Muitos leitores habituais vão dizer que não tem nada a ver... que o filme não é baseado em nada nem remotamente "tentacular" (leia-se Lovecraftiano), que ele está longe do foco do blog e que no final das contas ele nem mesmo é de horror (o carro chefe aqui da página).
Certo, certo e certo novamente (!!!).
Mas se é assim, o que esta resenha está fazendo aqui?
Vou ser sincero, fazia tempo que um filme não me balançava dessa forma.
Fui assistir Mad Max - Estrada da Fúria (daqui para frente apenas Mad Max) com um misto de expectativa e dúvida. Expectativa justificada pelas críticas elogiosas de praticamente todos os que assistiram esse filme antes de mim, dúvida pelos artigos que eu li, alinhando o filme ao lado das mais variadas causas, desde ecologia, passando por feminismo até crítica social. Não que eu condene qualquer uma dessas causas, quem sou eu (?), mas é que eu desejava apenas assistir um filme de ação e não ser bombardeado por discursos indiretos, costurados no tecido do roteiro. Mad Max pra mim sempre foi ação, aventura e excitação. Explosões, destruição, perseguição... tudo o que fazia de filmes de ação dos anos 80/90 populares e que foi se perdendo nas últimas décadas.
Fui assistir Mad Max - Estrada da Fúria (daqui para frente apenas Mad Max) com um misto de expectativa e dúvida. Expectativa justificada pelas críticas elogiosas de praticamente todos os que assistiram esse filme antes de mim, dúvida pelos artigos que eu li, alinhando o filme ao lado das mais variadas causas, desde ecologia, passando por feminismo até crítica social. Não que eu condene qualquer uma dessas causas, quem sou eu (?), mas é que eu desejava apenas assistir um filme de ação e não ser bombardeado por discursos indiretos, costurados no tecido do roteiro. Mad Max pra mim sempre foi ação, aventura e excitação. Explosões, destruição, perseguição... tudo o que fazia de filmes de ação dos anos 80/90 populares e que foi se perdendo nas últimas décadas.
Eu sei que assistir qualquer filme, cheio de expectativa pode ser um erro. Raramente o filme em questão consegue corresponder ao que você idealiza. Não foram poucas as vezes que eu fui assistir algo que aguardava ansiosamente e saí cabisbaixo, imaginando o que deu errado. Mas aqui, a expectativa que já era alta, conseguiu ser superada pela realidade. Mad Max consegue a proeza de ser muito melhor do que eu poderia sequer imaginar.
Mesmo assim, porque escrever sobre um filme de ação/aventura num blog de horror? Não seria desvirtuar demasiadamente as fronteiras estabelecidas?
Bem, sim e não... reconheço que escrever essa resenha me deixou em dúvida, mas analisando por outro ponto de vista, ela faz total sentido. O Mundo Tentacular se dedica a coisas que via de regra dão medo, causam estranheza e que são em essência bizarras. O que posso dizer de Mad Max é que ele me causou mais desconforto do que qualquer filme de horror que eu tenha assistido nos últimos anos. O mundo caótico, sanguinolento, bárbaro e... insano, contemplado no filme, poderia servir como matéria prima para uma dezena de pesadelos.
Mad Max pode não ser um filme de horror, mas ele me apavorou como poucos. Ele é a própria essência destilada da barbárie, um filme que joga na sua cara o conceito que a humanidade quando destituída de seu verniz civilizado, degenera em algo muito feio de ser encarado. E a maneira como o roteiro mostra isso, tem o efeito de um soco na boca do estômago. Mad Max é um daqueles filmes que reverberam na sua mente muito depois que você sai do cinema. Você é capaz de sentir o cheiro de borracha queimada, de fumaça ocre e o rugido furioso dos motores por um longo tempo... e sob a influência desses fatores é que eu escrevo essa resenha, ainda atordoado pelo festival de loucura que é esse filme.
Quando se menciona "Mad Max" muita gente pensa imediatamente em Mel Gibson, ou ao menos no filme que transformou o ator em um astro internacional muitos anos atrás. Mas Mad Max sempre foi muito mais do que isso...
Na trilogia original de Mad Max, o diretor George Miller conseguiu transformar completamente o conceito de entretenimento, lançando mão de uma visão extrema do que seria um futuro pós-apocalíptico, no qual a humanidade degringola em uma Era de Brutalidade. Essa visão visceral, abastecida por cenas de perseguições, explosões e as mais realistas imagens de acidentes automobilístico capturadas em câmera, alçaram o nome de Mad Max ao patamar de clássico. Três décadas se passaram desde a conclusão da trilogia original, com Mad Max desaparecendo na estrada poeirenta além da Cúpula do Trovão. Desde então, o ruído das máquinas ferozes pilotadas pelos Guerreiros da Estrada, silenciou...
