sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Armas Lendárias II - Mais cinco espadas do passado


Os leitores do Mundo Tentacular parecem ter gostado da primeira parte desse artigo sobre Espadas Lendárias, então decidi escrever uma segunda parte após ter pesquisado a história de outras cinco espadas notáveis.

Para ler a primeira arte do artigo, clique no link abaixo:

Armas Lendárias (parte 1)

Aqui estão mais cinco armas que entraram para a estória, pela sua importância ou pelas lendas que as cercam.

ULFBERTH

As Misteriosas Espadas Viking


As Espadas Ulfberht são quase lendárias entre os conhecedores de metalurgia e armas medievais. Elas foram forjadas com metal tão puro que mesmo hoje surpreendem os arqueólogos e deixam os especialisats sem palavras. Para ter uma ideia, a tecnologia necessária para criar um metal com tamanha qualidade só estaria disponível 800 anos mais tarde, durante a Revolução Industrial. De onde então vieram essas espadas incríveis achadas no extremo norte da Europa?

Cerca de 170 espadas Ulfberhts foram encontradas por arqueólogos, datando de 800 a 1,000 d.C. Um documentário da National Geographic intitulado "Os Segredos da Espada Viking", que foi ao ar em 2012, lançou um olhar científico sobre a enigmática composição metalúrgica dessas armas notáveis.

No processo de forjar ferro, o minério precisa ser aquecido a uma temperatura de 3,000 graus Fahrenheit para atingir o ponto de liquefação, permitindo ao ferreiro remover as impurezas que enfraquecem  aço (o chamado slag). Carbono também é misturado para fazer o ferro, normalmente quebradiço mais forte e resistente. A tecnologia medieval não era capaz de aquecer o ferro a uma temperatura tão elevada, dessa maneira, o slag era removido martelando a peça repetidamente, um método comum, mas não muito eficaz.

As Ulfberht, entretanto, não possuem quase nenhum sinal de slag, além disso, a concentração de carbono é três vezes mais elevada do que as outras armas construídas no mesmo período. Elas eram construídas em algo chamado "caldeira de aço". Usando essas chaminés especiais que permitiam atingir uma temperatura muito mais alta, os ferreiros nórdicos eram capazes de diminuir o slag, produzindo uma arma bem mais resistente. Apenas na Revolução Industrial forjas tão potentes seriam criadas.

O ferreiro moderno e pesquisador Richard Furrer, de Wisconsin, falou sobre as dificuldades de criar uma espada com tamanha qualidade sem as ferramentas modernas. Furrer é um especialista em metalurgia que estuda as técnicas empregadas pelos armeiros medievais. Ele escreveu vários livros sobre o tema e realizou pesquisas sobre o processo de construção de armas pelos povos do passado. No documentário, ele aceitou o desafio de tentar reproduzir uma Ulfberht usando o equipamento à disposição dos ferreiros nórdicos e metal trazido do mesmo lugar.

"Na minha opinião, forjar uma espada com tamanha qualidade, usando o material comumente encontrado na Idade Média, é uma tarefa quase impossível. Eu já tentei antes, fiz umas 50 tentativas e  apesar de saber, em teoria, como eles faziam, não tive o mesmo grau de sucesso. Para falar a verdade, não cheguei nem perto!" reconheceu no documentário.

Não é à toa que os ferreiros de tais espadas eram considerados verdadeiros mágicos. Um armeiro capaz de criar uma Ulfberth era agraciado com verdadeiras fortunas, coberto de honras e até mesmo títulos pelos líderes Jarl nórdicos. Possuir uma espada Ulfberth era motivo de orgulho para qualquer guerreiro, e dada a sua raridade, apenas os guerreiros mais importantes tinham o direito de portá-la. As espadas Ulfberth eram tratadas como armas mágicas, nas lendas nórdicas, são essas as espadas que os heróis utilizam nas sagas para derrotar monstros e inimigos valorosos. Em algumas lendas, apenas a lâmina pura de uma Ulfberth pode atravessar o pele grossa de um troll ou a couraça escamosa de um dragão. 

