terça-feira, 26 de março de 2013

Guia visual de Arkham - A cidade de Lovecraft em detalhes (PARTE 1)


por Luciano Giehl com Davi Hoefling com base no livro Arkham Unveilled

É curioso, mas embora Lovecraft tenha usado frequentemente a cidade de Arkham como cenário para várias de suas estórias, deixou em aberto alguns detalhes a respeito dela. Por exemplo, qual a população total da cidade durante os anos 1920? O que existe lá? Qual a localização de alguns dos seus locais mais importantes?

O livro Arkham Unveilled de Keith Herber resolve muita coisa, mas ele diz o seguinte: "Arkham é grande o bastante para que as pessoas não conheçam todos os seus vizinhos, mas pequena o suficiente para que tenham a sensação de que conhecem". Em seguida ele afirma que a população "corresponde a uma fração da população de Salem, que na época teria 45 mil habitantes".

Francamente eu não concordo com essa estimativa, e felizmente não estou sozinho...

Existem outros autores que mencionam que Arkham deveria ter pelo menos 50 mil habitantes e já li em uma estória que a cidade em 1930 tinha uma população de pelo menos 80 mil residentes, o que a colocaria como uma cidade mediana para a época.

O livro institui, contudo que cada grupo de leitores, jogadores e Narradores tem uma visão mental idealizada de "sua" Arkham, tentar definir certos pormenores pode gerar polêmica e nunca ser algo conclusivo. 

Eu acredito que isso constitui uma permissão tácita para que o Guardião construa sua própria Arkham. E acreditando nisso, a minha Arkham possui algumas diferenças em relação a do livro do Sr. Herber.

Primeiro: A localização da Universidade Miskatonic. A minha Miskatonic se localiza nos arredores da cidade e não dentro dela. Essa é uma mudança que no meu entender faz muito sentido já que esse é o formato padrão da maioria das Instituições de Ensino Superior. A Universidade tende a ser próxima, mas não necessariamente dentro da cidade para que exista uma certa liberdade do corpo docente em questões administrativas frente ao conselho municipal. O que eu considero para minha mesa é que a maioria dos alunos vive na cidade, no que se convencionou chamar de área do campus. Os prédios que abrigam as salas de aula e departamentos de ensino, entretanto se localizam fora dos limites distritais. Não é uma longa distância, longe disso. É plenamente possível se deslocar de ônibus, de bicicleta ou até à pé, como fazem de fato, muitos alunos.

Segundo: Se faz sentido destacar a Universidade do restante da cidade, faz mais sentido ainda mandar o Asilo Arkham para fora dos limites. Um asilo não é algo que as pessoas querem ter como vizinho, ainda mais esse asilo (onde convenhamos, coisas estranhas acontecem a 3x4). Então na minha Arkham, o Asilo um dia esteve dentro da cidade, na vizinhança de Downtown, mas foi transferido em 1900 para os arredores a cerca de 30 minutos de carro do centro da cidade. O que facilita muito cenários em que alguma presença bizarra tenta dominar o local e não há ninguém para ajudar.

Terceiro: A população. De jeito nenhum que uma cidade como Arkham tem menos de 30 mil habitantes. Arkham possui alunos vindos de todo país, dispõe de cinemas, teatros, de vida noturna, de duas gangues rivais de mafiosos, de um porto movimentado, empresas... em suma, ela pede para ser mais do que uma cidadezinha sonolenta. Fiquem à vontade para discordar, mas a minha Arkham tem uma população fixa de 60 mil residentes e uma população flutuante (composta de alunos, imigrantes não registrados ou visitantes ocasionais) de mais 15 mil. O que totaliza aproximadamente 75 mil pessoas.


Abaixo está a divisão de Arkham em bairros ou distritos. A cidade possui 9 áreas distintas cada qual com as suas características.



NORTHSIDE

O solo nesta parte da cidade ascende mais ou menos constante da margem do rio até se crispar próximo a Derby Street. É um terreno mais elevado o que o salvaguarda de cheias.

Derby Street
As ruas Derby e Curwen, particularmente próximo do cruzamento com a Brown e Jenkin, estão repletas de grandes mansões no estilo georgiano e vitoriano. Muitas têm grandes pátios, jardins geralmente cercados por muros de pedra e portões de ferro batido; algumas das casas ao norte da Derby Street podem possuir áreas realmente grandes, com bosques, suntuosos jardins com fontes e até mesmo pequenos campos de golfe em seu interior.

