sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

The Strange - Resenha do RPG da Monte Cook Games (Parte 1/3)


No final de 2012, Monte Cook, um dos mais conceituados game designers do mundo, realizou um bem sucedido Kickstarter de um novo e ousado RPG. Numenera foi um sucesso imediato! Esse ano, a New Order, editora brasileira sempre em dia com as novidades do mercado mundial de jogos, também realizou o Financiamento Coletivo de Numenera com enorme apoio.

Em 2014, a Monte Cook Games fez outro financiamento coletivo, dessa vez o projeto se chamava The Strange. Não causou estranheza que o Financiamento tenha sido um sucesso retumbante. Nada mais natural que, agora, no final de 2015, a New Order repita a dose e lance a versão brasileira de The Strange. E não vai ser nenhum espanto se ela repetir o resultado positivo.

Numenera me pegou de surpresa!

Na minha opinião, foi um dos melhores lançamentos de RPG dos últimos anos. Um livro incrível, com um sistema arrojado, conceitos bem estruturados, ambientação detalhada e visual impecável. Da primeira à última página, Numenera é uma obra de arte. Aquilo que a Monte Cook Games realizou com Numenera pode ser considerado um marco para o RPG. 


Eu não poupei elogios ao sistema e ao jogo em uma resenha anterior em três partes publicada aqui no Mundo Tentacular. Na época meus elogios ao jogo foram eloquentes... hoje, passados dois anos, não retiro uma vírgula sequer. O jogo é maravilhoso! E só me deixa muito feliz e satisfeito saber que muitos jogadores apoiaram o FC da versão nacional de Numenera, por conta dessa resenha - não estou inventando, muito conhecidos disseram isso, o que é motivo de enorme orgulho.

Agora que Numenera já é uma realidade, nossa atenção se volta para o Projeto The Strange, cujo Financiamento Coletivo teve início dia 10 de dezembro.

Antes de falar do sistema em si, talvez seja legal conhecer um pouco do processo de criação desse jogo. Como escrevi ali em cima, Strange nasceu de um projeto de Financiamento Coletivo norte-americano que arrecadou notáveis 420 mil dólares e angariou o apoio de 2.883 pessoas. O autor de The Strange é Bruce R. Cordell, um nome familiar entre os veteranos do RPG, conhecido por escrever vários livros aclamados para Dungeons and Dragons - são dele o Complete Guide of Psionics e o Return to the Tomb of Horrors, para citar apenas dois. Com um olho clínico para talentos, a Monte Cook Games tratou de tirar Cordell da Wizards of the Coast e ofereceu a ele carta branca para construir uma ambientação de sua escolha. A única condição seria que essa ambientação usaria o mesmo engine de Numenera, o Cypher System.


Com o aval de Monte Cook, Cordell começou a trabalhar em um jogo cujo foco é bastante diferente de Numenera, mas igualmente amplo e repleto de possibilidades. Esse é um ponto importante! Muitas pessoas que não conhecem o jogo acham que Strange faz parte do universo de Numenera, mas isso não é verdade. São dois jogos que apesar de usarem o mesmo sistema, se diferem enormemente. De certa forma, Strange expande ainda mais as fronteiras da imaginação, permitindo que os jogadores em uma única campanha vivenciem diferentes ambientações e mundos, com recursos limitados unicamente pela criatividade do mestre.

Bruce Cordell esteve aqui no Brasil em 2014 na RPG World Fest de Curitiba e falou a respeito de The Strange e do seu trabalho na Monte Cook Games. Além de espalhar simpatia, ele falou de sua experiência criando o jogo e como foi o processo. Já naquela ali se desenhava o modelo para o Financiamento pela New Order.

Mas vamos com calma, sem colocar a carroça na frente dos cavalos...