"Criar uma espada desse tipo era uma façanha notável e demandava um grau de habilidade incrível. Trata-se de uma espada que não enverga, por ser extremamente resistente, ela não se parte, a lâmina permanece afiada e seu peso é menor do que as outras armas. Não é para menos que essas armas eram consideradas sobrenaturais".

Furrer gastou dias na árdua tarefa de forjar uma espada com as qualidades inigualáveis das Ulfberth. O menor erro poderia colocar todo o seu trabalho à perder e resultar em um pedaço de aço inútil. Utilizando um protótipo de uma "caldeira de aço" construída em conformidade com os restos encontrados em sítios arqueológicos na Suécia, Furrer conseguiu sustentar uma temperatura de 3120 graus Fahrenheit, o bastante para derreter o aço diminuíndo a quantidade de impurezas. Em seguida, ele moldou a espada e a forjou usando o método empregado pelos ferreiros nórdicos. No final, ele teve sucesso em sua empreitada e mais com uma sensação de alívio do que alegria, apresentou o resultado de quatro semanas de trabalho. A primeira Ulberth criada em mil anos.

Mas como os nórdicos desenvolveram o know-how para desenvolver essas espadas? Arqueólogos acreditam que o material e o conhecimento para construir tais armas tenha vindo do Oriente Médio. A rota de comércio entre vilarejos vikings e entrepostos comerciais árabes, foi estabelecida na mesma epoca em que as primeiras Ulfberhts apareceram. É possível que os armeiros tenham entrado em contato com ferreiros árabes que compartilham o segredo de seu aço de extrema qualidade, esse segredo viajou rumo ao norte garantindo a fama daqueles que conseguiam reproduzir a técnica.

A ESPADA DO CZAR

O Presente de Ivan, o Terrível




Uma nova e polêmica teoria foi apresentada por arqueólogos russos para explicar o mistério de uma lâmina do século XII feita na Alemanha, adornada na Suécia e descoberta na imensidão gelada da Sibéria. A lendária espada pode ter sido um presente comprado para Ivan, o terrível, em reconhecimento por sua conquista da Sibéria, território que ele incorporou ao seu vasto Império.

A espada medieval foi descoberta acidentalmente no ano de 1975 durante as escavações conduzidas pelo arqueólogo Vyacheslav Molodin na Sibéria. Ele estava à procura de vestígios de ocupação e cemitérios da Idade do Bronze nos arredores do Rio Om em Novosibirsk. Alexander Lipatov, o chefe do grupo de escavação, desobedeceu uma ordem de abandonar as buscas em uma área e concentrrar os trabalhos em outro ponto. Na véspera, Lipatov havia encontrado duas moedas em um local específico, perto de uma árvore e então passara a escavar aquele ponto a procura de outros artefatos. Os esforços resultaram em uma incrível descoberta a pouco mais de um metro e meio de profundidade soba tundra congelada, um baú contendo várias moedas, peças de seda e uma espada com cerca de um metro de comprimento. A arma tinha uma empunhadura diferente de todas as espadas construídas na Rússia e belíssimas inscrições nos dois lados da lâmina. Dada a posição e profundidade em que foi achada, estava claro que o tesouro havia sido deliberadamente enterrado. 

Quando a espada  foi analisada, ela apresentou mais um enigma. Sua manufatura claramente não era russa, ou mesmo asiática. De fato, sua forma era tão incomum que dificilmente ela poderia ter sido forjada na Sibéria. Investigações posteriores dataram a arma como sendo do século XII ou XIII, e com base na composição do aço, concluiu-se que ela vinha do Vale do Reno na Alemanha. Ainda assim, seu estilo era tipicamente nórdico, e a empunhadura indicava uma manufatura proveniente da Suécia. A inscrição em Latim trazia a seguinte frase: "Em nome da mãe de nosso salvador eterno, senhor Jesus Cristo". 

