quarta-feira, 26 de junho de 2024
O Vampiro de Dusseldorf - O reinado de sangue e a captura do monstro
sábado, 22 de junho de 2024
O Vampiro de Dusseldorf - A gênese do Assassino em série Peter Kurten
Todos nós somos produto de nossa origem e daqueles que nos criaram. Existem famílias equilibradas em que os valores de amor e compreensão são transmitidos através das gerações. As crianças aprendem essas lições e depois as levam adiante com seus próprios filhos.
Mas existem pessoas que só conhecem o abuso e negligência ao longo de toda vida. Elas aprendem desde cedo que o mundo é um lugar cruel e que a existência não passa de uma luta constante, árdua e assustadora pela sobrevivência. Enquanto muitos conseguem superar e ter uma vida saudável, outros acreditam que machucar pessoas é algo natural. Para aqueles que se voltam para uma existência mais sombria, causar sofrimento, é tudo que importa.
Peter Kurten, o monstro que ficaria conhecido como O Vampiro de Dusseldorf, nasceu na pequena cidade de Monhein, na Alemanha em 1883. Seu pai era um alcoólatra abusivo e sua mãe uma mulher tímida, incapaz de se impor diante dele. O pai, um sujeito abrutalhado, era um operário que gastava a maior parte de seu salário com bebida, o que forçava a família a procurar alguma forma de garantir seu sustento. Além disso era um bêbado raivoso. Muitas vezes retornava de suas noitadas embriagado e batia na esposa e nos dez filhos, sobretudo Peter, que era o mais velho.
Seu pai era um homem sádico, além das surras violentas, se deleitava forçando os filhos a assistir ele fazer sexo com a mãe. Com os frequentes abusos, Peter começou a fugir de casa aos oito anos. O garoto ficava na escola até que o mandassem embora ou se escondia na floresta onde ficava sozinho por dias. Durante esse período se sustentava roubando nas feiras e mercados da cidade. O menino foi pego repetidas vezes e devolvido ao pai que retribuía suas fugas com surras cada vez mais brutais. Em uma dessas o deixou tão ferido que foi preciso interná-lo num hospital.
Através da violência, Peter desenvolveu uma predisposição para retribuir da mesma maneira. Ele sentia que a violência era a única forma de interagir com o mundo e desejava causar às pessoas a mesma dor que sentia. Na tenra idade de nove anos, ele teria cometido seu primeiro assassinato. Peter e seus amigos costumavam brincar nas margens do Rio Monhaim, construíndo jangadas com troncos para flutuar na água. Um dia, ele e dois amigos saíram para brincar, mas em determinado momento Peter foi tomado de um pensamento perverso que dominou suas ações. Ele empurrou na água um dos meninos, sabendo que ele não sabia nadar. O outro prontamente tentou puxa-lo de volta para a jangada, mas Peter também o empurrou. Em seguida, usando um remo ele impediu que os dois voltassem para a embarcação. Os dois acabaram se afogando. Peter sentiu uma estranha satisfação, diferente de tudo que havia experimentado até então. Aquilo lhe dava um poder especial que ele jamais havia sentido.
O assassinato ensinou a ele uma lição valiosa: matar não era apenas excitante, mas fácil. Assim como era fácil escapar das consequências de seus atos. O jovem Peter alegou que as mortes foram decorrentes de um trágico acidente e ninguém duvidou dele.
As mortes deixaram o jovem Peter Kurten cheio de confiança para tentar novamente.
Um ano mais tarde, ele e um amigo navegavam novamente em uma jangada improvisada. Dessa viagem apenas Peter retornou, contando de forma muito convincente que o colega havia caído nas águas e levado pela correnteza sem que ele pudesse fazer qualquer coisa. O acontecido levantou algumas suspeitas, mas ninguém chegou a acusar o menino formalmente. Seria monstruoso demais...
