Nós vivemos em um mundo cheio de plantas. Este é um planeta verdejante, com incontáveis espécies de flora que se estabelecem em praticamente todos os cantos do mundo. Nas mais quentes florestas e selvas tropicais, até os desertos inóspitos e secos, passando por alguns dos lugares mais insalubres da Terra, plantas conseguem se adaptar e perseverar onde quer que seja. Mesmo na inabitável tundra do Ártico, é possível encontrar traços de líquens desafiando condições adversas. De fato, vegetais são uma das formas de vida mais adaptáveis em nosso planeta.
Cercados por uma flora tão diversa, a maioria de nós provavelmente tem uma boa ideia do que torna uma planta, uma planta. Elas absorvem água e luz do sol, elas utilizam um processo chamado fotossíntese para viver, elas criam sementes para se reproduzir, fazem a polinização e crescem. Elas certamente não se movem, atacam ou se alimentam de outros seres vivos. Ou será que fazem isso?
Sabemos que algumas formas de vida desafiam as expectativas. Será que existem plantas que se alimentam de outros animais, que ingerem carne da mesma maneira que um predador faria? Muitas pessoas já devem ter ouvido falar da Venus flytrap, a célebre Planta Carnívora que se alimenta de moscas ou da pitcher plant, uma folhagem que cria uma seiva adocicada e extremamente adesiva para capturar insetos e até pequenos mamíferos. Esses são exemplos reais, mas o que dizer de plantas maiores, capazes de devorar animais de maior porte ou até seres humanos?
Em alguns cantos escuros do mundo existem lendas a respeito de tais plantas devoradoras de homens. Nos cantões mais distantes do planeta vêm relatos de árvores que se alimentam de cães, porcos, macacos e até pessoas. Essas são as plantas que assombram as florestas isoladas da Terra e os lugares mais distantes da civilização. Elas existem apenas em nossos pesadelos e nos nossos medos mais primitivos.
Vamos conhecer alguns destes enigmas carnívoros da natureza extrema que habitam as florestas e selvas mais escuras.
As Árvores Devoradoras de Homens do Madagascar
A Ilha de Madagascar na costa da África Oriental é famosa por possuir lendas a respeito de pelo menos duas espécies de plantas carnívoras. Talvez os relatos sobre a mais conhecida planta carnívora do mundo, venha das anotações de um explorador alemão chamado Carl Lieche que em 1878 vagou pelas selvas africanas, catalogando sua curiosa flora local. As anotações de Lieche descrevem em detalhes o sacrifício de uma mulher da tribo Mkodo para uma árvore devoradora de gente. Em uma carta publicada no Registro Australiano em 1881, o explorador descreve a perturbadora cena que ocorreu diante dele e de um companheiro de viagem, um homem conhecido apenas como Heinrich.
Liche escreveu:
"A árvore de tronco sinuoso, com a fúria de uma serpente carnívora, se arquejou sobre o corpo da mulher e a capturou com galhos e gavilhas flexíveis que a agarraram. Seus braços, pernas e pescoço foram envolvidos por completo, deixando-a imobilizada. Pude ouvir os gritos desesperados enquanto a árvore apertava cada vez mais forte fazendo com que a pobre mulher soltasse um gorgolejo amedrontador. Mais galhos se aproximaram como serpentes, arrastando-se pelo chão, enrodilhando seu corpo como se fossem imensas cobras detendo uma presa. Quando ela já estava suficientemente envolvida a planta começou a exercer sua força brutal, apertando cada vez mais com a tenacidade de uma anaconda, até que a vítima tivesse todos os seus ossos partidos".
A árvore era descrita como tendo pelo menos dois metros e meio de altura, e sendo semelhante a um abacaxi, com oito grandes ramos de folhas fibrosas e espinhentas que se moviam sem parar pelo chão, sondando e agarrando. O topo do caule possuía um tipo de fenda onde era produzida uma substância soporífera que servia para paralisar as vítimas que entravam em contato através do simples toque. Ao redor dessa fenda, semelhante a uma boca, haviam vários filamentos brancos semelhantes a tentáculos que ajudavam a espalhar a substância venenosa e também conduzir presas para seu interior. As folhas dessa árvore diabólica eram brancas e Liche as descreveu como similares à asas quitinosas de insetos.
