A opinião predominante é que a atividade sobrenatural ocorre como resultado de energia residual deixada para trás por almas humanas. De acordo com essa teoria, as assombrações são como ecos perdidos no tempo, ignorantes dos seus arredores. Essa explicação é apoiada por muitos relatos de atividade paranormal. Assombrações se manifestam geralmente através de inexplicáveis mudanças físicas no ambiente (variações acentuadas e repentinas na temperatura, distorções no campo eletromagnético ou aumento dos níveis de radiação). Diferente de fantasmas, assombrações não assumem a forma que tinham quando estavam vivas, não são formas etéreas flutuando ou almas penadas vagando sem destino como muitos imaginam.
Entretanto, existem algumas exceções. Algumas assombrações parecem bem cientes do mundo diferente que as cerca. Elas interagem com os vivos e algumas vezes manifestam um tipo rudimentar de inteligência, podendo manipular objetos e até expressar algum tipo de comunicação para dizer o que desejam.
Entre as mais fascinantes assombrações estudadas pela parapsicologia estão aquelas que demandam algo dos vivos, algum tipo de favor ou tarefa a ser cumprida em seu nome. Os exemplos mais clássicos envolvem vítimas de assassinato que assombram o local onde seus restos foram abandonados, pessoas traídas que desejam justiça para quem consideram culpados ou indivíduos que morreram antes de cumprir eles próprios uma promessa solene.
A parapsicologia chama essas entidades sem repouso de "assombrações com uma missão". Elas estão presentes em praticamente todas as culturas e civilizações, do mundo antigo até os tempos atuais.
Um caso notável é a assombração conhecida como "Mineiros de Bolton", um fenômeno ocorrido em nesta cidade da Inglaterra. Lá uma assombração não apenas se manifestou, mas conseguiu interagir com o mundo à sua volta exigindo providências para que suas demandas fossem cumpridas.
Bolton é uma metrópole urbana, uma cidade industrial situada no norte da Inglaterra. A região se tornou muito valiosa e de extrema importância no início da Revolução Industrial durante a Era Vitoriana. Dentre as principais indústrias de Bolton, uma tinha especial destaque, a de extração de carvão mineral. Muitas das companhias que alavancaram a Revolução estavam situadas justamente naquela região. Como resultado, Bolton, e algumas cidades vizinhas, se tornaram o berço da produção de combustíveis fósseis.
No final do século XIX até a primeira metade do século XX, Bolton era o centro produtor de carvão mineral no mundo. Vastas minas foram escavadas e de seu interior escuro saía o carvão que alimentava os fornos e as máquinas da Era Industrial. O Norte da Inglaterra parecia um grande terreno escavado, com cavernas profundas onde homens sujos de fuligem mergulhavam para encontrar carvão. Chaminés cuspiam fumaça dia e noite e os céus se tornavam negros.
Ao entrar em uma mina, um trabalhador tinha que descer quilômetros através de galerias escavadas e túneis apertados, carregando ferramentas e equipamento necessário para seu trabalho. Desmoronamentos, desabamentos e a presença de bolsões de gás eram os maiores riscos. Homens trabalhavam sem descanso, passavam o dia inteiro no interior das minas, imersos na escuridão indevassável, se esgueirando por corredores apertados. Para tornar tudo ainda pior, crianças eram contratadas para esse perigoso trabalho. Por serem menores e portanto capazes de chegar a lugares inacessíveis, elas faziam parte da mão de obra. A morte podia chegar à qualquer momento e o menor descuido poderia ser fatal para um carvoeiro.
Essa extração desenfreada se mostrou uma lâmina de dois gumes. No início do século XX, as minas da Grã-Bretanha começaram a apresentar sinais de esgotamento. As ricas fontes de carvão que iniciaram a produção e garantiram riquezas incríveis estavam prestes a se exaurir. Para achar novos depósitos naturais, os mineradores tinham que ir cada vez mais fundo em sua busca. Um trabalho duro, exaustivo, claustrofóbico e extremamente perigoso.
