quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Feiticeiros Negros - O Mundo obscuro da bruxaria na África
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
O Massacre - Resenha do Livro de Luciano Lamberti
Um Banquete de Horror.
É isso o que a contracapa de "O Massacre" premiado romance do escritor argentino Luciano Lamberti promete. E é exatamente o que ele entrega.
Publicado em seu país natal em 2019 o livro é um mergulho profundo em uma desgraça quase inconcebível. Ele trata da tragédia do título, o tal Massacre, sob diferentes pontos de vista analisando de forma documental os detalhes sobre o incidente. Os capítulos cobrem entrevistas com as testemunhas, interrogatório dos sobreviventes, o ponto de vista de bombeiros que trabalharam no resgate, de policiais que investigaram o caso, de parentes, amigos e conhecidos dos indivíduos envolvidos. Tudo é exposto de maneira quase documental. Cada ponto de vista oferece um vislumbre diferente e tenta explicar o ocorrido chegando a conclusão de que não há uma explicação razoável.
O inexplicável por vezes é apenas isso: algo que as pessoas estão fadadas a jamais entender.
Na trama o leitor é apresentado a idílica cidadezinha de Kruger e seus habitantes que vivem aos pés de uma montanha nevada no interior da Argentina. O clima frio e a paisagem deslumbrante, remetem aos alpes suíços. Os moradores, quase todos de origem germânica parecem levar uma existência tranquila e despreocupada tocando seus pequenos negócios, cuidando da famílias, criando seus filhos e vendo os dias passar pacificamente. Uma vez por ano Kruger celebra o Festival da Neve que marca a chegada do Inverno. É uma oportunidade para festejar, comer carneiro assado, beber cerveja artesanal, cantar e dançar. Turistas vem de longe para participar da festa e não é exagero dizer que é uma das únicas datas relevantes para o vilarejo.
Nossa pequena história de terror se inicia no inverno de 1987, quando os habitantes de Kruger estão se preparando para o tal Festival. É quando cada residente começa a manifestar um comportamento peculiar. São pequenos episódios de distração, de irritação ou de comportamento atípico. À princípio parece algo inofensivo, mas as pessoas começam a agir de maneira cada vez mais bizarra até que tudo explode numa névoa rubra de violência indescritível. É como uma bola de neve que se acumula, cresce e quando está grande o bastante, assume vida própria rolando sobre todos. Ela coloca vizinho contra vizinho, pais contra filhos, crianças contra velhos, amantes, casais... o resultado é um verdadeiro banho de sangue!
A forma de narrativa escolhida por Lamberti não é linear, ela descreve os dias que antecedem o Massacre e dá saltos cronológicos para frente e para trás meses ou mesmo anos antes do incidente. Isso não confunde o leitor, ajuda a envolvê-lo cada vez mais na trama e vai apresentando alguns sinais de estranheza. Logo no início você sabe quais as dimensões da tragédia, mas aos poucos vai entendendo como tudo chegou até aquilo.
Há ecos de pessimismo e um senso de profundo niilismo em "O Massacre", já que a história é contada de forma minuciosa, cultivando o interesse do leitor. Eu li esse livro de uma vez só, virando páginas de forma frenética, avançando na trama com uma curiosidade crescente para saber o que viria em seguida. Não espere explicações mirabolantes ou culpados, embora haja indícios do que causou o surto, o autor acerta optando por preservar o mistério e sugerindo diferentes possibilidades. É uma leitura rápida já que o livro não passa das 200 páginas, mas é muito bem construído. Lamberti consegue preservar o interesse do início ao fim e sem exagero, foi um dos melhores títulos que caiu nas minhas mãos esse ano.
Lançado aqui no Brasil pela Editora Darkside, sob o selo Crime Scene o livro tem um belo acabamento e tradução primorosa de Diogo Cardoso. Como sempre a Darkside se esmera em oferecer um requinte visual em suas edições. É notável o alto nível dos autores argentinos dedicados ao Horror e Ficção, Luciano Lamberti surge como um expoente no gênero e é bom acompanhá-lo daqui em diante.