Faltam apenas dois episódios para a conclusão da terceira temporada de True Detective e a história avançou à olhos vistos essa semana. Como se alguém tivesse apertado com força o acelerador.
O episódio 6, "Hunters in the Dark" (Caçadores na Escuridão) deixou de lado os dramas pessoais do casamento do Detetive Hays e sua esposa Amelia e suas brigas nos anos 1990, para se concentrar no coração do mistério central da temporada - o Caso Purcell. Sem dúvida, esse foi, até aqui, o capítulo mais revelador da série e um dos mais empolgantes, terminando com um cliffhanger daqueles que nos faz querer que a semana passe rápido para possamos saber o que vem à seguir.
O tema central do episódio é uma questão lançada por Elisa, a entrevistadora que está conduzindo o documentário a respeito do Caso Purcell em 2015: "Como se explica que tantas pessoas ligadas aos acontecimentos tenham morrido"? Parece claro que o Caso Purcell envolve muito mais do que um "simples sequestro e assassinato de crianças. Não é de agora que sabemos que várias vidas foram afetadas por esse incidente e muitas pessoas parecem ter sofrido retaliações ou foram vítimas de uma queima de arquivo que eliminou os que podiam revelar algo. Como suspeita a entrevistadora do True Crime (o documentário do qual Wayne está participando) parece haver uma conspiração agindo nas sombras, Até aqui, haviam indícios disso, mas nesse episódio, as coisas ficaram claras.
O Caso Purcell levou à morte de dez pessoas no massacre empreendido por Brett Woddard (o índio catador de lixo), Lucy morreu em Las Vegas vítima de uma overdose, o corpo do primo Dan O´Brian apareceu em uma pedreira, Harris James, o policial sujo que ajudou a incriminar Woodard também desapareceu... o caso Purcell continua envenenando todos que chegam perto dele. Os veteranos Wayne Hays e Roland West parecem ser os únicos que restaram em 2015 e tem interesse de encontrar a verdade, mas será que eles conseguirão descobrir o que realmente aconteceu a essa altura?
Ao que parece não será fácil: mesmo no auge de suas habilidades, o caso nos anos 1980 e 1990 continua levando os detetives a becos sem saída. Em 1980, a investigação é terminada por conta da intervenção do Promotor Gerald Kindt que se apressa em jogar a culpa de tudo nos ombros de Woodard após a descoberta de provas bem pouco convincentes na sua cabana. Apesar dos protestos de Wayne e de suas suspeitas, o caso é dado como encerrado, assumindo-se que as duas crianças Purcell teriam sido mortas.
Dez anos depois, quando o caso é reaberto, Kindt aparece novamente, dessa vez como Chefe da Promotoria Geral do Arkansas, um cargo ainda mais importante. O Promotor parece furioso com a possibilidade de que Tom Purcell, pai das crianças possa ser o verdadeiro responsável pelos crimes e que erros graves tenham sido cometidos. A suspeita se baseia apenas no que a mulher que se identificou como Julie diz em um telefonema dado à polícia. É uma acusação rasa de que Tom teria feito algo com as crianças, mas acaba sendo o suficiente para lançar sobre Tom uma suspeita. Parece bem claro que estão tentando criar um segundo bode expiatório para o Caso Purcell, indo atrás do alvo mais fácil. A mentira a respeito de Woodard não resistiu, então é necessário encontrar um outro culpado.
Quem teria tanto poder e influência a ponto de manipular as coisas dessa maneira? Quem poderia influir nas ações do Chefe de Polícia e do Promotor Geral? Voltaremos a isso daqui a pouco, mas antes vamos falar um pouco mais das suspeitas sobre Tom Purcell.
Os detetives são enviados para escavar a vida do sujeito. Descobrem que Tom perdeu o emprego na fábrica onde trabalhava e que os colegas do serviço pegavam no seu pé. Aparentemente, um desses colegas havia visto Tom entrando numa boite gay, coisa que nos anos 1980 podia destruir a vida de alguém. Os policiais fazem um pente fino na casa de Tom e descobrem que ele buscou grupos de apoio religioso e aconselhamento a respeito de sua sexualidade. Isso lança uma dúvida a respeito da paternidade dele, coisa que era sugerida no telefonema de Julie que se referia a Tom como "o homem que diz ser o meu pai". Também explica o comportamento da esposa dele que se ressentia do casamento, chamando-o de uma farsa.
