a data de sua captura e de seu julgamento ocorrido na assombrada cidade de Arkham. Não se sabe qual era sua idade, de onde ela veio, como chegou ou por que decidiu vir para o Novo Mundo. Tudo que se sabe é que ela já era velha e gozava de notoriedade entre a boa gente da região que escolheu chamar de sua casa. Todos a temiam e preferiam deixá-la sozinha. A mulher sempre viveu solitária, sendo uma das primeiras a se fixar na região ribeirinha do Rio Miskatonic em uma choupana insalubre de pedra caiada e telhado de juta. Apesar de velha e de aparência frágil, seus vizinhos negavam-lhe qualquer ajuda, ainda que muitos se dissessem cristãos caridosos. A velha desde o início lhes inspirava desconfiança, e tal qual animais silvestres que se tornam tímidos perante uma fera, os aldeões preferiam ignorar a velha. Diziam que havia algo nela que inspirava suspeita, repulsa e certo grau de temor.

A Casa de Mason era evitada, seus vizinhos mais próximos - que construíram suas casas a um bom par de milhas de distância, costumavam contornar a propriedade mesmo que isso lhes custasse um longo desvio de seus objetivos. Tudo porque a casa inspirava maus agouros, ninguém queria passar pelo portão e avistar a velha corcunda em alguma de suas  atividades desconhecidas. Alguns que a espiavam de longe contavam que ela andava pela frente da sórdida habitação desgrenhada e mal cuidada, falando sozinha ou com companheiros invisíveis. Os poucos corajosos afirmavam tê-la visto rachando lenha, cuidando de galinhas ou perambulando pelos arredores. Eles a olhavam de soslaio e apertavam o passo para que a matrona não os percebesse.

Descreviam o barraco em termos relativos, ninguém tinha coragem de chegar perto. Diziam que a habitação era decadente e que precisava de reparos, e que uma velha não deveria suportar a vida em lugar tão ermo. Ninguém tomava para si a façanha de afirmar ter entrado no barraco torto, e se o fizesse ninguém acreditaria em tal feito. Ao longe, observadores mais ousados haviam visto pedaços de ossos, pedras coloridas e vidro pendurados em fitas de couro pendendo no alpendre em que a velha sentava-se numa cadeira de embalar. Quando o vento soprava esses objetos dançavam, e contava-se mesmo quando o ar parecia quieto e estagnado, essa estranha decoração se movia, como por conta própria. Da chaminé de pedra, por vezes, via-se uma fumaça preta se erguendo. Essa produzia frequentemente um fedor ocre que a maioria não conseguia descrever. O jardim em volta da casa era pura erva daninha, um matagal que crescia selvagem, mas que mesmo assim custava a abafar os cogumelos e urzes que brotavam aqui e ali. Havia um cheiro que se concentrava naquela campina, um odor nauseabundo de fruta podre e losna ribeirinha.


A velha em si era uma visão de pesadelo e aqueles que a viram ainda jovens se espantavam já adultos ao constatar que ela continuava a mesma: Era medonha e medonha continuava. Não obstante sua frágil constituição, demonstrava uma energia inesgotável, coisa que deixava os aldeões desconcertados. Certa vez um viajante que passava de longe disse tê-la visto no telhado da casa. Ele não tentou explicar como ela havia subido ou como desceria daquele lugar. Para todos efeitos, era pequena, ou ao menos parecia ter baixa estatura, visto que andava arquejada. Uma protuberante corcunda formava uma massa informe nas costas magras. Essa postura incomum a fazia inclinar-se para frente, quase a ponto do rosto tocar o chão. As pernas tortas e mal ajambradas sustentavam o que mais parecia um saco de pele e ossos sem substância.

Mason usava sempre o mesmo traje, fosse inverno ou verão, um camisolão preto remendado, comprido nas mangas e na bainha que tocava o chão. Seus pés e braços ficavam ocultos, deixando à vista apenas as mãos artríticas, com dedos fechados em forma de garra, segurando firme no cabo de
uma bengala nodosa de cedro. Andava com um gingado, se equilibrando feito uma árvore torta ao sabor de uma ventania.

