Originalmente publicado em 28/11/2012
Certos personagens da história parecem viver além de seus feitos. Certos atos parecem incríveis, sensacionais, estranhos demais para terem realmente ocorrido do modo que as testemunhas relataram.
Tais indivíduos se tornam lendas e são lembrados por muito tempo.
Essa é a história de uma personalidade obscura da história, o infame Barão Roman Fedorovich Ungern-Sternberg. Talvez a maioria dos leitores jamais tenha ouvido falar nele, afinal o homem morreu na década de 1920 do outro lado do mundo em uma região inóspita da Ásia Central, mas a história incrível do Barão Sangrento o coloca entre os mais peculiares vilões do mundo real.
O sujeito é quase um personagem de ficção, tamanhas as reviravoltas de sua vida e a maneira como ele impactou uma nação. Dá para usar esse sujeito como um vilão praticamente pronto para uma campanha de Call of Cthulhu ou Rastro se passando na Mongólia.
Leiam e julguem por conta própria...
Ah sim, um agradecimento ao amigo Alfredo Bronzato por me apresentado a biografia do digníssimo Barão.
* * *
"Meu nome está cercado por tamanho ódio e medo que ninguém pode julgar o que é verdade e o que é mentira, o que é história, e o que é mito."
(Barão Roman Fedorovich von Ungern-Sternberg, 1921)
Com base no artigo do Dr. Richard Spence
Na Mongólia, havia uma lenda do príncipe
guerreiro, Beltis-Van. Notável por sua ferocidade e crueldade, ele derramou
"enorme quantidade de sangue humano antes de ter encontrado sua morte nas
montanhas de Uliasutay." Seus assassinos enterraram os corpos do Príncipe e de
seus seguidores bem fundo na terra, cobriram as tumbas com pedras pesadas, e
adicionaram "encantamentos e exorcismo para que seus espíritos não irrompessem
novamente, carregando morte e destruição." Essas medidas, foi profetizado,
prenderia os terríveis espíritos até que sangue humano se derramasse novamente
sobre o local.
No início de 1921, prossegue a história,
"russos vieram e cometeram assassinatos perto das temíveis tumbas, manchando-as
com sangue." Para alguns, isso explicava o que se seguiu.
Quase no mesmo instante, um novo chefe
guerreiro apareceu em cena, e pelos próximos seis meses ele espalhou terror e
morte pelas estepes e montanhas da Mongólia e mesmo nas regiões adjacentes da
Sibéria. Entre os mongóis ele ficou conhecido como o Tsagan Burkhan, o "Deus da
Guerra" encarnado.
Posteriormente, o Dalai Lama XIII proclamou-o
uma manifestação da "divindade furiosa" Mahakala, defensor da fé budista.
Historicamente, o mesmo indivíduo é mais conhecido como o "Barão Louco" ou o
"Barão Sangrento". Seus detratores não se encabulam de chamá-lo um bandido
homicida ou de psicopata.
O homem em questão é o Barão Roman Fedorovich
von Ungern-Sternberg. Seus feitos podem apenas ser esboçados aqui. Com a eclosão
da Revolução Russa, Barão Ungern achou-se na Sibéria oriental onde ele se aliou
com o movimento anti-bolchevique os chamados "Russos Brancos". Porém, seus sentimentos monarquistas
extremos e modos independentes o tornaram um perigo nessa facção.
Em 1920, ele liderou sua "Divisão Asiática
Montada", uma coleção heterogênea de russos, mongóis, tártaros e outras tropas,
para os ermos da Mongólia, uma terra efervescendo com resistência contra a
ocupação chinesa. Reunindo mongóis sob sua bandeira, no início de fevereiro de
1921 Ungern conquistou uma aparentemente miraculosa vitória tomando o controle
da capital mongol, Urga (hoje Ulan Bator), de uma grande guarnição chinesa. Ele
então restaurou o líder temporal e espiritual dos mongóis, o "Buda Vivo"
Jebtsundamba Khutukhtu Bogdo Gegen, ou, mais simplesmente, Bogdo Khan e se
estabeleceu como chefe guerreiro sobre a Mongólia Exterior e os destacamentos
russos Brancos que haviam se refugiado ali.
Cercando-se com um círculo interno de
bajuladores homicidas e videntes, ele instituiu um reino de terror que clamou
como vítimas judeus, comunistas autênticos ou suspeitos, e centenas de outros
que, de algum modo, despertaram a ira ou suspeita do Barão. Em junho do mesmo
ano, ele lançou uma mal-fadada invasão à Sibéria soviética que terminou com sua
captura pelo Exército Vermelho e seu subsequente julgamento e execução em 17 de
setembro.
Esse artigo foca no misticismo real e alegado
do Barão Ungern e sua influência sobre suas ações. Uma questão chave é se sua
suposta "loucura", em todo ou em parte, era uma interpretação equivocada de sua
devoção ao budismo esotérico e outras crenças.