Essa descrição gráfica inspirou várias expedições ao Madagascar em busca da tal árvore. Uma dessas expedições de caráter exploratório foi liderada por Chase Salmon Osborne, ex-governador do estado de Michigan de 1911 a 1913, que entrou nas selvas de Madagascar para encontrar a árvore devoradora de homens. Embora tenha falhado em seu esforço de localizá-la, ele entrevistou nativos e missionários ocidentais, que reconheceram a existência de tal árvore.
Outra expedição foi lançada em 1998, desta vez pelo explorador tcheco Ivan Mackerle. Esta não localizou a famosa árvore, mas durante as viagens Mackerle tomou conhecimento de outras plantas carnívoras da ilha, entre as quais uma espécie chamada Kumanga. Nativos afirmavam que essa árvore em particular podia ser encontrada apenas em uma parte isolada da ilha. Eles contaram também que as flores dessa árvore criavam um gás extremamente venenoso que matava suas vítimas. Os nativos disseram saber onde tais árvores estavam e guiaram Mackerle e seu grupo até a localização exata.
Durante a jornada, os membros da expedição estavam tão preocupados com a natureza tóxica da planta que chegaram a levar máscaras de gás por precaução. Quando eles chegaram ao local onde cresciam as árvores Kumanga, eles não encontraram nenhum gás venenoso sendo lançado pelas flores, mas acharam vários ossos de animais caídos junto do tronco. A falta de folhas, os nativos explicaram, residia no fato da árvore não estar na estação de florescimento.
Mackerle também descobriu a história de um antigo oficial do exército britânico que alegadamente tirou fotos da árvore que havia devorado vários animais e deixado para trás seus esqueletos. Se essa árvore em particular era ou não uma das plantas carnívoras gigantes mencionadas nas histórias, ninguém soube ao certo. Um exame de toxidade da madeira apurou que, de fato, a árvore era rica em uma seiva alcaloide venenosa que poderia ser responsável pela morte de animais que se alimentavam de sua folhagem, o que explicava as ossadas.
Infelizmente não se sabe o que aconteceu com as tais fotografias, ou se elas realmente existiram algum dia.
A Vinha Vampirica da Nicarágua
Dos pântanos indevassáveis da Nicaragua vem um outro bizarro relato de uma aterrorizante planta. A vinha é conhecida pelos nativos como nome de "corda demoníaca" e é descrita como uma planta cheia de tentáculos semelhantes aos de um enorme polvo. A planta foi descrita pelo pioneiro naturalista e botânico francês Jacques Dunstan, que a encontrou face a face enquanto estudava a vida natural de um território nos confins selvagens da América Central.
No relato feito por Dunstan a planta crescia onde existiam grandes brejos e charcos, nos arredores do Lago Nicarágua, o maior do país. Dunstan, que estava em uma expedição para coletar plantas e espécimes de insetos, contou ter ouvido os latidos e ganidos de um cachorro aterrorizado. Ele correu para a área a tempo de encontrar um cachorro completamente envolvido por filamentos de raízes e fibras semelhantes a um cordame. Essas fibras tinham uma cor escura e estavam recobertas por um tipo de goma adesiva e espinhos. Ela também exalava um fedor animal desagradável. O cão lutava em desespero tentando se livrar das fibras que se enrolavam ao seu redor.
Assim que Dunstan se recuperou do choque inicial ele tentou desesperadamente livrar o animal usando para isso uma faca. Infelizmente descobriu que as vinhas eram extremamente resistentes e difíceis de serem rompidas mesmo por sua lâmina recém afiada. Dunstan contou que apenas depois de muito esforço conseguiu salvar o animal. Ao fim da tarefa, suas mãos estavam cobertas de manchas vermelhas que ardiam intensamente. Ele também percebeu que o cachorro apresentava algumas marcas pelo corpo condizentes com os espinhos que haviam fincado em seu corpo. Estes espinhos eram ocos e pareciam ser usados para drenar o sangue. O cachorro, embora tenha sobrevivido, estava extremamente desorientado.
O naturalista contou aos nativos o que havia encontrado e eles explicaram que se tratava de uma vinha muito conhecida e temida por todos que viviam na área. Dias depois, Dunstan tentou coletar mais informações a respeito da vinha mortal, mas encontrou grande dificuldade em fazer os nativos compartilhar suas histórias. Um nativo no entanto concordou em falar a respeito da vinha que segundo ele era conhecida por se alimentar de sangue de suas presas:
"O nativo contou que a planta era conhecida entre os membros de sua tribo. Ela costumava drenar o sangue de suas vítimas através dos filamentos que usava para agarrar e imobilizar. No tronco da árvore, um espécime pequeno, haviam aberturas usadas para estocar o sangue. Um pedaço de carne atirado dentro dessas "bocas" podia sumir em apenas cinco minutos, sendo digerido e expelido em seguida. A voracidade dessa planta era inacreditável".