Os poucos que a haviam visto de perto tinham a dúbia vantagem de descrever-lhe em maiores detalhes. Era uma anciã, nisso todos concordavam, mas ninguém era capaz de determinar sua idade. Tudo sugeria que ela devia ter visto muitos invernos e a hipótese de ser centenária era aceita pela maioria. Seus cabelos brancos como cal se estendiam além da cintura e pendiam desgrenhados em tranças compridas. A pele era amarelada da cor de papel envelhecido, marcada por manchas de senilidade e por outros sinais, em especial verrugas que pululavam aqui e ali. Na boca tinha apenas uma meia dúzia de dentes amarelados e seu queixo era incrivelmente pontudo. Os poucos que ouviram sua voz, a descreviam como um som raspante, as palavras entrecortadas por pensamentos altos verbalizados inadvertidamente e risadas guturais. Dada a falar sandices, Mason parecia ter longos diálogos com interlocutores imaginários. Os olhos de um azul pálido eram bem vivos, sempre alertas ao menor movimento.


Os mais supersticiosos diziam que a velha compartilhava sua casa com outros moradores estranhos. Mencionavam um homem de baixa moral, um conhecido ladrão que atendia pela alcunha de Brown Jenkin que teria residido no casebre decrépito por algum tempo. As pessoas de Arkham sugeriam que ele fosse um sobrinho distante, mas as más línguas diziam até que Jenkin era um foragido que aceitara se emancebar com a velha em troca de refúgio. Os rumores prosseguiram por algum tempo até que sumiram junto com o próprio Jenkin que deixou de ser visto nas imediações da propriedade.

Mais ou menos nessa mesma época, alguns curiosos começaram a notar que Mason carregava em seus braços um animal de cor castanha, magro e de pelagem desgrenhada. O bicho, supostamente pelo tamanho um gato estava sempre aninhado em seus braços, com o rosto escondido nas dobras de seu manto remendado, como se temesse olhar os arredores. Ninguém jamais viu o animal de perto, mas supunham que velha e felino faziam companhia um ao outro.

Em 1692, o nome de Keziah Mason viria a tona no auge do terror das bruxas. Parecia natural ao bom povo de Arkham, que há tanto tempo nutria um temor pela anciã considerá-la com uma séria suspeita de praticar malefício. Não está registrado nos autos documentais da comarca em que circunstâncias o nome dela foi suscitado pela primeira vez, mas sabe-se que Keziah Mason foi buscada por três doutores da lei que reuniram forças para empreender uma visita a ela, depois de várias queixas serem feitas. Os homens retornaram transtornados. Não chegaram a entrar na casa torta, tendo a velha os recebido do lado de fora. Apesar disso, diziam que havia indícios para supor que a anciã era o que muitos temiam, e pior... um dos homens, que atendia pelo nome Turner chegou a sugerir ter visto um tipo de diabrete observando por traz da janela de vidro grosso da cabana. A coisa medonha, segundo ele tinha olhos perversos e brilhantes. A bruxa apenas gargalhou e desconversou dizendo que aquele era seu animal de estimação.

Os doutores acharam por bem voltar mais tarde, acompanhados de soldados armados com espada e mosquete. Reuniram os homens da milícia e quando convergiram para o local encontraram a velha como se estivesse lhes esperando no alpendre, sentada a se embalar na cadeira. Tinha um olhar desafiador e concordou imediatamente em acompanhá-los para um interrogatório na cadeia de Arkham. Pediu para que ninguém entrasse em sua cabana enquanto estivesse fora, mas quando os homens lhe comunicaram que essa passaria por uma revista ela não tentou dissuadi-los. Ao invés disso apenas falou algumas palavras sem sentido, como era de costume.


