terça-feira, 29 de setembro de 2020

Congeladas no Tempo - Três estações abandonadas e preservadas há décadas


Despontando diante de uma interminável paisagem congelada, três cabanas abandonadas se mantém como alguns dos únicos monumentos duradouros celebrando a habilidade humana de estender as fronteiras de sua exploração aos cantos mais distantes do planeta. 

Erguidas no início do século passado, cada uma dessas cabanas foi usada como o refúgio contra o clima severo e a temperatura inclemente da Antártida. Exploradores e cientistas as ergueram como abrigo, mas hoje, elas permanecem preservadas como verdadeiras máquinas do tempo que conservaram em seu interior detalhes de vidas que há muito se foram. Nelas, tudo permaneceu exatamente como era quando o último ser humano deixou o local, como uma cápsula intocada e imune ao decurso das décadas.

Feita com material pré-fabricado, a cabana localizada no Cabo Royd foi projetada na Nova Zelândia à pedido da Expedição Ninrod, liderada por Ernest Shackleton em 1908. Ela é a mais antiga. As peças transportadas à bordo dos navios quebra gelo, foram desembarcadas no solo do continente gelado e montadas em menos de dez dias. A tarefa mais dura foi insular  o abrigo contra o frio e construir uma parede de neve para melhorar esse isolamento usando para isso caixas e pedras vulcânicas.



Como resultado, a cabana se converteu em um lar para os homens da expedição. O espaço exíguo, apertado, abarrotado e com nenhuma privacidade era essencial para garantir a sobrevivência de seus ocupantes. Enquanto a temperatura externa podia despencar para absurdos -40 graus C, no lado de dentro, ela não baixava de +18 C, o que para os padrões da Antártida é uma temperatura confortável. Com instalações para cozinha, um enorme fogão de ferro e aquecimento através de lareira, a temperatura no interior da cabana podia ser modulada. O espaço era suficientemente grande para comportar até 15 homens, embora pudesse ser adaptado para alocar um máximo de 24 pessoas. 

Entrar na construção é como viajar no tempo ou para dentro de um livro de história. 

Enquanto os olhos se ajustam à escuridão perene, quebrada apenas por lampiões, os demais sentidos captam odores sutis deixados ali dentro pelos homens que um dia chamaram esse lugar de casa. Um leve cheiro de suor, mofo, temperos condimentados e colchões velhos permanece suspenso no ar estagnado. Tudo rescende a um ambiente perdido no tempo: tecidos rústicos, metal polido, objetos enferrujados, tábuas de madeira no chão, garrafas empoeiradas, velas de cera, cordames pendurados em vigas de sustentação. O ambiente parece abarrotado de objetos espalhados em mesas, prateleiras e armários como num velho armazém da fronteira. Casacos pendurados, fogões com restos de cinzas, pratos empilhados e cobertores deixados sobre as camas há mais de cem anos.



É quase possível sentir a presença dos homens que um dia ocuparam esse ambiente. Tudo está perfeitamente conservado, igual ao dia em que eles estiveram aqui pela última vez, uma forma única de conhecer experiências e sua vivência.

Quando se ouve a expressão "congelado no tempo", ele certamente se aplica a essa cabana histórica.

Mas como o lugar foi preservado dessa maneira? A explicação é simples, as temperaturas congelantes e a falta de umidade no ar funcionam como fatores reguladores. Tudo o que está ali dentro se mantém intacto e livre de microrganismos, mesmo um pedaço de pão deixado em uma cesta, as batatas na despensa e um naco de bacon continuam iguais, apenas ressecados, mas perfeitamente discerníveis. Nada apodreceu ou se deteriorou após tanto tempo.

A cabana histórica e seus quase 18 mil itens são protegidos pelo Antarctic Heritage Trust, uma sociedade que preserva a memória das primeiras expedições, zelando por seu legado. Os especialistas à serviço do Trust, em sua maioria historiadores, são responsáveis por cuidar dos objetos e conservar seu estado. Eles viajam ao menos uma vez por ano até a cabana para fazer uma avaliação e registrar qualquer alteração. 

       


A cabana de Shakleton permaneceu oculta por 39 anos, após ser soterrada por sucessivas nevascas. A maioria das pessoas acreditava que ela havia ruído por completo e que seu conteúdo tivesse sido disperso pelo vento e perdido para sempre. Entretanto, ela foi achada por exploradores soviéticos em 1956 que perceberam um monte incomum de neve no local ocupado pela expedição pioneira. Uma escavação permitiu acessar o interior da cabana o que levou à descoberta de que ela se encontrava em perfeitas condições.

A despensa foi deixada com suprimentos suficientes para durar todo o inverno. Eram garrafas com óleo, melado e suco de limão, centenas de latas de sopa, molho de tomate e carne ensopada, além de cestas com pão, compotas e geleia, nacos de queijo duro e blocos de manteiga. Chama a atenção ainda a grande quantidade de bebida alcóolicas estocadas na cabana, diversas caixas e engradados de whisky, vodca e rum, que permaneceram intocados. Quando localizaram a cabana, os russos tomaram a liberdade de comemorar abrindo uma das garrafas de whisky e brindando ao seu notável achado.

Outra cabana congelada crucial para a expansão da Antártida e que foi igualmente preservada pertenceu a Expedição Terra Nova de Robert Falcon Scott que explorou o Continente Gelado em 1917 e que buscava chegar ao Pólo Sul. 



Scott e sua equipe utilizaram essa cabana como cabeça de ponte para se lançar em sua jornada terrestre através do interior do Continente. Infelizmente ele e um grupo de seus homens de confiança morreram de frio, fome e exaustão em sua jornada de volta a poucos quilômetros de um depósito de suprimentos que salvaria suas vidas.  

O depósito que eles estavam próximos de atingir era bem parecido com a cabana que ainda se mantém na paisagem gélida sobre o Mar de Ross. Os suprimentos estocados em caixas, sacos e garrafas continuam lá, no mesmo lugar: jamais foram removidos e acredita-se boa parte dele, poderia ser até consumido (ao menos, em uma emergência).




Muitos exploradores pela primeira vez na Antártida acrescentam ao seu roteiro uma passagem, ainda que rápida pela cabana de Scott, tornando-a um dos lugares mais visitados do continente. Uma das coisas que chama a atenção à respeito da Cabana de Scott é o conforto rústico que o o lugar oferece, com camas de palha, cobertores de pele de urso, armários repletos de casacos de pele de foca e um estoque considerável de comida e combustível.

A expedição Scott foi uma das mais bem equipadas de sua época, contando com uma quantidade notável de suprimentos e material para garantir o mínimo conforto de seus membros. 

Assim como aconteceu com a cabana de Shackleton, o refúgio montado por Scott foi soterrado por nevascas e por muitos anos permaneceu inacessível. Ele também foi encontrado décadas mais tarde por exploradores e escavado para poder, uma vez mais, ser visitado.



A terceira cabana que nos permite viajar no tempo e conhecer a rotina de exploradores durante sua passagem pelo Continente Gelado se localiza na região conhecida como Polo Inacessível. Erguida por uma Expedição Soviética no ano de 1958, a estação temporária marcou a primeira tentativa do país em se estabelecer na Antártida e consequentemente sua conquista do Polo Sul.

A base originalmente batizada Leningradskaya também é famosa por ter registrado a mais baixa temperatura oficial aferida por exploradores no continente, nada menos do que -58,2 graus Célsius. 

A estação era tão gélida que seus residentes temporários a chamavam de "Antártida da Antártida".

Uma vez que ela foi erguida em 1958, no auge da Guerra Fria, os soviéticos a trataram como uma enorme conquista de sua nação. Carregaram para lá um busto de bronze do Camarada Lenin que acabou se partindo no primeiro inverno em função do frio extremo. No ano seguinte trouxeram um segundo feito de plástico super-resistente, que foi colocado sobre uma enorme caixa para que pudesse observar a vastidão da paisagem gelada.  A estátua de Lenin continua lá no mesmo local, embora a estação não seja usada desde 1965.