O Fosso de Pretória, próximo a Bolton, era uma dessas minas. Originalmente uma das minas mais rentáveis, por volta de 1900 ela já estava próxima de seu limite. Para encontrar carvão em seu interior era preciso descer muito fundo. Os operários que trabalhavam diariamente nela, muitos dos quais crianças entre 8 e 16 anos, se queixavam das condições insalubres. Infelizmente podiam fazer muito pouco! Haviam muita mão de obra e aqueles que reclamavam eram simplesmente afastados do serviço. Num tempo sem sindicato ou representação, os trabalhadores tinham poucos, ou nenhum direito.
Mas além das péssimas condições de trabalho, os homens tinham outras preocupações. Temiam coisas que se escondiam na escuridão, seres que não podiam ser vistos claramente, mas cuja presença podia ser sentida. Os rumores davam conta de todo tipo de história, desde espécies de anões até sombras vivas se esgueirando pelos túneis. Falavam de criaturas feitas de gás, seres bizarros com pele azulada e até de homens morcegos. Os capatazes censuravam tais histórias, aqueles que continuavam a falar a respeito eram mandados embora.
Nessa mesma época, maus agouros também começaram a ser registrados. Correntes elétricas que magnetizavam ferramentas de metal, ruídos estranhos vindos de lugares remotos, homens que se perdiam nos túneis e não conseguiam encontrar a saída. Todo tipo de incidente estranho alimentava os boatos. Entre os sinais de ruína mais temidos estava o avistamento dos lendários "corvos negros das profundezas", criaturas que supostamente viviam na parte mais funda das galerias e cujo surgimento estava associado a uma catástrofe iminente.
As histórias dos mineiros não eram levadas em consideração. Eles continuaram a trabalhar, mesmo depois que as aves negras terem sido vistas em pelo menos três ocasiões. o que quase levou a produção a ser paralisada. Talvez fosse melhor se eles o tivessem feito...
Em 1910 o desastre atingiu o Fosso de Pretória.
Um pequeno colapso dentro da mina fez com que um duto de iluminação fosse rompido provocando a ignição de um depósito de gás que permeava o ambiente subterrâneo. A explosão resultante causou outros desabamentos em uma reação em cadeia desenfreada. Haviam 344 pessoas dentro da mina naquele dia. TODOS morreram. Alguns imediatamente, outros soterrados entre os escombros, sem ar, sem comida e sem socorro...
Equipes de resgate tentaram acessar a mina, mas era impossível com a tecnologia da época chegar até eles sem o risco de novos deslizamentos. Dentre os mortos, mais da metade eram crianças, uma tragédia que expôs o horror do trabalho infantil e da exploração desenfreada. Causou também uma profunda cicatriz psicológica na população de Bolton.
A tragédia dos mineiros se tornou o pior desastre industrial da Inglaterra, que infelizmente seria superada por outros desastres semelhantes.
Oitenta anos mais tarde, no início dos anos 1990, as lembranças da tragédia do Fosso de Pretória desapareceram. As famílias e amigos daqueles que morreram também sucumbiram a passagem do tempo e deixaram esse mundo. A cidade não tinha mais um serviço religioso celebrando a data e muitos habitantes sequer sabiam do incidente. Poucos lembravam do ocorrido e menos ainda se importavam.
Entretanto, aparentemente os espíritos daqueles que morreram não estavam prontos para esquecer. O que se seguiu foi um intenso período de atividade paranormal que foi testemunhado por centenas de pessoas em uma vasta área geográfica.
Em 1993, Brian Lowe, um morador local da área estava dirigindo ao longo da Avenida Platt que cruzava em um caminho adjacente ao sítio ocupado pela mina. Seu carro parou de funcionar subitamente e ele parou no meio fio para ver do que se tratava. De repente, ele percebeu um brilho na escuridão e percebeu que haviam dezenas de olhos voltados na sua direção. Mais do que isso, haviam silhuetas sombrias de homens. Lowe se sentiu aterrorizado e abandonou o carro ali mesmo e fugiu.
Mais de uma dezena de pessoas descreveram a mesma experiência surreal. Formas sombrias que pareciam pertencer a homens e crianças, andando pela estrada ou tangenciando o espaço que agora era ocupado por uma ruína desativada e terreno baldio.
Certa noite, um horrível estrondo se fez ouvir e pessoas que moravam nas proximidades foram atraídas até o local, que a essa altura despertava estranhos rumores em todos que conheciam as macabras histórias sobre ele. O barulho foi causado por um desabamento e abertura de uma cratera no terreno que expôs parte da antiga mina. A área foi fechada pela polícia e defesa civil afim de evitar acidentes.