De início acharam que Keziah Mason era simplesmente insana. Tudo nela sugeria ser dada a desatinos e pouca concentração. Enervava aos que a questionavam que ela falasse sozinha e que olhasse para o vazio como se estivesse vendo alguma coisa que só ela era capaz de enxergar. No vilarejo, sua chegada foi um acontecimento. Curiosos pararam suas tarefas para ver de perto a temida anciã de quem tanto haviam ouvido falar. Não se impressionaram com a visão da velha atarracada e corcunda, sendo puxada pelo braço por um dos milicianos com a espada nua. Sentaram a velha diante de um Juiz e este procedeu em uma série de perguntas, avisando Keziah Mason formalmente que ela estava sendo acusada de bruxaria. Diferente da maioria dos acusados de crime tão pérfido, a velha se manteve serena e só abriu a boca para perguntar quem lhe havia imputado a acusação. O Juiz por sua vez informou que a identidade do delator seria resguardada e cortando direto as fases do inquérito perguntou à ela como se declarava.

Antes de se manifestar, entretanto, a reunião foi interrompida por um esbaforido rapaz da guarda que trazia notícias medonhas a respeito da revista que haviam procedido na cabana. O rapaz tremendo como vara verde contou que enquanto revistavam a tapera acharam coisas medonhas que não deveriam estar na posse de uma pessoa temente a Deus. No porão insalubre de terra batida, os homens se depararam com um caldeirão de ferro, uma série de beberagens de aspecto misterioso e uma medonha estatueta de uma coisa diabólica em formato de barril. Pior que isso, entretanto, foi descobrir que no chão de terra remexido estavam enterrados vários ossos de crianças.

A velha mesmo naquela instância, confrontada pelas sérias acusações, se mostrava absolutamente calma e serena. O juiz a intimou a confessar seus atos malignos e ela então, para surpresa geral, pôs-se a falar desatinadamente a respeito de seus maus versos e toda sorte de blasfêmia e profanidade. Confessou entre outras coisas que o Diabo havia lhe revelado o nome secreto de Nahab e a levado para lugares isolados onde realizou rituais em sua honra. Contou ainda ter encantado crianças, usado os infantes como sacrifício nos mais medonhos rituais para satisfazer a fome e a lascívia de demônios por ela invocados. Disse ainda que o Homem Negro era seu hóspede frequente, recebido com honrarias em sua morada, onde Deus não era bem vindo. O Homem Negro em troca de sua servidão havia lhe proporcionado visões maravilhosas que incluíam vislumbres do passado e futuro. Entregou também em suas mãos artefatos mágicos, o segredo para destilar poções de todo tipo e o conhecimento de magias que lhe permitiam viver indeterminadamente. Ensinou a ela também todo um rosário de pérfidas maldições, entre as quais a mais terrível de todas que ela confessou ter lançado sobre seu então inquilino, o desaparecido Brown Jenkin. Quando questionada a respeito disso, apenas riu e disse que ele a servia com a devoção de um bicho de estimação.

Em meio ao depoimento, iniciado quando o sol estava no alto e concluído quando a madrugada já ia longe, um dos notários desmaiou e outro doutor da lei, começou a gargalhar como um desvairado. O Juiz, mandou então que as anotações fossem destruídas. Em seguida proferiu a sentença sem que, na sua opinião, fosse necessário ser realizado um julgamento. Para amparar sua estranha decisão, o Juiz explicou que "as palavras da bruxa não deveriam ser ouvidas por mais ninguém".

Decidiram que Keziah Mason seria executada na forca e que seu corpo posteriormente seria queimado. Enquanto os preparativos eram realizados, a velha foi levada até a prisão localizada abaixo do prédio da guarda. Lá, três acusados que se encontravam à ferros imploraram para serem transferidos para outro lugar, tamanho o medo que sentiam de estar na presença da anciã. Em uma decisão inédita, o Juiz acatou o pedido e todos acusados foram movidos para outro local, deixando a masmorra exclusivamente para ser ocupada por Mason.