Além da estátua, a estação chama a atenção pelos veículos de neve abandonados na frente da cabana como se tivessem acabado de ser deixados ali. Esses veículos apelidados de "Pinguins" foram usados pela equipe que conseguiu atingir o polo. Um deles foi levado de volta para a URSS e exposto em um museu, os demais tiveram um fim bem menos glorioso sendo abandonados para enferrujar expostos aos elementos há décadas.

As três cabanas são uma parte importante da história humana e permanecem como monumentos para a necessidade do homem de explorar seu planeta e além. Verdadeiros marcos de nossa resistência e perseverança diante dos mais severos revezes, continuam lá e provavelmente continuarão por muito tempo.

domingo, 27 de setembro de 2020

Arauto de tragédias - As Profecias do Homem-Mariposa


Dizem que certos animais possuem uma espécie de "sexto sentido" que nós, humanos perdemos ao longo de nossa evolução. Essa capacidade, ligada intimamente ao instinto permite que eles sejam capazes de perceber algo ao qual estamos alheios, sentir o que não somos mais capazes de perceber.
 
Seria um tipo de presciência, uma capacidade inerente de perceber uma grave perturbação se aproximando. Como uma sensação indescritível de ameaça ou incômodo que os coloca em movimento imediatamente, com o intuito de tirá-los de uma zona de perigo.

Acredita-se que a natureza os dotou com tamanha sensibilidade que eles seriam capazes de "prever" as situações atípicas. Isso leva algumas pessoas a observar a ação de animais e reagir com base em seu comportamento atípico para assim, quem sabe, também sobreviver. Há histórias sobre pescadores habitando ilhotas no Pacífico Sul que percebendo a súbita ausência de peixes se prepararam para tsunamis devastadores. Da mesma maneira, é mencionado por cronistas romanos que alguns indivíduos percebendo uma migração repentina de aves, deixaram Pompéia à tempo de evitar a erupção do Vesúvio que enterrou a cidade sob toneladas de cinzas e detritos.    

Contudo, existem seres ainda mais misteriosos, sobre os quais sabemos muito pouco, e que por vezes figuram no âmbito das lendas urbanas. Seriam entidades únicas, intimamente ligadas a grandes tragédias, situações de sofrimento e desolação. Alguns inclusive não seriam repelidos pelas tragédias, pelo contrário, se sentiriam atraídos para lugares em que uma catástrofe iminente estaria prestes a ser deflagrada.  


Verdadeiros Arautos das Tragédias cujas intenções podemos apenas supor.

Dentre as aparições mais enigmáticas encontramos o Homem-Mariposa. Essa criatura bastante conhecida entre pesquisadores da Criptozoologia, ganhou fama no Noroeste dos Estados Unidos, tornando-se posteriormente uma espécie de símbolo na comunidade de Point Pleasant, na Virgínia Ocidental - onde inclusive foi inaugurada uma estátua em sua homenagem (!). 

O primeiro relato oficial à respeito desse ser data do início da década de 1960, quando uma estranha criatura teria sido avistada por um grupo que acompanhavam uma cerimônia fúnebre no Cemitério de Point Pleasant. A entidade, segundo as testemunhas, voou por cima do grupo a uma altura de 10 metros, se dirigindo até um grande jazigo onde pousou e permaneceu estática por alguns instantes, observando o grupo estarrecido com sua presença. À seguir, abriu suas asas novamente e se afastou desaparecendo atrás de muros. Diz a lenda que dentre as 13 pessoas que observaram o acontecimento, seis morreram nos meses posteriores e que mais 4 teriam morrido no espaço de 5 anos em uma variedade de acidentes e causas consideradas como naturais.

Alguns dias depois desse incidente, a mesma criatura alada foi vista por outras pessoas nas cercanias de um parque público da mesma cidade. Ela sobrevoou árvores e arbustos e deu rasantes sobre várias testemunhas que aterrorizadas fugiram em disparada sem compreender o que haviam acabado de ver. O ser escuro aparecia como um imenso morcego, mas tinha o corpo de um homem, dotado de pernas e braços.


Várias outras testemunhas juraram ter visto a mesma entidade ao longo dos dias que se seguiram, o que provocou uma onda de temor e histeria na pequena comunidade.

A aparência dele era sempre bastante similar e consistente. Descrita como uma forma humanoide, medindo algo entre 1,80 e 2,10 metros de altura, a criatura, rapidamente apelidada de Homem-Mariposa, tinha um corpo delgado e totalmente escuro, negro ou com tons amarronzados. Não possuía cabelos ou pelos corporais e seu rosto não parecia sugerir qualquer detalhe digno de nota, exceto por um par de grandes olhos brilhantes que emitiam uma luminosidade avermelhada desconcertante. Por vezes, na escuridão, apenas seus olhos fumegantes podiam ser vistos. Estes brilhavam no escuro e segundo relatos, aqueles que encaram os olhos sentiam enorme desconforto, como uma agonia e apreensão esmagadoras. 

O que chamava mais a atenção na criatura, e contribuía para a sensação de estranheza, eram sem dúvida as imensas asas que despontavam em suas costas. Para alguns eram semelhantes às de morcego, mas outros garantiam que se tratavam de asas dobradas, como a das mariposas. Seja lá como fosse, as asas permitiam que ele alçasse voo com lufadas sucessivas que o impeliam para o céu velozmente. 


A criatura era mais comumente vista à noite, mas isso não impedia que aparecessem relatos de indivíduos a encontrando em plena luz do dia. A esposa de um proeminente médico da cidade teria observado a criatura pousada sobre o telhado de sua casa, quando saiu para o pátio. A criatura a observou, com seus olhos fumegantes por longos instantes e em seguida levantou voo deixando para traz uma dezenas de telhas quebradas.

Algumas pessoas, afirmaram ainda que o Homem-Mariposa produzia um som aterrador, similar a um guincho muito alto e penetrante. Este som misterioso foi ouvido por muitas outras pessoas que afirmaram não ter visto o que o causava, mas que se sentiram imediatamente intimidados pelo ruído. Em pelo menos duas ocasiões o ruído era tão agudo que fez vidros de janelas trincar.

A relação da criatura com tragédias foi presumida em decorrência de um incidente fatal ocorrido pouco depois de seu avistamento. As observações da criatura em Point Pleasant coincidiram com o fatal colapso da Ponte de Prata no ano de 1966. A Ponte de Prata era uma obra relativamente nova, inaugurada no final da década de 1940 se estendendo sobre o Rio Pleasant. Engenheiros discutem ainda hoje o que teria causado o colapso, sendo a corrente majoritária que os fios de aço da estrutura teriam se rompido mediante desgaste. O aço usado na época da construção seria de má qualidade e se deteriorou antes do previsto. Com a queda, automóveis que passavam pela ponte naquele exato momento mergulharam nas águas geladas do rio, despencando de uma altura de 15 metros. Algumas vítimas que sobreviveram a queda acabaram morrendo afogadas no interior dos carros ou pela hipotermia. O acidente resultou em mais de 46 vítimas fatais e ao menos uma dúzia de feridos.


Considerada a maior tragédia da história da cidade, a comunidade local, com pouco menos de 5 mil habitantes ficou devastada pela dor e luto. 

Nos dias que se seguiram à tragédia, alguns moradores mencionaram que o Homem-Mariposa havia sido visto pouco antes do incidente sobrevoando o local. A maioria desses relatos não culpavam a criatura diretamente pela queda da estrutura, mas sugeriam que ele estava presente nos instantes que antecederam o fato como se esperasse por ele a qualquer momento.

Após a tragédia, a criatura não foi mais vista sobrevoando Point Pleasant, a despeito das narrativas isoladas nesse sentido. Contudo, observações posteriores do Homem-Mariposa foram feitas em comunidades próximas em Mason, Lincoln, Logan, Kanawha e Nichola, todas cidades pequenas do interior do Estado de Virgínia.

Em 1978, ele teria sido visto nos arredores de uma fábrica de explosivos abandonada em Kanawha. Algumas pessoas reportaram a presença de uma criatura grande, do tamanho de um homem adulto, mas dotado de asas voando em áreas afastadas. A criatura teria sido vista inclusive no campanário da igreja local, o que atraiu a atenção de vários indivíduos surpresos com a cena incomum.