Dunstan retornou para a Europa onde apresentou sua descoberta e tentou organizar uma nova expedição para a Nicarágua com o objetivo de estudar a vinha vampírica. Eventualmente ele desistiu de seus planos e não se soube mais a respeito da lendária planta hematófaga.
As Árvores Assassinas da América Central
A América Central é o lar de algumas das plantas carnívoras mais aterradoras e dentre elas, a mais terrível seria a yate-veo. Essa árvore segundo a narrativa de nativos possui longos galhos rígidos parecidos com lanças usadas para empalar suas vítimas, das quais posteriormente drenam o sangue.
Esses galhos são resistentes e afiados, com espinhos e gavilhas que não se quebram facilmente. Quando alguém se aproxima o bastante, a árvore lança esse galho tentando trespassar a vítima e assim matá-la de imediato. Os galhos então são lentamente recolhidos junto com o corpo que é arrastado para perto das raízes, responsáveis por envolver e drenar o sangue fresco.
Outras plantas carnívoras fazem parte das lendas contadas no sul do México. Na área da Sierra Madre, uma árvore supostamente usava seus galhos com uma aparência de serpente para capturar presas. No século XIX, uma testemunha descreveu ter visto um pássaro pousar perto de um galho e ser imediatamente envolvido por vários filamentos que o agarraram e puxaram para perto do tronco principal. Quando esses galhos eram tocados, eles se esticavam tentando agarrar com uma força considerável.
Outra narrativa do México descreve um encontro do explorador Byron Khun de Prorok na região de Chiapas no extremo sul do México. Enquanto cruzava uma selva em meados de 1905, ele se deparou com uma planta de enormes proporções que empalou uma ave bem diante dos seus olhos. Guias nativos se referiam a árvore como "planta comedora de pássaros" e diziam que aquela espécie costumava caçar também pequenos animais.
As selvas da América do Sul escondem vários tipos de plantas misteriosas e ainda desconhecidas pela ciência. No Brasil, existem lendas de uma alegada "Árvore Demoníaca", que seria natural do estado de Mato Grosso. A árvore permanece oculta na parte mais profunda do Pantanal com alguns galhos e folhas na superfície, enquanto a maior parte da planta permanece enterrada, na maioria das vezes abaixo de um tapete de folhas. Quando uma vítima se aproxima, as raízes saem do solo e agarram a presa, puxando-a para baixo como se fosse uma armadilha letal. A vítima então é imobilizada e esmagada lentamente.
Outra planta presente no mesmo ecossistema é conhecida pelos seus frutos adocicados que utiliza como isca para capturar suas presas desavisadas. As vítimas são geralmente pássaros ou pequenos roedores que vivem nos manguezais. Quando o animal tenta agarrar um fruto, um galho estala ao redor dele como se fosse um chicote e o envolve. O aperto é suficiente para capturar e esmagar a presa lentamente. A planta então suga o sangue da vítima e usa o cadáver como fertilizante para o solo de onde extrai também seus nutrientes. Há lendas de que essa planta poderia atingir um tamanho considerável e usar o mesmo artifício para capturar seres humanos.
Também do Brasil, próximo da fronteira com a Guiana, vem uma história a respeito de uma traiçoeira "Planta armadeira" conhecida também como "Pega Macaco" que foi descrita pela primeira vez pelo explorador Mariano da Silva. Esta planta possui flores de odor agradável e frutos de aspecto delicioso que atraem presas, em geral, macacos. Quando o animal se aproxima o suficiente a árvore lança uma gavilha fina porém muito resistente que agarra a presa e a puxa. O corpo do animal é então empurrado para o interior da planta e devorado ao longo de vários dias. No final desse processo, os ossos não digeridos são expelidos e descartados no solo da selva.
Na Argentina e Bolívia temos a lenda de uma árvore encontrada na região florestal do Chako. A planta cria várias flores que possuem um odor de alfazema que atrai as presas. O pólen das flores possuem uma substância que age como um tranquilizante e um agente sonífero. Presas são então paralisadas e dormem enquanto ramos se aproximam e começam a envolvê-la. A planta é vampira e se alimenta de sangue fresco drenado ao longo de várias horas. Quando a vítima acorda, ela se sente extremamente fraca. Aqueles que não fogem enquanto podem acabam sendo mortos pela planta que os drena por inteiro.