É claro, o incidente serviu para chamar a atenção do público para a incômoda história da Mina de Pretória. Os meios de comunicação difundiram detalhes sobre a tragédia ocorrida no início do século XX e que havia sido lentamente apagada.
Ao mesmo tempo que o público redescobria a história, uma enxurrada de inexplicáveis eventos envolvendo a antiga mina se iniciaram. Pessoas afirmavam ter visto estranhas silhuetas parecidas com sombras na região, bem como odores medonhos semelhantes a decomposição ou gás, além de se ouvir misteriosos ruídos de explosões subterrâneas. Pessoas que viviam nos arredores começaram a se queixar de acontecimentos inusitados, quedas drásticas de temperatura e luzes misteriosas que pareciam sobrevoar o local. Falava-se muito também de globos escuros que flutuavam no ar e que costumavam seguir pessoas e veículos causando um senso de apreensão enorme.
Rumores de que o lugar era o ponto focal de uma enorme assombração se espalharam pela comunidade e muitas pessoas passaram a evitar visitar a região. O preço dos imóveis caiu drasticamente e parte do comércio fechou as suas portas.
Parapsicólogos, médiuns e especialistas no sobrenatural convergiram para Bolton que se tornou um dos lugares mais populares na Inglaterra para o estudo do sobrenatural. A cidade foi tratada como um dos endereços mais assombrados do país, em grande parte pelas histórias envolvendo a Mina de Pretória. Programas de televisão com supostos "caçadores de fantasma" dedicaram episódios especiais a respeito da tragédia de Bolton e suas assombrações.
Em 1996 o avistamento de diversos globos escuros se erguendo do terreno baldio se tornou manchete em toda Inglaterra e reavivou a discussão sobre o que fazer com o lugar e como lidar com a questão.
Roger Watkins, um conhecido apresentador de televisão e especialista em paranormal sugeriu que a Cidade deveria providenciar uma maneira de permitir que os mortos na tragédia descansassem, uma vez que a memória negligenciada daquelas pessoas seria a provável razão para elas estarem inquietas. Discutiu-se que os restos mortais das vítimas da tragédia jamais foram recuperados e ainda estavam no local. Pensou-se em fazer um plano para abrir os túneis e resgatar os cadáveres, mas especialistas concluíram que tal empreitada seria simplesmente arriscada demais. Tantos anos depois, a situação da mina poderia ter se deteriorado e ela poderia desabar.
A solução foi criar um fundo para coletar doações e construir um memorial permanente que honrasse as 344 pessoas que perderam suas vidas na tragédia. As doações rapidamente atingiram a meta estabelecida e uma estátua e uma parede com o nome de todos as vítimas foi erguida onde ficava originalmente a entrada do complexo subterrâneo.
Em 1999 um serviço religioso foi conduzido no local, contando com a presença do Bispo Emérito de Bolton que abençoou a mina. O religioso leu o nome de cada uma das vítimas diante de seus descendentes diretos trazidos especialmente para assistir a celebração.
Subsequentemente os incidentes envolvendo assombrações e avistamento dos misteriosos globos negros foram diminuindo até que a situação se normalizou por completo. Desde então, o terreno baldio onde ficava a mina passou por uma revitalização e ela foi transformada em um parque público.
O memorial dedicado aos mortos na tragédia de Bolton continua no mesmo local. Todo ano uma cerimônia é realizada diante dele para garantir que as vítimas não sejam esquecidas e ao que tudo indica isso garantiu seu descanso.
Seria possível que as assombrações sepultadas na Mina de Pretoria foram responsáveis por toda atividade paranormal na região? Ou tudo não passou de mera coincidência e rumores exagerados? Seja qual for a verdade, Bolton parece ter se reconciliado com seu passado e a lembrança dessas pessoas continuará sendo honrada por muito tempo.
Simplesmente apavorante! Parabéns pelo belo trabalho!
ResponderExcluir"em nesta cidade" me parece um tanto errado, mas excelente artigo como de costume, história de assombração trágica, mas gostei do final "feliz" que ela parece ter tido.
ResponderExcluirÓtimo texto, história sinistra! Muito obrigado!
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