Os preparativos para a execução correram aceleradamente. Um patíbulo foi erguido nos arredores da vizinhança que hoje corresponde a French Hill. A estrutura de madeira foi erguida por carpinteiros locais que também providenciaram uma corda resistente que serviria de verdugo. Ocorre, contudo, que a execução jamais ocorreu.

Quando os carcereiros abriram a cela em que a velha estava trancafiada, encontraram o local vazio. Não havia nenhum sinal de Keziah Mason que desaparecera como por magia. Um dos carcereiros disse ter ouvido a velha ruminando sozinha a noite inteira, mas que ele não desejou se aproximar para ouvir claramente o que ela dizia. O único sinal de sua estadia, deixado pela velha nas paredes, foram vários desenhos misteriosos rabiscados com sangue e excremento. Os símbolos sinuosos pareciam letras de um estranho alfabeto e se confundiam com símbolos zodiacais e outras loucuras. Símbolos similares foram encontrados nas paredes da choupana e pareciam ser uma espécie de linguagem desconhecida que formava padrões em espirais terminando em ângulos retos.

Para alguns dos moradores de Arkham, o incidente foi uma demonstração aterrorizante do poder do demônio. Outros, entretanto, ficaram satisfeitos pela feiticeira ter sumido sem lançar sobre eles uma maldição. O terror de ter de cumprir a sentença e matar a bruxa atormentava os bons cidadãos de Arkham que imaginavam no que acarretaria essa ação temerária. O Juiz do caso foi chamado em Boston para explicar o ocorrido e diante de uma junta dos seus pares, relatou o ocorrido e depois simplesmente se resignou ao ser dispensado de suas prorrogativas.

Um novo Juiz foi designado para presidir em Arkham, o honorável Wallace Boyd chegou ao povoado decidido a cumprir uma das ordens diretas dadas pelos seus superiores: derrubar a sórdida tapera. A ordem, no entanto, jamais foi cumprida. O Juiz sofreu um ataque cardíaco fulminante e morreu enquanto inspecionava o local. Depois disso, os habitantes de Arkham se negaram a colocar a choupana abaixo. Possivelmente para evitar alguma maldição, a população fez um pedido para que ela fosse deixada de pé, supostamente para ser ocupada no futuro. O assunto foi deixado nas mãos do povo de Arkham e não foi mais abordado.

O casebre abandonado permaneceu fechado por décadas, considerado um dos lugares mais assombrados de Arkham, conhecida dali em diante como "A Casa da Bruxa". De Keziah Mason não se ouviu mais nada. A feiticeira sumiu sem deixar vestígios. Alguns supunham que ela ainda surgia de tempos em tempos na casa em que viveu por tanto tempo. Para amparar essas conjecturas diziam que fumaça se erguia da chaminé de pedra e que luzes esverdeadas brilhavam lá dentro. Ninguém ousava sondar a casa para saber ao certo.


Por muito tempo o local permaneceu intocado. Não foi visitado por ninguém até meados de 1830 quando a Cidade de Arkham começou a crescer na direção dos bancos do Miskatonic e da casa d emá fama. Construções simples foram surgindo ao redor da propriedade, ao Leste da Rua Pickman, que passou a ser o seu endereço oficial. As primeiras habitações foram erguidas por ex-escravos libertos que não tinham muita escolha a respeito de onde viver. Depois, quando estes foram embora, chegaram os imigrantes para se estabelecer na vizinhança decadente. A casa continuou vazia até que em 1880 alguém resolveu construir um anexo e transformá-la em um sobrado para aluguel. A propriedade foi então desmembrada, locada para os muitos estrangeiros alemães, polacos, espanhóis e ucranianos, que mal falavam o idioma local e que desconheciam também sua história.

Alguns desses moradores se queixavam com os senhorios; diziam que a casa era insalubre: velha, fria e decrépita. Aqueles que podiam se mudavam depois de algumas poucas semanas, os mais depauperados duravam mais. Para seus conterrâneos confidenciavam sonhos desagradáveis com uma velha de aspecto medonho e um animal castanho, igualmente hediondo que espreitava pelos cantos arranhando e guinchando atrás das paredes.

