Durante o final do século XIX, colecionadores amadores de fósseis e paleontólogos profissionais sabiam que alguns dos espécimes mais interessantes de ossos e dentes de animais pré-históricos, podiam ser encontrados na China em farmácias que ofereciam todo tipo de remédios naturais, chás, ervas e plantas curiosas. Os artefatos eram geralmente coletados em pedreiras e minas por camponeses em todas as províncias da China e comercializados com boticários. Eles eram então triturados e vendidos como ingredientes para o tratamento de uma enorme variedade de doenças. Os farmacêuticos acreditavam genuinamente que peças do esqueleto de animais pré-históricos, em especial dinossauros, eram ossos de dragões. Estes conforme a tradição tinham propriedades mágicas que podiam sarar qualquer coisa, desde epilepsia até possessão demoníaca.
Um dos primeiros paleontólogos a coletar "ossos de dragão" nas drogarias chinesas foi um médico alemão chamado K.A. Haberer, que viajou para Pequim em 1899, durante a Rebelião dos Boxers. Aquela era uma época perigosa na China, mas isso não intimidou Haberer em sua busca apaixonada por fósseis valiosos. Ele conseguiu coletar uma quantidade substancial de espécimes antes de ser forçado a deixar o país para sua segurança.
Quando Haberer voltou para casa em Munique, doou sua coleção a um professor chamado Max Schlosser, para ser examinada. A coleção representava aproximadamente 90 formas de mamíferos de uma variedade de grupos distintos, desde antílopes com milhões de anos até tigres dente-de-sabre e imensas hienas. Era uma coleção impressionante, mas talvez o espécime mais intrigante fosse um molar de aspecto humano que Haberer encontrara em uma modesta farmácia de Pequim.
Acreditava-se que o dente tinha cerca de 2 milhões de anos e estava perfeitamente preservado. Schlosser pensou que possivelmente ele pertencia a um novo gênero humano, até então desconhecido. A descoberta não mereceu muita atenção e acabou sendo deixada de lado. Schlosser não sabia na época que seu palpite era preciso, nem sabia que estava de posse de um dos fósseis humanos mais antigos do mundo. Levaria mais de duas décadas para que a importância do dente fosse reconhecida mundialmente.
Moldes do Crânio do lendário Homem de Pequim. |
Fascinado pelas descobertas de Schlossers e Haberers, um geólogo sueco e especialista em mineração em missão na China, Johan Andersson, começou sua própria busca por fósseis únicos. Em 1914, ele começou a vasculhar artefatos nas farmácias de Pequim e posteriormente escavar sítios. Um dos lugares em que ele estava particularmente interessado ficava à cerca de 30 milhas de Pequim. Conhecido como Chicken Bone Hill (Colina dos Ossos de Galinha), o lugar era assim chamado devido à enorme quantidade de ossos de pássaros encontrados na área.
Ao longo de dois anos Andersson passou seu tempo escavando ao redor da Colina. Em 1921 um homem local o abordou e contou sobre um lugar próximo que tinha uma coleção ainda maior de ossos antigos. Ouvindo o conselho do sujeito, o geólogo o seguiu até uma pedreira de calcário chamada Chou Kou Tien, a Colina dos Ossos de Dragão. Após uma breve escavação ele descobriu uma mandíbula de porco fossilizada e, no dia seguinte, uma variedade de artefatos, incluindo dentes de rinoceronte e mandíbulas de ursos. Não demorou muito para que a coleção de fósseis atingisse um tamanho impressionante, representando uma variedade de mamíferos com milhões de anos de idade. Anderson acreditava ter tropeçado em um achado notável e sua suposição estava correta.
A imensa coleção foi enviada à Suécia para ser examinada no Museu de Uppsala. Levou vários anos para se inspecionar a enorme quantidade de espécimes, mas valeu a pena o esforço. Em outubro de 1926, os especialistas separaram dois dentes: um molar e um pré-molar na que eram de particularmente interessantes e provenientes de uma raça de hominídeos, uma espécie pré-humana não catalogada. Curiosamente, os dentes se assemelhavam aos encontrados por Haberer na virada do século.
Os dentes foram entregues ao chefe do departamento de anatomia da Universidade de Medicina de Pequim, Dr. Davidson Black, na esperança de que ele confirmasse a opinião. Black não apenas confirmou, mas deu início a uma das maiores escavações do mundo em busca da origem daqueles hominídeos misteriosos. A caçada conduziu a descobertas que mudariam tudo o que se sabia a respeito da evolução da humanidade e causariam sensação mundial.