São propriedades requintadas, lar das famílias que enriqueceram com negócios e indústria e que mantiveram essas riquezas por gerações. Algumas das famílias mais prósperas da cidade, os novos ricos e aristocratas americanos, construíram suas residências nessa área abastada da cidade.

Curwen Street
Ao sul da Curwen Street encontra-se a região financeira e comercial, contendo muitos escritórios e sedes de firmas. Entre os marcos está a “Tower Professional Building” de sete andares, o prédio mais alto de Arkham que comporta grandes escritórios bem como as sedes dos dois principais Jornais de Arkham, o Gazette e o Advertiser. É uma área nobre de comércio frequentada por cidadãos de classe média alta e que hospeda ainda a filial da Loja Maçônica. Escritórios legais, contadores e firmas renomadas possuem sedes nessa região administrativa.

Ao longo da High Lane, indo para o norte da cidade, encontra-se uma pequena fileira de antigas fábricas abandonadas. Algumas delas foram arrendadas pela prefeitura que pretende derrubá-las e dar início a novos terrenos para construção familiar. Acredita-se que essa área planejada um dia irá se tornar a de maior prestígio na cidade. Por enquanto ela hospeda um dos mais notórios Speakeasies de Arkham, uma taverna clandestina frequentada por qualquer cidadão interessado em diversão ou em um bom trago. Controlada pela gangue de Dan "Irish" O'Bannion, o lugar ferve à noite com bandas de jazz e estouros de champanhe.

Estação de Trem de Arkham 
A Estação de Trem Boston & Maine, com seu prédio cinzento em forma de castelo fica no extremo norte do bairro. Guarnecido por duas magníficas torres laterais o pátio da estação de trens possui lojas de comércio e serviços. Através da Estação viajantes chegam e deixam Arkham com destino a Boston (sendo servidos por quatro trens diários). As demais cidades da Nova Inglaterra possuem trens agendados ao longo do dia e conexões. O serviço é rápido e eficiente como quase todos os transportes da Nova Inglaterra. Ali perto fica  a nova estação de ônibus que conecta Arkham às demais cidades do interior da Nova Inglaterra.
Hyde Street 
A Hyde Street é uma área de comércio movimentada com avenidas abertas na década de 1910 a fim de permitir o acesso de carruagens, bondes e finalmente de automóveis. As ruas foram as primeiras da cidade a serem asfaltadas e receber iluminação elétrica. No Natal elas são decoradas com enfeites para receber a parada natalina, uma das mais importantes no calendário festivo da cidade.

Dos dois lados da movimentada avenida há prédios construídos na primeira década do século com lojas no térreo e apartamentos residenciais. O Terrace Building é o condomínio mais conhecido, cinco bloco de prédios em estilo brownstone, cada um com cinco andares.

DOWNTOWN

Downtown é um terreno mais acidentado do que Northside. Conforme o terreno sobe da direção do rio, aparecem depressões e elevações criando ladeiras. A praça da cidade é a parte mais nivelada de Downtown.

Ao norte da Curwen Street o bairro é quase que totalmente residencial, e na sua maioria de classe média-baixa. As casas que rodeiam a praça da cidade são mansões, porém, as casas na parte de trás não passam de casebres antiquados, amontoados, construídos por volta de 1820. Um programa de remodelação pintou e consertou as casas frontais concedendo um ar mais limpo e digno, mas as ruelas internas mostram sinais claros de deterioração e descaso.


Derby Street
O antigo Sanatório Arkham se localizava originalmente em uma imensa mansão de dois andares em estilo georgiano, construída pelos irmãos Pickring, Paul e Thomas Jr., em 1822. Ele foi transformado posteriormente em uma casa para tratamento de mentalmente alienados, reinando no alto de uma ladeira atraindo olhares de suspeita de seus vizinhos. Não por acaso, o Sanatório foi transferido na virada do século XX para uma grande construção a cerca de 15 quilômetros ao norte da cidade.  

A maioria dos órgãos públicos e serviços civis de Arkham se encontram a oeste e ao sul da Independence Square. Inclusas estão a Prefeitura, o Tribunal de Justiça, a Cadeia, a Chefatura de Polícia e o Corpo de Bombeiros. A maioria dessas construções foram erguidas nos meados do século XVIII, em um estilo clássico, com grandes pilares e frontões; a alguns foram adicionadas novas alas mais tarde. A Prefeitura é uma construção de estilo georgiano/federalista. Profissionais como advogados e agentes de empréstimo podem ser localizados aqui, assim como os dois maiores bancos de Arkham, o Banco da América e o Banco do Estado de Massachusetts.

