Além do falecido Stan Lee, talvez não haja outro nome no mundo dos quadrinhos, mais conhecido do que Alan Moore. O imensamente influente autor de Graphic Novels britânico tornou-se uma lenda através de obras conhecidas como Watchmen, V de Vingança, Batman: A Piada Mortal, A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, Do Inferno e muitos, muitos outros títulos que figuram entre as maiores obras das HQ nas últimas décadas. Moore também é conhecido por seu modos reclusos, sua personalidade mística, olhos selvagens, barba e cabelos compridos, sua pura excentricidade e por ser um rabugento incorrigível. Ah, e há também o fato de que essa lenda dos quadrinhos ser um ocultista e praticante, supostamente muito poderoso, de magia de verdade.
O fato de ele ser um mago ritualista não é exatamente um segredo, já que Moore veio a público com essa informação em seu aniversário de 40 anos em 1993, e desde então tornou-se parte de sua personalidade geral. O escritor muitas vezes é visto vestindo itens esotéricos; joias e anéis de aparência arcana, e aparentemente ele tem até sua própria "caverna mágica" onde supostamente pratica feitiços e rituais. Moore originalmente se interessou pelas artes mágicas através de sua escrita, e ele associa intimamente os dois, dizendo sobre sua introdução ao mundo da feitiçaria e sua conexão com a arte:
"Um balão de palavras em From Hell mudou completamente minha vida. Um personagem diz algo como: ‘O único lugar onde os deuses indiscutivelmente existem é na mente humana’. Depois que escrevi isso, percebi que acidentalmente que fiz uma declaração verdadeira e agora teria que reorganizar toda a minha vida em torno disso. A única coisa que parecia realmente apropriada era me tornar um mago. Acredito que magia é arte, e que arte, seja música, escrita, escultura ou qualquer outra forma, isso é magia. A arte é, como a magia, a ciência de manipular símbolos, palavras ou imagens, para conseguir mudanças na consciência das pessoas... De fato, lançar um feitiço é simplesmente soletrar, manipular palavras, mudar a consciência, e é por isso que acredito que um artista ou escritor é a coisa mais próxima no mundo contemporâneo de um xamã."
As principais crenças mágicas de Moore repousam na obra do notório mago ocultista do início do século XX, Aleister Crowley, bem como no sistema mágico chamado Kabbalah, também escrito Qabalah. Moore não faz nenhuma tentativa de esconder seu interesse por esses assuntos, realizando rituais e cerimônias regularmente e muitas vezes falando dessas coisas. Ele estava envolvido com um ritual notório realizado sob a influência de psicodélicos, no qual tentou invocar um demônio chamado "Asmodeus". Supostamente o experimento terminou com Moore perseguindo David J., baixista do grupo musical Bauhaus, querendo tirar dele sangue com um canivete. Moore também mostrou que não está acima de organizar exibições públicas de seu poder, como um vídeo francamente incrível dele tentando literalmente explodir um limão com o poder de sua mente.
Alan Moore segue o sistema hermético de magia da Cabala e com o qual se comprometeu décadas atrás, dizendo: "É assustador. Você chama os nomes nessa linguagem estranha e incompreensível, e está olhando para um vidro ou espelho, e nele parece haver um homenzinho falando com você. Simplesmente funciona."
Quer você acredite ou não nessas afirmações místicas, existem aqueles que definitivamente não acreditam e que deixam isso bem claro. O escritor de quadrinhos escocês, funcionário da DC Comics e autoproclamado, nêmeses de Alan Moore, Grant Morrison, é o principal crítico do mago inglês. Na verdade, não é de hoje que os dois estão envolvidos em uma espécie de guerra fria que envolve magia e ocultismo.
