sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Pavor de Insetos - A Praga Rastejante


Chama-se Catsaridafobia

Já ouviu falar? Não? Bem, é possível que você tenha, porque é uma das fobias mais comuns na atualidade, típica das grandes cidades. Os médicos especializados dizem que uma entre oito pessoas no mundo sofre de um quadro moderado dessa fobia, sendo que alguns casos mais graves constituem um transtorno preocupante que impede a pessoa até de sair de casa. 


Trata-se do tradicional medo de baratas.

É incrível que esse inseto, via de regra inofensivo, cause tanto pavor, asco e terror. Mas é o que diz o velho ditado: "quando o baratão bate asa não existe corajoso". Eu já vi caras enormes, correndo de barata. Tenho um conhecido ex-oficial da Tropa de Choque do Rio de Janeiro (que não vou dizer o nome), sujeito cascudo (com o perdão da palavra), do tipo que encara qualquer coisa, mas eu vivi para ver esse mesmo cara, branco, com a lividez que apenas o terror mais profundo é capaz de causar, tudo porque encontrou uma barata dentro do porta-malas do carro. Aquilo era fobia! Fobia do pior tipo! 

Eu pessoalmente *acho* que não tenho a fobia...

Assim como a maior parte das pessoas comuns, tenho uma aversão profunda ao inseto (e uma espécie de saudável respeito). "Elas lá e eu aqui, de preferência bem longe"

Mas há momentos em que não dá para evitar o confronto sobretudo quando o maldito inseto inventa de invadir nosso espaço.

Semana passada eu estava pegando a correspondência no escaninho do trabalho que fica na garagem do prédio. Eu sabia que tinham feito uma dedetização, mas não me liguei que baratas são sobreviventes por definição, que procuram os cantos mais escuros para se proteger. Uma delas, um daqueles exemplares de coleção, tamanho GGG, havia se escondido justamente dentro da caixa de correio. Quando peguei as cartas a maldita veio junto e é claro, teve de correr para a minha mão o que me levou a demonstrar um grau de maleabilidade digno de ginasta chinês. A bem da verdade, o seu Manuel, o porteiro do prédio morrendo de rir disse que eu estava mais para alguém que tinha tomado um choque violento.

De qualquer forma, o bicharoco voou longe com um movimento brusco... é claro, um aceno só não bastou, ela ficou em contato com a minha pele (um contato íntimo demais na minha opinião) por longos instantes. O bastante para que eu pudesse sentir ondas de asco incontrolável a medida que as patas ásperas passeavam e a antena roçava de leve.

E após a descarga inicial de adrenalina, imerso num tipo de choque pós-traumático, fiquei olhando  aquela "coisa saída de pesadelos" correr para baixo de um carro e desaparecer da minha vista.

Passado o susto vem aquele momento em que você tenta racionalizar a experiência e diz para si mesmo que não foi nada de mais... mas ao longo do dia se pega pensando na coisa outra e outra vez. Bem que tal canalizar a experiência de forma criativa?

Há alguns anos atrás, escrevi um artigo para Kult a respeito de um horror sobrenatural chamado Praga Rastejante que teve alguns desdobramentos interessantes. Resolvi adaptar essa mesma criatura para Call of Cthulhu /Rastro de Cthulhu expandindo um pouco mais os detalhes a respeito dela.

O resultado foi algo repulsivo... como podemos ver em seguida.

Em tempo, preferi não utilizar as horríveis imagens de baratas que colhi na internet e que deveriam ilustrar esse artigo. Isso por duas razões: primeira, acho que o leitor - mesmo um de um blog de horror não merece abrir a página de manhã cedo e se deparar com um inseto tão repugnante na tela de seu computador. A segunda é que depois do que aconteceu eu não quero dar de cara com um bicho desses tão cedo (nem mesmo em foto).

Sem mais, eis aqui uma pequena série de artigos sobre horrores rastejantes.
         
