Certa tarde, em janeiro de 1911, a polícia foi chamada à residência de um homem chamado Walter Byers, em West Crowley, Louisiana, por vizinhos preocupados por ele não ter aparecido para trabalhar na fábrica de arroz local. Quando as autoridades entraram, a casa parecia estar toda em ordem até chegarem ao quarto onde acharam um cenário de horrores. Lá, Walter, sua esposa e seu filho de seis anos foram encontrados brutalmente assassinados e massacrados. Havia sangue espalhado por toda parte, inclusive nas paredes e no teto. Um verdadeiro pântano de pegadas manchadas e sangrentas se espalhavam pelo cômodo.
Os corpos haviam sido cortados com um objeto afiado e pesado. Não tinham marcas de ferimentos nas mãos evidenciando defesa. O assassino havia usado a lâmina para massacrar suas vítimas deixando vários ferimentos abertos com enorme força. As cabeças foram espatifadas como melões com a lâmina da mesma arma e depois chutadas até se partirem medonhamente. Os policiais atordoados pela cena doentia investigaram a cena do crime e descobriram um balde cheio de sangue num canto. Acharam ainda um pesado machado sujo de sangue ao lado da cama. As autoridades suspeitavam que a família tivesse sido morta durante o sono e, como não havia sinal de arrombamento, teorizou-se que o assassino havia entrado por uma janela aberta aproveitando o calor que fazia. O crime seria o início de uma série sombria e elusiva de assassinatos macabros que desencadearia histórias de magia vodu, cultos nefastos e sacrifícios humanos no coração da Louisiana.
O assassinato foi particularmente chocante, resultando em manchetes sensacionalistas nos principais jornais, enquanto a polícia não conseguia descobrir por que haviam sido cometidos. Walter era um sujeito bem quisto e não tinha inimigos conhecidos, ao menos ninguém capaz daquela destruição. Ninguém conseguia encontrar um motivo para alguém querer matar ele e sua família de maneira tão horrível.
Enquanto os investigadores tentavam encontrar pistas, no mês seguinte houve outro assassinato medonho, desta vez Alexander Andrus, sua esposa Minnie e seus dois filhos pequenos, foram encontrados igualmente mutilados e massacrados em seus quartos. A arma do crime, determinaram rapidamente era um machado semelhante ao usado no primeiro massacre. E assim como no crime anterior, havia um balde de sangue no local. Menos de um mês depois, outra família foi encontrada no mesmo estado mórbido, desta vez Alfred e Elizabeth Casaway e seus três filhos que viviam em San Antonio, Texas. A essa altura, a polícia suspeitou que os assassinatos não estavam apenas relacionados, mas também tinham motivação racial, já que as famílias Byers, Andrus e Casaway eram todas de negros pobres.
A polícia suspeitava ter um serial killer à solta, provavelmente alguém rico e branco. Isso atrapalhou a investigação desde o início, pois eles estavam buscando no lugar errado. A primeira pista realmente boa que obtiveram veio da amante de um homem negro local chamado Raymond Barnabet, que se gabou de ter matado a família Andrus depois de voltar para casa com sangue nas roupas. Barnabet foi imediatamente preso. Durante o interrogatório a própria filha do acusado, Clementine, de 17 anos, e seu filho, Zephirin, também alegaram que seu pai havia sido muito abusivo com eles e os forçou a ajudá-lo a eliminar as evidências dos assassinatos. Raymond foi formalmente acusado e depois de um rápido julgamento, considerado culpado. Contudo, enquanto aguardava a sentença na cadeia, ocorreu mais um assassinato repugnante.
Em novembro de 1911, Norbert e Asima Randall, de Lafayette, foram assassinados com seus quatro filhos, e o Modus Operandi foi o mesmo dos demais crimes. Eles eram negros, a arma do crime era um machado e os corpos foram mutilados e parcialmente drenados. Um balde foi achado contendo o sangue das vítimas. A única diferença marcante é que Norbert foi morto com um tiro em vez de um golpe de machado. Curiosamente, durante esta investigação, a polícia voltou suas suspeitas para a filha do principal suspeito, Clementine Barnabet. Eles moravam bem perto dos Randalls e sangue foi encontrado na fechadura da porta de sua casa. O mais contundente de tudo, é que, como diria um jornal, “um conjunto completo de roupas femininas foi achado no quarto de Clementine, empapado de sangue e coberto de cérebros humanos”. A descoberta era incriminadora, para dizer o mínimo.
Embora seu irmão tivesse um álibi, Clementine foi presa sob suspeita de assassinato, assim como seu pai. A suspeita é que a garota havia cometido os crimes com o intuito de criar uma dúvida excludente que liberaria seu pai da cadeia. Afinal, se ele estava preso, como poderia cometer o crime?
Contudo, o mais chocante ainda estava por vir...
Mesmo com Raymond e Clementine presos na cadeia municipal, novos crimes continuaram a acontecer levando terror a população. De fato, as mortes violentas se intensificaram! Em janeiro de 1912, um total de três famílias foram assassinadas da mesma forma em rápida sucessão. Em uma dessas cenas de crime, um novo detalhe foi encontrado em uma mensagem escrita com sangue na parede, que dizia misteriosamente: "Quando ele faz a inquisição por sangue, ele não se esquece do clamor dos humildes", a estranha frase foi assinada como "Os Cinco Humanos."