As Árvores Mortais das Filipinas
Enquanto explorava a região de Mindanao nas Filipinas, um dono de terras do Mississippi se deparou com uma árvore de 18 metros de altura com u tronco cinza escuro, folhas verdes brilhantes e irradiando um odor forte de carne podre. A árvore estranha estava cercada por ossadas empolhadas ao redor de seu caule. Ele percebeu um crânio humano colocado sobre as raízes da grande árvore e se aproximou cuidadosamente para examinar. Foi então que um nativo surgiu e gritou em seu idioma local apontando para a árvore em pânico. Foi então que o homem percebeu que a planta estava esticando uma de suas vinhas na sua direção.
Essa curiosa narrativa foi publicada na Revista American weekly em 1925 com o título "Como escapei do abraço de uma Árvore Devoradora de homens", texto relatava a experiência:
"Aquela planta horrenda estava viva e alerta da minha presença. Os galhos cobertos de folhagem se separaram da copa frondosa e se esticaram na minha direção como se fossem os tentáculos de uma criatura marinha gigantesca. Eles se lançaram na minha direção com grande agilidade e rapidez. Não tive tempo de reagir e logo fui atingido pelos ramos que se enrolaram ao redor de minhas pernas e de minha cintura, agarrando e me puxando na direção da árvore cujo fedor se tornava cada vez mais intenso e insuportável. O próprio tronco da árvore se curvava a medida que eu tentava evitar de ser puxado. Consegui segurar em algumas raízes no chão, mas a medida que a coisa me puxava eu sentia que era questão de tempo até ela vencer o cabo de guerra em face de sua força colossal. Felizmente o nativo que tentara me alertar do perigo que eu corria correu para buscar ajuda e logo retornou acompanhado de mais quatro homens fortes, armados com machetes. Eles se aproximaram com cautela e começaram a talhar os galhos grossos que foram perdendo a força a medida que eram atingidos repetidas vezes pelas lâminas. Apesar de desferir vários golpes nesses cipós espasmódicos, nenhum deles chegou a ser cortado, de tão resistentes que eram. Finalmente um deles me puxou com força e conseguiu me libertar dos galhos que deixaram vergões vermelhos na minha cintura e nos calcanhares. Nem quero imaginar o que teria acontecido se a árvore tivesse me puxado".
A árvore era conhecida como Duñak, uma planta carnívora descrita em histórias tribais nas Filipinas e em outros lugares no sudeste asiático. Diz-se que se parece com uma árvore tropical, com folhagem muito espessa e galhos finos porém muito resistentes. Não seria incomum um animal passa sob os ramos, quando tentáculos espinhosos se estenderiam por baixo dele e o levariam às ramas, onde seria esmagado e consumido. Suas presas normais seriam cervos e veados, mas de quando em quando seres humanos, seriam capturados.
A ideia de que plantas carnívoras como essas possam existir sempre encontram uma grande resistência por parte dos céticos e da comunidade científica. Essas narrativas descrevem um comportamento que planta nenhuma no mundo deveria ser capaz de exibir e a credibilidade da maioria dos relatos é questionável.
Ainda assim, a ideia de plantas devoradoras de homens, agindo de maneira agressiva nas profundezas escuras das selvas do mundo sem dúvida é fascinante.
Nós sabemos da existência de plantas carnívoras que são predadoras naturais de moscas e insetos que são atraídos por armadilhas criadas pela própria planta. Espécies como a Nepenthe conseguem ir além disso, elas caçam anfíbios e répteis, ocasionalmente atraindo um roedor para seu interior, de onde não há escapatória. Poderia existir na natureza algo maior e mais ameaçador oculto numa região afastada do mundo? Talvez o tempo possa dizer. Até lá, nós só podemos imaginar quais os mistérios que esse planeta verde esconde nas suas selvas e florestas.
há muita lenda e nenhuma foto comprovando. pura ficçao.
ResponderExcluirVelho voce ta num blog de lovecraft...
Excluirpost maneiro
ResponderExcluirGostaria de Elogiar imensamente o trabalho deste blog. Apesar de conhecer o nome Lovecraft e seu Cthulhu há anos, apenas agora comecei a ler sua obra. E como não se apaixonar profundamente por essas histórias? O Trabalho do mundo tentacular é soberbo, aprofundando-se nos mitos e histórias de Lovecraft, desbravando seu universo. Parabéns! E não pare de escrever!
ResponderExcluirShow!! Parabéns pela materma!
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