Dias depois desses incidentes inusitados, um incêndio atingiu a antiga instalação onde caixas com TNT ainda eram mantidas ilegalmente. Seguiu-se uma grande explosão que causou a morte de ao menos 12 bombeiros que estavam combatendo as chamas. O incidente serviu para reforçar as lendas a respeito do Homem-Mariposa e sua relação como arauto de tragédias.


Um terceiro incidente, dessa vez ocorrido em 1984 traria a lenda de volta às manchetes de jornais consolidando-a como uma das mais conhecidas lendas urbanas da América.

Dessa vez, o ser misterioso teria sido avistado por motoristas transitando pela Estrada Interestadual 62, mais para o norte, no estado de Ohio. Em menos de uma semana, mais de 30 testemunhas juraram ter se deparado com a estranha visão sempre sobrevoando uma área de 8 quilômetros correspondente a um dos trechos mais sinuosos e perigosos da estrada. A coisa frequentemente passava sobre a estrada e sumia numa área florestal.

Em 12 de março o motorista de uma carreta que transportava toras de madeira vindas do Canadá derrapou e perdeu o controle de seu veículo. Sua pesada carga se soltou e acabou esmagando uma dúzia de automóveis. Treze pessoas perderam as suas vidas e mais de 25 ficaram feridas. Uma ambulância que foi chamada às pressas para prestar socorro se dirigiu para o local e a equipe de socorristas afirmou que ao chegar à monumental tragédia se deparou com uma enorme criatura humanoide sentada sobre um poste de alta-tensão observando a cena. Depois de ser percebida, ela abriu suas enormes asas e sumiu emitindo um guincho agudo de mau-agouro.

Estudiosos devotados à pesquisar as raízes da Lenda encontraram correlação entre o Homem-Mariposa e antigas tradições de povos indígenas americanos. Os mitos de tribos como os Shawne e Susqehanna contemplam a existência de uma criatura semelhante a um homem negro alado. Ele é tratado como uma entidade neutra, que não se inclina para o bem ou para o mal e que costuma ser visto por pessoas desenganadas ou que irão morrer em breve. Os Shawne acreditavam que a criatura surgia para avisar a pessoa escolhida, para que ela se preparasse para a morte e que se despedisse de seus entes queridos de forma adequada. Entre os Cherokee, que também habitavam o norte do estado da Virgínia, uma entidade similar ao Homem-Mariposa era visto sempre que tempos difíceis e de provações se aproximavam: Enchentes, secas ou tempestades eram antecedidas pela visão.

Entusiastas do fenômeno dos OVNIs relatam coincidências entre as aparições da criatura e avistamento de discos voadores. Na época da tragédia da Ponte de Prata, várias pessoas se recordaram de ter visto nos meses que antecederam a tragédia objetos metálicos sobrevoando a região. A maioria dessas pessoas foram identificadas como indivíduos honestos e que não teriam razões para inventar tais histórias. Ufólogos conhecidos acreditam que o Homem-Mariposa pode não ser uma manifestação sobrenatural, e sim uma presença alienígena enviada por alguma razão obscura para presenciar acontecimentos importantes.


Em um famoso caso ocorrido em 2009 nos Andes Argentinos, discos voadores e uma criatura humanoide alada teriam sido responsáveis por um surto de pânico entre habitantes da pequena cidade de Joaquim Gonzalez. Um objeto metálico na forma de um charuto teria sobrevoado a cidade, sendo visto por mais de 30 pessoas, poucos dias depois, uma criatura escura e dotada de asas teria sido vista espionando janelas e voando sobre telhados. Tão rápido quanto surgiu, a criatura acabou desaparecendo deixando um rastro de dúvidas e contradições.

Relatos mais recentes colocam a criatura no meio de outras tragédias conhecidas. Alguns relatos atestam que a criatura teria sido vista nos dias que antecederam o devastador Terremoto que atingiu a Cidade do México em 1985, o Desastre Nuclear de Chernobyl e a Queda das Torres Gêmeas em Nova York em 2001.

Não existe um consenso a respeito da origem ou identidade do Homem-Mariposa, se é que tal coisa existe. Para alguns ele seria uma entidade vista apenas por sensitivos e videntes, uma rara forma de vida aborígene ainda a ser descoberta, um alienígena ou meramente o produto da imaginação ou fantasia de alguns. 

A verdade é que a simples noção de que algo observa com interesse nossas tragédias mais terríveis soa incrivelmente perturbadora. Como asas negras de mau-agouro atraídas pelo sofrimento humano. Enquanto não soubermos de que se trata, melhor continuar observando os céus atentamente.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A maldição de Zyre - Conclusão de uma estranha narrativa


Após acordar do pesadelo, Tess subiu ao escritório e bateu a porta insistentemente, sem obter resposta. Com uma sensação de que algo ruim estava acontecendo, ela decidiu usar uma chave reserva que guardava em caso de emergência. Ao adentrar o aposento, se deparou com uma sala às escuras e horrivelmente fria, mas o que a fez recuar em terror foi o cheiro nauseante, reminiscente a algo que apodrecia horrivelmente. Ela instintivamente tampou boca e nariz para afastar aquele ar fétido que quase a fez perder a consciência. Com a outra mão tateou em busca do interruptor e o acionou lançando luz no recinto até então imerso nas trevas.

Sentado na escrivaninha do Dr. Emmitt encontrava-se um cadáver humano medonho, coberto de uma substância preta parecendo piche. A cabeça estava jogada para trás e a boca aberta em um grito silencioso. O corpo estava inchado, a pele macilenta havia adquirido uma coloração amarelada doentia. A visão da morte, nua e crua a atingiu em cheio. A combinação era tão aterradora que Tess deu um passo para traz sem conseguir acreditar no que estava vendo. Pelas roupas concluiu que se tratava do Dr. Emmitt, ainda que suas feições estivessem diferentes, alteradas pelo processo de decomposição. No entanto, diante de todo aquele horror macabro, um pequeno detalhe foi o que mais chamou sua atenção: na mão cadavérica de dedos finos, repousava o anel com opala - o Olho de Zyre.

Tess observou a coisa pela primeira vez, ponderando sobre o que fazer. Sua reação foi apanhá-lo e se livrar dele como se isso pudesse, por milagre resolver a situação e apagar aquele horror. Sentia que a coisa era responsável pela atrocidade, não sabia como, mas tinha certeza disso! Ela chegou a se inclinar para apanhá-lo, mas um arrepio a fez retroceder como se meramente tocá-lo fosse um perigo que não estava disposta a correr.    

De alguma forma, conseguiu voltar ao corredor para tentar limpar a mente. Andava de um lado para o outro ponderando sobre o que fazer em seguida. Sua vontade era correr, sair dali o mais rápido possível. Correr sem olhar para traz e afastar aquela visão de suprema deterioração à qual havia sido exposta. Por ela, jamais entraria ali novamente. Mas um inerente senso de dever falou mais alto - ela devia aquilo ao seu patrão e se apegou a isso para então voltar ao estúdio.

Tampando o rosto com um lenço ela se aproximou novamente da escrivaninha e de seu ocupante solitário. Sobre o tampo reparou que havia uma caixa de madeira de aspecto antigo e fechadura de bronze. Horríveis cabeças demoníacas foram entalhadas na peça. A secretária respirou fundo e apanhou a coisa que era bem mais pesada do que ela imaginava. A caixa estava aberta e ela verificou o interior revestido com veludo vermelho e pequenas placas de bronze gravadas com um misterioso alfabeto de runas curvilíneas. Era sem dúvida um estojo usado para acomodar o anel.

Ao lado da curiosa caixa encontrava-se um caderno de anotações, do tipo usado normalmente pelo Professor Emmitt para rabiscar seus rascunhos. As páginas estavam repletas de anotações feitas apressadamente com uma caligrafia cursiva difícil de ser decifrada, mas que sem dúvida pertencia a ele. Não havia tempo para ler aquilo e cada fibra de seu corpo implorava para não olhar aqueles rabiscos mais que o necessário. 