O Dr. Black inspecionando as escavações na China |
Também resultaria em um dos maiores mistérios científicos do século XX.
O Dr. Black era um renomado antropólogo, cientista e aventureiro canadense, fascinado com a questão da origem do homem. Black acreditava que o berço da humanidade estava em algum lugar do oriente, mais especificamente na Ásia Central. Em um primeiro momento ele fez pesquisas na China, e explorou os planaltos centrais à procura de fósseis que pudessem corroborar suas teorias. Atrapalhado pelo início da Grande Guerra, quando teve de retornar a Inglaterra, Black só pode dar prosseguimento às suas explorações em 1919, quando se fixou em Pequim, trabalhando como professor de Palentologia e Neurobiologia na Escola de Medicina da Capital.
Após seis anos de pesquisa, Black foi promovido a chefe do departamento de anatomia. Durante este tempo, havia turbulência política fermentando na China entre o Exército Nacional Revolucionário, o Partido Comunista e o Partido Nacional do caudilho Chiang Kai-Shek. Embora rumores de guerra circulassem por todo o país e as tropas chinesas se preparassem para a batalha iminente, a ameaça não deteve os cientistas que trabalhavam na Universidade.
Em 1926, a situação política e militar piorou muito e informações sobre chacinas, levantes e conflito causavam enorme preocupação. As batalhas entre os Senhores da Guerra da China aumentaram, colocando em risco as expedições. Enquanto balas e bombas choviam sobre Pequim e arredores, os cientistas da faculdade e suas famílias temiam por suas vidas. Muitos decidiram deixar a China e se refugiar em seus países de origem.
No entanto, Black e alguns outros se recusaram a partir. A descoberta dos dentes dos hominídeos por Andersson naquele ano foi motivo suficiente para ficar e fazer mais pesquisas em Chou Kou Tien, apesar das batalhas em curso na área. Foi uma decisão ousada, arriscada, mas que trouxe informações capazes de mudar a história.
Black ao lado das descobertas que poderiam mudar a história da humanidade |
No momento em que Andersson deu a Black os dentes antigos, ele imediatamente lançou uma investigação em grande escala. Após um exame mais detalhado, Black ficou surpreso ao descobrir que os dentes eram evidências que apoiavam sua teoria de que a China era o berço dos primeiros seres humanos. Em um relatório a seus superiores, ele afirmou que os dentes tinham aproximadamente 2 milhões de anos. Se suas conclusões estivessem corretas, representariam a mais antiga evidência conhecida de antepassados do homem. A grande descoberta enviou ondas de choque pela comunidade científica e levou a um levantamento sistemático de Chou Kou Tien no verão de 1927. A investigação arqueológica conduzida por cientistas e trabalhadores manuais continuaria por 14 anos, produzindo resultados surpreendentes.
Black foi nomeado coordenador da escavação e seu trabalho era dirigir todos aspectos do empreendimento: Contratar escavadores, obter fundos e examinar quaisquer restos humanos fossilizados que pudessem ser descobertos. Ele nomeou o proeminente geólogo chinês Dr. V. K. Ting como o diretor honorário do projeto. Ting e Black trabalharam insistentemente, removendo toneladas de terra e pedras, obtendo peças enterradas há milhões de anos. No outono, aqueles que trabalhavam no local desenterraram uma massa de animais fossilizados pertencentes a várias espécies. Mas a pressão para encontrar fósseis do hominídeo estava aumentando, especialmente porque a escavação estava programada para terminar em breve. Faltando apenas três dias para fechar os trabalhos outra grande descoberta foi feita.
Era um molar semelhante aos encontrados anteriormente na mesma vala. Depois de examinar o dente, Black concluiu que ele tinha milhões de anos e provavelmente provinha de um gênero humano novo e distinto, totalmente desconhecido pela ciência até então. Ele deu ao homem fossilizado o nome latino de Sinanthropus pekinensis, que significa literalmente Homem de Pequim.
Black colocou o valioso dente em um medalhão e o carregou consigo ao pescoço para dar sorte. Vários meses depois, ele o levou para a América e teve o dente examinado por vários especialistas para validar a data e a origem. Ele também o apresentou à Fundação Rockefeller, que foi a organização que financiou o projeto de escavação. Embora tenham ficado satisfeitos com a descoberta, a fundação queria mais evidências antes de renovar seu patrocínio.