Muito se discute como a espada fez o seu caminho até se perder em uma região isolada o deserto de gelo siberiano. É possível que ela tenha sido carregada por mercadores seguindo para o oriente distante, que tenha sido reclamada como espólio de guerra ou que tenha sido roubada por alguma tribo evenko. Segundo especialistas em história siberiana, até o fim do século XII existia uma antiga estrada chamada Zyryanskaya, que ligava a Rússia ao Rio Ob nos limites da Sibéria. Essa estrada era usada por mercadores que rumavam para a Mongólia e conseguiam atingir a China. Arqueólogos descobriram ao longo dessa antiga estrada vários artefatos - moedas, peças de prata e jóias medievais espalhadas pelos Urais, que sem dúvida foram perdidas pelo caminho por viajantes ou escondidas por saqueadores.   

Entretanto, essa teoria encontra um obstáculo, uma vez que o local onde o baú contendo a espada foi achado fica a centenas de quilômetros da estrada, em uma região marcada por pântanos perigosos e floresta densa.

Vyacheslav Molodin tem uma proposta diferente. De acordo com sua teoria, a espada pode ter sido comprada como presente a Ivan IV (Ivan, o Terrível), que foi o Grande Príncipe de Moscou entre 1533 e 1547 e Tsar de toda Rússia entre 1547 e sua morte em 1584. Sabe-se que Ivan incentivou o comércio entre a Rússia e a Europa durante seu reinado, especialmente a aquisição de armas de qualidade para equipar seu exército, considerado atrasado para os padrões da época. Molodin supõe que a espada tenha sido adquirida pelo legendário guerreiro Ivan Koltso, enviado para a Alemanha para comprar armas que foram usadas pelos cavaleiros cossacos. 

Koltso é uma figura peculiar que ganhou um status folclórico na Rússia. Ele era descrito como um dos maiores, senão o maior guerreiro de toda Rússia: um homem corpulento com mais de dois metros e meio de altura, barba ruiva trançada, olhos ferozes e uma habilidade para o combate corpo a corpo inigualável. Segundo as lendas, ele participou de sua primeira batalha aos 12 anos, e nessa matou três homens. Ao longo de sua carreira como guerreiro ele teria derrotado centenas de inimigos em combate pessoal, conquistando a fama de imbatível com espada, martelo, machado ou com as próprias mãos. Koltso era tão temido que inimigos se rendiam diante dele, antes mesmo de entrar no compo de batalha: bastava saber que ele era o comandante que os líderes depunham as armas aos seus pés. Quando ele esteve na Europa Ocidental para negociar armas, teria se metido em uma briga de taverna na qual matou três homens com as próprias mãos. Quando as autoridades tentaram detê-lo ele se defendeu dizendo: "Vocês alemães são muito moles. De onde vim, isso não passa de um carinho". 

A fama de Ivan não era gratuita, ele havia acabado com uma rebelião na Sibéria cortando a cabeça de todos os líderes tribais que ficaram contra seu Imperador. Quando alguns o desafiaram dizendo que não temiam a decapitação, Ivan criou outras formas de execução, entre as quais o dilaceramento com cavalos, o atropelamento com bois e (meu favorito!) o esmagamento craniano com uma marreta na bigorna. O detalhe é que o próprio Koltso levava à cabo as execuções pois contabilizava cuidadosamente quantas pessoas havia matado.

A espada pode ter sido comprada na Alemanha, como um presente à altura do Imperador. Uma vez que ela foi encontrada nas estepes da Floresta Baraba, a menos de três quilômetros onde acredita-se Koltso pereceu em batalha, alguns crêem que ela estava sendo levada para Ivan. Há uma lenda de que Koltso só foi vencido porque sua espada se partiu depois dele estilhaçar a lâmina contra o crânio de um oponente. Cuspindo pragas ele continuou lutando com as próprias mãos despachando pelo menos meia dúzia de inimigos. Receosos, seus oponentes resolveram disparar flechas e matá-lo de uma distância segura.

Segundo a lenda, Koltso teria garantido sozinho a fuga do restante da caravana que carregava tesouros para o Tsar. Seria possível que um ou mais dos membros da caravana tenham se separado durante a fuga e perdido o rumo da estrada, adentrando a tundra siberiana? Nessa hipóstese, para não permitir que os tesouros caíssem nas mãos de saqueadores, o responsável teria dado a ordem de enterrar os valores perto de uma árvore de onde poderiam ser recuperados mais tarde. Infelizmente, ou ele não sobreviveu ou não consguiu achar o local exato.