Praga Rastejante

"Era uma abominação, um horror que transcendia qualquer explicação, e ela só podia fechar os olhos diante daquele desfile de antenas, patas e olhos multifacetados. Era um dilúvio de seres rastejantes e repulsivos, tomando a forma de um homem adulto: baratas, lacraias, centopeias  cigarras, moscas. Tudo fervilhando e pulsando com as formas de vida mais abjetas. Ela fechou os olhos, e sentiu então o abraço da coisa, o abraço de mil coisas... o roçar daqueles milhares de membros segmentados, patas explorando sua pele, entrando em sua roupa, em seus cabelos. Então o supremo asco a fez perder a consciência. Ela desmaiou em uma cama de insetos."


Talvez esta seja uma das criaturas mais repulsivas, a caminhar sobre a Terra. Trata-se em essência de uma única entidade, mas que agrega uma quantidade enorme de insetos, aracnídeos, artrópodes e pequenas pragas como ratos e até morcegos em seu corpo. Originalmente, essa entidade ancestral é uma força sobrenatural invisível que tem a estranha capacidade de atrair criaturas menores e usar seus corpos para montar uma estrutura. Em geral estes seres são usados como se fossem os tijolos para a construção de um "corpo" de tamanho semelhante a um humano adulto. Ao longe e no escuro a silhueta é capaz de enganar, mas de perto é impossível não perceber as milhares de criaturas fervilhando e se movendo simultaneamente.

A Praga Rastejante habita regiões escuras em grandes cidades: esgotos, construções abandonadas ou depósitos de lixo. O propósito de sua existência é um tanto vago, talvez ele exista apenas para se alimentar, reproduzir e depois simplesmente se dispersar como se jamais tivessem existido. Ele raramente se aventura na superfície ou na luz do dia, e quando o faz, age de maneira muito discreta para não chamar a atenção. Se descoberto acabam dispersando as criaturas que o compõe fisicamente a não ser que algo desperte seu interesse imediato.

Há relatos a respeito dessa criatura blasfema habitando os sistemas de esgoto de grandes cidades e caçando seres humanos através de túneis escuros e tortuosos. É possível que essa entidade menor do Mythos seja uma abominável cria de Shub-Niggurath, já que a deusa está ligada ao princípio da fecundidade e reprodução. Sabe-se que ela possui incontáveis "filhos e filhas" nascidos e deixados na Terra e a Praga Rastejante pode ser o resultado de insetos de alguma forma "afetados" pela Deusa. Dotada de inteligência aliada a um implacável senso de sobrevivência, a Praga Rastejante é quase indestrutível.

Em um ambiente favorável, ela pode atrair hordas de insetos e atingir um tamanho assombroso. Habitantes de grandes centros urbanos: vagabundos, andarilhos e almas perdidas, sussurram estórias sobre tal criatura nefasta. Durante o inverno, a criatura permanece dormente, despertando desse estado quando se aproximam os meses mais quentes. É nesse período que ela começa a atrair insetos e forma seu corpo.  

No passado, um culto bestial devotado a Praga Rastejante surgiu entre os degenerados Tcho-Tcho que migraram para o Novo Mundo. Não demorou até ele se espalhar entre indivíduos desesperados e dementes. Os seguidores desse culto adoram insetos, invocam a Praga Rastejante para oferecer sacrifício e consomem insetos vivos em rituais de reverência, seres que segundo eles passam a viver no seu interior. 
O culto parece estar de alguma forma associado a Shub-Niggurath e ao repulsivo Grande Antigo Baoht Z'uqqa-Mogg.

Obscuro até para os padrões do Mythos, a Praga Rastejante não é mencionada em nenhum tomo ancestral conhecido. Contudo sacerdotes do povo Tcho-Tcho conhecem mais do que qualquer outra pessoa sobre esse horror indescritível. A existência de mais de uma dessas entidades é uma possibilidade  assustadora.

ESTATÍSTICAS PARA CALL OF CTHULHU

As estatísticas refletem a Praga Rastejante no momento em que ela surge e no auge de sua forma. A criatura demora seis semanas para atingir sua forma plena atraindo insetos em um raio de  três quilômetros.