Mas era preciso que esse som fosse ouvido novamente e em grande estilo; com Miller novamente à frente da direção e com a paisagem desolada do outback escancarada diante dos nossos olhos. O diretor escalou Tom Hardy para o papel título e aumentou as expectativas da audiência carente à tempos de um espetáculo dessa lavra.
Desde a primeira cena, "Estrada da Fúria" vibra com a energia de um diretor veterano, fazendo aquilo que ele praticamente nasceu para fazer: nos levar ao limite da excitação, a anos luz de distância dos efeitos especiais mirabolantes e personagens caricatos dos blockbusters atuais. Miller não apenas deu nova vida a sua mais famosa criação, ele redefiniu mais uma vez o próprio gênero. O homem que escreveu as regras dos filmes pós-apocalípticos retornou para mostrar a uma nova geração o que é um autêntico Filme de Ação.
"Quem é mais louco? Eu, ou todos ao meu redor?" Em Mad Max, o mundo pertence aos loucos, pois só eles tem a fibra para sobreviver nesse ambiente extremo. Os saqueadores que povoam o deserto não são apenas ladrões de gasolina que cobiçam o que os outros possuem, eles se transformaram em criaturas movidas pelas circunstâncias, dispostas a tudo para obter aquilo que necessitam para viver apenas mais um dia. Eles não contemplam sobreviver à longo prazo, tudo o que desejam é durar até amanhã, e se não for possível, morrer de forma espetacular. Não há propósito ou planejamento, tudo se resume ao aqui e agora, não há vontade de reconstruir o mundo ou fazer dele um lugar menos abrasivo. Na Estrada da Fúria, os homens deixaram de ter esperança e abraçaram a barbárie porque sabem não existir outra opção.
"Estrada da Fúria" é um filme violento, mas a violência soa incrivelmente natural, um estado de natureza bruta que ou você aceita ou não vive para analisar. Não há razão ou discussão, os personagens apenas aceitam o seu papel no mundo e fazem o que é preciso. Nesse ambiente caótico, o novo Max Rockatansky não é um guerreiro das estradas como nos outros filmes, ele está mais para um homem guiado pelas suas memórias. Foram as suas ações que custaram a vida de sua família, e são os fantasmas de esposa e filha que o assombram quando ele vislumbra taciturno a vastidão estéril do deserto. Max vaga como um fantasma amargurado, e sua única companhia nessa estrada tortuosa são as lembranças daqueles que ele perdeu. Não por acaso, ele não parece muito normal... ele sofre com visões e alucinações que o levam aos limites da sanidade.
Enquanto perambula pela fronteira da civilização pilotando seu Interceptor V8, Max é capturado por uma quadrilha feroz e se vê transformado em uma bolsa de sangue. Reconhecido como "doador universal" por um "mecânico orgânico", ele vira um recurso valioso para um clã de guerreiros. Tatuado e marcado com ferro em brasa, ele se converte em propriedade, seus cabelos são cortados, uma coleira é fixada e ele é posto numa gaiola para ser usado quando necessário. Max se torna o escravo de sangue de Nux (Nicholas Hoult), um dos guerreiros fanáticos que serve aos caprichos do maníaco governador Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), que foi o vilão Toecutter no "Mad Max" de 1979.
Já no início, o filme não permite que o espectador respire ou assimile os conceitos apresentados. Max sofre o pão que o diabo amassou nos primeiros dez minutos e você fica até com pena do sujeito. Mas ele não é o único a sofrer: os habitantes da cidade governada pelo tirano são como esqueletos vivos implorando por migalhas. Immortan Joe os avisa com desdém para que eles não se viciem em água, pois isso os tornará fracos. O pronunciamento do déspota, ele próprio uma aberração cheia de pústulas e doenças, é de dar nos nervos, seu corpo é suprido por tubos e ele se alimenta de uma dieta exclusiva de leite materno. Vilões realmente memoráveis tem se tornado raros, mas esse é difícil de ignorar. Desde o momento que ele surge na tela, é impossível ficar indiferente, asco e repulsa vão se somando sempre que ele está em evidência.
Um dos mais notáveis guerreiros a serviço de Immortan Joe é uma mulher chamada Imperatriz Furiosa (Charlize Theron careca e sem um braço), que no início do filme recebe a missão de liderar um comboio de veículos de Gastown (a cidade do combustível) até Gun Farm (a fazenda das armas) onde deve fazer uma barganha. No meio do caminho, Furiosa muda de ideia e decide escapar rumo ao deserto. "Qualquer lugar é melhor do que onde vivemos" e com isso em mente, ela decide que escapar é sua única opção de redenção. Acontece que Furiosa não está sozinha, ela levou consigo as "parideiras" que pertencem a Immortan Joe e que formam um harém responsável por dar à luz aos seus herdeiros. Furiosa convence as mulheres a acompanhá-la, revelando a existência de um "lugar verde", de onde ela própria teria sido roubada quando criança. Com isso ela concede um fio de esperança às mulheres que vivem de forma degradante sob o jugo do governante. É claro, Joe envia seus homens atrás de Furiosa - incluindo Nux, ainda conectado a Max, sua bolsa de sangue.