Mas não era aquilo que Tess estava procurando. Aflita ela olhou em volta sabendo que deveria haver ao menos mais uma coisa naquele estúdio, algo que dizia respeito especificamente a ela: o gravador! Emmitt usava o gravador para fazer seus apontamentos e de fato, ele estava na extremidade oposta da escrivaninha sob algumas folhas amassadas de papel. Ao lado, uma caixa com fitas k7 já gravadas e numeradas de 1 a 5, prontas para serem convertidas em material datilografado. 

Tess sabia que tocar em qualquer uma daquelas coisas poderia trazer-lhe problemas e que ela estaria alterando uma possível cena de crime, mas algo a compeliu a verificar o aparelho. Ela apertou o botão de ejetar apanhando a fita que estava ali e enfiando no bolso junto com as demais. O gravador foi para dentro de um dos armários.

Obviamente Tess chamou a polícia e estes responderam imediatamente. Os detetives a cobriram de pergunta que ela respondeu da maneira mais sincera possível. Ela contou do interesse do Professor Emmitt a respeito de ocultismo sabendo que não haveria como ignorar isso. Mencionou a coleção e os itens presentes no sótão. Os detetives com uma mistura de curiosidade e excitação decidiram vasculhar o museu. Se concentravam mais no que não estaria lá, do que no que estava: roubo era uma causa provável para matar. Alguns dos itens eram claramente valiosos, mas não parecia estar faltando nada e Tess confirmou que tudo estava em ordem.

Ela contou que o professor estivera concentrado em seu trabalho e que ficou restrito ao seu estúdio nos últimos dias. Tess, no entanto, omitiu um detalhe além das fitas que pareciam queimar no interior de seu bolso. Ela não falou nada a respeito do anel que permanecia no dedo do cadáver. Como não poderia deixar de ser, a coisa acabou chamando a atenção dos investigadores. Um deles ergueu a mão do cadáver com um lenço e se abaixou para olhar mais de perto o anel: "Coisa medonha!" disse entredentes antes de liberar o corpo para o trabalho da equipe de remoção.

Tess temia o que poderia acontecer, mas o inquérito seguiu sem que se concentrasse nela. De fato, os próprios detetives não sabiam exatamente no que pensar a respeito daquela morte e na ausência de uma explicação conveniente preferiram tomar o caminho mais fácil de ignorar as circunstâncias atrozes da cena. O legista apurou que a morte ocorrera por causa natural, ataque cardíaco fulminante, sem sinal de ferimento ou violência, veneno ou condições externas. Da mesma forma que os detetives, o perito não tentou explicar as condições lastimáveis do corpo ou o que poderia tê-las ocasionado. Os restos cobertos por aquela substância betuminosa escura e o fedor azeviche que o envolvia permaneceriam um mistério.

Tess tirou uma semana de folga antes de receber autorização para voltar à casa do Dr. Emmitt para reaver objetos pessoais que ainda estavam lá. Um policial a acompanhou o tempo todo, desde a porta com faixas amarelas advertindo se tratar de uma "cena de crime" até o escritório onde o cheiro que se entranhou no carpete era apenas um pouco mais tolerável. Depois disso, ela não retornou mais à casa. O corpo do Professor foi enviado para seu estado natal para ser sepultado, sem filhos ou esposa, a cerimônia foi triste e fria, ou assim ela ouviu dizer. Um fim condizente para um homem que viveu e morreu sozinho.

Dias passaram, mas algo ainda deixava Tess preocupada. As fitas que ela havia recolhido continuavam em sua posse. Na semana que transcorreu, ela ponderou a respeito de ouvir ou não seu conteúdo. Parecia ser uma opção perfeitamente aceitável ignorar aquilo e abraçar a doce sensação que só a ignorância pode proporcionar. Ela tinha certeza que ouvir as fitas seria desagradável. Por pelo menos duas vezes, cogitou destruir tudo aquilo, enrolar as fitas até rasgar o delicado material, atear fogo numa lata de lixo, jogá-la num lago... haviam tantas opções. Mas por mais que quisesse, não o fez!

Ela desconfiava que se assim fizesse; não saber, aos poucos se tornaria uma obsessão e que isso a consumiria até o último suspiro. O alívio de agora seria a incerteza de uma vida inteira. Com isso em mente, e encorajada por duas doses de whisky que desceram queimando pela sua garganta, ela apanhou um gravador e colocou a primeira fita k7, marcada com o número 1 dentro dele. 

A fita começou a rodar e logo a voz grave e familiar do Dr. Emmitt se fez ouvir. Era como uma voz vinda do além. A primeira fita tinha 54 minutos de duração e cobria uma narrativa a ser transcrita posteriormente por Tess. O relato começava com Emmitt descrevendo como havia conseguido o Olho de Zyre e como ele era muito mais bonito que o esperado. A forma como Emmitt se referia à coisa fez Tess encher mais uma dose de bebida que dessa vez desceu mais fácil. 

O professor explicou ter levado seis anos para colocar as mãos no anel, tempo em que tinha de aguardar os trâmites de liberação de uma herança. Infelizmente ele era muito vago a respeito da obtenção do objeto, mas deixou escapar que o proprietário anterior uma mulher chamada B. Graham teria cortado os pulsos em uma banheira. O anel era a única coisa que ela usava quando foi encontrada. De fato, várias pessoas que tiveram o anel morreram ou sumiram nas mais estranhas situações, decorrendo disso sua fama de maldito. Embora Emmitt desse detalhes sobre isso, Tess preferiu não falar à respeito.

Emmitt mencionava um intermediário chamado Tiestras que havia sido vital para conseguir o anel que foi incluído no espólio da sra. Graham. O tal Tiestras havia convencido os sucessores a vender alguns itens, entre eles o anel, ou assim ficava subentendido.  

Na fita marcada com um 2, o Professor falava um pouco da origem do Olho de Zyre. Segundo a pesquisa, o primeiro dono do anel foi um aristocrático senhor de terras, o Marquês de Montségur no século XVI. Montségur era conhecido por seu interesse no oculto e chegou a ser acusado de feitiçaria e bruxaria, sem jamais, contudo, ser alvo de um inquérito oficial em função de sua riqueza e influência. Havia o boato dele ter firmado um pacto infernal e que sua existência foi marcada pela iniquidade e perversidade. Alguns diziam que o anel era o símbolo de sua barganha com as trevas e que fora um presente do próprio Diabo. Após sua morte em circunstâncias trágicas (mais uma vez), o anel passou pelas mãos de muitos outros indivíduos interessados nele. O olho, segundo a lenda permitia ao seu dono ter um vislumbre do inferno e com ele se comunicar.

A fita seguinte, de número 3, trazia uma descrição detalhada do objeto e de seu estojo. O Professor se deteve num pormenor. Ao revistar o interior do estojo, ele havia encontrado um pedaço de velino desbotado oculto num nicho sob o veludo. O fragmento cuidadosamente manuscrito trazia uma série de símbolos similares aos que adornavam a parte interna do anel e o próprio estojo. Emmitt dali em diante se referia a ele como "o texto" e ele se tornaria o foco das suas pesquisas. Ele acreditava que aqueles símbolos continham a chave para decifrar as palavras e compreender as runas.

Na fita com o 4, a voz de Emmitt soava claramente irritada com a falta de avanços em suas tentativas de entender o decifrar alfabeto. Ele havia tentado diferentes interpretações e consultado sua biblioteca em busca de alguma correlação. Era como tentar montar um quebra cabeça sem conhecer a figura original que resultaria da junção das peças. O cansaço se somava à falta de progresso que por sua vez resultavam em imensa frustração. Emmitt suspeitava que Tiestras havia plantado o texto sabendo que o professor tentaria decifrar aquilo já que era famoso por sua natureza inquisitiva. "Sem dúvida ele vai surgir com uma forma de decifrar o texto. Mas para isso vai querer mais dinheiro. Bastardo!" dizia o professor num tom que não escondia sua irritação.       