PRAGA RASTEJANTE, Cria de Shub-Niggurath

STR          2d6 (7-8)           6d6 (18-19)
CON        1d6  (3-4)          4d6 +6 (18-19)
SIZ           1d6  (3-4)          10d6 +12 (42)
INT          3d6 (9-10)         3d6 (9-10)
POW       3d6 (9-10)         3d6 +3 (12-13)
DEX        3d6 (9-10)         3d6 (9-10)

Damage Bonus: +0/ +2d6
HP: 3/ 30

Ataques: Ferrões, Mordidas, picadas 45% (dano 1d3) - Forma Inicial
                Ferrões, Mordidas e Picadas 85% (dano 1d6) - Forma Plena

Nota: Na Forma Inicial a Praga Rastejante pode atacar todos oponentes a até 5  metros de distância.
          Na Forma Plena ela pode atacar todos os oponentes a até 20 metros de distância.

Armadura: Imune a qualquer ataque físico, exceto fogo, frio e magias. Frio intenso (por exemplo, um extintor de incêndio) faz com que a Praga Rastejante perca 2d6 pontos por rodada. Ao chegar a zero HP a criatura perde a sua coesão e os insetos se dispersam. A essência da Praga é invisível e só pode ser afetada por armas mágicas ou por feitiços. Se dispersada ela irá se recompor dentro de 1d6 meses em geral em outro local.

Feitiços: Conhece 1 magia para cada ponto de POW, as magias são ligadas a Shub-Niggurath e ao seu culto.

Habilidades: Sneak 70%

Sanidade: 1/1d6 para a Forma Inicial
                1d3/2d6 para a Forma Plena

ESTATÍSTICAS PARA RASTRO DE CTHULHU

Os números se referem a Forma Inicial e a Forma Plena.

Habilidades: Atletismo 4/10, Briga 6/18, Vitalidade 3/10

Limiar de Acerto: 3/ 4

Modificador de Furtividade: +1 (+3 na escuridão e em ambientes subterrâneos)

Ataques: -1 (área de 5 metros na Forma Inicial)
               +0 (área de 20 metros na Forma Plena)

Armadura: Imune a todo dano e ferimentos físicos. Fogo e Magia causam dano normal. Frio extremo (como o de um extintor de incêndio) causa +1 ponto de dano.

Perda de Estabilidade: 0 (Forma Inicial), +2 (Forma Plena)

Investigação:

Coletar Evidência: Não sei o que aconteceu, mas tenho algumas suspeitas... e nenhum delas é agradável. Havia centenas de insetos mortos na cena do crime. Muito mais do que seria considerado normal, mesmo que a cena do crime seja em uma galeria de esgoto. A quantidade de  insetos esmagados sugerem que a vítima foi coberta pelos  animais enquanto ainda estava vivo. Argh! Que forma horrível de morrer!

Biologia: Espere um pouco! Aquele é um besouro Lodochius Chaprachsys, ele não deveria estar aqui. Não são nativos dessa região e não sobrevivem nesse clima. Como diabos ele chegou aqui?

Sentir Perigo: Ao olhar na direção do beco escuro você tem um arrepio involuntário. Há algo ali dentro, você não sabe explicar o que, mas você está certo que algo está escondido ali dentro observando. Enquanto tenta ajustar a visão, e ver melhor, você sente um cheiro desagradável vindo dali... o fedor característico de um porão infestado por baratas.

História Oral: O vagabundo agradece a você pela garrafa de uísque barato, ele dá um gole e comenta pensativo: "Todo mundo que mora na rua sabe que é melhor evitar aquele depósito na Rua Washington. Dizem que o lugar está infestado de insetos. E são baratas maiores do que você jamais viu! O tipo de bicho que não tem medo de se aproximar e morder. Eu cheguei perto uma vez, dei uma olhada e corri dali. Nem por toda bebida do mundo eu passava uma noite lá dentro!"

2 comentários:

  1. Simplesmente adorei o conceito da criatura.
    Desde que você escreveu este post venho tentando narrar uma partida oneshot de Rastro com a Praga Rastejante e, finalmente, sábado agora devo conseguir.
    Se der certo, envio um resumo pra ver como ficou xD

    ResponderExcluir
  2. Acho que as pessoas não têm assim um medo de fato, e sim um nojo imenso que se tornou quase um medo, porque vamo combinar, barata é nojenta, e as baratas normais que entram em casa tem chance de terem saído do esgoto né kkk as vezes, se uma passa na sua perna já dá uma coceira, aí lá vai vc lavar com agua sabao e alcool pra garantir depois. kkk

    ResponderExcluir