Platão entrou para a história como um dos maiores filósofos e pensadores de todos os tempos, mas poucas pessoas sabem que ele também foi um dos primeiros a escrever sobre a mítica Civilização de Atlântida. Seus textos inspiraram arqueólogos e buscadores de mitos antigos a buscar pistas que pudessem comprovar a existência do célebre Continente Perdido.
Embora a verdadeira terra de Atlântida jamais tenha sido encontrada, alguns lugares ao redor do planeta ajudam a fomentar a crença de que ela de fato existiu. E muitos acreditam que as provas ainda podem ser encontradas, bastando buscar nos lugares corretos. Muitos estudiosos da Atlântida apontam certos monumentos e locais antigos como os últimos resquícios de uma cultura a muito desaparecida.
A descoberta recente de peças de estatuário, encontradas na Espanha, surge como um desses achados impressionantes. Eles oferecem um novo ponto de vista a respeito de uma das primeiras civilizações ocidentais na Idade do Bronze. Os fragmentos pertencem a cinco bustos e um mosaico da obscura cultura conhecida como Tartesso.
Até pouco tempo atrás, essa Civilização era tida como um simples mito. Os Tartessianos teriam vivido no sudoeste da Península Ibérica entre os século IX e V a.C e construíram uma sociedade incrivelmente rica e avançada. Para alguns eles teriam sido a inspiração para os escritos de Platão relativos a Atlântida.
"As escavações no sítio de Casas del Turuñuelo (em Guareña, Espanha) trazem à luz os restos de cinco bustos do século V aC e de um impressionante mosaico pertencentes a uma cultura sobre a qual ainda sabemos muito pouco - a Civilização Tartessiana."
O comunicado oficial do Instituto de Arqueologia de Mérida e do Conselho Superior de Investigações Científicas anunciou a descoberta realizada no sítio arqueológico. O terreno ainda está sendo escavado, mas artefatos tem sido encontrados nas fundações do que um dia foi uma espécie de palácio ou mansão.
Mas quem exatamente foram os Tartéssios?
A histórica e misticismo desse povo é mencionada em registros gregos datando do primeiro milênio aC. Segundo historiadores helênicos a cultura de Tartessos teria florescido com uma mistura de povos paleo-hispânicos e fenícios que eventualmente se fixaram no sul da atual Espanha. Lá eles criaram sua escrita, idioma e adotaram costumes próprios. Sua capital, Tartessos, era uma cidade portuária situada onde hoje fica a Andaluzia. Os registros dizem ainda que a capital era muito rica em estanho, ouro, cobre e outros minerais, além de ser um centro de comércio que negociava com as nações do Norte da África e que tinha uma frota considerável de navios mercantes. O estanho era um mineral muito valioso no mundo antigo por causa de seu uso na fabricação de bronze, portanto os residentes de Tartessos eram sem dúvida prósperos.
Por muito tempo a Civilização de Tartessos foi considerada lendária, já que não haviam provas suficientes para comprovar sua existência factual. Isso mudou em 1928, quando o historiador alemão Adolf Schulten realizou descobertas arqueológicas que provaram a existência dela. Os artefatos descobertos por Schulten foram encontrados em escavações realizadas no sul da Península Ibérica. Estes itens ajudaram a reconhecer essa cultura como uma das primeiras e mais avançadas civilizações da Europa Ocidental. Uma de suas maiores realizações envolvia um complexo sistema de escrita, conhecido como Escrita Tartessiana. Os símbolos que compunham esse alfabeto foram encontrados gravados em cerâmica, adornando objetos de metal e esculturas de pedra. Esses caracteres ajudaram a identificar os tartéssios como seguidores de uma religião politeísta. Seus deuses eram associados ao sol, à lua e às estrelas, bem como a animais como cavalos e touros.
Mas em algum momento essa civilização desapareceu misteriosamente da face da Terra, fazendo com que muitos se perguntassem se eles realmente haviam existido.
O que pode ter acontecido e qual a ligação desse povo ancestral com o Mito de Atlântida?
Uma das descrições que se tem sobre Tartessos data do século segundo depois de Cristo, ela diz:
"Tartessos era o nome de um rio ibérico que desaguava no mar por duas bocas na costa do sul da região. Entre esta desembocadura ficava uma grande cidade portuária que tinha o mesmo nome. O rio foi no passado um dos maiores da Península Ibérica, cruzando do oeste para o sul".
A citação vem de Pausânias, um geógrafo do século II dC, que se inspirou nos escritos de um filósofo anterior – Aristóteles – que foi um dos primeiros a descrever um rio subindo os Pirineus e fluindo para o mar no Estreito de Gibraltar. No entanto, se você olhar para o mapa hoje, verá que não existe esse rio atravessando a Península Ibérica.
Será que Tartessos reside nas profundezas? |
Alguns escritores suspeitam que em algum momento, possivelmente no século quinto antes de Cristo ocorreu um cataclismo nessa região. Um terremoto ou um tsunami pode ter alterado o curso do rio causando uma inundação que devastou completamente a cidade de Tartessos. Inundações eram algo muito temido no mundo antigo; a invasão repentina de águas tinha um enorme potencial destrutivo, ainda mais considerando a arquitetura e a fragilidade das construções.
O súbito desaparecimento de uma Civilização próspera, vitima de uma inundação que destruiu a capital pode ter inspirado o Mito de Atlântida. Todos os historiadores que mencionam o trágico destino de Atlântida são enfáticos quanto ao que causou seu ocaso: a água. Uma inundação sem precedentes teria varrido a cidade, cobrindo construções e arrasando tudo em seu caminho. No processo milhares de pessoas teriam se afogado. Quando tudo terminou, não restava quase nada e os sobreviventes tiveram de se dispersar pelo mundo - carregando consigo parte de sua cultura e conhecimento.
O destino similar dessa cidade poderia ter inspirado o mito de Atlântida? Ou indo ainda mais longe, poderia Tartessos na verdade, ser a mítica Atlântida?
Esther Rodríguez, co-diretora do Projeto Tarteaso que coordena os trabalhos de escavações em Guareña, disse ao jornal El Pais acreditar que as estátuas e o mosaico achados recentemente podem levar a novas e empolgantes descobertas. "Quem sabe, será capaz até de reescrever a história como conhecemos."
Ao estudar o mosaico, Rodríguez sugeriu que as imagens narram uma saga envolvendo um jovem guerreiro e as deusas que o protegiam, representadas por duas mulheres. Na história, o guerreiro enfrenta muitas ameaças, na forma de monstros marinhos e criaturas das profundezas, para salvar sua cidade da completa destruição. Apesar da história relatar uma saga na qual o herói consegue salvar sua pátria natal, uma ameaça continua pairando no ar. Uma espécie de profecia atesta que a cidade encontraria seu fim com a força de águas.
"Resta saber se a história revelada pelo mosaico ocorreu antes ou depois da devastação de Tartesso" especula Rodríguez.
"De uma forma ou de outra, estamos diante de grandes descobertas que podem colocar Tartesso na vanguarda de uma transformação operada na Europa durante a Idade do Bronze. Com a cultura avançada dessa civilização sendo compartilhada com outros povos europeus."
Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa, mas as descobertas parecem realmente significativas e capazes de alterar o paradigma sobre o desenvolvimento cultural da Europa.
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