E é isso...
A partir dessa premissa simples, que acreditem, não constitui um spoiler, Mad Max se transforma em uma perseguição non-stop que se sustenta por duas horas e te deixa de queixo caído várias vezes. Com exceção de alguns poucos instantes (ainda assim repletos de tensão), o filme inteiro se passa na estrada, com um veículo em movimento, viajando em rotação máxima.
Os personagens do novo Mad Max são movidos unicamente pelo desejo de sobrevivência. Max não é o herói de ação típico. Rude e perigoso, ele não se importa em apontar armas para mulheres grávidas e de distribuir socos no rosto de suas aliadas. Tudo o que ele quer é ser deixado em paz com seus devaneios, mas nem isso é possível. Nux serve a Immortan Joe com a convicção de um maníaco religioso. Ele acredita que se morrer em glória, irá viver para sempre na companhia de outros heróis em um mítico Valhalla idealizado por seu mestre. Os dois disputam espaço, mas é Furiosa quem se sobressai como condutora da trama. Charlize Theron, deixa claro que tem recursos dramáticos quase inesgotáveis, é uma daquelas atrizes que com uma única expressão, consegue dizer mais do que recitando uma página inteira. Com uma face amargurada ela se despe de qualquer vaidade e brilha intensamente numa das melhores atuações de sua carreira. Algumas pessoas dizem que o gênero ação só admite heróis do sexo masculino, mas de tempos em tempos, uma grande heroína desponta e deixa sua marca. Nessa década é difícil alguma heroína tirar o posto da Furiosa de Charlize Theron.
E o que não falta em Mad Max é ação. A montagem de som (simplesmente incrível!), a edição (impressionante), os efeitos pirotécnicos, a direção de arte (primorosa) e a música (cortesia de Junkie XL, que faz o papel de uma das aberrações de Immortan Joe, tocando guitarra em um caminhão em movimento, acompanhado de percussionistas)... todos esses elementos contribuem para estabelecer um ritmo incrível. Tudo parece se encaixar perfeitamente para construir uma experiência vertiginosa.
Mad Max sempre foi famoso pelas cenas de perseguição e quem for ao cinema esperando testemunhar acidentes fantásticos, derrapagens e capotagens vai sair em estado de graça. Comparativamente, Mad Max transforma os filmes da série Velozes e Furiosos em um passeio de ônibus do asilo indo para a igreja. A primeira grande sequência de perseguição, com Furiosa acelerando para dentro de uma colossal tempestade de areia é uma das cenas mais empolgantes dos últimos anos. Algo de tirar o fôlego! Um festival de carros sendo arrancados do chão, explosões de eletricidade e turbilhões de poeira soprando para todo o lado. E o melhor é que tudo está apenas começando.
O mais incrível é que, em um filme definido pelo próprio diretor como "uma única grande perseguição", nenhuma sequência soa repetitiva. Há inúmeras colisões, carros voando, corpos sendo arremessados e explosões, mas cada uma tem a sua própria coreografia e identidade. Nada parece exagerado ou fora de lugar. Mad Max não tenta repetir o que outros filmes já mostraram, tudo nele soa autêntico e inovador, e se a impressão é de que as batidas parecem incrivelmente reais, é porque elas de fato são de verdade. O diretor não quis recorrer ao fácil recurso dos efeitos digitais, usando quase que exclusivamente à perícia dos dublês australianos - conhecidos como os mais malucos do ramo. Dizem que o próprio diretor ficava assustado ao fim de cada sequência, temendo pela segurança dos motoristas, mas no fim houve poucos incidentes e o uso de CGI foi mínimo.
Tudo isso para chegar a uma conclusão: Mad Max - Estrada da Fúria é um daqueles filmes que surgem apenas a cada década.
É genial em sua proposta e ultrapassa com folga todos os quesitos que tornam filmes de ação algo memorável. Se você quer experimentar algo incrível em primeira mão, não deixe de ver esse filme no cinema. Prefira a versão 3D com o melhor som possível, o SOM faz toda diferença! É sinceramente imperdível e você vai sair da sessão com a sensação de ter presenciado algo que daqui a muitos anos ainda será comentado e discutido, isso se ele não se tornar o padrão para os filmes de ação daqui para frente.
Trailer #1:
Trailer #2:
Processando informações... Por favor, aguarde--
ResponderExcluirConcordo com tudo apontado na resenha.
ResponderExcluirAté minha preferência de que se usasse o Mel Gibson e fizesse a história anos a frente, com Max mais velho mesmo, foi por água (ou areia) abaixo quando vi o Estrada da Fúria.
O filme desculpa o palavreado, é foda
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