Seja como for, a magnífica espada ficou enterrada por todo esse tempo. Hoje ela está exposta no Museu de St. Petersburgo.

VINDA DO ORIENTE

A Espada Chinesa achada na América antes do Descobrimento


Em 2014 um agromessonsor no Estado da Georgia, estava escavando um poço quando se deparou com algo estranho enterrado no leito seco de um riacho. Ele apanhou o objeto medindo cerca de 30 cm e coberto de terra, limpou a superfície e se surpreendeu com a descoberta de uma lâmina de pedra toda trabalhada. Sem saber, ele encontrou aquela que pode ser a prova definitiva de que a América do Norte foi visitada por navegadores chineses antes da "Descoberta de Colombo".

A belíssima espada parecia muito antiga, mas ninguém sabia ao certo precisar sua origem e idade. Levando até vários especialistas em museus, ninguém conseguia extrair maiores informações, até que para a surpresa geral um arqueólogo com conhecimentos em cultura asiática chegou a uma surpreendente conclusão: a lâmina era feita de lizardita, uma pedra que só pode ser encontrada em depósitos no hemisfério oriental. 

Os testes de termoluminiscência, visando precisar a origem do mineral falharam por interferência do solo que se entranhou na composição. Uma segunda tentativa de datação via rádio carbono foi parcialmente conclusiva, com uma data estimada em 1530 e 1046 da era Cristã.

Até então, a arma, tratada como uma adaga dada seu tamanho, não passava de uma curiosidade, mas foi quando especialistas começaram a examinar os curiosos símbolos na sua lâmina e empunhadura que veio a conclusão estarrecedora. Os glifos gravados cuidadosamente na peça eram muito semelhantes a símbolos presentes em itens de jade das Dinastias Xia, Shang e Zhou. A figura no pomo, um dragão é um adorno típico da da Dinastia Shang, usado como símbolo real. Na opinião de especialistas que examinaram a arma, ela seria um item ritualístico, uma Espada Votiva, um objeto entregue a dignatários, diplomatas e indivíduos ilustres que as carregavam como símbolo de missões imperiais. Além disso, haviam vestígios de que pedaços de jade, agora perdidos, teriam sido engastados na empunhadura. Para a cultura chinesa do período, o jade era mais valioso que o ouro, um símbolo de poder e prestígio.

Uma espada votiva funcionava como uma espécie de chancela imperial, itens marcados por ela se tornavam parte do Império, pessoas que juravam empunhando a arma estavam jurando em nome do Imperador e decisões tomadas na presença do item, tinham força de lei.      

É claro, uma conclusão tão surpreendente despertou ondas de reprovação e controvérsia. Alguns etnógrafos acreditam que os símbolos na espada não eram chineses e sim de origem Olmeca. O Império Olmeca teve seu ápice em meados de 1500, uma época que coincide com um dos extremos da datação por carbono 14. Esse povo dominava técnicas avançadas de metalurgia, construía objetos de bronze e armas de qualidade. Os olmecas partilhavam do mesmo fascínio dos chineses pelo jade e usavam a pedra esverdeada como adorno em armas e objetos especiais. Ferramentas com peças de jade incrustada foram encontradas por conquistadores nos tesouros saqueados dos olmecas despachados para enriquecer a Coroa da Espanha. 

Mas é estranho que um item Olmeca tenha sido encontrado a uma distância considerável de seu centro de poder. Os Olmecas faziam comércio com seus vizinhos do Sul, na Costa do Mosquito hondurenha e na Península de Yucatán, raramente eles viajavam além das suas fronteiras ao norte e o Estado da Georgia estaria bem distante de suas rotas de comércio. É possível, no entanto, que alguém tenha adquirido a arma e levado para terras distantes, mas como ela teria se perdido?

