Próximo da capital da Escócia, surgiram os primeiros campos de concentração documentados pelo homem. Um local de confinamento, tristeza, sofrimento e claro, morte. O terreno, conhecido como Old Kirkyard Blackfriar, foi usado consistentemente ao longo de mais de três séculos como prisão para pessoas "indesejadas" e gente de quem se queria livrar.
Hoje, esse lugar obscuro não é nada além de um descampado, repleto de mato crescendo selvagem e algumas árvores esparsas. Restou pouco além das lápides e o muro de um velho cemitério que recebeu inúmeras vítimas de um dos períodos mais brutais da história.
Além de ser um resquício histórico, o sítio também ganhou fama como um dos cemitérios mais assombrados da Escócia. Um lugar infame pela brusca atividade paranormal que deixou especialistas, estudiosos e curiosos ao longo dos anos igualmente chocados.
O campo de confinamento de Old Kirkyard Greyfriar foi fundado em 1650, mas há registros de que ele já servia como prisão bem antes. É possível que os romanos tenham sido os primeiros a usá-lo como local para reunir prisioneiros. Os britânicos deram sequência à essa tradição já que a área cercada por pântanos era ideal para desestimular fugas. Muito se falava sobre as piscinas de lama profunda, responsáveis por matar incontáveis pessoas. Havia ainda rumores sobre fantasmas, entidades malignas do passado e demônios que habitavam esse lugar ermo. A temida Catoblepas, uma besta mítica do folclore escocês, supostamente vivia no lugar e seu hálito cáustico era responsável por causar doença e morte. Contudo, os espectros mais temidos eram justamente os dos homens que haviam se afogado nas charnecas e que uma vez mortos haviam se tornado rancorosos dos vivos, dispostos a puxar para baixo todos aqueles que seus dedos cadavéricos pudessem agarrar.
Além de ser um campo de confinamento, os prisioneiros eram tratados com violência. Os guardas eram escolhidos a dedo para a função, com os mais sádicos recebendo benefícios especiais por sua atuação. Todos aqueles que eram mandados para a prisão sabiam que escapar era virtualmente impossível e que a morte ali era quase certa. Não havia necessidade de muros, já que não havia para onde escapar.
Por volta de 1670, a Grã-Bretanha estava envolvida em muitas disputas religiosas que não raramente descambavam para a violência. Na Escócia um movimento protestante chamado de Covenentors ganhava adeptos. O grupo acreditava que os Reis não eram os senhores de direito, já que Jesus era o único Rei ungido por Deus. As ideias do grupo eram perigosas tanto do ponto de vista religioso, quanto político. Os escoceses além de exigir liberdade religiosa, almejavam escolher seus líderes, algo que irritou seus conquistadores, os ingleses.
O Parlamento britânico que na época era de maioria Católica não gostou nada dos ideais defendidos pelos Covenentors. Ele planejou coibir o movimento e esmagá-lo de uma vez por todas. Os seguidores foram perseguidos e muitos deles foram capturados para que fossem julgados por ideias contrárias a monarquia e ao clero, duas instituições contra as quais se rebelar resultava em duras penas.
Entra em cena então um impiedoso juiz chamado George Mackenzie que detestava os Covenentors com uma paixão que beirava a obsessão. Para ele, eliminar aquele bando era uma espécie de missão de vida à qual se dedicou de corpo e alma ao longo de sua vida.
Mackenzie julgou, sentenciou e puniu mais de 1400 réus acusados de fazer parte da crença. Suas decisões não eram baseadas somente na "letra fria do direito", mas em suas convicções morais. Ele achava que removendo os Covenentors estava prestando um serviço quase divino.
Apelidado de Bloody Mackenzie (Mackenzie Sangrento), o Juiz costumava enviar aqueles que sentenciava à prisão em Old Kirkyard Greyfriar onde encontravam condições tão desesperadoras que a maioria deles sucumbia nas primeiras semanas de internação.
No primeiro mês, os prisioneiros transferidos dormiam ao relento, supostamente para se acostumar as condições insalubres proporcionadas pelo pântano e sua população infindável de mosquitos. Só depois eles conquistaram o direito de se recolher nos alojamentos, que eram pouco mais que modestos barracões de madeira que não ofereciam proteção ao frio cortante. Contudo, a fome era o pior: os prisioneiros sobreviviam com uma ração diária de 120 gramas de pão seco.
Há poucos documentos sobre o campo, os registros oficiais sobre sua rotina não sobreviveram ao tempo. Contudo, na época Old Kirkyard Greyfriar era visto como um verdadeiro Inferno na Terra.
O vasto cemitério que ficava próximo do campo também era testemunha do horror na Prisão sem Muros. Em tempos mais recentes, arqueólogos atestaram que o cemitério possui mais de 700 sepulturas. Isso sem contar as covas comunais usadas quando havia alguma epidemia. Supõe-se ainda que muitos corpos tenham sido simplesmente atirados nas areias movediça do entorno.
