terça-feira, 18 de março de 2025

A Ciência da Ressurreição - Reanimação, Experimentos, Zumbis e outras histórias macabras de volta dos mortos


Uma coisa que parece ser inevitável na vida é a morte, certo? 

Bem, alguns discordam!

Haveriam maneiras de enganar a morte, aquilo que muitos acreditam ser a única certeza da vida? Ao longo dos séculos, surgiram muitas tentativas bizarras e métodos perturbadores para driblar o fim definitivo. Alguns pesquisadores envolvidos nesse estudo afirmaram ter conseguido ludibriar a morte e evitar seu abraço frio por meio de ciência estranha, magia negra ou milagres absolutos.

Não é de hoje que as pessoas têm tentado intencionalmente vencer a morte e reviver os mortos usando quaisquer meios que estejam ao seu alcance, muitas vezes sem se importar com os limites éticos e morais de seus experimentos. No fim, o que importa é chegar ao resultado final e provar que a morte não é o fim, mas apenas um obstáculo a ser superado. Vejamos alguns desses proponentes que desafiam a natureza.

Esforços científicos sérios visando confrontar clinicamente a morte datam pelo menos do século XVIII. Na década de 1700, um padre católico e professor de história natural na Universidade de Pavia chamado Lazzaro Spallanzani ficou obcecado com a ideia de reanimar tecidos mortos depois de perceber que algumas formas de vida microscópicas aparentemente pareciam voltar à vida após adicionar água a elas. Spallazani se convenceu de que era possível ressuscitar organismos mortos dessa maneira simplória. Ele recorreu ao famoso filósofo francês Voltaire para obter orientação sobre essa teoria. Voltaire acreditou nas alegações de Spallazani e, quando perguntado sobre sua opinião sobre para onde as almas iam após a morte, ele teria respondido que cabia ao cientista descobrir por conta própria. Tomando isso como um incentivo ele seguiu em frente com seus experimentos. Ele deu início as suas observações cortando as cabeças de caracóis, lulas, polvos e insetos para ver se voltariam a crescer. Embora ele nunca tenha descoberto o segredo para ressuscitar os mortos que tanto esperava encontrar, sua pesquisa o levou a ser o primeiro a descobrir substâncias químicas no corpo que auxiliavam na digestão, bem como estabelecer o propósito dos glóbulos brancos.


Em 1794, a Royal Humane Society de Londres realizou uma série de experimentos buscando restaurar a vida daqueles considerados "aparentemente mortos", argumentando que em alguns casos os cadáveres não estavam realmente mortos, mas sim em algum tipo de estado de suspensão do qual poderiam ser trazidos de volta à vida. Esses esforços foram uma resposta ao medo generalizado na época do que chamavam sepultamento prematuro. Esse temor era algo desenfreado no período, com muitas pessoas temendo ser enterradas vivas. 

A Royal Humane Society buscou não apenas estabelecer métodos para reanimar cadáveres, mas também espalhar a conscientização e compartilhar seu conhecimento de tais procedimentos em todo o mundo. Seus métodos no entanto, eram rudimentares para dizer o mínimo. Na maioria das vezes, as técnicas envolviam usar eletricidade, massagem e até mesmo bebidas alcoólicas forçadas pela garganta, bem como fumaça de tabaco sifonada pelo reto dos defuntos.

Por mais duvidosos que esses métodos pareçam para nós agora, tais experimentos chamaram muita atenção e foram amplamente discutidos. A Sociedade Médica da Carolina do Sul chegou a adquirir equipamentos da Royal Humane Society em 1793 e tentou conscientizar o público sobre a possibilidade de ressuscitar os cadáveres "aparentemente mortos". Os esforços foram tão convincentes que, eventualmente, uma lei foi aprovada em agosto de 1793, para que produtores de álcool fornecessem matéria prima para fazer tentativas de reanimação. A lei também determinou que esses estabelecimentos produzissem substâncias alcoólicas com graduação elevada com fins medicinais. 


No início do século XIX a eletricidade ganhou notoriedade como meio mais popular de "despertar os mortos". Esta foi uma época em que a eletricidade e seus efeitos ainda eram pouco compreendidos. A influência das correntes elétricas sobre organismos vivos tinham um efeito difícil de desconsiderar, era algo quase mágico. Muitos experimentos foram realizados  para medir os efeitos de correntes elétricas atravessando plantas, animais e até mesmo seres humanos. Supôs-se até que a eletricidade tinha o poder de criar vida do nada! Uma teoria de 1837, estabelecida pelo físico Andrew Crosse, afirmava que uma descarga elétrica poderia dar origem a pequenos organismos. As misteriosas forças da eletricidade começaram a ser vistas como um possível meio de reanimação dos mortos.

Na década de 1800, um físico chamado Giovanni Aldini realizou uma série de experimentos distorcidos envolvendo o uso de eletricidade sobre animais mortos. Filho do famoso cientista e pioneiro da eletricidade Luigi Galvani, Aldini era um fervoroso crente nas teorias de seu pai sobre a aplicação da eletricidade para trazer os mortos de volta à vida. Aldini começou usando correntes elétricas para fazer sapos mortos terem espasmos. Contudo ele não parou por aí! Seus experimentos rapidamente escalaram para algo bem mais mórbido. Em uma exibição macabra, ele descarregou uma corrente elétrica na cabeça decapitada de um boi, que, para o horror dos espectadores, começou a convulsionar e ter espasmos com a língua pendurada na boca como se estivesse viva. Aquilo foi visto como algo notável e pensava-se que tais movimentos eram um sinal de vida.