Segundo estudiosos chineses que receberam autorização para examinar a espada, não resta dúvida que os símbolos são de um antigo dialeto usado pela Dinastia Shang. Os caracteres expressam uma espécie de agradecimento aos Deuses e devoção eterna, se é que eles realmente são chineses em origem. Várias outras espadas votivas do período, que se encontram em Museus na China apresentam incríveis semelhanças com a peça descoberta na América.

Infelizmente sem a certeza de um teste de datação, a controvérsia permanece e junto com ela a questão: "Teriam os chineses estado na América antes de Colombo"? E se a resposta é afirmativa, por que não encontramos mais artefatos de sua passagem por essas terras? Teria sido a espada cravada no solo como uma espécie de bandeira sinalizando a posse imperial daquele território recém descoberto?

O que sabemos hoje é que cerca de 90 anos antes de Colombo partir em sua viagem de descobrimento pelo Caribe, os chineses da Dinastia Ming já haviam enviado uma flotilha sob o comando do Almirante Zheng He em viagens pelo Oceano Indico. Há rumores de que documentos oficiais mencionam terras ainda mais distantes visitadas pelos navegadores chineses, registros mantidos em sigilo uma vez que tais descobertas constituíam um importante segredo imperial.

Seja como for, a Espada Votiva da Georgia é por si só, um artefato enigmático que irá continuar a nos fascinar por muito tempo. 

SHAMSHER

A Espada Indiana da Perfeição


A perícia de armeiros e ferreiros indianos é conhecida mundialmente, mas nenhuma espada é tão perfeita quanto a lendária Shamsheer, literalmente "A Espada da Perfeição".

A lâmia recurva de 75 centímetros em desenho persa, na forma de uma cimitarra apresenta características únicas e tem surpreendido especialistas em armas ao longo dos anos. Mais impressionante é o fato dessa arma fazer parte de uma coleção única, construída por um mestre armeiro que parece ter forjado apenas esta arma e suas irmãs antes de desaparecer na obscuridade.

A Shamshar é acompanhada de uma adaga recurva (jambiya), de um estilete longo e agudo, de uma maça de cabeça maciça, de um elmo de batalha e de um par de manoplas. Todos os itens fazem parte da mesma coleção, uma vez que o armeiro responsável, cuja identidade jamais foi conhecida, marcou cada objeto com adornos e filigramas semelhantes, como se estivesse assinando sua obra prima para a posteridade.

Apesar de todos os itens terem uma qualiadde superior, a Shamshar é de longe a mais notável. Um exemplo incrível de como a metalurgia indiana era avançada para seu período. A arma foi forjada em meados do ano 1000, ou assim acreditam a maior parte dos estudiosos. Ela e o resto do kit, teria sido produzida como presente para herdeiro recém nascido de um Rei que desejava ver o filho empunhar aquelas armas um dia, quando se tornasse adulto. Segundo a lenda, o governante ordenou que os melhores ferreiros de seu reino produzissem suas armas e que não poupassem esforços, pois o melhor deles seria regiamente recompensado.

A Shamshar obviamente foi a espada escolhida e a recompensa do armeiro foi tamanha que ele pôde se retirrar dos negócios. Ainda segundo a lenda, o mestre usou parte de sua fortuna adquirida para desaparecer já que muitos desejavam contratar seus serviços para construir uma peça semelhante e ele não acreditava ser capaz de repetir a façanha. Em outra versão da estória, o Rei pagou tão alta quantia para que o ferreiro se aposentasse e não mais pudesse forjar itens semelhantes aos criados para seu herdeiro.

Seja lá qual for a estória verdadeira, se é que uma delas de fato o é, a Shamshar permaneceu no tesouro real enquanto o Príncipe crescia. Infelizmente, antes de atingir a maioridade, o rapaz teria sofrido um acidente fatal de montaria. O pai, em sua fúria cega e tristeza, mandou que o rapaz fosse vestido com armadura e colocado num sepulcro luxuoso cercado dos tesouros que jamais usou em vida. 