Na primavera de 1928, a escavação começou com entusiasmo renovado. Durante meses, cientistas e escavadores trabalharam na argila e no calcário sem encontrar novos vestígios humanos. Justamente quando seu entusiasmo começou a diminuir, fizeram sua descoberta mais significativa. Em novembro daquele ano, uma parte da mandíbula do Homem de Pequim, vários dentes e fragmentos de crânio foram descobertos poucos dias antes do final da temporada. Pela primeira vez, os cientistas foram capazes de sugerir como o homem primitivo devia ter se parecido. Estava ficando cada vez mais claro que os restos fossilizados eram de fato de um novo gênero de homem e distintamente diferente dos humanos modernos.
Mais uma vez, Black apresentou os artefatos à Fundação Rockefeller na esperança de receber verba. Desta vez, ele teve sucesso e saiu com $ 80.000, uma fortuna considerável para a época. Era dinheiro suficiente para criar um Laboratório Cenozóico que poderia examinar os artefatos descobertos e determinar sua idade.
Para grande parte do mundo, 1929, foi um ano terrível com a Quebra da Bolsa de Nova York que lançou as economias do mundo numa crise sem precedente. Mas, para os paleontólogos de Chou Kou Tien, foi um ano glorioso. Pei Wenzhong, o recém-nomeado diretor geral do local, era um homem muito persistente e obstinado. Ele havia atingido uma camada de argila fossilizada negra de profundidade incerta e quase impenetrável. Após semanas de trabalho, seus trabalhadores finalmente romperam a camada e foram recompensados com uma grande quantidade de ossos de animais. Pei encontrou uma rachadura na superfície que permitiu que ele e um colega fossem baixados por cordas.
Um desenho do crânio pertencente ao Homem de Pequim |
A operação notável foi descrita da seguinte maneira:
"Eram quatro horas da tarde de 2 de dezembro de 1929, próximo ao pôr-do-sol com um vento de inverno trazendo temperaturas congelantes. Havia quatro homens sobre o abismo, trabalhando em um espaço tão estreito que cada um tinha que segurar uma vela em uma das mãos e trabalhar com um martelo com a outra. 'O que é isso?' Pei gritou quando a fraca chama de uma vela de um de seus companheiros tremeluziu sobre uma forma curiosa. Eles haviam encontrado o mais inestimável tesouro da escavação: Um crânio humano!"
O fóssil humano não estava danificado, metade dele estava incrustado com rocha e areia. Os homens trabalharam vigorosamente noite adentro para libertar o delicado crânio ali preso. Assim que foi removido, Black o examinou e confirmou que era do Período Pleistoceno. A descoberta foi uma sensação no noticiário internacional, catapultando Black e seus colegas para a fama instantânea na comunidade científica mundial. A expedição fazia história desvendando a história dos ancestrais mais remotos do homem.
Durante a década de 1930, evidências do homem primitivo continuaram a ser descobertas, incluindo ferramentas de pedra e indícios de que eles usavam fogo. O material encontrado gerou mais pesquisas e debates intermináveis sobre como o Homem de Pequim vivia e se parecia. Black ficava animado com cada nova descoberta e trabalhava continuamente examinando a enorme quantidade de artefatos. Ele estava tão determinado a concluir seu estudo que sua saúde foi afetada pelo estresse crescente e pela falta de sono. Em 15 de março de 1933, enquanto conduzia um trabalho de laboratório, Black morreu de um ataque cardíaco fulminante.
Mesmo com sua ausência, os cientistas sabiam que precisavam continuar com o trabalho que ele havia iniciado. Em 1935, o renomado anatomista e antropólogo Dr. Franz Weidenreich assumiu a posição de Black como chefe do Laboratório de Pesquisa Cenozóica. Weidenreich teve um trabalho difícil pois a pressão para produzir novos resultados aumentava constantemente.
Finalmente, em 22 de outubro de 1936, os trabalhadores descobriram uma mandíbula completa. Surpreendentemente, no mês seguinte, mais dois crânios foram encontrados no mesmo dia. Nesse ponto, ficou claro que eles estavam escavando um local que havia servido de lar para aqueles pré-humanos. Conforme a escavação continuava, uma grande quantidade de material foi desenterrada, o que incluía dentes e ossos representando aproximadamente 40 indivíduos. Era a maior coleção já encontrada de uma população de hominídeos. Aqueles restos pertenciam aos homens e mulheres mais antigos já encontrados.
