Além dos limites do tempo-espaço e dos grilhões do fluxo do continuum que dá ordem ao Cosmos existe um lugar dissonante de todo resto. Os estudiosos do Mythos se dividem à respeito de sua natureza, e mesmo à respeito de sua existência de fato. Ninguém é capaz de afirmar com certeza absoluta que tal lugar, onde o tempo se dissolve e deixa de existir, realmente pode ser compreendido como um espaço real ou mera abstração metafísica.
Ele seria o único lugar do Universo que Yog-Sothoth o Deus Exterior hierarquicamente abaixo apenas de Azathoth, seria incapaz de acessar. Acredita-se que se por desventura a deidade puder ver o que existe lá dentro, ele e todo o Cosmos seriam devastados. É por isso que alguns supõem que os mais bem preservados segredos do Universo estão lá dentro. O mistério por trás da criação do universo e da cegueira de Azathoth, a forma de restaurar sua consciência perdida, a natureza definitiva do Mythos, a transcendência completa para a divindade... seja lá o que for, esse lugar sem nome, que alguns chamam tolamente de "Além do Além" seria o depositário de todos mistérios, o cofre onde os maiores enigmas estão guardados.
Segundo os teóricos existe apenas um caminho que permite acesso a esse lugar, um espaço intermediário lendário conhecido em círculos herméticos como o Portão Final ou ainda o Portão Definitivo. Não há indicações de como chegar até ele, mas supõe-se que um artefato lemuriano, a Chave de Prata, possa ter ligação com esse mito. A Chave, aliás, seria o meio de remover o ferrolho que mantém o Portão Definitivo lacrado. Para alguns, a única maneira de destrancar esse portão e conseguir avançar através dele.
Mas tal façanha não se resume apenas a girar uma chave e abrir uma porta trancada.
O Portão Final é protegido por um Guardião que atende pelo nome de 'Umr At-Tawil (ou Tawil at-´Umr ou ainda Tawil Al-´Umr) uma divindade obscura cujo nome traduzido do árabe seria algo como "O Prolongador da Vida". Esse Ser seria o líder dos Mais Antigos, um emérito conselho formado por indivíduos que buscaram o Portão e que talvez tenham tido um vislumbre do que existe além dele, embora o próprio líder deles jamais o tenha feito. Por essa razão, muitos supõem, provavelmente corretamente que 'Umr At-Tawil é um Avatar ou Manifestação de Yog-Sothoth. Se isso é verdade, ninguém melhor que Ele ("aquele que tudo sabe") poderia proteger os grandes segredos universais.
A função de 'Umr At-Tawil é zelar pelo Portão Final e manter aqueles que não são dignos dele afastados. O critério de que a entidade se vale para separar os indesejados diz respeito apenas a ele mesmo, mas sua avaliação parece ser insondável e imponderável para nossa percepção. Alguns feiticeiros de enorme poder, entre estes o próprio feiticeiro Eibon, teriam sido reprovados, enquanto outros, que não dispõem de igual arcabouço, foram aceitos além dos umbrais. Aqueles que se apresentam diante do Guardião são sujeitos a seu escrutínio, algo aterrorizante se pensarmos que tal coisa envolve ser avaliado por um Deus. Não por acaso, o Livro de Thoth afirma que lidar com a entidade é algo repleto de perigo e potencialmente sem um retorno garantido.
Já se discutiu ainda se 'Umr At-Tawil não seria um ser, mas a personificação das próprias limitações que o pleiteante aos segredos deve superar para obter o verdadeiro conhecimento. Quando tais limites não são vencidos o resultado pode ser a obliteração completa do indivíduo. Outros dizem que o Guardião pode oferecer dádivas a quem pede acesso ao Portão Final como forma de compensação, tentando aqueles que duvidam de suas próprias capacidades. Talvez o nome "Prolongador da Vida" se deva a algo que o Deus pode oferecer aos pleiteantes.