Quando essa notícia bombástica chegou ao noticiário, a mídia foi à loucura. Imagens assustadoras das cenas dos crimes foram estampadas na primeira página de jornais e logo os repórteres estavam atribuindo os assassinatos a um culto vodu que conduzia sacrifícios humanos. Na Louisiana cultos de matriz africana, inclusive de Voudou, eram conhecidos, mas nada semelhante havia sido visto. Não daquela maneira.
Também havia rumores de que a gangue vodu chamava a si mesma de "Igreja do Sacrifício" e era liderada por ninguém menos que a própria Clementine Barnabet, uma espécie de sacerdotisa mambo, uma feiticeira vodu. Ela teria sido consagrada no mesmo templo em que a lendária feiticeira Marie Laveau, uma das mais poderosas e conhecidas bruxas da Louisiana.
Essa história causou enorme repercussão e um circo da mídia, criando uma histeria coletiva. Da noite para o dia surgiram rumores à respeito de templos secretos vodu escondidos no pântano. Havia boatos de todo tipo sobre rituais de sangue sendo realizados nas florestas ao redor da cidade e em porões. O pânico deu vazão a uma verdadeira caça às bruxas na qual dezenas de pessoas, em sua maioria devotos de religiões africanas, foram perseguidas e agredidas por uma multidão apavorada.
Em meio a esse caos, Clementine Barnabet se recusou a cooperar com as autoridades e disse que não falaria com ninguém aumentando a percepção de todos de sua culpa.
Justamente quando todo frenesi vodu estava chegando ao auge e a polícia lutava desesperadamente para descobrir quem estava cometendo os assassinatos, Clementine decidiu chamar a imprensa para fazer uma declaração que foi transmitida por rádio. Ela confessou que realmente fazia parte de um culto vodu e que seus membros acreditavam que matando inocentes poderiam alcançar a imortalidade se o sacrifício fosse direcionado a entidade correta.
A jovem revelou que, para cometer os crimes, os assassinos usavam amuletos de vodu que ela havia criado e que os protegiam com uma série de poderes sobrenaturais. Usando os amuletos, eles ficavam invisíveis, não faziam barulho e ganhavam força sobre-humana. Em sua confissão ela acabaria confessando 35 assassinatos cometidos ao longo de uma década.
Foi uma revelação chocante, mas haviam algumas lacunas na história. A primeira foi que Clementine alegou que seu culto estava conectado à congregação da Santa Igreja Santificada de Cristo em Lake Charles, Louisiana, mas o pastor de lá nunca tinha sequer ouvido falar dela. Ela também deu à polícia os nomes dos cúmplices, que foram considerados identidades falsas ou não puderam ser localizados. Ocorreram algumas prisões, mas nenhuma dessas pessoas estava ligada aos assassinatos, muito menos a um culto vodu de sacrifício humano. Haviam álibis e testemunhas que os eximiam de qualquer culpabilidade. Até mesmo o "Sacerdote Vodu" que ela alegou ter lhe vendido seus encantos mágicos era apenas um fito terapeuta que não tinha ideia do que a polícia estava falando quando bateu a sua porta.
A história toda também era muito contraditória, com detalhes mudando frequentemente cada vez que ela contava, e logo ficou óbvio que a confissão de Clementine não era válida.
Sem suspeitos e sem nenhuma prova, a polícia rejeitou amplamente as alegações selvagens e duvidou que Clementine tivesse cometido tantos assassinatos quanto alegou. Ainda assim, eles a acusaram dos assassinatos de Randall devido às evidências sangrentas encontradas em sua posse. A jovem sacerdotisa Vodu da Louisiana, chamada de "a mulher mais temida de seu tempo" foi condenada à prisão perpétua na Penitenciária Estadual de Angola, perto da capital do estado da Louisiana, Baton Rouge, com a tenra idade de 19 anos.
Clementine tentaria escapar sem sucesso em julho de 1913, antes de ser libertada da prisão em agosto de 1923 após ter demonstrado bom comportamento e aparentemente tendo passado por algum tipo de procedimento misterioso que a "curou" e "restaurou sua sanidade", o que é estranho porque em seu julgamento ela foi considerada perfeitamente sã. Depois disso a história termina, com poucos fatos adicionais. Ela desapareceu sem deixar rastros em 1924 e nunca mais se ouviu falar dela.
Diante de tudo isso, ficamos nos perguntando que papel Clementine Barnabet teve nos crimes horrendos cometidos e se alguma de suas afirmações era realmente verdadeira. No entanto, quer ela fosse culpada ou não, ainda nos restam imputar os supostos assassinatos que aconteceram enquanto ela estava encarcerada.
Seria ela realmente a líder de um culto que enganou as autoridades ao apontar supostos membros? Foram assassinatos cometidos por imitadores? O culto continuou agindo impunemente? A verdade, é que ninguém jamais foi detido e acusado formalmente pelos assassinatos do Culto Vodu, e o mistério permanece até hoje.
Um belo pano de fundo pra um cenário de Chamado de Cthulhu
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirTempos difíceis para a Polícia. Relato fantástico!
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