No ano seguinte, quando Peter tinha 11 anos, a família decidiu se mudar para uma cidade maior onde poderiam encontrar melhores condições de vida. Decidiram se estabelecer em Dusseldorf, uma metrópole às margens do Reno, lá o pai encontrou emprego como metalúrgico. Mas apesar disso, todos continuavam sendo vítimas dos abusos do patriarca da família. Adicionando um componente sexual a sua rotina, o pai passou a violentar uma das filhas de 13 anos, conduta que eventualmente o levou a prisão em 1897.
Dusseldorf desempenhava um sentimento conflitante na mente perturbada do rapaz. Ele se sentia mais livre do que nunca em um ambiente enorme e populoso, mas ao mesmo tempo, sentia que havia algo maligno na cidade. Uma presença invisível que ele alegava compelir suas atitudes e moldar seu comportamento cada vez mais limítrofe. Kurten contaria mais tarde que a cidade exercia sobre ele uma força quase sobrenatural, como se ela o forçasse a se tornar o assassino apelidado de Vampiro em face de seus atos hediondos.
Com o pai condenado por incesto, coube a Peter, o mais velho, sustentar os demais. Ele conseguiu um emprego na mesma indústria e desempenhava o papel de aprendiz. O adolescente, entretanto era estranho e impopular, preferia ficar sozinho, não se misturava com ninguém e guardava para si suas próprias fantasias. Estas iam muito além dos sonhos e da curiosidade natural sobre garotas. Peter havia desenvolvido uma fixação por animais e visitava as estrebarias em busca de cabras e ovelhas. A bestialidade concedeu algum alívio para suas fantasias doentias, mas logo aquilo começou a se tornar cansativo. Peter precisava de algo mais do que o sexo com animais, e ele acabou encontrando esse "algo mais" através da violência. A tortura era muito mais gratificante e ele começou a ferir e mutilar os animais da fazenda. Posteriormente Peter conheceu um vizinho que tinha por ofício apanhar cães de rua. Ele se juntou ao homem em uma rotina que envolvia torturar os animais capturados e eventualmente matá-los com requintes de crueldade.
O sadismo deu um novo ânimo ao rapaz e isso o levou de volta às fazendas. Em dado momento em meio ao ato sexual, ele apunhalou uma ovelha com uma faca. O sangue quente escorrendo da garganta e os balidos frenéticos do animal lançaram uma onda de energia que o deixou extasiado. Peter descobriu que o sofrimento era o elemento que faltava, e aquele que o deixava mais excitado. Dali em diante ele ligaria para sempre o prazer sexual com o sangue de seus parceiros. Nenhum prazer poderia ser obtido sem um componente sangrento.
Eventualmente, o pai de Peter Kurten foi solto da prisão, retornando ainda mais violento do que antes. Mas Peter estava perto de completar a maioridade, e assim que atingiu 18 anos, roubou dinheiro da fábrica e da família, fugindo sem pensar duas vezes. Peter se estabeleceu no vilarejo de Cobling, vivendo com uma prostituta, dois anos mais velha que ele. O rapaz deu início a um relacionamento baseado no abuso, semelhante ao que o pai infligia na família. O prazer só era atingido mediante tortura e sadismo que se tornavam cada vez mais intensos. Em dado momento, ele foi longe demais e acabou sendo denunciado pela namorada.
Peter foi detido em 1903 e em seguida expulso de casa. Vivendo nas ruas, ele começou a roubar para se sustentar e acabou sendo preso e condenado por furto. Enviado para uma prisão em Dusseldorf, Peter conheceu vários prisioneiros que haviam sido condenados por crimes graves e se tornou amigo de assassinos e estupradores com quem dividia histórias. Ele ouvia com atenção as narrativas detalhadas que alimentavam suas fantasias doentias.