Em um trecho gravado posteriormente na mesma fita, Emmittt afirmava que Tiestras havia "sumido da face da Terra". Ele desconfiava que o sujeito estivesse escondido, tentando valorizar o fragmento de informação que apenas ele poderia suprir. As dúvidas de Emmitt, no entanto, se esvaem quando ele fica sabendo que o intermediário morreu: "Foi achado morto em sua casa, vítima de uma overdose de drogas" ou assim ele soube de terceiros. No trecho final da gravação As palavras dele soavam tão estranhas e lamurientas que Tess não foi capaz de compreender. Parecia que Emmitt havia bebido e que não dizia coisa com coisa. Por reflexo, Tess colocou a garrafa e o copo de lado antes de continuar ouvindo.


A fita de número 5 era de longe a mais bizarra, mencionava um sonho ou alucinação ocorrido quando Emmitt estava em seu escritório tentando compreender o misterioso texto. De acordo com o trecho, a experiência foi no mínimo assustadora:

"Tive o mais estranho dos sonhos ontem. Devo ter adormecido em minha escrivaninha enquanto tentava fazer a tradução. Eu sonhei com uma figura totalmente negra que entrava no escritório. Era uma forma esguia com corpo feminino, mas inteiramente escura, como uma sombra tridimensional. Essa coisa se aproximou e percebi que ela não tinha feições, nem detalhes ou reflexão, era um vulto formado por um contorno e nada mais. O que mais chamou minha atenção foram as pequenas nódoas, como manchas azuladas que cobriam seu corpo. Me ocorreu que eram exatamente como os pequenos fragmentos de silica capturados na superfície do Olho de Zyre.

Assim que fiz essa associação, a coisa-sombria se atirou sobre mim. Antes que eu pudesse recuar, me agarrou e tamanho era o frio que dela emanava que me vi incapaz de reagir. A coisa então segurou minha mão e deslizou em meu dedo o Olho de Zyre. Minha mão foi acometida de uma dor lancinante, como se milhares de agulhas geladas estivessem espetando ao mesmo tempo e essa dor se espalhou para meu braço. Foi essa sensação que me fez acordar com um grito... levei alguns momentos para me acalmar, enquanto flexionava os dedos para confirmar que a dor excruciante havia sido apenas imaginária, Mas então, para meu horror descobri que o anel estava em meu dedo, onde jamais havia ousado colocá-lo".

O sonho fez com que Emmitt se tornasse ainda mais paranoico, acreditando que o anel estava preso em sua mão e ele era incapaz de removê-lo. Meramente tentar fazê-lo causava-lhe uma sensação indescritível de dor e apreensão. Foi nessa ocasião, ponderou Tess, que ela encontrou o Professor Emmitt pela última vez, justamente quando ele estava mais abalado.

"A mão no bolso que ele tratou de esconder. O anel já estava lá", lembrou a secretária. 

Depois disso, Emmitt descreveu algo que definiu como sendo uma súbita clareza de ideias que trouxe consigo uma notável compreensão acerca da natureza do texto. Os complexos símbolos curvilíneos e as runas que até então pouco significavam começaram subitamente (alguém poderia até dizer magicamente) a fazer sentido. Era como se ele tivesse um vislumbre da imagem que formava o quebra-cabeças e finalmente as peças dele se encaixassem. Renovado pelo progresso repentino, o Professor se deixou levar pela empolgação. Dois dias de trabalho contínuo se seguiram a medida que a densa névoa que impedia entender o alfabeto se dissipava. 

É claro, ele estava ciente da associação direta entre sua súbita compreensão, o sonho bizarro e o anel em seu dedo, mas no momento que tudo fez sentido, talvez pela curiosidade, pelo cansaço ou quem sabe por outros fatores sobre os quais é melhor não pensar muito, ele decidiu continuar a tradução. A fita 5 terminava com o consenso de que a tradução do texto estava quase pronta.   

Por fim, restava apenas uma fita, a gravação que se encontrava no gravador quando Tess entrou no escritório e encontrou Emmitt naquele estado lastimável. Algo dizia para parar ali, mas ela chegou longe demais para ignorar o trecho derradeiro. Com a mão tremendo, ela acionou o PLAY do gravador. 

A última fita começava com uma breve introdução das dificuldades de traduzir e dos detalhes sobre como o alfabeto poderia ser compreendido. Tess entendeu pouco das referências feitas a linguagens obscuras e idiomas mortos, mas respirou fundo quando enfim o professor começou a recitar o texto. Com uma voz à princípio vacilante que aos poucos ganhava força, as palavras foram sendo proferidas como se ele estivesse entoando algo:

"O trecho final... eu o tenho... são palavras ou nomes próprios, o anel é uma forma de comunicação... o Marquês de Montségur assim o usava...  (ininteligível)

Aos sete que protegem o portal: Seteasvis... Varganuth... Ghorta... Engratha... Drellaemon... Halzavan... Ezohtal... na escuridão a luz,... nos sonhos a verdade. Zyre, abre teu olho.

Vejo luzes... vejo um brilho... é incrível... como, se estivesse se abrindo... (ininteligível) eu vejo..."

E então seguiu-se um grito de horror petrificante e um som indefinido de estranho gorgolejar que durou apenas alguns segundos, mas que foram o suficiente para fazer Tess sentir como se o mundo sob seus pés se desfizesse e o ar lhe faltasse. Tomada de um terror indescritível, ela arrancou a fita do gravador e a fez em pedaços até que nada mais restasse dela. 

O relato de Tess termina assim, de modo abrupto. 

Anos depois ela escreveu esse relato e publicou em um fórum de discussão sobre acontecimentos sobrenaturais. Suas palavras finais sobre o incidente foram as seguintes:

"Eu não peço a ninguém que acredite nessa narrativa, embora eu assegure que ela é verdadeira em cada detalhe (exceto, é claro, no que diz respeito aos nomes). Há coisas que não somos capazes de compreender ou lidar, forças que vão muito além daquilo que consideramos normal. Eu mesma não acreditava nessas coisas, até ser confrontada por elas. Acreditem quando digo que o sobrenatural existe e que está sempre à espreita. Quando ele se insinua em nossas vidas, nos transforma rapidamente. Da minha parte eu sei que jamais serei capaz de esquecer o que presenciei e vivi na companhia do falecido Professor Emmitt".


Essa postagem criou uma grande discussão em um fórum de debates a respeito de fenômenos paranormais e depois se espalhou por vários outros. A principal questão obviamente era: até que ponto essa história era real e se ela de fato aconteceu. 

Pouco depois de ter surgido, o perfil que enviou a postagem foi apagado e os tópicos - inclusive a história original, apagados. Felizmente, ele foi salvo por outros usuários que evitaram dele desaparecer da mídia digital. Com o passar do tempo, a história se tornou uma persistente lenda na internet.

No que diz respeito à veracidade da história, temos muito pouco a procurar. Os nomes e indivíduos que fazem parte da narrativa parecem ser fictícios, bem como as datas e localidades. A única fotografia que acompanhava o artigo era a do anel, o suposto Olho de Zyre. A postagem não oferecia nenhuma prova ou evidência, nenhum audio e menos ainda documentos oficiais. Usuários do Reddit realizaram pesquisas tentando rastrear pistas, mas não conseguiram muito, fazendo com que a maioria das pessoas considerasse o incidente como uma ficção, uma creepypasta.

Pesquisadores da internet chegaram a apontar um caso misterioso ocorrido em Boston no qual um certo Professor William T. Bosworth teria morrido em circunstâncias incomuns na sua residência em 2007. Bosworth era um antropólogo, Mestre em Harvard e um interessado em história antiga e ocultismo. Sua coleção de antiguidades era bastante impressionante segundo amigos.  Algumas pessoas apontaram Bosworth como a identidade verdadeira do Professor Emmitt, mas outros acham uma simples coincidência.

Da mesma maneira não há nenhuma informação a respeito de um anel chamado Olho de Zyre, a não ser aquelas que tem ligação com essa narrativa. Talvez o nome da peça também tenha sido alterado, quem pode saber ao certo...