Os hominídeos batizados de Homens de Pequim |
Os cientistas agora tinham uma imagem bastante clara de como eles podiam ter vivido. Eles eram pequenos em estatura, variando entre 1,42 e 1,46 de altura. Também tinham sobrancelhas salientes, queixos caídos e narizes largos. Se acreditava que eles andavam eretos e provavelmente pesavam cerca de 45 quilos. Weidenreich acreditava que as características físicas do Homem de Pequim se assemelhavam um pouco à dos chineses modernos.
Os cientistas ainda tinham muitas peças para encaixar nesse quebra-cabeça sobre o Homem de Pequim, quando a escavação em Chou Kou Tien teve de parar abruptamente. O Império do Japão iniciou a invasão da China, resultando em uma guerra em larga escala que colocava em risco não apenas os chineses, mas todos os que trabalhavam no local. Mesmo com a escavação interrompida, os pesquisadores continuaram a trabalhar nos espécimes que reuniram no laboratório de pesquisa. No entanto, era apenas uma questão de tempo para que os trabalhos na Universidade também fossem paralisados.
À medida que as tropas japonesas avançavam muitos dos cientistas estrangeiros preocupavam-se com o destino dos fósseis. Eles descobriram que os japoneses estavam buscando artefatos e até enviaram espiões ao local da escavação em busca de sua localização. Embora as peças fossem extremamente valiosas, temia-se que os japoneses tencionavam destruir os fósseis por considerá-los uma ameaça à sua noção de que os chineses eram um povo inferior. Não era interesse deles que cientistas considerassem a China o "berço da humanidade". Para proteger os fósseis foram contratados homens armados para defender a Universidade e seus tesouros inestimáveis.
Com os trabalhos interrompidos e as forças japonesas cada vez mais próximas, Weidenreich concluiu que o risco era muito grande. Os ossos precisavam sair da China e chegar a um lugar seguro. Ele decidiu então enviar os artefatos para os Estados Unidos sob custódia. No entanto, havia o risco dos ossos serem interceptados, roubados ou destruídos durante o transporte, uma vez que o interior da China se encontrava em um caos cada vez maior.
Antes de embalar os artefatos cuidadosamente em dois grandes caixotes de madeira, Weidenreich mandou fazer moldes de gesso dos fósseis, para garantir que ao menos estes fossem preservados. O plano era despachar a carga no final de novembro, mas os planos tiveram de ser antecipados pois os inimigos estavam muito próximos. A carga seria entregue aos cuidados de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (U.S. Marines) na embaixada. De lá, os soldados escoltariam os fósseis para a cidade portuária de Chingwangtao, onde deveriam ser embarcados no S.S. Harrison. A partida da embarcação estava programada para 8 de dezembro, rumo às Filipinas. No entanto, o plano não saiu conforme o planejado, na verdade, as coisas deram terrivelmente erradas.
Uma representação artística dos hominídeos da China |
Em algum ponto do translado, o artefato mais importante do mundo que poderia revelar detalhes sobre a evolução da humanidade desapareceu misteriosamente. Muitas teorias foram formuladas tentando explicar como os fósseis sumiram.
Pouco se sabe dos fósseis após terem sido entregues aos cuidados da Legação dos EUA em Pequim. As caixas foram passadas para um grupo de militares que segundo testemunhas deixaram a cidade três semanas antes do bombardeiro de Pearl Harbor que colocaria os Estados Unidos na Segunda Guerra. Não consta nenhum registro da chegada dos fósseis ao Complexo da Marinha ou seu embarque no navio de destino, mas é possível que o conteúdo das caixas tenha sido mantido em segredo. O que se sabe é que o S.S. Harrison foi torpedeado e afundou algumas semanas mais tarde quando estava deixando a Baia de Chingwangtao. O navio foi uma das primeiras baixas dos Estados Unidos no Pacífico.
Muitos acreditam que os fuzileiros navais temendo transportar a importante carga pelas estradas caóticas até o porto decidiram embarcá-la em um trem com destino a Tientsin. De lá planejavam levar a carga até um outro porto sob controle dos militares. Porém, ao longo da viagem, as tropas japonesas teriam detido o trem para fazer uma revista. A tensão subiu e em dado momento, um tiroteio se iniciou entre os fuzileiros e os soldados japoneses. Há duas hipóteses a respeito do que aconteceu: a primeira é que os fuzileiros conseguiram escapar levando consigo as caixas para as montanhas. A outra é que os japoneses tenham interceptado e explodido os fósseis com granadas, isso depois de executar os que escoltavam a preciosa carga.