O entorno da praça é cercada por impressionantes mansões federalistas  construídas no começo do século XIX. Muitas foram convertidas em pensões, mas algumas ainda são o orgulhoso ninho de famílias renomadas. Os enormes carvalhos e olmos da praça concedem sombra no verão e proteção da neve no inverno. Trata-se de um lugar agradável que atrai famílias desejando fazer picnics e aproveitar os fins de semana.
Independence Square
Uma pequena área ao longo da Garrison Street se notabilizou por concentrar restaurantes de boa qualidade, cafés e uma variedade de opções para entretenimento familiar. O Teatro Jewel foi transformado no Cine Independence em 1918, mas o Amhearst ainda está em atividade com montagens dramáticas e musicais. Essa área costuma ficar agitada nas noites dos finais de semana, com alunos da universidade e visitantes, algo incomum no resto de Arkham.


A Av. Peabody, Fish Street e a Federal Street estão repletas de pequenas lojas, que também recebe uma feira uma vez por semana. A medida que as casas vão se aproximando da margem do rio, a qualidade das habitações vai decaindo progressivamente. Muitos moinhos abandonados apodrecem na beira do rio como uma triste lembrança do tempo em que estes mesmos moinhos impulsionaram o progresso da cidade. Alguns desses moinhos foram apontados como locais insalubres, usados por vagabundos e por isso são evitados pelos cidadãos de bem.

North Garrison Street
EASTTOWN

A parte norte de EastTown, acima da Whately Street, contém algumas boas e velhas casas no puro estilo georgeano. Essas casas foram construídas pelos Derbys, Ornes, Pickmans e Pickerings – os mercadores do mar que moldaram a velha aristocracia de Arkham. A maioria dessas casas, infelizmente, caíram no abandono; como um todo, as casas de Easttown são decadentes, algumas necessitando de  conserto e pintura. Fachadas magníficas carecem de pintura, paredes estão descascadas e jardins com ervas daninhas.

Vista de EastTown em 1928
Algumas famílias tradicionais de Arkham ainda residem aqui, muitas se equilibrando nas ruínas de suas casas um dia consideradas verdadeiros palacetes. Raízes de árvores são tão grandes que acabam destruindo as calçadas, tornando mais confortável andar no meio da rua. As ruas são apertadas e apenas um carro por vez cruza essas vias estreitas, calçadas com paralelepípedos.

Durante a enchente de 1888 algumas dessas velhas mansões foram tomadas pela água e acabaram ficando danificadas além da conta. Mais de uma dezena foi derrubada para a construção de prédios com tijolos vermelhos com até cinco andares. Uma avenida mais larga foi aberta para permitir o trânsito de automóveis em Whately Street.

Whately Street
Ao sul dela, o solo desce vertiginosamente até o rio. As casas são modestas e pouco espaçadas. Os poucos negros (como eles mesmos preferem ser chamados) de Arkham vivem nessa área onde são tolerados. Alguns vivem bem e são populares, cidadãos respeitados que podem traçar suas origens até antes de 1788, quando os ingleses tornaram a escravidão fora da lei. Como um grupo, no entanto, eles não são bem vistos. Alguns costumes de pequenas cidade ainda estão tristemente em voga. 
                
Um número de pequenos negócios existe ao longo da Armitage e da River Street. Trens de carga passam dia e noite apanhando caixas e sacas de mercadorias estocadas em grandes depósitos. O último moinho têxtil funcional de Arkham, movido à vapor, pode ser encontrado aqui.

MERCHANT DISTRICT

Estas duas quadras estreitas se localizam em terreno baixo, muito próximo ao rio. Cerca de 75% das lojas e estabelecimentos comerciais de Arkham podem ser encontrados aqui. A Church Street é a rua mais importante, com lojas de departamento, boutiques e excelentes antiquários, enquanto a Main Street é curiosamente secundária com mercados e farmácias. As pessoas, costumeiramente, chamam esta área de Merchant, embora, teoricamente, faça parte de Downtown.

A velha East Church e a West Church são encontradas aqui, assim como muitos galpões do começo do século XVIII. Esses galpões estão, em sua maioria em desuso, com exceção de alguns que servem como depósitos de barcos.

West Church Street
O coração do bairro é um longo bloco rodeado pelas ruas Main, Garrison, Church e West, onde se erguem grandes prédios de tijolos de dois a quatro andares, a maioria construído no começo do século XIX. São edificações resistentes feitas para durar, em 1890 um incêndio consumiu vários prédios da West Street, mas a estrutura não chegou a ser abalada. O maior posto de gasolina de Arkham, um Exxon-Mobill novinho em folha fica na esquina da West e Church. 