Os Primeiros Anos
Enquanto o Barão passou a maior parte de sua
vida no serviço dos Romanov, ele era quase completamente alemão por sangue. Ele
veio ao mundo como Robert Nicholaus Maximilian von Ungern-Sternberg em 10 de
janeiro de 1886 em Graz, Áustria. Na Estônia governada pela Rússia, seu pai,
Teodor Leonard Rudolf von Ungern-Sternberg, introduziu seu filho na nobreza
tzarista como Roman Fedorovich. Os Ungern-Sternbergs eram uma antiga e ilustre
família. O Barão datava sua linhagem pelo menos em mil anos e se vangloriava com
seus captores bolcheviques de que 72 de seus ancestrais haviam dado suas vidas
pela Rússia em muitas guerras.
Existe a sugestão de instabilidade mental,
mesmo loucura, em sua linhagem próxima. Por exemplo, um ancestral do fim do
século XVIII, Freiherr Otto Reinhold Ludwig von Ungern-Sternberg, ganhou infâmia
como pirata e assassino que morreu no exílio siberiano. O próprio pai de Roman
tinha uma reputação de "homem mau" cuja violência e crueldade levou ao seu
divórcio e a uma proibição de que ele tivesse qualquer "influência" sobre seus
filhos.
No que concerne o estado mental de Roman von
Ungern-Sternberg, obviamente um diagnóstico de insanidade só pode ser feito após
um exame por um psiquiatra, algo impossível nesse caso. Porém, Dmitry Pershin,
uma testemunha que tinha uma visão razoavelmente positiva do Barão, ainda sentia
que Ungern sofria de alguma "anormalidade psicótica" que fazia com que ele
perdesse a cabeça sob a mais "mínima provocação", usualmente com resultados
terríveis.
História posteriores afirmaram que o
comportamento aberrante de Roman era o resultado de um corte de sabre em sua
cabeça, mas ele manifestava tendências violentas e rebeldes desde muito antes.
Seus dias escolares foram marcados por constantes problemas; no Corpo de Cadetes
Navais, ele recebeu não menos que 25 punições disciplinares antes de se retirar
antes de uma expulsão garantida. Sua educação o deuxou com uma aversão
permanente pelo "pensamento" que ele equiparava a "covardia."
Como oficial júnior antes e durante a Primeira
Guerra Mundial, ele estabeleceu uma reputação como um encrenqueiro violento com
uma tendência para a embriaguez. Porém, ele também recebeu medalhas por feridas
e bravura inconsequente. Nas palavras de um superior, o jovem Barão era um
"guerreiro por temperamento," que "vivia para a guerra" e aderia a seu próprio
conjunto de "leis elementais." Essas últimas eram influenciadas por um interesse
no misticismo e no ocultismo, principalmente da variedade oriental.
O Barão como Guerreiro Místico
Exatamente quando e onde esse interesse começou
é incerto. A variedade pessoal de fé de Ungern, se é que era Budismo, aderia à
seita mística tibetana Vajrayana ou Tântrica. O jovem Roman ganhou seu primeiro
gosto do Oriente como parte da infantaria durante a Guerra Russo-Japonesa, e ele
passou de 1908 a 1914 como um oficial cossaco na Sibéria e na Mongólia. Foi
então, ele afirmou depois, que ele formou uma "Ordem de Budistas Militares" para
servir ao Czar e lutar contra os males da revolução. As regras dessa Ordem
incluíam o celibato e o "uso ilimitado de álcool, haxixe e ópio." Esse último
era para ajudar os iniciados a superarem sua própria "natureza física" através
dos excessos, mas como o Barão confessou, isso não funcionou como ele tinha
planejado. Posteriormente, na Mongólia, ele impôs uma proibição rígida sobre a
bebida. Ainda assim, ele afirmou, ele reuniu "três centenas de homens, ousados e
ferozes," e alguns que não pereceram durante a luta contra a Alemanha e os
Bolcheviques ainda estavam com ele em 1921.
Ungern abandonou sua comissão regular no fim de
1913. Sozinho, ele partiu para a vastidão da Mongólia Exterior que havia
proclamado independência da China. Segundo um relato, ele ergueu-se como
comandante das forças de cavalaria do inexperiente Exército Mongol, enquanto
outro mantém que ele uniu-se a um bando de saqueadores do sanguinário rebelde
anti-chinês, Ja Lama. Em algum ponto, Ungern acabou na cidade de Kobdo (Khovd)
na Mongólia ocidental como um membro da guarda do consulado russo local.
Um de seus camaradas lembra que "quando se
observava Ungern, sentia-se levado de volta à Idade Média...; ele era um
retrocesso aos seus ancestrais cruzados, com a mesma sede por guerra e a mesma
crença no sobrenatural." Outro lembra-se que ele demonstrava "um grande
interesse pelo Budismo," aprendeu mongol e passou a frequentar lamas videntes.