Nos leva a outra suposição também, dessa vez a respeito do detetive Roland West. Quando Hays sugere que eles sigam atrás dessas pistas e questionem as pessoas que aconselharam Purcell, Roland é totalmente contrário a seguir nessa linha de investigação. Eu me pergunto por que? E a resposta me parece bem clara. Alguns capítulos atrás, vimos uma cena em que Tom agradecia a Roland por tudo que ele havia feito e por tê-lo ajudado após o fechamento do caso em 1980. Na ocasião, Tom parecia grato a Roland por tê-lo indicado pessoas que o ajudaram a superar essas dificuldades, a cena termina com os dois rezando juntos. Me parece que foi Roland quem indicou a Tom os conselheiros que o ajudaram a procurar uma "cura para a sua homossexualidade".
Tanta resistência em investigar essa pista, me leva a pensar que Roland também possa ter buscado o mesmo aconselhamento em algum momento de sua vida e que ele não quer - em 1990, que Wayne fique sabendo disso. Só isso explica a forma como o tenente reage quando Hays diz que quer escavar mais a fundo nessa história. Lembrando que em 2015, sabemos que West leva uma vida solitária, nunca casou, não tem filhos e parece se ressentir de suas escolhas pessoais.
Mas o episódio não possui apenas especulações, ele oferece algumas certezas que foram lançadas no ar e levaram a pelo menos dois grandes momentos.
No curso do episódio, nós descobrimos um pouco mais a respeito de Julie, ou ao menos da mulher que se identificou como Julie, e como ela passou os anos após o seu desaparecimento. Ela teria mudado seu nome para "Mary" (ou Mary-Julie ou ainda Mary July), e em conversas com outros adolescentes fugitivos teria dito que vivia em um "quarto cor de rosa" como uma "princesa num Castelo cor de rosa". Por um momento isso parece ser apenas um devaneio de uma pessoa submetida a drogas e abuso nas ruas, mas no final do episódio ficamos sabendo que o tal quarto cor de rosa não apenas existe, mas também sua localização.
Antes, no entanto, vale a pena mencionar outros dois personagens que ganharam importância depois desse episódio.
Primeiro Harris James, o policial que tudo indica foi o responsável por plantar as provas contra Woodard em 1980. Os detetives visitam Harris e fazem perguntas a ele sobre a descoberta da mochila e do casaco de Julie achados na cabana do catador de lixo e que foram vitais para estabelecer sua culpa. Em 1990, Harris sustenta sua versão da descoberta e convenientemente se recorda de que Tom Purcell esteve mais de uma vez rondando a cabana de Woodard após o tiroteio, podendo, portanto, ter plantado as provas.
Harris é entrevistado em seu novo emprego como Chefe de Segurança da Empresa de Alimentos Hoyt, exercendo um cargo de confiança com um belo salário. Fica claro que James recebeu o posto como recompensa por ter sido útil às pessoas interessadas em apontar um culpado. Dez anos mais tarde, James continua sendo útil, dessa vez ajudando a incriminar Tom, criando um segundo bode expiatório.
O fato de Harris trabalhar na Hoyt acende um alerta sobre essa Família que aparentemente está envolvida até o pescoço no Caso Purcell. O que sabemos a respeito dos Hoyt é bem pouco até agora: eles são poderosos, influentes e controlam muita coisa no Arkansas. O tipo das pessoas que poderiam encabeçar uma conspiração, manipular a polícia, eliminar pessoas, incriminar inocentes e até controlar o escritório da promotoria. Sabemos que Lucy Purcell, mãe das crianças trabalhou na Hoyt alimentos e que a empresa ofereceu uma recompensa de 20 mil dólares para quem ajudasse a solucionar o crime.
O final do episódio coloca os Hoyt novamente no olho do furacão, como veremos a seguir.
O segundo personagem que reaparece no episódio é ninguém menos do que o primo Dan O'Brian. Ele ressurge nos anos 1990 querendo falar com os detetives e compartilhar com eles o que sabe a respeito do Caso Purcell. Dan, um sujeito desprezível, revela que Lucy não morreu acidentalmente de overdose e que há pessoas poderosas envolvidas nos acontecimentos. Lucy teria confidenciado a ele o que sabia antes de morrer. "As Crianças são a razão de tudo", ele diz sem revelar detalhes, abrindo espaço para uma série de teorias.