O cadáver mais ilustre a ser sepultado no Cemitério foi justamente o do Juiz George Mackenzie, que faleceu vítima de uma doença misteriosa. Diz a lenda que o velho juiz, deixou como último pedido em vida que fosse enterrado no Cemitério de Greyfriar, supostamente "para continuar tomando conta das coisas por lá".
Verdade ou mentira, o gigantesco mausoléu de pedra-gres que se sobressai até hoje no terreno é prova que ele teve seu pedido atendido. O nome "MACKENZIE" foi talhado na pedra, ladeado com ossos cruzados. Foi mais ou menos nessa época que os rumores sobre assombrações no cemitério se intensificaram. Guardas e prisioneiros falavam sobre estranhas ocorrências no local, com gritos ouvidos no meio da madrugada, áreas frias sendo sentidas e estranhas luzes sendo vistas. Havia ainda os rumores sobre fantasmas incorpóreos que pareciam vagar pelas sepulturas chorando ou murmurando como se estivessem aterrorizados. Para alguns era a triste constatação que nem mesmo a morte terminava com a miséria dos prisioneiros em Greyfriar.
No entanto, eram as histórias sobre o Juiz, o velho Mackenzie Sangrento, as mais aterrorizantes. Diziam que o fantasma do velho podia ser visto, usando o traje oficial de juiz, com direito a peruca empoada espreitando, geralmente com uma corda atada em forca na mão. Havia a crença de que ele surgia noite após noite, como se estivesse fazendo uma ronda silenciosa nas imediações do campo - costume que tinha enquanto vivo. Muitas pessoas relataram ver o Juiz e alguns até confirmaram terem conversado com seu fantasma.
Certa vez, um prisioneiro tentou escapar e teria até conseguido se afastar do campo e penetrar no pântano. Dias depois, segundo os boatos, seu cadáver reapareceu no Cemitério Greyfriar, justamente aos pés do grande mausoléu do Juiz. Seu rosto estava transfigurado em uma máscara de pavor: a boca escancarada num grito mudo e os olhos arregalados de terror. Em volta de seu pescoço pendia uma corda atada em nó corrediço - a Marca da Forca.
Eventualmente Old Kirkyard Greyfriars encerrou suas atividades em 1830, após um grande incêndio que destruiu os barracões e que fez mais de 50 vítimas. As instalações ainda experimentaram um curto ressurgimento em 1860, mas foram desativadas pouco depois fazendo com que tudo caísse num progressivo estado de abandono.
Em 1989, o local foi escavado pela primeira vez por arqueólogos da universidade de Edimburgo em busca de informações sobre o Campo de Confinamento, considerado um dos primeiros Campos de Concentração da Europa. Na ocasião, os especialistas relataram estranhas ocorrências no cemitério, área que foi foco do trabalho de escavação. Pessoas envolvidas nos trabalhos contaram que a atividade paranormal ali era tão frequente que não havia nenhum membro da equipe capaz de manter seu ceticismo por muito tempo. Vários membros da equipe pediram afastamento depois de testemunhar "coisas inacreditáveis" no interior do cemitério - de objetos voando, a gritos e murmúrios, passando por áreas frias e até violenta atividade de poltergeist.
Marcus Avery Newland, conceituado parapsicólogo da Universidade de Glasgow esteve em Greyfriar repetidas vezes e conduziu estudos nas ruínas do campo e do cemitério. Ele constatou que a atividade no local é tão forte durante o dia quanto à noite, com fenômenos ocorrendo constantemente. De fato ele conceituou o local como o Epicentro de Atividade Paranormal na Escócia, um dos mais poderosos na sua opinião.
"É como um vazamento que não pode ser contido" disse ele em uma entrevista "o cemitério é uma ferida aberta que concentra tristeza, desespero e desolação que ainda pode ser sentido no próprio ar. Tudo isso deixou uma marca no ambiente. Não é por acaso que tantas pessoas se sentem mal ao visitar esse lugar".
Em 1998, os trabalhos no cemitério se encerraram e um muro foi erguido ao redor dele para proteger o patrimônio histórico. O muro visava também proteger o local contra a depredação de curiosos que vinham visitá-lo e levavam "lembranças". O Mausoléu de Mackenzie foi um dos mais dilapidados, sendo alvo de vândalos que deixaram marcas e xingamentos nas suas paredes. Pouco antes dessa medida as portas do mausoléu foram arrombadas e a sepultura interna violada. Os ossos do Juiz foram espalhados e pisoteados por algum visitante especialmente furioso. Mais tarde eles foram recolhidos e levados para outro jazigo nas cercanias de Edimburgo.
A atividade poltergeist, contudo, não se encerrou por aí.
Após incidentes categorizados como "acidentais" nas cercanias, a visitação ao terreno foi oficialmente desaconselhada pelas autoridades locais. O cemitério no entanto foi "engolido" pelo crescimento de Edimburgo e se tornou parte da cidade. Há uma placa na entrada do terreno onde se lê que "pessoas sensíveis devem evitar a entrada no cemitério".
Old Kirkyard Greyfriar é considerado um dos lugares mais assombrados da Escócia.
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