Seria essa apenas uma lenda urbana nascida na Internet? É provável que jamais saibamos ao certo se a Tess da história realmente viveu esses acontecimentos, mas de toda forma, ela permanece como uma narrativa história assustadora.

domingo, 20 de setembro de 2020

O Olho de Zyre - O Anel Maldito do Dr. Emmitt


Existem pessoas com histórias para contar e nos últimos anos, a Internet parece ter dado voz a elas, permitindo compartilhar suas narrativas com quem estiver interessado em ouvi-las. Quanto mais estranhas e incomuns, melhor. Não importa o quão inacreditáveis sejam, quanto mais inusitadas melhor.

Tomemos por exemplo essa narrativa enviada a um fórum, o Spectre (atualmente encerrado) dedicado a discussão e debate a respeito do Sobrenatural em 2006. O tópico foi iniciado por uma pessoa que preferiu usar nomes inventados para os envolvidos na sua narrativa como forma de preservá-los. Ela, no entanto, afirmava que todos os detalhes eram reais e que transcorreram conforme descrito.

A pessoa que usou o nome Tess se dizia ex-secretária particular de um homem chamado W. M. Emmitt. Ela descrevia Emmitt como um respeitado Professor de Antropologia e também um especialista em Ocultismo e História Antiga. Além dessas qualificações, Emmitt era ainda um ávido colecionador de antiguidades, em especial objetos que possuíam conturbadas histórias ligadas ao sobrenatural. De fato, a devoção do Professor ao tema era tamanha que ele chegou a criar um pequeno museu para guardar seus artefatos. Este museu particular ficava em sua própria casa, no sótão e contava em seu acervo com uma série de objetos à primeira vista inofensivos, mas que escondiam uma natureza sinistra. Eram bonecas, quadros, estatuetas, peças de vestimenta, joias e um sortimento imenso de artigos insuspeitos que o Professor garantia estavam infundidos por energias paranormais. Nem todos eram necessariamente malignos, mas uma grande parte deles poderiam ser perigosos.

Emmitt passava seus dias escrevendo e preparando aulas. Com a idade ele viu a necessidade de ter um assistente e contratou a narradora dessa história para ajudá-lo a organizar sua agenda, cuidar de seus documentos e datilografar trabalhos. Como parte do trabalho, ela morava na casa e podia tirar folga nos finais de semana. No início Tess estranhou um pouco o teor do trabalho, sobretudo quando suas atribuições envolviam transcrever as informações a respeito dos curiosos itens do Museu. Com o tempo, no entanto, ela foi se acostumando com o caráter excêntrico de seu trabalho e de seu patrão, por quem desenvolveu certo grau de afeição. 

Em seus últimos meses no trabalho, Tess começou a se preocupar com a saúde do Prof. Emmitt. Em suas próprias palavras, ele havia se tornado obsessivo com um item em particular recém chegado à sua coleção. Tamanho era seu interesse a respeito desse item que ele passou a sonegar suas aulas e compromissos. Até mesmo seu sono era deixado de lado para se dedicar exclusivamente a saber mais a respeito do objeto. A coisa em questão tinha um nome chamativo, o "Olho de Zyre", uma grande opala negra encrustada em um anel bastante antigo.

Tess não sabia dizer em que circunstâncias o Dr. Emmitt havia obtido o anel, mas suspeitava que ele teria chegado às suas mãos através de algum antiquário, já que vários deles costumavam suprir a coleção do estudioso com itens que lhe pudessem ser interessantes. Boa parte da coleção havia sido adquirida daquela maneira. 

Antes de conseguir a peça, Emmitt teria realizado extensivas pesquisas a respeito da sua história: sua origem, quem foram seus donos e como ele influenciou a vida de diferentes pessoas. As considerações de Emmitt eram gravadas e depois entregues à sua assistente para que ele fizesse a transcrição para seu arquivo pessoal. Mas naquele caso ele decidiu manter para si suas conclusões, o que era uma quebra da rotina, algo incomum em uma pessoa tão metódica.

Foi nesse ponto que a narrativa começou a ficar realmente estranha, levando a secretária a descobrir um inesperado mundo de obsessão, insanidade e horror sobrenatural.

Os estudos do misterioso Olho de Zyre se tornaram o foco de todos os esforços de Emmitt e sua secretária imediatamente percebeu a mudança dele. Foi no dia 11 de março de 201x, que ele recebeu o objeto e voltou para casa com um brilho diferente nos olhos. Emmitt levou imediatamente o pacote fechado para seu estúdio e pediu para não ser perturbado uma vez que tinha muito trabalho pela frente. Tess relatou que ele passou várias horas trancado no aposento e que ao passar pelo corredor conseguia escutar através da porta algumas palavras vindo de dentro. 

À princípio, Tess não chegou, uma vez que, imerso no trabalho, Emmitt se desligava de tudo. Entretanto, daquela vez ele ficou afastado por muito tempo o que a preocupou. Depois de bater à porta, ela obteve uma ordem ríspida vinda de dentro para não perturbar a não ser que fosse chamada. Depois disso, Tess decidiu não incomodar novamente o professor e saiu para sua folga de final de semana sem perturbá-lo mais. Ao retornar na segunda feira o encontrou de melhor humor. Ele pediu desculpas por sua reação, mas reforçou que precisava de paz e tranquilidade para que seu trabalho pudesse progredir. 

O Prof. Emmitt, também falou brevemente sobre o anel cuja história ele havia levantado. A secretária escreveu a respeito da primeira vez que ela e o professor falaram a respeito do objeto:

"Na ocasião, o Professor Emmitt mostrou uma fotografia do anel que ele estava pesquisando. Depois disso, ele se tornou muito zeloso de compartilhar qualquer informação a respeito do item. 

A foto, disse ele, havia sido tirada no início dos anos 50 para uma seguradora que exigia essa formalidade. A imagem mostrava um anel de aro grosso com uma grande opala no topo. Segundo o Doutor aquela era a única imagem registrada do anel já que seus donos sempre se mostraram relutantes em capturar sua aparência em foto (o anel aparecia também numa pintura retratando um antigo proprietário dele, datada de 1838). De acordo com o professor, seus donos raramente mencionavam a joia, exceto para parentes próximos ou amigos íntimos. Se era pelo valor dela ou por temer atrair atenção indesejada, não ficou claro. Ele deu a entender que sua história estava ligada a ocultistas e pessoas com legítimo interesse pelo assunto.

É curioso que naquela ocasião eu não percebi a ironia de que o Professor incorria no mesmo comportamento dessas pessoas, preferindo me mostrar a foto do anel ao invés do próprio que estava logo ali, no escritório. Só me dei conta disso mais tarde, mas não questionei pois estava habituada às pequenas excentricidades dele.

O que posso dizer pela foto é que eu não gostei do anel... ele parecia grosseiro, algo grande e desajeitado que provavelmente ficaria exagerado na mão. A foto era próxima o bastante, permitindo ver detalhes da enorme pedra redonda. Havia algo inquietante nas raias azuladas suspensas na superfície da opala negra, algo que eu não conseguia explicar. Aos meus olhos, pareciam pequenas formas de pessoas desenhadas, como sombras dançando na superfície escura. Algo que me causou um arrepio involuntário.

O que mais posso dizer é que era lisa, mas não parecia trabalhada como se tivesse sido encontrada daquela forma, moldada exclusivamente pela natureza. Percebi que havia uma pequena parte lascada como se alguém tivesse batido a opala com força e quando questionei a respeito, o Professor observou que uma joia com tantos séculos era difícil jamais ter sido de alguma forma avariada. Quando ele mencionou "tantos séculos" eu perguntei inocentemente qual era a idade da peça e ele me lançou um olhar estranho. Não sei explicar, mas era como se eu tivesse feito uma pergunta imprópria, ou que ele julgava indevida. O professor apenas apanhou a fotografia e desconversou dizendo que tinha que prosseguir em seu trabalho e que não queria ser incomodado. Como eu disse, estava acostumada às suas pequenas excentricidade e dei de ombros".