Seu preço, para revelar tudo que sabe à polícia é um pagamento de 7 mil dólares. Ele afirma que o que tem a dizer irá causar uma reviravolta no caso e colocar em evidência os verdadeiros responsáveis pelo crime. Sem dúvida é um material explosivo que acabou custando a vida de Dan. Sabemos que seu corpo apareceu enterrado em uma pedreira anos mais tarde. Não sabemos entretanto quem o matou ou quando isso aconteceu.
Descobrimos, entretanto, que Tom ficou sabendo que Dan reapareceu e o procurou para fazer algumas perguntas, ameaçando-o com uma arma. A discussão é acalorada e descamba para a briga e no fim, Tom coloca uma arma na cabeça do cunhado e ameaça atirar em seu joelho, orelhas e onde mais for necessário para que ele conte o que sabe. Com isso, ele conta tudo, mas infelizmente não sabemos o que foi revelado.
Mas sabemos que o pai das crianças a seguir invade a Mansão da Família Hoyt, determinado a descobrir a verdade. Tom entra na casa aparentemente deserta, avança por uma sala decorada com a cabeça de animais selvagens, dali para um corredor escuro e finalmente chega diante de uma porta. E ao abri-la encontra o quarto rosa mencionado por Julie. Chocado com algo que encontra lá dentro ele não percebe que Harris James está atrás dele...
E é o fim do episódio!
WOW! Que final é esse?!?!?!
Com isso, o mistério central da terceira temporada de True Detective parece estar sendo revelado e a grande conspiração envolvendo pessoas importantes começa a se desenhar. Parece que estamos lidando com um grupo de indivíduos influentes, ricos e poderosos que se safaram de qualquer acusação encobrindo pistas e criando bodes expiatórios ao longo de décadas.
Estamos a dois episódios da conclusão e restam muitas questões sem solução. Será que Tom não é o pai verdadeiro de Julie, como ela sugeriu no telefonema? E quem será nesse caso? Será que a menina foi sequestrada por esse motivo? Como ela apareceu nas ruas?
Parece óbvio que Hoyt, um personagem que ainda não foi apresentado - a não ser em fotografias, é uma peça central nesse quebra-cabeças. Como aconteceu na primeira temporada, famílias importantes e poderosas parecem ser os catalizadores da tragédias e causadores de tudo. E como ocorreu na primeira temporada, a verdade irá permanecer oculta até o episódio final. Não duvido que saberemos mais a respeito da Família Hoyt apenas no episódio de fechamento de True Detective e que até lá teremos apenas suposições.
Ah sim... um último detalhe de grande importância nesse episódio e que por pouco eu não ia esquecendo. Em 1990, enquanto Amelia Hays fazia a leitura de um trecho de seu livro recém lançado e abria espaço para os fãs fazerem perguntas, temos a aparição de um misterioso homem negro com um olho só. Para quem não se recorda, o homem negro teria se encontrado com as crianças e oferecido a elas brinquedos. O "homem negro com um olho morto" teria sido ainda o responsável por comprar as bonecas de palha deixadas na cena do crime. Além disso, ele é mencionado por dirigir pela região um carro de luxo que chamava a atenção em 1980. Esse homem misterioso confronta Amelia acusando-a de explorar a tragédia e sugere que ela não tem nem ideia do que realmente aconteceu. A identidade desse sujeito permanece um mistério! É possível que ele tenha sido contratado para sequestrar Julie e que tenha causado a morte acidental de Will, mas se é assim, porque ele estaria tão furioso? Se ele está sendo devorado pela culpa, por que não busca a polícia ao invés de acusar os outros?
Mistérios dentro de mistérios...
Pistas e Indícios:
• O título desse episódio "Caçadores na Escuridão" é bem interessante pois ele apresenta na trama vários "Caçadores", pessoas que estão em busca de uma presa e que são implacáveis nessa busca. Os detetives são a referência mais óbvia pois estão em busca do culpado. Mas temos ainda Tom que vai atrás de Dan e depois procura Hoyt. Temos Harris James que se aproxima furtivamente de Tom no final do episódio. E é claro, temos Hoyt, que no sentido literal é visto como um caçador participando de safaris em fotografias e que em sua casa possui uma coleção de cabeças de animais.