Quando enfim foi libertado, Peter estava ansioso para colocar em prática aquilo que havia ouvido. Uma de suas curiosidades era à respeito de arsonismo, um crime que ele ainda não havia tentado. Logo ao ser liberado da cadeia ele incendiou um galpão, sentindo enorme satisfação ao ver as chamas dançando e devorando a estrutura de madeira.
Pouco tempo depois, Peter procurou alguma atividade onde pudesse se enquadrar. Ele acabou se alistando no Exército, sendo mandado para treinamento na França. Mas obviamente, a vida dura de recruta não o agradou e ele acabou desertando. Sua transgressão acabou sendo descoberta após nova prisão por roubo, o que acarretou em uma pena de oito anos numa severa prisão na Alemanha. Durante o cumprimento de sua pena, Peter se envolveu em muitas brigas, sendo mandado para a solitária repetidas vezes. Numa cela pequena e escura ele se desesperava, tendo como único alívio as memórias de seus crimes e as fantasias perversas que desejava realizar. Na solidão total ele sentia algo crescendo, um ódio e um ressentimento que não cabia em seu peito.
O assassino estava no último estágio de gestação.
Aos 30 anos, Peter Kurten enfim foi libertado e ansiosamente colocou em ação um de seus sonhos. Ele invadiu uma casa na sua cidade natal em Monhaim com o plano de roubar o lugar, mas se deteve ao encontrar os membros da família dormindo em seus quartos. Ele se interessou especialmente por uma menina de 10 anos chamada Kristin Klein e foi até sua cama. Ele passou alguns momentos observando a criança, pensando no que fazer e em seguida deixou seus instintos assassinos virem à tona. Peter a esganou com as mãos, mas foi só quando produziu uma faca e cortou seu pescoço que se sentiu plenamente realizado. A visão do sangue vertendo da ferida fez com que ele sentisse alívio sexual imediato.
No dia seguinte Peter assistiu a polícia investigar a cena do crime, acompanhou a família no enterro e até visitou a sepultura na calada da noite. Estar perto da sua vítima o deixava excitado. Peter não foi considerado suspeito e se sentiu livre para prosseguir em seus experimentos com assassinato. Ele arranjou um pequeno machado e usando essa arma, vagava pela cidade em busca de alguma vítima. Seu método de ataque era sempre o mesmo, ele carregava a arma escondida em um saco, se aproximava por trás e desferia um golpe certeiro no crânio da pessoa. Homens, mulheres ou crianças... ele não escolhia as vítimas, atacava sempre que surgia a oportunidade e fugia. Peter também se dedicava a incendiar prédios e casas, escondendo-se na mata para ver os lugares ardendo. Tanto os ataques quanto os incêndios despertavam um furor sexual, mas ele sentia que precisava mais do que aquilo - ele ansiava por proximidade com suas vítimas.
Kurten escolheu sua vítima seguinte com cuidado, uma jovem de 17 anos chamada Gertrude Franken. Ele arrombou a porta da frente da casa e se esgueirou até o quarto da garota observando-a dormindo tranquilamente. O monstro não perdeu tempo e agiu, apertando a garganta dela até partir seu pescoço - ela não teve a chance de gritar. Excitado ele saiu do quarto alegremente.
Peter continuou explorando a região, produzindo incêndios criminosos até ser capturado pela polícia. Ele acabou sendo mandado novamente para a cadeia, cumprindo pena de seis anos numa prisão militar ao lado de outros desertores, assassinos e facínoras que cometeram crimes na Grande Guerra. Peter se deleitava com as histórias de veteranos embrutecidos que descreviam os cadáveres, o horror e a violência das trincheiras. Ele desejava ser liberado para lutar, mas os médicos julgaram que seria uma temeridade dar uma arma a um sujeito tão problemático.