Fisicamente, The Strange é um livro IMENSO quando comparado a qualquer Livro Básico de regras hoje em dia. Com todo peso de 418 páginas coloridas, o "tomo" é dividido em oito partes, vinte e três capítulos e dois apêndices. Se você já folheoou Numenera vai perceber que o formato dos capítulos e a disposição interna é bem parecida. Acredito que isso seja totalmente proposital, para criar uma sensação de familiaridade, já que o livro é francamente intimidador em se tratando de volume. Mesmo que você já tenha lido Numenera e conheça os meandros do Cypher System, você vai precisar de um tempo para digerir a quantidade de informação aqui contida, não pelo texto ser cansativo ou enfadonho (não mesmo!), mas por que o livro é realmente gigantesco. 

Aqueles familiarizados com o Cypher System tem uma vantagem já que muitas coisas são parecidas em forma, ainda que em conteúdo possam apresentar algumas pequenas mudanças de flavor. De um modo geral, quem já está habituado a criar personagens no Nono Mundo não terá grandes problemas em construir seus heróis em Strange. Em Numenera temos três classes de personagens bem definidas, os Glaive (guerreiros), Nano (magos/psiônicos) e os Jack (ladinos).

Em Strange a estrutura é bem semelhante, mas com algumas diferenças: Vectors fazem o papel de guerreiros, Paradoxes são os magos, cientistas e psiônicos e os Spinners estão mais para bardos do que ladinos, ainda que possam se virar muito bem na arte da furtividade e dissimulação. Engana-se quem acha que a única diferença está nos nomes. Alguns dos poderes de classe são os mesmos, mas há outros inovadores e bem interessantes, integrando-se bem a ambientação.


Além de escolher a classe, os jogadores devem construir seus personagens baseando-se em uma Descrição (Descriptor, p. ex Forte, esperto, malandro) e em um foco (Focus, p. ex: Carrega um arco, Entretem, Procura por problemas) que define sua principal atividade, interesse ou ocupação. 

É a mesma fórmula de Numenera na qual o jogador constrói o personagem preenchendo as lacunas da seguinte frase:

     Eu sou um (                      ) (                      ) que (                )
                                                  (classe)          (descrição)               (foco)                         
      
As regras do jogo são basicamente as mesmas de Numenera. Os jogadores são os únicos que rolam dados e o d20 será de longe o dado mais usado para rolamentos na sua mesa. Tudo tem uma dificuldade graduada em 10 níveis, onde cada grau corresponde a três pontos que devem ser obtidos no teste de rolamento. Uma dificuldade de nível 4 significa que é preciso rolar um 12, uma dificuldade 5 corresponde a um 15 e assim por diante. Essa dificuldade pode ser ajustada por diferentes elementos que reduzem o grau exigido em um teste.

Para mais detalhes de como funciona o Cypher System, vale a pena dar uma lida na resenha de Numenera onde eu entro nos pormenores do sistema, coisa que não vou fazer para não se tornar desnecessariamente repetitivo.

[Para saber mais detalhes das regras basta clicar nesse link e ler o que eu escrevi sobre o sistema de Numenera.]

Numenera parte 1
Numenera parte 2
Numenera parte 3


Utilizar o Sistema Cypher é uma ótima sacada, não só por ele ser fácil de explicar e ensinar, mas porque ele consegue ser ao mesmo tempo ágil e realista. Uma das coisas que eu mais prezo ultimamente nos jogos que escolho para mestrar é a rapidez das decisões e o afastamento entre regra e narrativa, quanto mais fluido o sistema melhor. Quanto menos eu tiver que consultar pormenores e notas de rodapé, mais eu gosto. Em se tratando do Cypher, a narração segue tranquila com boa margem para improvisação e total liberdade para o mestre contar sua história sem os freios impostos pelas regras.

Pessoal, a resenha de Strange será feita em três partes para não ficar muito extenso. Amanhã entra a segunda e domingo a terceira.

Fiquem conosco para conhecer mais detalhes sobre esse lançamento fantástico. No próximo artigo começamos a falar da ambientação: Recursões, Traduções para outras realidades e Despertos.

Financiamento The Strange - Catarse

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