Na década de 1920, o decadente casarão, era compartilhado por várias famílias de imigrantes. Pouco depois, o jovem estudante de matemática Walter Gilman, um brilhante aluno da Universidade Miskatonic se estabeleceu na propriedade. Gilman alegava que a casa possuía uma arquitetura única e que em certos ângulos haviam glifos gravados que correspondiam a complexas fórmulas de hiper geometria. O estudante esperava realizar um levantamento da casa e de sua estranha geometria, contudo ele adoeceu e passou a ser acometido por crises nervosas. Gilman faleceu poucos meses depois em circunstâncias misteriosas, atormentado por alucinações que o levaram a loucura. Supõe-se que sonhos tenham ocasionado seu delicado quadro de instabilidade mental. Mas a bem da verdade, "se os sonhos trouxeram a febre ou se a febre trouxe os sonhos, Walter Gilman não sabia".

Após estes acontecimentos funestos, a casa foi esvaziada e o município exigiu seu fechamento em decorrência da alegada presença de enormes roedores. Em março de 1931 uma ventania danificou a Casa da Bruxa e fez parte de seu telhado desabar. Apesar dos protestos da Sociedade Histórica da cidade, a prefeitura decidiu enfim demolir a habitação centenária, o que aconteceu em meados de dezembro. Na ocasião, os operários teriam encontrado um acesso a uma parte antiga do porão utilizado por Keziah Mason. Em seu interior foram descobertos alguns itens chocantes doados a Universidade Miskatonic.

O ocultista Morgan Smith mais tarde arrendou a área em que a casa existia, esperando explorar energias psíquicas que, segundo ele, abundavam no local. O terreno está abandonado desde a década de 1960 e uma vez que a região onde a casa ficava se converteu em uma das menos valorizadas, ninguém mais tentou erguer algo ali.

Keziah Mason and the Witch House - Arkham's most terrifying address


At the end of the seventeenth century, the Devil left his hoofed footprints in New England, or so many believed.

The Witch Hunt was at its height. Innocents were accused without reason, men and women were caught in the middle of the night and taken to interrogations, and some were subjected to torture in the basements of churches and houses of justice. Hysteria reached its peak when a simple name could result in an avalanche of accusations. The fever that settled in the Puritan Village of Salem spread with speed like a plague of fear and zeal all over Massachusetts. Children pointed to adults, pointing to neighbors, pointing to family members, pointing to friends... A cycle fueled by rumors and gossip that seemed to have no end.

In the midst of madness, it is no exaggeration to say that the overwhelming majority of the accused never had any connection with witchcraft or black magic. Most of these people were absolutely innocent, but because of the degrading circumstances, they agreed to play the game of the accusers. After all, those who acknowledged his alleged guilt and who gave away other names were spared from the gallows.

But what about the guilty ones?

Among the accused citizens who had never professed the blasphemous black arts or evil deeds, there were a few who actually communed with the darkness. They were wicked witches and warlocks, who knew ancestral secrets, used terrifying powers and profane rituals to gain power. But contrary to what the witch hunters believed, they did not serve the Devil, but rather the darker things that inhabit the recesses of Time and Space. On moonless nights, or in front of bonfires, they did not beg for the intercession of Satan, but for the Cthulhu Mythos.

The first witch cabals were settled in New England, with the pioneers who crossed the sea in search of a New World. Some of these witches already knew what existed beyond the ocean, for their profane masters had sent them forebodings dreams about what they would find on the other side of the ocean. The knowledge of the New World, and of what was in it, was also written in some forbidden tomes. They knew that this would not be New Canaan as the Puritans dreamed, but a perilous land where the Mythos walked freely: furious and savage. A new territory to be exploited and conquered and the desire for more power and influence over a part of the world until then, little known, certain makes sorcerers embark on such a journey.