A morada de 'Umr At-Tawil se assemelha a um antigo templo helênico, com grandes colunas dóricas e piso de mármore branco imaculado lavado por um brilho alvo e puro. Na grande câmara preenchida por uma névoa estática, há apenas dois marcos perceptíveis. O primeiro deles é uma grande e pesada porta dupla metálica cor de prata. Este pórtico, com duas vezes a altura de um homem adulto, possui entalhes com símbolos arcanos cuja origem e significado escapam a compreensão. A porta possui uma fechadura, mas não uma maçaneta. A porta está sempre fechada e só pode ser aberta mediante o uso da chave adequada. O outro elemento presente na sala corresponde a nove pedestais hexagonais de pedra, sobre o qual se encontram figuras imóveis que num primeiro vislumbre parecem estátuas. Uma observação mais cuidadosa, entretanto, revela que as figuras estão vivas. Elas parecem formas humanas vestindo mantos pálidos e diáfanos que ocultam sua forma. As bases estão dispostas lado a lado, a do centro dividindo quatro à direita e quatro à esquerda. Esse pedestal central é ocupado por 'Umr At-Tawil, o líder dos Mais Antigos e o único dentre eles que possui nome. Os demais geralmente se mantém imóveis no topo dos pedestais como estatuário numa galeria de museu.
'Umr At-Tawil é sempre o primeiro a se mover e saudar o visitante que adentra o recinto basilical. Ele se comunica com os recém chegados através de telepatia e supostamente conhece todos idiomas um dia falados. A voz do avatar ressoa na mente das pessoas como um címbalo metálico. Quando carece de se mover, a forma envolta em manto drapejado, levita do pedestal lentamente sem jamais tocar o chão.
É impossível ver a forma exata da entidade já que o manto ou mortalha o cobre por completo deixando apenas a sugestão de uma silhueta humana. O capuz sobre a posição da cabeça não deixa à vista nenhum detalhe de sua fisionomia. Não há brechas para olhos, nariz ou boca na trama do tecido que lhe cai sobre a face como uma máscara. As mãos e pés tampouco são aparentes e é difícil discernir se eles realmente existem. 'Umr At-Tawil provavelmente é dotado de corpo e substância, embora o conjunto pareça translúcido algumas vezes, como um espectro fantasmagórico. Nenhuma arma, força ou energia natural conhecida é capaz de afetar o Deus. Magias ou artefatos particularmente poderosos, podem surtir algum efeito contra ele.
A entidade atua como uma espécie de Guia para o Portão, questionando as intenções e razões do visitante. Se ele julgar que as respostas à suas perguntas são satisfatórias ele permitirá que o indivíduo avance através do portão, se não, o mandará embora. No entanto, se um visitante se mostrar recalcitrante, 'Umr At-Tawil empregará as magias necessárias para resolver a querela. De fato, ele domina todas magias e se vale delas para banir ou destruir quem o desagrada. A deidade é capaz ainda de transportar uma pessoa com um simples pensamento, lançando-a no frio do espaço exterior, nas profundezas insondáveis do oceano ou no coração de um Sol para que ela seja totalmente desintegrada. Ele não se vale de qualquer ação física e jamais expressa qualquer traço emocional ao lidar com seres inferiores. Mesmo quando levado a destruir alguém que o desagrada, o Avatar não demonstra fazê-lo movido por ressentimento, e sim por um pragmatismo totalmente impessoal.
O propósito de Umr At-Tawil é motivo de grande debate entre os círculos de metafísicos dedicados ao Mythos. Muitos acreditam que um Deus de tal envergadura não poderia ficar restrito ao papel de simples Guardião, ainda que, aquilo que ele protege seja de importância vital. Existem teorias de que sua função cósmica seria muito maior, envolvendo entre outras coisas registrar o surgimento de novas entidades dotadas de centelha cósmica. Ainda que 'Umr At-Tawil não aparente ser uma Entidade com a notável indiferença dos Deuses Exteriores, aceitando inclusive ouvir e dialogar com seres inferiores, ele está muito distante de ser um Deus benigno como alguns defenderam no passado.
não sai por aí destruindo mundos e civilizações por diversão ou sem querer então comparativamente isso pode ser a coisa mais próxima de um deus exterior/grande antigo benigno que temos.
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