Séculos se passaram e a dinastia caiu por falta de herdeiros... muito tempo depois, um novo governante em tempos de guerra, sonhou com uma espada perfeita enterrada num sepulcro. Acreditando que tais armas poderiam ser de grande valia para o esforço de guerra ele ordenou a abertura do sepulcro do jovem príncipe e a remoção da espada. De acordo com as lendas, a espada caiu nas mãos de um jovem oficial que lutou com bravura tamanha que muitos passaram a acreditar, ser ele, a reencarnação do Príncipe morto sem portar a Shamshar.

A arma hoje em dia se encontra na Galeria Wallace, na Grã-Bretanha, um Museu de Armas e Armaduras no centro de Londres. Ela foi um presente de um Rajá indiano para a Rainha Victoria da Inglaterra em 1860.

Foi estabelecido que o aço usado na construção da Shamshar é realmente de uma pureza inigualável. Sua alta concentração de carbono concede a ela uma resistência fora do normal que manteve seu fio ao longo dos séculos. O tipo de aço usado na sua manufatura, chamado wootz, parece ter vindo do Oriente Médio ou da Ásia Central. Sua lâmina possui uma mistura perfeita de ferro e cristais de carbono gerando uma substância chamada cementina. É possível que ela tenha sido forjada e esfriada naturalmente, num processo conhecido como "véu de seda", no qual a lâmina não é mergulhada na água ou em qualquer outro líquido. Os especialistas perceberam ainda que os sinais e ranhuras microscópicas na lâmina denotam que ela tenha sido utilizada em combate. Mesmo assim, os danos sofridos são mínimos e fazem juz ao apelido da espada - a "Lâmina perfeita". 

DURANDAL 

A Lendária Espada do Paladino Roland


Ao longo da história, figuras famosas e heróis lendários frequentemente carregavam armas poderosas que se tornavam tão famosas quanto seus incríveis feitos. Em geral, estas armas eram espadas mágicas. Excalibur, por exemplo, é a famosa espada do Rei Arthur de Camelot, enquanto a lendária espada Zulfiqar teria descido dos Céus para as mãos do Profeta Maomé que em seguida a entregou para seu primo. Outra famosa espada (talvez menos conhecida nos países de língua inglesa) é Durandal, a arma pertencente ao Paladino Roland.

Embora saiba-se muito pouco a respeito da história verdadeira de Roland, ele é uma figura proeminente nas estórias de Cavalaria da Europa Medieval. Em um bom número de lendas, Roland é mencionado como o sobrinho do famoso Imperador do Sacro Império Romano, Carlos Magno. Roland também é incluído como um dos Twelve Peers, os doze melhores guerreiros da Corte do Imperador. A lenda mais famosa a respeito de Roland é provavelmente a que conta as suas façanhas na Batalha de Roncevaux, uma batalha que de fato aconteceu e que mais tarde foi romantizada para se converter em um enfrentamento em larga escala entre Cristãos e Muçulmanos. 

A narrativa de Roland e sua participação decisiva em Roncevaux é contada no Poema Épico "La Chanson de Roland" (A Canção de Roland). Nessa saga épica, Durandal a espada mágica é entregue a Carlos Magno por um Anjo, que instrui o Imperador a conceder a espada ao mais valoroso de seus cavaleiros. Roland é agraciado com a arma e humildemente aceita a incumbência de usar a espada para salvaguardar a Cristandade contra os inimigos da fé. Em contraste, o épico italiano Orlando Furioso de Lodovico Ariosto, diz que Durandal era a espada do herói da Ilíada, Heitor, e que ela foi entregue a Roland pelas mãos do feiticeiro Malagigi. A despeito de suas origens, Durandal era ao mesmo tempo valiosa e poderosa, dotada de incríveis poderes mágicos e capacidades únicas. Tamanha era sua importância, que em Orlando Furioso, o objetivo principal da invasão da França pelos seguidores pagãos do Rei de Sericena, é roubar Durandal.