Keziah Mason is supposed to have mingled with the early people who settled on the coast of New England. There are no records of her until the date of her capture in the haunted city of Arkham. It is not known how old she was, where she came from, how she arrived or why she decided to come to the New World. All that is known is that she was already old and enjoyed notoriety among the good people of the region. Everyone feared old Keziah Mason and preferred to leave her alone.

The woman always lived in solitude, being one of the first to settle in the riverside region of the Miskatonic River in a simple hovel of whitewashed stone and jute roof. Though old and fragile in appearance, her neighbors denied her any help, though many claimed to be charitable Christians. The old woman, from the beginning raised suspicion, and like domestic animals that become shy before a beast, the villagers preferred to ignore her. They said there was something about her that inspired distrust, repulsion, and a certain degree of fear.

Mason's House was avoided by their neighbors - who built their homes a good couple of miles away and used to circumvent the property even at cost of a long detour from their destinies. All because the house inspired bad omens, no one wanted to pass the gate and see the old hunchbacked crone in some of their activities. Some who spied on her from afar told that she walked in front of the sordid shaggy and poorly cared dwelling alone or with unseen companions. The brave few claimed to have seen her chopping wood, tending chicken or wandering around. They looked at her sideways and pressed their stride so the matron did not notice them.

They said the shack was decadent and in need of repairs, and an old woman should not endure life in such wilderness. No one took the feat of claiming to have entered the crooked dwelling, and if anyone did, no one would believe in such a stunt. In the distance, bolder observers had seen bits of bone, colored stones and glass on leather ribbons hanging from the porch where the old woman sat on a rocking chair smoking a pipe. When the wind blew, these objects danced, and even when the air seemed still and stagnant, this strange decoration moved, as if on its own. From the stone chimney sometimes rises a black smoke. This often produced an ocher stink that most could not describe. The garden around the house was pure weed, with bushes that grew wild, but even so, it was hard to ignore the foul mushroom that sprouted here and there. There was a smell concentrated in that meadow, a foul odor of rotten fruit and soil.


The old crone herself was a vision of a nightmare and those who saw her still young were astonished when they realized, as adults, that she was still the same: dreadful and frightening. Despite its fragile constitution, she showed an inexhaustible energy, which left the villagers bewildered. Once a traveler, who passed by, said that he had seen her on the roof of the house. He did not try to explain how she had come up or how she would get out of that place. For all intents and purposes, she was small or at least seemed to have short stature, since she was panting. A protruding hunch formed a dense mass on her back. This unusual posture made her lean forward, almost to the point where her face touched the ground. Her crooked legs held what looked like a bag of skin and bones with no substance.

Mason always wore the same outfit, winter or summer, a patched black nightgown, with long sleeves and the hem that touched the floor. The feet and arms were hidden, leaving only the arthritic hands, with clawed fingers, holding a knobbed cane. She walked with a waddle, balancing herself like a tree in a gust of wind.

The few who had seen her closely had the dubious advantage of describing the hag in detail. She was an old woman, they all agreed, but no one was able to determine her age. They all suggested that she must have seen many winters, and the hypothesis of being a centenarian was accepted by the majority. Her lime-white hair stretched beyond her waist and hung shaggy in long braids. The skin was yellowish with the color of aged paper, marked by senile spots and other signs. In her mouth she had only half a dozen yellowish teeth and her chin was incredibly pointed. Those who hear her voice described it as a scraping sound, the words interrupted by loud thoughts verbalized inadvertently and guttural laughter. Mason seemed to have lengthy dialogues with imaginary interlocutors giving then shrewd answers. The pale blue eyes however were very alive, always alert to the slightest movement.


The superstitious ones said that the old woman once shared her house with other people. They mentioned a man, a well-known thief who answered by the nickname of Brown Jenkin, who would have resided in the decrepit hut for some time. The people of Arkham suggested that he was a distant nephew, but some even said that Jenkin was a fugitive who had agreed to live in the house as a refugee. Rumors continued for some time until they ceased, when Jenkin was no longer seen in the vicinity of the property.

