A Banshee é uma mensageira da morte fortemente enraizada no Folclore da Irlanda. Embora a aparência física desses espíritos possa variar muito, seu propósito é sempre o mesmo segundo as tradições.
Originalmente essas criaturas eram chamadas de Been Sidhe, seres de origem feérica que geralmente se manifestavam no corpo de uma mulher com pele pálida, cabelos longos, muitas vezes ruivos e uma beleza delicada. Em algumas versões ela podia ser uma mulher mais velha: triste, amargurada e com longos cabelos grisalhos. A Banshee tinha olhos ferinos em busca de uma vítima em potencial.
Existem histórias em que a Banshee é um ser vivo de carne e osso. Ela pode falar, interagir e tocar os vivos, mas em outras versões ela é tratada como um espírito incorpóreo. Como tal, é um fantasma intocável e pode ficar invisível sempre que desejar, atravessar paredes e até voar.
De acordo com a cultura popular, o grito da Banshee, conhecido especificamente como "caoine" ou "keening", é um berro agudo e lamuriante de morte. Aquele que ouve esse som melancólico sente os dedos da morte mais próximos. Ainda segundo o folclore, aqueles que ouvem esse som pérfido experimentam tontura, frio extremo, confusão, paralisia e em alguns casos morrem de pavor. O terror deflagrado pelo grito desesperado era tamanho que algumas pessoas caiam fulminadas com o terror por ele provocado.
Os antigos clãs gaélicos acreditavam que o choro colérico de uma mulher, ou ainda, seus gritos histéricos podiam afetar tanto a mente quanto o corpo. Um ruído dessa natureza, direcionado a um homem podia mata-lo.
De fato, os nobres irlandeses temiam tanto a lenda da Banshee que quando um novo líder ascendia ao poder, ordenava que viúvas e órfãs fossem banidas de sua presença. Há registros de mulheres sendo exiladas e até assassinadas pela suspeita de que pudessem ser os espíritos disfarçados.
Há uma forte suspeita de que a origem da Banshee esteja ligada à tradições que remetem ao século VIII. Em tempos de guerra e revolta, as mulheres vítimas de guerreiros, abusadas ou brutalizadas podiam se tornar Banshees. Uma lenda antiga menciona uma jovem violentada por um soldado que em meio ao seu desespero se lança num precipício. Ela então ressurge das águas como um fantasma disposta a extrair vingança de quem a feriu - uma Banshee.
É possível que a lenda tenha sido criada com o intuito de proteger mulheres vitimadas nesses tempos de grande perturbação. Um homem conhecedor da lenda poderia refrear sua violência temendo criar uma Banshee e assim se ver em perigo.
Outra lenda sobre a gênese da Banshee envolve o consumo de álcool em dias santos. Mulheres que ofereciam bebida ou trocavam favores sexuais por álcool podiam se tornar Banshees. Da mesma forma, mulheres que morriam após ingerir uma grande quantidade de álcool também podiam retornar como o espírito.
Outra origem possível liga a Banshee ao som da Coruja de Celeiro, uma ave de mau agouro que segundo a crença popular fica empoleirada próximo de quem está para morrer. O som da coruja era um presságio sombrio e simbolizava a proximidade da morte. Meramente imitar o som da coruja podia ser perigoso, mais ainda se o som fosse produzido por uma mulher.
Ao redor do mundo não faltam relatos sobre entidades que se manifestam como mensageiros da morte. A Banshee segundo algumas histórias podia assumir a forma de um grande corvo ou então de uma coruja. Em outras versões ela podia entrar em nevoeiros ou tempestades e desaparecer dentro deles sumindo e reaparecendo em outros lugares. O som de asas batendo sem a presença visível de uma ave também podia ser indicativo da presença de uma Banshee.
Na Idade Média, lendas sobre a Banshee eram muito populares nas Ilhas Britânicas e parte da França entre os celtas. Certas versões da lenda colocam a Banshee como intermediaria, fazendo a negociação entre a vida e morte, decidindo se a pessoa deveria ou não partir para o outro lado.
Algumas videntes e profetizas alegavam manter contato com Banshees para saber em primeira mão informações sobre o estado de pessoas e a morte iminente delas.
Um caso bastante conhecido data de fevereiro de 1437 quando uma vidente irlandesa previu a morte de Jaime I da Escócia pelas mãos do Duque de Atholl. Ela alegou ter recebido o presságio dos lábios de uma banshee que se colocou ao pé da cama do monarca. Não muito tempo depois, o Rei sofreu um atentado no qual foi mortalmente ferido. Enquanto agonizava na cama, pessoas próximas disseram ver uma silhueta feminina ao seu lado e ouvir, pouco antes dele expirar, um grito lancinante.