Mas as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas nos dias que se seguiram. O Professor Emmitt passava cada vez mais tempo trancado com a coisa, perdendo palestras e aulas. Nas poucas vezes que saia do escritório ele se comportava de forma arredia: tinha os olhos arregalados, estava pálido e irritadiço, muito diferente de seu estado normal. Suas refeições eram compostas de porções cada vez menores. Após alguns dias com esse comportamento recluso, ele deixou de ir à universidade de uma vez por todas. Depois disso, se negava a atender telefonemas e responder mensagens, mandando que a secretária inventasse desculpas.

Tess temia que a saúde mental e física de seu patrão estivessem em perigo. De fato, ele não descia mais para comer, pedia que a bandeja fosse deixada na porta em horários fixos e mais de uma vez, Tess a encontrava intocada. Por vezes, ao recolher o prato ela ouvia sons vindos do interior, mas até então, ela não se sentia à vontade ara espionar o professor e se meter nos seus assuntos. Ela reconhecia estar preocupada, mas não a ponto de romper a confiança do velho estudioso.

Duas coisas, no entanto, fizeram com que ela mudasse de ideia. 

A primeira aconteceu na noite de 19 de março quando um grito medonho vindo do estúdio a acordou no meio da madrugada. Tess se vestiu rapidamente e foi ver do que se tratava achando que encontraria a porta trancada como habitual. Mas ao invés disso se deparou com o professor saindo do aposento furtivamente. Ele estava claramente confuso e assim que viu Tess, mergulhou a mão no bolso do roupão. A secretária ficou impressionada ao ver como o homem havia mudado em apenas uma semana: normalmente alguém cuidadoso com a aparência, ele estava desgrenhado com barba por fazer, descabelado e com a roupa amarrotada. Com algum esforço, Tess o convenceu a descer até a cozinha onde ofereceu uma refeição leve.

Tess escreveu a respeito dessa pequena interação com o Professor:

"Quando mencionei que ele deveria fazer uma pausa ele me olhou com uma expressão de desconfiança que me deixou consternada. Ele então fez um movimento de se levantar: "Eu tenho muito o que fazer... eu não posso... não quero..." mas acabou sentando novamente como se estivesse demasiadamente cansado. Eu tentei oferecer algum apoio, para que ele pudesse se abrir e percebi o quão cansado estava. Mas ele se limitou a sorrir sem graça elogiando o cheiro da sopa que eu estava esquentando. A seguir disse: "Você está me ajudando, Tess... mas eu preciso de mais tempo para esse trabalho. Não é algo fácil... é algo que... cobra um preço alto.. todos que pesquisaram sobre isso... sabe...", e nesse momento ele se empertigou incomodado e pediu que eu levasse a sopa pois ele subiria para adiantar alguns pormenores de sua pesquisa".    

Aquela foi a última vez que Tess conversou com o Prof Emmitt e em retrospecto ela pensou que deveria ter insistido mais com ele. Talvez se o tivesse feito pudesse impedir o que aconteceu a seguir.

Nos dois dias que se seguiram, 20 e 21 de março, Tess não viu o Professor W.M. Emmitt ou ouviu qualquer som vindo do estúdio. As bandejas de comida se acumulavam e ela estabeleceu que na manhã seguinte bateria à porta ou chamaria algum amigo do professor, não importando se isso significasse sua demissão.

Nas primeiras horas da madrugada de 22, Tess foi dormir e teve o mais bizarro dos pesadelos que descreveu conforme segue:   

"Tive um sonho muito estranho sobre o Professor Emmitt. Estávamos no estúdio e ele estava sentado na poltrona. Ele estava usando o anel de opala e falando comigo em um tom calmo, ainda que eu não conseguisse entender as palavras que usava. Era um idioma exótico com palavras sem sentido. A medida que eu ouvia, percebi um detalhe curioso: a boca do Professor não se movia, seus lábios estavam entreabertos, mas sem articular palavras. As palavras pareciam emanar de outro lugar, não dele mas das sombras que se acumulavam no canto do aposento. Eu senti muito medo de olhar naquela direção, como se ali estivesse escondido algo muito ruim.

Minha atenção então se voltou para o Professor Emmitt. A expressão dele mudara: espelhava confusão, uma mistura de medo e desespero como jamais pensei ver em uma pessoa tão resoluta. Ele estava pálido, sua face transfigurada em uma máscara de horror com olhos vítreos dos quais escoriam lágrimas. Seus lábios se moveram e num sussurro ele pediu socorro. Foi quando acordei apavorada. Eu sabia que embora fosse um sonho, aquilo estava de fato acontecendo com ele."

Tess verificou o relógio, eram 4 horas da manhã e assim que o sol raiou, ela decidiu procurar o Doutor. Ela estava determinada a entrar no estúdio e descobrir de uma vez por todas o que estava acontecendo. Foi uma decisão impetuosa da qual ela iria logo se arrepender, pois o que encontrou naquela sala maldita era muito pior do que poderia imaginar. 

(cont...)

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Fantasmas no Deserto Gelado - Narrativas de Assombrações na Antártida


O desolado continente da Antártida conjura sobre si uma imagem infernal de desertos prístinos e paisagens gélidas. Trata-se de um território que não foi feito para o homem e onde tudo parece conspirar contra sua presença nele. Mas é claro, ele continua atraindo nossa atenção e exploradores se aventuram em seus perigosos limites, decididos a conquistar essa fronteira final. Nessa relação de vida e morte, muitos nunca retornam.

O que poucas pessoas falam a respeito é que a Antártida também possui lugares assombrados onde medo e terror se mesclam com o clima impiedoso. 

Um dos lugares mais sinistros no continente não oferece muito para ver, já que não passa de uma velha cabana abandonada e exposta aos elementos na isolada Ilha de Winter, parte do arquipélago argentino. A casa, que oficialmente atende pelo nome de British Faraday Station (Estação Britânica Faraday), ou simplesmente Estação F, foi construída em 1947 por James Wordie, que foi membro da Expedição Endurance liderada por Sir Ernest Shackleton em 1914-1917. Ela foi usada como observatório e base para pesquisas de geofísica, meteorologia e estudos sobre a ionosfera. A casa seria usada por décadas antes de ser completamente abandonada quando as operações principais foram transferidas para a Ilha de Galindez que oferecia condições melhores. A casa original, a Wordie House ainda se mantém como uma casca vazia em meio a paisagem branca, abrigando todos os seus fantasmas.


Os poucos que estiveram lá nas últimas décadas relatam histórias sobre acontecimentos estranhos no interior do abrigo erguido com madeira e tijolos. Dizem que objetos se movem espontaneamente, que pequenos incêndios começam sem causa aparente e que ruídos tétricos, de coisas sendo arranhadas e de passos podem ser ouvidos. Mas não é só isso: há também presenças invisíveis, uma sensação esmagadora de estar sendo observado e um senso de ameaça tão forte que muitos se dizem fisicamente acossados. Mais de uma expedição cancelou a estadia prolongada na casa depois de alguns poucos dias, preferindo seguir para outros abrigos a despeito de serem menos confortáveis. Há relatos feitos por conceituados cientistas a respeito desses incidentes, narrativas de pessoas sérias que nada teriam a ganhar inventando tal coisa.

A Casa Wordie foi investigada pelo programa de televisão Destination Truth que se propõe a visitar lugares assombrados. Na ocasião, a equipe experimentou incidentes estranhos durante sua estadia, incluindo objetos caindo das prateleiras, portas fechando sozinhas e o inquietante som de interruptores de luz sendo ligados e desligados sem que ninguém estivesse presente. Mas a descrição mais contundente é a da sensação pesada e ameaçadora que permeava essa cabana no fim do mundo. Os apresentadores e nem a equipe conseguiam definir o sentimento: era como estar em um lugar que decididamente não queria receber visitas. Como se uma força consciente estivesse de alguma forma conspirando para que as pessoas fossem embora e jamais voltassem.

A fonte dessa força permanece desconhecida, assim como a certeza do que ela realmente seria. Muito se discute se pode ser um fantasma ou uma assombração no sentido clássico de alguém ter morrido lá e seu espírito continuar presente nas paredes. Mas na Casa Wordie, o espectro parece ser algo diferente do convencional, não o fantasma de uma pessoa, mas um depositário de emoções e medos acumulados que de alguma forma teria permanecido ali. À luz da parapsicologia, fortes sensações, sobretudo de pavor e apreensão, podem dar origem à áreas em que os tormentos um dia experimentados continuam reverberando indeterminadamente. E quem for suficientemente sensitivo é capaz de captar tal coisa.