Quando ele foi solto em 1920, a Guerra havia terminado e a Alemanha estava despedaçada. Ele se mudou para Altemberg onde tencionava reconstruir sua vida ao lado da irmã que lhe deu acolhimento. Peter conseguiu um emprego estável e chegou a casar, construindo uma fachada de homem sério e cidadão exemplar. Em 1925 ele convenceu a esposa a mudar para Dusseldorf. Peter contou mais tarde que ainda sentia que alguma força na cidade o chamava, quase que como um canto sedutor para que ele retomasse sua rotina criminosa. Em Dusseldorf ele experimentava sonhos alucinantes em que praticava assassinato, estupro e tortura. Ele acordava banhado de suor, agarrando a esposa, a agredindo repetidas vezes como se fosse uma continuidade de seus sonhos febris.
Kurten acreditava que os espíritos malignos ou o demônio em pessoa o tentavam. Queriam que ele espalhasse violência pela cidade. Ele eventualmente acabou cedendo a esses anseios e buscou mulheres que aceitavam se sujeitar às suas vontades hediondas. Ele também deu vazão a uma onda de incêndios criminosos em fazendas e celeiros da cidade, tentando até atear sem sucesso fogo a um orfanato com o intuito de ouvir os gritos de crianças inocentes. Apesar de ainda fantasiar com assassinato, ele não havia matado ninguém em mais de uma década. Mas isso estava prestes a mudar.
No fatídico ano de 1929, a situação econômica em Dusseldorf se deteriorou a ponto de deixar a maioria das pessoas sem emprego e famintas. Era a Grande Depressão que havia se instalado no mundo todo. Não se sabe ao certo se foi o stress social ou algum outro fator particular que despertou novamente a sanha assassina de Kurten, mas ele estava prestes a iniciar o período mais sanguinolento de sua carreira homicida.
Ele começou a vagar pelas ruas escuras de Dusseldorf ouvindo a voz sedutora de seus muitos demônios internos garantindo que a sensação de matar era a mais doce de todas. Em uma noite particularmente propícia, iluminada por um céu avermelhado, que ele julgou ser um sinal, Peter Kurten deu início a mortandade que colocaria seu nome no rol dos assassinos mais perversos da história.
Ele seria para sempre o Vampiro de Dusseldorf.
Mas esse é assunto para a continuação desse artigo.
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Cidade do Demônio - A Cidadela criada pelo Vento no coração da Mongólia
segunda-feira, 10 de junho de 2024
Terrível Ancião - a verdade sobre o Capitão Richard Holt
A cidade de Kingsport é um lugar de muitos segredos, mas um de seus maiores mistérios diz respeito a um Ancião que vive numa antiga casa próximo da orla marinha.
Chamado por alguns de "O Velho Ruim" e por outros de "O Terrível Ancião", o homem de longos cabelos grisalhos e aspecto desgrenhado passa a imagem de ser um eremita inofensivo. Mas aqueles que cresceram temendo as lendas sobre seus feitos e desfeitos, sabem que aparências podem enganar.
Os mais antigos residentes afirmam que o Terrível Ancião atende pelo nome de Richard Holt e que ele foi um Capitão de Clipper quando as rápidas embarcações mercantis cruzavam a Baía rumando para portos no outro lado do mundo.
Ele teria servido a Companhia das Índias Orientais e empreendido inúmeras viagens pelos mares do sul. Nessas ele conseguiu acumular um tesouro considerável em dobrões de ouro espanhóis que supostamente ainda guarda em algum lugar de sua casa. A prova disso é que até hoje ele costuma abastecer sua despensa com provisões pagas em ouro cunhado no século XVII.
Até onde se sabe, Holt nunca casou ou teve filhos. Não há herdeiros para sua casa e coleção de tranqueiras exóticas. Haviam alguns Holt que viviam em Kingsport, mas quando perguntados sobre parentesco, se apressaram em negar qualquer ligação com o Velho. Como se eles quisessem se distanciar o máximo possível desse ramo genealógico. Os últimos da família deixaram Kinsgport ou morreram faz tempo. Hoje o velho é o único com esse sobrenome na cidadezinha.