Around this time, curious people began to notice that Mason carried in her arms a brown animal, lean and shaggy. The creature, supposedly with the size of a cat, was always nestled in her arms, his face hidden in the folds of her patched robe. No one had ever seen the animal closely, but assumed that the old woman and the animal were company to each other.

In 1692, the name of Keziah Mason would surface in the height of the terror of the witches. It seemed natural to the good people of Arkham, who had long feared the old woman to regard her with a serious suspicion of malice. It is not recorded in the documentary records of the county in which circumstances the name was first raised, but it is known that Keziah Mason was sought by three officials after several complaints were made. The men returned disgusted. They did not enter the crooked house as the old woman received them outside. Despite this, they said there was evidence that the old woman was what many feared, and worse ... One of the men, Turner, even suggested that he had seen a kind of imp peering out of the thick glass window of the cabin. The hideous thing, according to him had wicked and bright eyes. The witch laughed saying the thing was just her pet.

The officials decided to return later, accompanied by soldiers armed with swords and muskets. They gathered the men of the militia, and when they arrived, they found the old woman waiting for them on the porch, sitting in her chair. She had a defiant look and immediately agreed to accompany them to an interrogation in Arkham jail. She warned them not to enter the hut while she was away, but when the men informed her that the place would be searched, she did not try to dissuade them.


At first they thought Keziah Mason was simply insane. Everything about her suggested that. Those who interrogate her were worried when she talked to herself and looked at things only she could see. Her arrival was an event for inhabitants of the village. Curious, the people stopped their chores to see closely the feared old hag they had heard so much. They were not impressed by the sight of the stumpy, hunchbacked old woman being pulled by the arm by one of the militiamen. The old woman was taken before a Judge and he asked several questions, informing Keziah Mason that she was being accused of witchcraft. Unlike most accused of such a treacherous crime, the old woman remained calm and only opened her mouth to ask who had accused her. The Judge said that the identity of the informant would be safeguarded, and asked her how she declared herself.

Before she could answer, the meeting was interrupted by an exhausted young soldier, who had frightened news about the search they had made in the house. The boy said that while they searched the shack, they found hideous things that should not be in the possession of a God-fearing person. In the unhealthy basement, the men came upon an iron cauldron, a series of mysterious-looking vials, and a ghastly statuette of a devilish barrel-shaped thing. Worse than that however it was the discovery of several bones buried.

The old woman confronted by serious accusations was absolutely calm and composed. The Judge demanded the witch to confess her evil deeds, and she began to talk wildly about her offenses and all manner of blasphemy. She confessed, among other things that the Devil had revealed the secret name of Nahab and had taken her to isolated places where she performed rituals in His honor. She had also enchanted children, used the infants as a sacrifice in the most hideous rituals to satisfy the hunger and lust of demons. She said that the Black Man was a frequent guest in her house and God was not welcome there. The Black Man in exchange for her servitude had given wonderful visions that included glimpses of the past and future. He also gave her artifacts, the secret to produce all kinds of potions, and the knowledge of black magic that allowed her to live forever. He also taught her how to lay curses, including the most terrible of all curses, she confessed to having cast over the late Brown Jenkin. When questioned about it, she just laughed and said that he served her now with the devotion of a pet.

The interrogation had begun when the sun was high and it was concluded when the dawn was already gone. One of the notaries fainted and another official began to cry like a madman. The Judge ordered all notes to be destroyed. He delivered the sentence with no more consideration. To support his decision, the Judge explained that "the witch's words should not be heard by anyone else."

He decided that Keziah Mason should be executed on the gallows and that her body should later be burned to ashes. While the preparations were being made, the old woman was taken to the prison below the guardhouse. There, three accused begged to be transferred to another place, so much they feared the presence of the old crone. In an unprecedented decision, the Judge upheld the request and all the accused were moved to another location, leaving the dungeon exclusively to be occupied by Mason.