Nesse caso, a Casa Wordie seria um perfeito exemplo de local capaz de represar sensações fortes. Inúmeras expedições se abrigaram ali ao longo das décadas, temendo pelo desfecho, pelas interperies e pelas suas próprias vidas. Seria possível que estas tivessem partido, mas deixado para traz emoções duradouras? Aqueles que visitaram o local, mesmo os mais céticos, acreditam que a possibilidade existe.

Incidentalmente, a mesma equipe do programa Destination Truth explorou outro lugar com fama de assombrado na região. Trata-se de Deception Island que foi deixada para apodrecer nos tempos difíceis da Grande Depressão quando o preço do óleo de baleia que era produzido lá despencou. O local não é mais do que um ajuntamento de velhos depósitos e um cais decrépito ocupando uma triste praia pedregosa numa das ilhas mais escuras do arquipélago. Antigos barcos de pesca e baleeiros permanecem lá, enferrujando no pier semi-congelado. Basta um breve olhar para sentir que se trata de um lugar esquecido.

Construído no fim do século XIX, o local um dia foi usado como porto para baleeiros que predavam as águas gélidas do atlântico sul. Os arpoeiros arrastavam baleias mortas até a costa onde a carne delas era fervida em enormes toneis de ferro para extração de óleo. Pedaços delas também eram colocados em ganchos e pendurados nos depósitos. Os ossos por sua vez, eram pulverizados para serem aproveitados como adubo. Deception Island foi um lugar de trabalho brutal, com homens endurecidos pelo serviço extenuante e pelo clima implacável. Ela chegou a receber até 60 habitantes antes de fechar suas portas para sempre, alguns jamais partiram como comprova o pequeno cemitério nos fundos do local.


A equipe do programa de TV viu coisas muito estranhas em sua passagem pela ilha: aparições, vultos, sombras e vozes inexplicáveis. Também reportaram ter ouvido batidas secas vindas de um dos depósitos, não por acaso, onde havia uma imensa pilha de ossos de baleia. Um dos maiores mistérios, entretanto, envolvia uma figura sombria que parecia espreitar o local, como se estivesse curiosa com a súbita aparição de visitantes depois de tanto tempo sozinha. O grupo usou um aparelho de leitura térmica que captou essa presença desconhecida próxima de uma janela, quando não havia ninguém lá. Um estranho ruído de leves batidas, que foi interpretado como código morse, também foi captado por um microfone instalado na antiga sala de comunicações da estação. Coisas realmente sinistras de serem vistas e ouvidas, sobretudo quando se está há quilômetros da civilização em um lugar tão austero.

Um lugar possivelmente ainda mais assombrado na Antártida é a Ilha de Ross, que foi o palco de uma grande tragédia em 1979. Na época, alguns serviços turísticos ofereciam a bravos viajantes uma oportunidade de conhecer o continente e viver uma aventura diferente. Em 28 de novembro de 1979, um avião saindo da Nova Zelândia carregando 257 pessoas seguiu para Ross Island com objetivo de fazer um sobrevoo panorâmico. Ocorre que a equipe não tinha experiência voando em condições polares e a visibilidade no dia em questão era realmente ruim. Quando o piloto baixou o avião para que os passageiros pudessem ter um vislumbre da Geleira de Ross, a perda momentânea de visibilidade fez com que o avião alterasse o curso e só tarde demais percebesse que estava indo na direção da elevação conhecida como Monte Erebus. O avião se chocou espetacularmente contra a montanha matando todos à bordo.
 
Os corpos foram resgatados do solo congelado e levados até a Estação McMurdo, uma base norte-americana na ilha, o único lugar habitado em quilômetros. Lá aguardariam até serem transportados de volta à Nova Zelândia. Com tamanha tragédia cercando o incidente não é surpresa que o local tenha se tornado palco de várias assombrações. Visitantes e a equipe da Estação McMurdo contam ter visto aparições de passageiros vagando sem rumo pela tundra congelada ou aparecendo pela própria base. Também ouvem sons de vozes, gemidos e até mesmo gritos de horror carregados pelo vento. Esses espectros, por vezes horrivelmente mutilados, jamais interagem com aqueles que os veem, e é especulado se eles próprios sabem que estão mortos. Para alguns parapsicólogos quando grandes tragédias ocorrem, ecos de memórias de alguma forma ficam impressas na paisagem como a imagem de um filme. Isso explicaria o testemunho de várias pessoas que afirmam categoricamente ter visto um avião fantasma (que não produz som) sobrevoando a Ilha na mesma rota fatídica que o levou até o Monte Erebus.


Não por acaso, após o acidente fatal, companhias aéreas civis foram descredenciadas para voar sobre a Antártida e apenas vôos especiais que servem aos exploradores recebem autorização. Mesmo os mais experientes pilotos sabem que voar sobre a Antártida é complicado em face das mudanças climáticas, tempestades repentinas, rajadas de vento e baixa visibilidade. Os voos muitas vezes são realizados com o uso de aparelhos.  

Também na Ilha de Ross pode ser encontrado outro lugar assombrado que celebra uma tragédia que teve repercussão em todo mundo em 1913. A trágica expedição britânica Terra Nova, liderada pelo audaz explorador Robert Falcon Scott tinha natureza científica e visava ser a primeira a chegar ao Polo Sul. Infelizmente, ela não apenas falhou em conseguir sua primazia, mas todo o grupo que atingiu o Pólo morreu na jornada de volta. 

O incidente causou grande comoção já que Scott era visto como um herói nacional na Grã-Bretanha, igualmente admirado e celebrado pelas suas façanhas. Os restos da expedição, e de seus membros, só foram encontrados oito meses depois. O mais irônico é que o acampamento final deles estava apenas alguns quilômetros de distância de um abrigo com suprimentos que os salvaria. Scott e seus comandados, no entanto, não tinham mais forças para prosseguir e acabaram perecendo exauridos física e emocionalmente. Só é possível imaginar como foram os seus momentos finais, sabendo que não havia escapatória, ainda que esta estivesse logo adiante - tão longe, tão perto.  

Um memorial, na forma de uma cruz com o nome dos exploradores, foi erguido pelo grupo de resgate que encontrou os corpos. É um rumor persistente desde sua construção que o memorial se tornou um lugar fantasmagórico que atrai não apenas o espírito dos membros da malfadada expedição, mas também outras pessoas que tiveram mortes trágicas na Antártida. Testemunhas afirmam que figuras etéreas, vultos e sombras costumam ser vistas rondando os arredores do Memorial Terra Nova. O som de soluços amargos e de choro pode ser ouvido, segundo alguns.


Há um senso de profundo pesar e tristeza pairando no ar, um sentimento que alguns se referem como uma aura inquietante e não-natural. Para algumas pessoas, meramente permanecer ali por mais tempo que o necessário atrai pensamentos funestos, de aflição e melancolia. Alguns até contemplam ideias sobre suicídio como a solução para seus problemas. De fato, visitar o local não é agradável.

Como se não bastassem esses sentimentos incômodos, há manifestações que permeiam o local: sons anômalos de vozes, gritos, choro e sussurros carregados pelo vento. Também existe a impressão de que próximo da cruz, o clima gélido parece ainda mais congelante.

O que dizer de todas essas histórias macabras? Seria possível que fantasmas de exploradores e visitantes mortos na Antártida ficaram presos no continente gelado pela eternidade, capturados em uma espécie de loop que os obriga a reviver para sempre seus últimos (e piores) momentos?  

Tais histórias nos recordam que mesmo nos limites da civilização, em um reino afastado de gelo e vento, lugares assombrados podem existir. Mesmo elementos tão severos são incapazes de afastar presenças espectrais que espreitam. E há algo de especialmente triste em imaginar esses espíritos solitários habitando um dos lugares mais inóspitos do mundo.