A razão para renegar qualquer laço de sangue com o velho pode ter origem em preconceito. Muito se falava que o capitão teria absorvido a cultura ímpia de certos povos do Pacífico. Ele teria entrado em contato direto com tribos selvagens na Polinésia que lhe confiaram rituais secretos de origem diabólica.
Esse seria o segredo por trás de sua longevidade, pois alguns supõem que o Capitão passou, e muito, dos cem anos. Para outros, isso é um exagero e ele não seria mais que um octogenário.
Discute-se aos sussurros o preço que o velho lobo do mar teria pago para viver tanto tempo. Garantem alguns que o astuto Capitão teria vendido a alma ao diabo em troca de imortalidade, mas que achou uma forma de enganá-lo. A punição destinada a ele no inferno será tão terrível que ele não ousa morrer e descobrir o que o aguarda.
Além da vida extremamente longa, o Velho Ruim teria aprendido portentos de feitiçaria, convivendo entre os ilhéus dos mares do sul. Há testemunhos que dizem tê-lo visto com amuletos e patuás místicos, além de tatuagens intrincadas desenhadas em sua pele enrugada. As estátuas em seu quintal suscitam dúvidas, se seriam meras carrancas ou ídolos pagãos de deuses e demônios marinhos.
Nesse contexto, falam ainda de sua bizarra coleção de garrafas azuladas que emitem um tilintar como se respondessem aos solilóquios do velho. Quem assistiu a essas entusiasmadas conversas se reserva ao direito de dizer que o Velho Ruim se refere a cada vasilhame incongruente por um nome próprio. Outros vão mais longe afirmando que os nomes correspondem ao de antigos companheiros do velho em seus dias de capitão.
Também há rumores sobre o notável vigor do Terrível Ancião, de uma centelha de energia que trai a imagem de que ele seria um velho frágil em idade avançada. Ele não faz questão de demonstrar tal coisa, mas para alguns seu andar manquitolante e modos débeis são um engodo. O mesmo pacto blasfemo que lhe conferiu tantos anos de vida o teriam abençoado com uma saúde de ferro. Não há doença ou moléstia que o tenha acometido e seus pés jamais pisaram num hospital.
Poucos anos atrás, foi comentado à boca miúda que o Ancião atraiu a atenção de três notórios criminosos de Kingsport. Estes teriam ouvido as histórias sobre o tesouro guardado pelo velho capitão em algum lugar de sua casa decrépita. Pensavam que seria fácil adentrar a mansão situada na isolada Rua da Água e aliviar o velho de suas riquezas. Pensaram errado!
Lenda ou boato, fato é que os três ladrões, todos eles bandidos infames no cais do porto, gente da pior laia, sumiram misteriosamente. Deles não se soube mais e provável que jamais há de se saber.
Para o bem ou para o mal, o velho Capitão Holt é tratado como uma espécie de indesejável celebridade em Kingsport. Não há ninguém que não o conheça ou não tenha alguma história a contar sobre ele. Essas fofocas de viúvas parecem ser um passatempo comum entre os moradores do balneário. Mas apesar de sua fama, não são muitos os residentes que visitaram a casa e tiveram um dedo de prosa com seu vetusto habitante.
É sabido que ele costuma selecionar sua companhia e que tem por hábito afastar os curiosos. Não é estranho, contudo que ele receba forasteiros e visitantes que vão até ele com o intuito de ouvir seu aconselhamento.
O Capitão Holt parece ser um conhecedor profundo de antigos mistérios tanto de terra quanto de mar. Quando está disposto a compartilhar seu saber, ele se mostra uma valiosa fonte de informações, convidando indivíduos para ter com ele um convescote. As reuniões ocorrem em sua casa, diante da coleção de garrafas pousada sobre a mesa na sala. Quando não quer ser incomodado, ele expulsa aos berros os que batem sua porta. Os que insistem, descobrem que o Velho Ruim, dado a excentricidades, pode ser bastante irascível e até belicoso em seus modos.