Um relatório escrito em 1945, a pedido da Inteligência das Forças Armadas, lança alguma luz sobre o que aconteceu durante o transporte das caixas. Segundo o relatório, dois fuzileiros navais contaram que as caixas contendo os fósseis do Homem de Pequim foram guardadas em um armazém na cidade portuária de Chingwangtao. Os homens disseram que as caixas foram deixadas lá pois agentes japoneses estavam rastreando seus movimentos desde a saída de Pequim. De fato, foi o receio de que espiões sabiam sobre como seria feito o transporte da carga que obrigou o grupo a mudar seu itinerário.
Ao que parece, os japoneses não mediam esforços para interceptar e destruir os artefatos. O oficial americano encarregado do transporte, cujo nome foi mantido em sigilo, confirmou que o trem para Tientsin foi vítima de sabotadores. No porto também haviam agentes examinando cada caixa que entrava na cidade. Embora a história seja intrigante, ela nunca foi confirmada e não há evidências de que os fósseis tenham sido guardados no armazém citado. Tampouco há alguma informação sobre o que teria acontecido com as caixas depois delas serem deixadas lá.
Outra história interessante diz respeito a um escritor de Chicago chamado Christopher Janus, que nos anos 1970, tomou para si a tarefa de descobrir o que havia acontecido com os fósseis desaparecidos. Janus ofereceu uma recompensa de 5.000 dólares a qualquer pessoa com informações que pudessem revelar o paradeiro do Homem de Pequim. Ele recebeu uma resposta incomum de uma mulher não identificada que alegou ser a detentora dos fósseis. Ela exigiu que Janus a encontrasse no topo do Edifício Empire State, na cidade de Nova York para que conversassem à respeito.
Janus compareceu ao encontro na hora e local designados. A mulher que se identificou apenas como Mary contou que seu falecido marido, um ex-fuzileiro naval que serviu na China durante a Segunda Guerra, tinha uma caixa contendo fósseis, que ele disse, certa vez pertencer ao Homem de Pequim. O material teria passado anos oculto num armazém até ser recuperado por ele em 1952. A caixa foi despachada para os Estados Unidos e desde então estava em seu poder.
Para sustentar sua fantástica história, Mary mostrou a Janus uma fotografia dos ossos dispostos sobre uma mesa. O único problema é que ela disse que não entregaria os ossos por menos de 500.000 dólares. Janus conseguiu persuadir a mulher a emprestar-lhe a foto para que ele pudesse mostrá-la a um especialista. O professor de antropologia Harry L. Shapiro examinou a foto e comparou aos moldes dos fósseis concluindo que eles combinavam com os ossos da foto. No entanto, era difícil ter certeza se eram realmente os fósseis porque a imagem não era muito boa. Janus também mostrou a imagem a vários outros especialistas na área, alguns dos quais estavam convencidos de que eram os ossos desenterrados em Chou Kou Tien.
Os boatos à respeito do ressurgimento dos Fósseis do Homem de Pequim acabaram vazando e atraíram a atenção da imprensa e de alguns cientistas que estavam ansiosos para analisar a foto. Infelizmente toda essa publicidade acabou espantando a mulher que até onde se sabe, não fez mais nenhum contato. Não há como dizer se o que ela tinha era real.
Outras teorias circularam ao longo do último meio século.
Uma estátua no Museu de História Natural de Pequim representando o Homem de Pequim |
Alguns acreditam que os fósseis sequer saíram de Pequim e que foram simplesmente escondidos na Universidade ou enterrados em algum lugar para serem recuperados após a guerra. Há outros que julgam que os japoneses os confiscaram, mas não destruíram. Eles teriam sido levados para o Japão e estariam até hoje guardados em lugar ignorado. Outra teoria é que os fósseis teriam sido contrabandeados para os Estados Unidos pouco depois da liberação da China. Eles estariam em algum lugar secreto, podendo ser estudado apenas por alguns poucos homens de confiança.
Seja como for, só podemos imaginar o que um exame criterioso com a tecnologia atual, revelaria sobre a natureza dos fósseis do Homem de Pequim. O sítio arqueológico onde eles foram achados foi completamente arrasado durante a guerra, sujeito a bombardeios e explosões. Apesar de escavações terem sido conduzidas em Chou Kou Tien nas últimas décadas, nada relevante foi descoberto. Os fósseis achados na década de 1920-30 são portanto, únicos.
As teorias são numerosas, mas amplamente controversas. Uma lástima que um achado tão importante, que poderia dizer muito sobre nossas origens, se perdeu em meio a um dos mais terríveis momentos de nossa história. A loucura e insensatez da guerra parece ter nos condenado a nunca saber tal coisa.