Church Street, da Main para a West é coberta de paralelepípedos, originalmente assentados em 1773, um trabalho realizado por operários irlandeses em sua maioria. Ocasionais becos, quase estreitos demais para um motorista experiente conseguir descarregar as mercadorias na parte de trás das lojas, se espalham pela rua. Esses becos, em geral, são cheios de crateras, latões de lixo, máquinas em desuso e caldeiras dos prédios.

A River Street já foi largamente utilizada por estivadores, carregando mercadoria, engradados e caixotes. Os depósitos continuam em uso, mas a maioria está sendo gradualmente abandonada. A Sociedade dos Estivadores e dos Marinheiros mantém a sua sede social em um sobrado no final da rua.

As duas quadras de galpões a leste da Garrison Street, na maioria feitos de madeira, foram convertidos há muito tempo em cortiços e pensões. Muitos dos moradores atuais descendem da primeira leva de imigrantes irlandeses que veio para Arkham. Aqui a rua é mais bem cuidada, resultado de um esforço voluntário dos moradores para manter a vizinhança em ordem.

South Garrison Street
Os dois blocos de lojas a leste da Garrison e ao sul da Main são compostos de construções velhas e menos impressionantes do que as lojas da Church. Muitas são casas convertidas com este fim hospedando armarinhos, quitandas e armazéns que atendem às necessidades básicas da vizinhança. O campanário da East Church domina o horizonte e quando os sinos da Igreja Católica chama os fiéis, a área se torna movimentada com o cortejo das famílias para o serviço religioso. Uma vez ao ano a procissão do Cristo Vivo é saudada pela multidão na véspera da Páscoa. O dia de São Patrício também é uma data festiva que congrega a maioria dos moradores de crença católica.

A borda oeste deste bairro é de casas mais novas em material de baixa qualidade, ela vai tornando-se cada vez mais decrépita perto da Boundary Street. Famílias de espanhóis, poloneses e portugueses se fixaram aqui para ficar próxima de uma vizinhança que compartilha de suas crenças. A Associação Cristã de Moços fica nessa vizinhança, bem como um terreno usado pelo Seminário religioso de Maristas que hospeda ainda um colégio. 

Ao longo da Boundary, principalmente no cruzamento com a Church Street, a iluminação torna-se deficitária; o norte da Main Street é esparsamente habitado. Ali se destaca o Museu do Imigrante que registra a história dos estrangeiros que ajudaram a construir Arkham.

(continua)

4 comentários:

  1. Sempre vi a Universidade dentro da cidade, levando em consideração que parte da cidade funciona como cidade universitária...Não consigo mapear ela fora dos limites, justamente pela facilidade que seria em aproveitar prédios e transportar material;

    Sobre o asilo, também coloco ele como fora. Em minha última campanha os jogadores tinham um pé atrás em se distanciar da cidade, pois ficaram a pé em uma certa situação durante a noite e não queriam repetir a experiência indo até o antro de loucura;

    E a respeito da população, também concordo que a cidade deveria ser de médio porte. Meu pensamento se deu a influência do comércio e "poder político". Regiões de comércio sempre tem um colégio político forte e proporcional a população, ainda que uma cidade "pacata", Arkham gera renda com as explorações dos estudantes e professores, mercado pesqueiro e outras possibilidades de comércio. Então sim, deve ter acima de 60 mil habitantes, não conseguindo exatidão quanto a um número na época 1920-1940.

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  2. Engraçado, eu não consigo mapear a M.U. dentro dos limites da cidade. Me parece estranho por alguma razão. Mas eu coloco ela bem próxima, a pouco menos de dois quilômetros, por isso a facilidade de chegar até lá, mesmo à pé.

    Quanto a população, acho que 60-70 mil é um número condizente com tudo o que existe na cidade. Se Arkham tivesse apenas 25 mil habitantes ficaria pouco condizente com a quantidade de localidades importantes em seu interior.

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  3. Sempre pensei na Universidade nos limites da cidade , como um campus ligeiramente afastado, mas ainda bem perto.

    Sobre a questão da população, é interessante pensar que a Uerj, por exemplo, tem mais de 30 mil pessoas entre professores, funcionários, alunos e visitantes. Só no campus do Maracanã circulam cerca de 10 mil pessoas por dia. Faz todo sentido que Arkham tenha mais gente.

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  4. genial trabajo, me ha encantando encontrar vuestro blog.

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