• Nós sabemos que o Primo Dan morre em algum momento, mas ainda é cedo para dizer que foi Tom Purcell quem o matou. Lembramos que o corpo dele foi escondido em uma pedreira e só é descoberto vários anos depois. Não me parece possível que Tom tenha matado e escondido Dan tão rápido e depois seguiu para a Mansão Hoyt. Se for assim, ele ainda deve estar vivo ou alguém vai encontrar e esconder o cadáver.
• Por sinal, o trecho em que Dan insinua ter um relacionamento com Lucy, que seria a sua meia-irmã é um dos momentos mais sinistros da temporada. A expressão do ator e a maneira como ele fala são ao mesmo tempo repulsiva e perturbadora. Por sinal, esse episódio foi um show dos coadjuvantes.
• "Eu realmente não gosto de ficar lembrando das coisas", diz o Wayne Hays de 1980 logo depois de transar com Amelia pela primeira vez. Ela estava tentando pressioná-lo para que ele conte um pouco mais a respeito de seu passado - e coisas da época do Vietnã. A frase soa irônica, sobretudo porque tudo que o velho Wayne, em 2015, quer é conseguir lembrar do passado e manter a sua memória intacta. Alguns dos melhores momentos da série tem sido esses lapsos de memória e lembranças no qual as timelines se misturam. Nesse episódio, por exemplo temos uma imagem em que o detetive nos anos 80 olha em um espelho e o reflexo é o dele mais velho já aposentado. Um efeito simples, mas muito bom.
• Wayne consegue descobrir quem era a pessoa que estava na companhia da entrevistadora do True Criminal, Elisa Montgomery, seu próprio filho, Henry. Ele não se sente à vontade com o que fez, mas não consegue esconder do pai detetive a traição. Henry comenta que pretende contar à esposa o que aconteceu e Wayne recomenda que não faça isso se quiser manter o casamento. Por um lado é um bom conselho, por outro; quem é o Wayne para dar algum conselho matrimonial?
• Na cena em que Amelia visita um abrigo de adolescentes fugitivos, há uma cena curiosa. Enquanto conversa com uma jovem que conheceu Julie, ela observa pela janela uma pickup estacionando. Um sujeito desce do veículo e caminha ao redor do estacionamento. Na lateral do caminhão é possível ler que se trata da Ardoin Landscapes, uma firma de paisagismo. A cena é estranha porque não é gratuita. Ardoin para quem não lembra é um sobrenome que já foi citado anteriormente. No caso, é o menino que conta aos detetives que Will e Julie iam para Devil´s Den no dia da tragédia. O que isso significa? Vai saber... mas é estranho que tenham dado destaque para a cena se não significar nada.
• A perda de memória de Hays em 2015 parece ser acentuada e está progredindo, como vemos na cena em que ele não lembra que Roland estava em sua casa depois de conversar com ele poucos minutos antes. Mas parece que o detetive está usando sua condição em causa própria em alguns momentos. Durante a entrevista ele mente descaradamente afirmando não lembrar de algumas coisas quando é pertinente. Assim foi quando a entrevistadora pergunta a ele a respeito de Harris James e ele desconversa dizendo que não sabe de quem ela está falando.
• Numa cena em que os detetives visitam a Hoyt Foods em 1980 temos essa imagem no mínimo estranha na qual aparece um quadro, supostamente de pessoas ligadas à Família Hoyt. Quem é essa mulher e a menina no colo dela? E será que é impressão minha que a mulher tem uma semelhança com Lucy Purcell?
• Então o tal buraco no armário do quarto de Will não foi feito por Dan? Ele era de Will, usado para enviar mensagens para o quarto da irmã sem que alguém visse. Mas por qual razão as crianças iriam precisar trocar mensagens em segredo? Quem elas estavam tentando evitar? Seria a mãe?
• Na cena em que Wayne visita a casa dos Purcell em Shoepick Lane podemos ver que o local está abandonado e tomado de pichações. Duas delas são interessantes em meio ao monte de grafite que recobre as paredes. A primeira é uma pirâmide com um olho, símbolo universal dos Iluminati, com o olho que tudo vê. O outro remete à primeira temporada trazendo uma espiral que era o símbolo do Rei Amarelo usado pelo assassino para definir um lugar como uma possessão de Carcosa. Bem legal!
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