O Keening da Banshee varia de lugar para lugar, com cada região tendo uma característica própria. Em Leinster, o grito da Banshee era agudo podendo estilhaçado vidro e partir taças de cristal. Por sinal, muitas famílias mantinham copos de cristal perto das janelas como uma forma de detectar a presença da Banshee. Um copo rachado podia significar a morte próxima. Essa lenda possivelmente ajudou a reforçar o temor de vidros e espelhos rachados como fonte de azar.
Na região de Kerry, o som da Banshee não era considerado assustador, pelo contrário, parecia uma melodia tradicional. Em Tyrone, o grito era seco, como o som de árvores se dobrando com o vento. Quando o som se fazia ouvir, diziam as lendas, madeira apodrecia e se partia podendo causar acidentes. Finalmente na Ilha de Rathlin, os relatos davam conta de uma combinação de choro histérico e grito angustiante antes da morte de alguém importante como um nobre ou religioso de alta hierarquia.
Ao longo das gerações, a lenda se transformou, incorporando elementos de diferentes culturas. As famílias nobres irlandesas carregaram a tradição da Banshee para outros cantos fazendo com que ela chegasse ao continente europeu encontrando aceitação no sul da França, Espanha e tão longe quanto a Itália. Cada cultura, no entanto moldou a lenda de uma forma diferente incorporando trechos de seu próprio folclore.
Os Celtas diziam que a Banshee podia ser subornada para poupar um moribundo. Se ela recebesse um presente valioso podia desistir de promover a morte da pessoa. O presente mais comum era uma coroa de flores silvestres colhidas na véspera e deixada perto da cama da pessoa desenganada. Se a Banshee aceitasse a oferta ela partia de bom grado. Na Escócia, a entidade conhecida como Caoineag (ou “caointeach”) guarda enorme similaridade com a Banshee. No entanto, ela não grita, mas assusta sua vitima revelando sua face oculta sob um véu negro.
A Banshee também é conhecida por soprar doenças ou consumir a respiração de pessoas desenganadas. Ela rouba a mortalha colocada sobre os cadáveres para fazer com ela um vestido. Segundo uma tradição medieval, se a mortalha de uma Banshee for roubada e jogada em água corrente, o espírito deixará de existir.
A maioria das lendas, no entanto enfatiza a relação da Banshee com gritos, cantos e sons lamurientos. Em certas tradições gaélicas era vedado a estranhos cantar ou mesmo falar perto de um moribundo Em geral as Banshees eram sempre identificadas como mulheres, contudo em certos recantos, homens também podiam carregar a suspeita de serem Banshees embora tal coisa fosse rara.
Como todas as lendas, a da Banshee gradualmente foi perdendo o sentido à medida que a razão se sobrepôs as superstições. Ainda assim, relatos sobre a existência e presença dessas criaturas são relativamente comuns.
No século XIX, Joseph Carmody um famoso novelista irlandês disse em seu leito de morte que podia ouvir o grito distante de uma Banshee. Ele pediu que a filha lhe trouxesse tampões de ouvido feitos de cera de abelha para que ele pudesse escapar de sua sina. Diz a lenda que Carmody melhorou depois disso, mas que em algum momento removeu os tampões e desesperado anunciou ter ouvido uma vez mais o som lamuriento. Algumas horas depois ele estava morto.
Mesmo nos dias atuais ainda há relatos de avistamentos da aparição. Um destes ocorreu em Junho de 2014, quando algo que parecia uma brincadeira evoluiu para uma aterrorizante experiência com o mito da Banshee.
Um homem internado em um hospital na cidade de Cork insistia ouvir o som de um grito, noite após noite. Ninguém mais conseguia ouvir, mas ele insistia que o som estava cada vez mais próximo. Finalmente, o irmão do sujeito decidiu investigar o que estava acontecendo. Ele alegou ter usado um crucifixo de prata que apontou a direção onde estava a Banshee. Após seguir a indicação ele se deparou com uma mulher velha, com cabelos grisalhos e compridos que abria e fechava a boca como se estivesse gritando, ainda que som algum fosse produzido. Ao tentar tocar a mulher, seu corpo se desfez em uma névoa cinzenta e gélida que se dissipou. Depois disso, alegadamente o irmão deixou de ouvir o grito e se recuperou.
O caso ganhou enorme repercussão nos jornais que o trataram como um legítimo episódio de Banshee na melhor tradição irlandesa.
Apesar desse e de outros incidentes, a Banshee parece ter sido relegada ao passado, um ser do folclore. Contudo, as antigas lendas ainda são contadas e amplamente lembradas em toda Irlanda.
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