Segundo Dmitri Aloishin, um tardio e involuntário membro do exército do Barão,
os "professores budistas de Ungern o ensinaram sobre a reencarnação, e ele
firmemente acreditava que em matar pessoas fracas ele apenas fazia a elas um
bem, já que elas poderiam ser criaturas mais fortes na próxima vida."
Os paralelos entre o anteriormente mencionado Ja Lama e o Barão parecem bem próximos para serem mera coincidência. Também conhecido como o "Lama com uma Mauser", Ja Lama brevemente tornou-se mestre da Mongólia ocidental. Outro "budista militante," ele ganhou uma temível reputação por arrancar o coração de seus infelizes prisioneiros e oferecê-los em taças em forma de crânio humano como bali (sacrifício) aos "deuses tibetanos do terror." Um desses rituais "tântricos" de execução ocorreu em Kobdo no verão de 1912, pouco antes de Ungern aparecer no local. Em fevereiro de 1914, o cônsul russo em Kobdo prendeu Ja Lama e algumas tropas cossacas, possivelmente incluindo Ungern, e escoltou os cativos ao exílio na Rússia. Teria Ja Lama se tornado um modelo para o Barão, ou mesmo uma inspiração religiosa?
Um ângulo tibetano figura proeminentemente na
subsequente fuga mongol de Ungern. O Buda Vivo era ele mesmo um filho da Terra
das Neves Perpétuas, e existia uma pequena comunidade tibetana em Urga. Uma
centena, aproximadamente, desses homens formaram uma sotnia (esquadrão) especial
nas forças do Barão e tiveram um papel crítico no ataque sobre Urga, tendo
resgatado o Bogdo de sob os narizes de seus guardas chineses. Os chineses e
mongois estavam convencidos de que o feito havia sido realizado através de
feitiçaria. Esses tibetanos mantinham uma distância do resto do exército do
Barão; aparentemente outros eram afastados por seu hábito de jantar em tijelas
feitas com crânios humanos, talvez o mesmo tipo de vasilhames usados nos ritos
de sacrifício de Ja Lama.
O nexo tibetano também garantiu para o Barão um
elo com Lhasa e o Dalai Lama, a quem ele enviou cartas pessoais. Após se poder
na Mongólia ter entrado em colapso, Ungern sonhou com liderar os remanescentes
de sua diversão até o Tibet para se colocar a serviço do santo budista. O
prospecto dessa missão extenuante e potencialmente suicida foi a gota d'água em
provocar motim contra o Barão.
Também servindo sob Ungern em sua aventura
mongol estava aproximadamente 50 soldados japoneses. Isso alimentou acusações de
que ele seria um instrumento do imperialismo japonês. Enquanto está claro que as
Forças Armadas japonesas monitoravam as atividades do Barão e achavam que ele
poderia ser útil, é igualmente evidente que eles não tinham qualquer controle
sobre ele. Ainda assim, esse minúsculo contingente japonês recebia rações
melhores e o privilégio único de consumir álcool. Registros militares japoneses
sugerem que os homens eram em sua maioria "pequenos aventureiros" atuando por
conta própria, mas isso não está muito claro. Seu comandando, um Major ou
Capitão Suzuki, havia conhecido o Barão em 1919 em um "Congresso Pan-Mongol" e a
dupla mantinha uma amizade especial e secreta.
Uma possibilidade intrigante é que Suzuki não
era um emissário do Exército de Mikado, mas de uma das sociedades secretas que o
permeava, como a Sociedade do Dragão Negro, ou a ainda mais secreta Sociedade do
Dragão Verde. Essa última era baseada em uma seita de Budismo esotérico, e sua
agenda Pan-Asiática e Pan-Budista se confundia com as próprias crenças de
Ungern. O Barão sentia que o Ocidente havia perdido seu ancoradouro espiritual e
havia entrado em uma fase de desintegração moral e cultural. A Revolução Russa
não era mais que uma manifestação dessa corrupção avançada. Apenas no Oriente,
especificamente no Budismo, ele via uma força capaz de resistir a essa
decadência e de restaurar uma ordem espiritual no Ocidente.
(Continua)
(Continua)
hummm muito interessante...me soou como " Vlad Tepes e seus Machados " voltando a ativa depois de umas férias ! aguardo ansioso a parte 2 ! Excelente postagem !
ResponderExcluirOs Loucos Anos 20 são uma grande fonte para cenários , como prova Red Orchestra , do Deviant RvBOMally.
ResponderExcluirhttp://rvbomally.deviantart.com/art/Red-Orchestra-540379626
historia aterrorisante em
ResponderExcluirPor favor,façam artigos falando sobre a Sociedade do Dragão Negro e a Sociedade do Dragão Verde,mostrando como encaixá-las no mundo dos Mitos.
ResponderExcluirFaçam também a ficha do Barão Roman em vários sistemas,tal como fizeram no caso dos membros da turma do Scooby.