Um dos temas favoritos dele são os sonhos, afinal, o cenário idílico de Kinsport favorece experiências oníricas bastante reais. Ou assim dizem! Quem visita o balneário relata ser arrebatado por sonhos (e também pesadelos) muito reais. Os antigos culpam as névoas oceânicas que proporcionam esse sono agitado, mas quem pode saber ao certo?
O Capitão Holt é um personagem único, um indivíduo peculiar que se converteu em parte do folclore de Kingsport.
A VERDADE
Por vezes lendas não passam de uma coleção de histórias construídas sobre o disse me disse do exagero. Um rumor é aumentado, acrescido de boatos infundados e tolices sem nexo. Contudo, há casos em que as histórias não apenas têm base em fato, mas são dolorosamente reais. E isso é verdade no que diz respeito ao Capital Richard Holt de Kinsgsport.
Por mais incríveis que possam ser os relatos sobre sua origem, quase todas as histórias são verdadeiras.
Holt tem 125 anos de idade e provavelmente viverá por muitos outros anos. Sua longevidade, como muitos supõem decorre do sobrenatural que lhe agraciou também com força e vitalidade.
Não foi um pacto diabólico que lhe conferiu esses predicados, mas a feitiçaria dos mitos ancestrais. Desde jovem, o Capitão temia as limitações da idade avançada: perder o vigor e descobriu-se frágil, eram perspectivas que o atormentavam.
Nos Mares do Sul, Holt descobriu a solução. Ao visitar tribos isoladas famosas pela longevidade de seus membros, ele desejou conhecer seus segredos. Um feiticeiro que afirmava ter mais de 300 anos aceitou compartilhar como tal milagre era possível.
O método envolvia a obtenção de energia vital através de um feitiço pérfido que drena a vida de alguém e a passa para o utilizador. Quanto mais jovem e forte a vítima, mais energia é transmitida para o realizador em detrimento do alvo. Alguém drenado até o limite teria uma existência miserável dali em diante, podendo até ser completamente exaurido, morrendo no processo. Em contrapartida, o realizador ganha saúde e longevidade.
O processo embora funcional, tem suas limitações. O feitiço não confere juventude eterna, a pessoa continua a envelhecer ainda que não possa morrer por idade avançada, outrossim, ele recebe energia vital que lhe garante saúde plena.
Além do segredo da longevidade, o Velho conhece um feitiço aterrador que lhe permite extrair a alma imortal (ou essência) e capturá-la em garrafas. Em algum momento de seu comando como capitão, Holt teria enfrentado uma tentativa de motim e resolvido a questão removendo a alma dos amotinados e as lançando em garrafas de cristal azulado. O feitiço lhe garante a faculdade de se comunicar com as vítimas feitas prisioneiras. O mesmo encantamento lhe permite libertar temporariamente essas almas e forçá-las a defender sua casa. Uma palavra de poder, conhecida apenas pelo Velho Ruim, permite a ele conjurar esses espíritos até três vezes. Eles se manifestam como bem preservados cadáveres de marujos portando facas, ganchos e porretes.
Embora seja um homem sinistro e cheio de histórias perturbadoras, o Capitão Richard Holt não é necessariamente maligno. Dono de um senso de justiça único e de um código de conduta particular, ele pode ser surpreendentemente honrado. Através da conversa com seus marujos capturados ele parece ter aprendido muito sobre os segredos da vida após a morte e sobre os sonhos.
Aqueles que conseguem convencer o Terrível Ancião a revelar alguns desses segredos, podem ter um aliado valioso. Por outro lado, qualquer tentativa de logro, em especial no que diz respeito aos seus tesouros (tanto seu ouro quanto suas garrafas) atrai sua ira, e essa faz jus às lendas que o cercam.