quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Descrevendo os Horrores dos Mitos (Parte 3)

Olfato

Assim como a audição, o olfato é um dos sentidos que pode ser usado para detectar a presença de uma entidade dos Mitos de Cthulhu antes dela poder ser efetivamente vista. A grande maioria dessas criaturas possui um odor distinto, embora seja ele frequentemente nauseabundo. Em geral, um horror dos Mitos tende a ser ouvido, depois seu odor se torna cada vez mais forte e enfim ele surge diante das testemunhas estupefatas.

A melhor maneira de apelar para o sentido olfativo é usar comparações, visto que ninguém seria capaz de dizer ao certo qual o odor característico de entidades e seres de outras dimensões. Ghouls, por exemplo são criaturas que vivem em catacumbas subterrâneas. Não seria razoável supor que tais monstruosidades exalam um odor sepulcral de estagnação? Ou que os cabelos deles fedem a terra remexida? Ou que suas bocas teriam o malodor típico de uma refeição necrófaga? Um Deep One sendo parte peixe bem que poderia exalar o odor de peixes no final de uma feira. Ou quem sabe o cheiro característico de óleo de peixe? Ou ainda um leve aroma que remete a brisa marinha?

O olfato pode revelar muitas coisas. Todas as pessoas possuem (em maior ou menor intensidade) algo chamado memória olfativa. Por vezes, sentir um determinado perfume, nos remete a uma determinada situação ou a uma lembrança espontânea. Com certeza é fácil se recordar do cheiro do perfume de sua namorada ou esposa. A captação desse determinado odor leva a uma imediata lembrança.

A memória olfativa infelizmente nem sempre remonta a lembranças agradáveis e são as desagradáveis que nos interessam. Imagine um investigador que é atacado por Fire Vampires conjurados por um feiticeiro. As criaturas entram pela janela de sua casa e em poucos segundos o lugar é consumida pelas chamas. O investigador sobrevive ao inferno, mas jamais esquece da experiência e ela deixa em sua mente um terror patológico de fogo (pirofobia). A memória olfativa poderia entrar em ação sempre que ele sente o cheiro de fumaça. Sua memória ativada pelo odor ocre da combustão geraria um flashback e ele se sentiria de volta aquela situação ainda que momentâneamente.

O olfato também pode ser usado de modo alegórico. Imagine que um investigador visita um velho amigo para contar a respeito da colônia de Deep Ones que vive em Innsmouth. Depois de relatar sua fantástica estória ele se dá conta que a loção pós-barba usada por esse amigo (sempre de modo exagerado) esconde um leve porém perceptível odor de peixe. Seria verdade ou seriam seus sentidos pregando peças? De qualquer forma seria interessante ver a reação do jogador.

É fato que a maior parte das criaturas dos Mitos possui um odor pungente que desafia os sentidos, contudo essa é uma regra que pode ser quebrada. Na novela "The Hellbound Heart" de Clive Barker, os cenobitas exalam um odor de baunilha extremamente convidativo. Algumas criaturas mais desenvolvidas poderiam usar feromônios ou aromas agradáveis para atrair suas presas.

Odores desempenham um papel de destaque em vários contos de H.P. Lovecraft. Eu me recordo de uma cena em particular do conto "O Chamado de Cthulhu", quando o sepulcro gigantesco do Grande Cthulhu se abre em R´Lyeh, e os infelizes marinheiros são confrontados "por um fedor mais tenebroso que o de 1000 túmulos abertos". Já no conto "Notebook found in a Desert House" o autor Robert Bloch, descreve detalhadamente a experiência sufocante de um personagem confinado a poucos metros de um Dark Young.

Em determinadas situações o odor pode ser tão avassalador que desencadeia reações diretas nos personagens. De todas as criaturas existentes na Mitologia Lovecraftiana, talvez nenhuma seja mais ofensiva que um Shoggoth. A criatura é constituída por uma enorme massa protoplásmica semelhante a dejetos que se formam e reformam infinitamente. O odor de tais seres poderia justificar rolamentos de Constituição para conter vômito ou náusea. Em uma escala mais drástica a exposição poderia causar a perda dos sentidos, estupor ou reações físicas. Não se poderia desconsiderar também alergias ou sufocação.

O pior é que alguns odores podem ser potentes a ponto de impregnar as roupas e o próprio corpo dos investigadores. E poucas coisas podem ser mais terríveis do que uma vítima traumatizada não conseguir se desvencilhar do odor persistente da coisa que a aterrorizou.

Paladar

Assim como o tato, o paladar fica em um segundo plano quando os mitos são descritos.

Parece bobagem, mas certos mitos possuem odores tão aviltantes que podem deixar um gosto distinto na boca dos investigadores. Imagine passar em meio a uma criatura composta de uma massa amorfa de gases sulfurosos. Tudo o que respiramos é levado para nosso corpo e uma pequena parcela pode ser captada pelas nossas papilas gustativas.

A reação a esse estímulo pode variar muito. Um investigador pode experimentar um gosto azedo ou metálico ao estar próximo de uma criatura cujo odor é especialmente penetrante. Essa exposição pode não trazer consequências mais sérias do que uma sensação desagradável, contudo não se pode desprezar as possíveis implicações. Imagine a quantidade de agentes patogênicos existentes no corpo de uma aberração ancestral confinada há milênios em uma catacumba. Reações alérgicas ou septicêmicas poderiam ser esperadas.

Investigadores podem ser expostos a uma criatura de tal forma que sentem o gosto dessa criatura. Por exemplo, imagine um investigador tragado por uma criatura gelatinosa como Nyogtha ou aquosa como Bugg-Shash. Na ânsia de escapar de um "afogamento" na superfície semi-líquida de um monstro, o indivíduo poderia engolir parte dele. Quais as reações ele experimentaria deixam margem para muitas interpretações (nenhuma delas particularmente agradável).

A outra circunstância em que o paladar pode ser usado como recurso, se refere aos investigadores sendo submetidos a algum procedimento ou experiência por criaturas dos Mitos. Certas raças alienígenas como os Mi-Go, Yithians e Elder Things vêem os humanos com uma curiosidade quase científica. Seria bastante razoável supor que tais criaturas tivessem interesse de estudar espécimes humanos capturados. Estas criaturas poderiam ministrar substâncias, drogas, fórmulas ou alimentos de natureza alienígena em seus cativos.

Descrever o gosto nessas situações pode ser uma tarefa complexa, por isso o melhor seria usar analogias ou comparações. Um alimento usado pelos Mi-Go pode ser adocicado, enjoativo e semelhante em sabor a uma mistura almiscarada de vinagre e canela. O gosto deixado pelo contato direto com um Star Spawn of Cthulhu, seria semelhante a de mariscos estragados. O keeper pode sugerir as misturas mais inusitadas e perturbadoras.

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