Uma das características principais de Durandal é o fato dela guardar em seu interior várias relíquias cristãs. Na saga "La Chanson de Roland", está escrito que relíquias da cristandade foram colocadas dentro de um relicário de vidro na empunhadura da espada, dentro dela estariam: O dente de São Pedro, o Sangue de São Basílio, alguns fios de cabelo de Santo Denis e um pedaço do imaculado manto que vestiu a Virgem Maria. Durandal também é tratada como uma arma indestrutível, incapaz de ser derretida ou avariada. Ela também brilhava iluminando a noite mais densa, curava doenças e eliminava venenos. 

Quando Roland tenta destruir a espada para evitar que ela caia em mãos erradas, ele não obtém sucesso em suas repetidas tentativas. Segundo a saga: "Roland golpeou as rochas com Durandal, mas apenas as pedras se rachavam, não a lâmina".  De acordo com a lenda, a tentativa de Roland em destruir Durandal criou a ravina de La Brèche de Roland, uma fissura natural de 40 metros de largura e 100 metros de profundidade nos Pirineus. 

Com Durandal, Roland atingiu grandes feitos em nome de Carlos Magno e combateu em inúmeras batalhas:

"Eu travei as Batalhas de Anjou e Bretaigne, e venci a luta em Peitou e Maine, para vós combati na Normandia e garanti vossa liberdade. Também enfrentei bravamente os inimigos em Provença e Aquitânia, e combati na Lombardia ao lado dos romanos. Eu troquei golpes na Baviera e nas planícies de Flandres. Também viajei pela Burgúndia e Puillane. Convosco estive nas praias da Escócia, Irlanda e Gales. Finalmente enfrentei sarracenos e ímpios em todos os lugares que os encontrei.  Em todos esses reinos e terras estranhas, acompanhado de Durandal e em nome de Carlos Magno!"

Apesar de todas suas vitórias, em Roncesvaux, Roland se deparou com um exército grande demais, mesmo para ele. Os Muçulmanos haviam construído uma armada invencível para submeter a cristandade ao seu jugo. Usando Durandal, Roland matou um sem número de inimigos, abrindo espaço nas fileiras até chegar ao Rei dos Sarracenos, Marsile. Os dois se enfrentaram em duelo épico, e embora Roland tenha derrotado seu algoz, os mouros haviam vencido a batalha. Todavia suas baixas foram tamanhas que eles abandonaram a invasão da Europa. 

Roland escapou à galope, perseguido pelas tropas vingativas do Rei. Quando os despistou, tentou destruir a espada para que ela não fosse capturada. Uma vez que ele falhou em quebrar a lâmina decidiu atirá-la em uma fenda de pedra antes de sofrer um ferimento fatal por uma lança. Em outra estória, Roland lançou Durandal no ar, do alto de uma montanha, e ela voou para os céus magicamente. Nessa versão, a espada teria aparecido em uma pedra no Castelo de Rocamadour, um local de peregrinação localizado a 160 quilômetros de Toulouse. Visitantes da Chappelle de Notre-Dame em Rocamadour podem ver uma espada de ferro presa em uma fissura de pedra acima da porta que leva a escadaria da torre. Alguns acreditam que essa é a verdadeira Durandal que pertenceu a Roland. Para evitar que as pessoas tentem retirar a espada da pedra, uma corrente foi presa no cabo da espada no século XVI, desde então ela continua lá.

3 comentários:

  1. cara, eu realmente gosto desse site e ele deu muitas ideias de aventuras para mimm e até para meu cenário de campanha.
    se puder dá uma olhada lá:
    http://cancoesdasluasdeinverno.blogspot.com.br/2015/10/netbook-beta-do-cenario-de-camapanha-de.html

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  2. Muito bom o texto, ótima déia para aventuras! Continue o bom trabalho Luciano!

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  3. Luciano, só consigo ler seus textos na madrugda, quando me falta o sono. Sem dúvida, somente no calar da noite se pode experimentar a calmaria para eu curtir com profundidada (ou talvez seja meu filho dormindo, ou os dois rs.) Muito bacana sua pesquisa a forma como voce escreve. Mais um ano se passa e continuo retornando a um site para ler, em tempos de leitura rapida e superficiais. Continhe motivado. Os leitores agradecem!

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