Preparations for the execution ran fast. A gibbet was erected on the outskirts of the neighborhood that today corresponds to French Hill. The wooden structure was erected by local carpenters who also provided a sturdy rope. However the execution never occurred.

The jailer opened the cell and found the place empty. There was no sign of Keziah Mason, she vanished. One of the guards said he had heard the old woman ruminating alone all night, but that he did not want to approach to hear clearly what she was saying. The only sign of her stay were several mysterious drawings scrawled with blood and excrement on the wall. The sinuous symbols looked like letters from a strange alphabet, and they blended with zodiacal symbols and other follies. Similar symbols were found on the walls of her hut and appeared to be a kind of unknown language.

To some of Arkham's residents, the incident was a terrifying demonstration of the devil's power. Others, however, were pleased that the sorceress had disappeared without a curse upon them. The terror of having to keep the sentence and kill the witch tormented the good citizens of Arkham who imagined what this action would entail. The Judge was summoned to Boston to explain what had happened, and in the presence of his peers, he reported the incident and then simply resigned himself from his extensions.

A new Judge was appointed to preside at Arkham. The honorable Wallace Boyd arrived at the settlement determined to fulfill one of the direct orders given by his superiors: to destroy the sordid house. The order, however, was never fulfilled. The Judge suffered a massive heart attack and died while inspecting the site. After that, the inhabitants of Arkham refused to put the hut down. Possibly to avoid any curse, the people made a request to leave the place alone.

The abandoned hovel remained closed for decades, one of Arkham's most haunted places, known henceforth as "The Witch's House." Nobody heard about Keziah Mason. The witch disappeared without a trace. The people supposed she still returned to the house where she lived for so long. To support these conjectures some say that smoke rose from the stone chimney and that greenish lights shone inside. No one dared explore the house.


For a long time the place remained untouched. It was not visited by anyone until the middle of 1830 when the City of Arkham began to grow toward the banks of the Miskatonic. Simple constructions emerged around the property, east of Pickman Street, which became its official address. The first dwellings were erected by ex-slaves who did not have much choice where to live. Then, when they left, the immigrants arrived to settle in the decadent neighborhood. The house remained empty until 1880, when someone decided to build an annex and transform it into a townhouse for rent. The property was then dismembered, leased to the many German, Polish, Spanish and Ukrainian immigrants who barely spoke English and who were also unaware of its history.

Some of these residents complained to the landlord, they said the house was unhealthy: old, cold, and decrepit. Those who could move after a few weeks, the more impoverished lasted longer. They confided unpleasant dreams with a hideous-looking old woman and an equally hideous brown animal lurking in the corners, scratching and screeching behind the walls.

In the 1920s, the decadent house was shared by several immigrant families. Shortly afterwards, the young Walter Gilman, a brilliant math student at Miskatonic University settled on the estate. Gilman claimed that the house had a unique architecture and that at certain angles there were engraved glyphs corresponding to complex hyper geometry formulas. The student was hoping to conduct a survey of the house and its strange geometry, but he became ill and suffered a nervous breakdown. Gilman died a few months later in mysterious circumstances, plagued by hallucinations that drove him mad. Dreams are supposed to have provoked his delicate mental state. But for the truth, "if dreams brought the fever or if the fever brought dreams", nobody knows. Not even Walter Gilman.

After these tragic events, the house was emptied and the county demanded its closure due to the alleged presence of large rodents. In March 1931 a gale damaged the House of the Witch and part of its roof collapsed. Despite protests from the Historical Society, the city council finally decided to demolish the centennial house. That happened in mid-December and at the time the workers would have found access to an old part of the basement used by Keziah Mason. Inside it were discovered some strange items donated to Miskatonic University.

The occultist Morgan Smith later leased the area in which the house existed, hoping to explore psychic energies which, he said, abounded on the spot. The land has been abandoned since the 1960s and once the area where the house became one of the least valued, no one else tried to build anything there.