Moore e Morrison tiveram discussões públicas por décadas, muitas vezes lançando farpas e golpes baixos vitriólicos um contra o outro. Mas a coisa fica realmente interessante quando se trata de suas crenças em magia e da questão sobre quem venceria uma disputa de magia, pois obviamente, Morrison também se diz um mago. Considerando que ambos parecem se odiar e são tanto ocultistas quanto magos praticantes, parece natural que a "prática da magia", se torne um assunto recorrente. A principal disputa entre os dois é que Moore é mais tradicionalista, subscrevendo o ocultismo clássico da magia cabalística e os ensinamentos de Crowley, mais focado em rituais e regras, enquanto Morrison está mais inclinado para as técnicas modernas da Nova Era e "Magia do Caos". Ele seria mais rebelde, menos estrito nas regras, e seguiria a noção de que é a intenção que faz a magia funcionar e qualquer coisa pode ser usada para realizá-la, reinventando constantemente as "regras". Tal coisa não impressiona Moore, e ele não mede palavras para demonstrar seu descontentamento. Em uma entrevista para a revista Pagan Dawn, Moore fala sobre Morrison e a Magia do Caos da Nova Era:
"Receio não ter interesse em Grant Morrison ou em seu trabalho e não o considero um escritor ou um mago. No que diz respeito à Magia do Caos, parece que esta era simplesmente uma versão inglesa mais punk do movimento "New Age", algo amplamente californiano, com sistemas mágicos simples (e simplistas) que trazem apenas benefícios materiais sem qualquer necessidade de erudição ou disciplina. Com o movimento recente da magia do Caos de conjurar os deuses fictícios de H.P. Lovecraft para interagir "magicamente", tudo soa como um reduto de fãs de fantasia, quase um cosplay astral, ao invés de magia verdadeira."
Os dois discutiram e derrubaram as crenças mágicas e filosofias ocultas um do outro por anos, chegando até a criar quadrinhos inspirados pelo ocultismo, que desafiam diretamente as crenças alheias, como Os Invisíveis de Morrison e a série Promethea de Moore. No fim, tudo parece incrivelmente absurdo, até você perceber que ambos aparentemente falam muito sério sobre o assunto. Eles já desafiaram um ao outro para definir quem pode realizar o feitiço mais poderoso e supostamente ameaçaram se amaldiçoar mutuamente em várias ocasiões. Não importa se você acredita ou não nessas excentricidades, é inegável que elas soam muito bizarras. Mas quem será que realmente venceria uma batalha mágica entre os autores? O escritor Brian Michael Bendis, quando perguntado em uma entrevista, declarou sem rodeios: "Os poderes de mago de Alan Moore não devem ser subestimados! Eu já vi ele fazendo umas coisas fodidas!”
Não está claro o que exatamente começou essa disputa de décadas ou quanta "magia" realmente foi usada, mas é inegável que é, no mínimo, esquisito ver duas lendas dos quadrinhos agindo dessa forma. Os dois são inegavelmente ícones de sua indústria, não são apenas autores de quadrinhos, mas roteiristas cuja obra se traduziu em cinema em produções milionárias, vistas por milhões de pessoas. O fato deles se envolverem nessa disputa aparentemente mesquinha, alguns podem até dizer ridícula, causa surpresa.
Quem vencerá essa batalha de bruxaria moderna e egos inflamados? Suponho que teremos que esperar para ver.
Ou não?
Uma batalha de magos seria como um duelo com pistolas: o que atacar primeiro, vence.
ResponderExcluirE se os dois erram os alvos?
ResponderExcluirMuito bom ! Gostaria de sugerir uma adaptação da personagem John Constantine ( Hellblazer ) para Chamado de Cthulhu Sétima Edição !
ResponderExcluirTudo o que eu li assinado pelo Morrison sempre me trouxe a mesma dúvida: "Por que ele quer tanto ser o próximo Moore ao invés de criar um estilo totalmente próprio?"
ResponderExcluirCuriosamente, creio que talvez ele tenha começado a fazer algo do tipo agora, em Superman: Authority (roteiro desenvolvido em 2018), mas antes, me dava uma certa agonia.
Já eu penso pelo contrário, eu prefiro o Moore em termos de magia e o Morrison em termos de quadrinhos.
ExcluirOs quadrinhos do Moore forçam o pior da nossa realidade pra serem "maduros" e realistas, e o Morrison traz conceitos milenares sobre heroísmo, simbolismos mitológicos a cerca da jornada do herói, etc, aplicando a magia no quadrinho.
Eles são bem diferentes nesse quesito de escrever
A verdade que os DOIS são uns comédias!
ResponderExcluirUma piada.
Só isso. ^_^b