Aldini logo passou de animais para humanos, à medida que seus experimentos aumentavam em morbidade. Por meios nefastos ele conseguia acesso a cadáveres de criminosos recém-executados que eram matéria prima em seus experimentos. Aldini realizou um procedimento doentio no cadáver de um homem de 30 anos recém-morto. Uma incisão foi feita na nuca do falecido e um choque foi dado com um bastão alimentado por bateria. Aldidni descreveu o experimento da seguinte maneira:

"A metade posterior da vértebra Atlas foi exposta por fórceps, deixando a medula espinhal à vista. Um fluxo abundante de sangue jorrou da ferida, inundando o chão. Uma incisão considerável foi feita ao mesmo tempo no quadril esquerdo através do grande músculo gutural para trazer o nervo ciático à vista, e um pequeno corte foi feito no calcanhar. A haste metálica com extremidade conectada à bateria foi colocada em contato com a medula espinhal, enquanto outra haste foi posta em contato com o nervo ciático. Cada músculo do corpo foi imediatamente agitado com movimentos convulsivos que lembravam tremores violentos de frio... Ao mover a segunda haste do quadril para o calcanhar, a perna se moveu com tanta força que os assistentes, tiveram de segurá-la."


Assustador, com certeza, mas na época visto como um resultado muito promissor. Contudo, Aldini não estava satisfeito e continuaria a levar seus experimentos a patamares ainda mais elevados de depravação. Ele estava tão convencido de que a eletricidade era a chave para restaurar a vida após a morte que tentou provar que nem mesmo um corpo era necessário para que sua teoria funcionasse. Ele elevou o horror um nível acima ao aplicar corrente elétrica nas cabeças recém-decapitadas de criminosos, molhando suas orelhas com solução de salmoura e, em seguida, enfiando eletrodos em seus ouvidos. Isso teve o efeito previsível de fazer com que as cabeças desencarnadas fizessem caretas, convulsionassem e se contorcessem violentamente. Aldini ficou particularmente fascinado pelos movimentos das pálpebras durante os procedimentos, escrevendo: "A ação das pálpebras era extremamente impressionante, embora menos sensata na cabeça humana do que na de um boi".

Tais experimentos bizarros ganharam notoriedade quando Aldini levou seus testes ao público para que todos pudessem ver as "maravilhas" que ele era capaz de produzir. Em 1803, em uma exibição pública na Inglaterra, ele foi capaz de criar movimentos realistas através de descargas elétricas em um criminoso recém-executado chamado George Forster. A demonstração foi feita em um palco na frente de uma plateia de espectadores chocados que assistiram o assassino convulsionar e se mover em espasmos. Aldini obteve o reconhecimento que buscava quando o Royal College of Surgeons de Londres lhe entregou a Medalha Copley por suas realizações. Além de tentar trazer os mortos de volta, Aldini também afirmou que poderia usar eletricidade para ressuscitar pessoas quase mortas, como aquelas que quase se afogavam. Seu trabalho serviu como base para o uso de eletricidade na reativação cardíaca, técnica usada até os dias atuais na defibrilização.

Tal reconhecimento pela comunidade médica pareceu consolidar o legado da eletricidade como meio de enganar a morte. Ela continuou muito em voga até os anos 1900. Um professor chamado Albert Hoche estava convencido de que a eletricidade poderia devolver aos mortos a centelha de vida e se tornou um fiel seguidor de Aldini. Hoche conseguia obter cadáveres de criminosos recém-executados para seus experimentos perturbadores. Ele realizava decapitações sem perda de tempo afim de enganar o animus mortis. Hoche descarregava uma forte descarga elétrica através da medula espinhal exposta. O resultado era algo alucinante, e os observadores ficavam perplexos com a forma como os corpos convulsionavam espasmodicamente por quase 10 minutos antes de ficarem imóveis. O efeito era visto como uma prova milagrosa da vida após a morte. Hoche entretanto desejava estender os efeitos. No final, ele teorizou erroneamente que o resfriamento do corpo e a perda de sangue eram os culpados pela perda de movimento, mas nunca foi capaz de superar esses obstáculos.

A partir da década de 1930, experimentos assustadores de reanimação começaram a surgir, principalmente usando cães como cobaias. Uma figura bastante infame no campo de tentar ressuscitar cães foi o biólogo americano Robert Cornish, da Universidade da Califórnia. Antes que seu campo de interesse tomasse um rumo macabro, Cornish já havia acumulado a reputação de ser um pouco estranho, projetando invenções estranhas, como óculos de leitura subaquáticos. Entretanto quando ele começou seus experimentos de reanimação é que ele ganhou o título de cientista louco.


Cornish ficou obcecado com a ideia de vida após a morte. Após uma série de testes empregando uma variedade notável de técnicas bizarras, ele acreditou ter encontrado  uma maneira de fazê-lo. A teoria era que um sujeito morto poderia ser trazido de volta à vida se o corpo fosse balançado para cima e para baixo em uma engenhoca apelidada de Gangorra Cornish que tentava simular a circulação sanguínea. Ao mesmo tempo o cadáver era alimentado com oxigênio por um tubo e injetado com um coquetel de adrenalina, extrato de fígado, goma arábica, sangue e anticoagulantes. Cornish estava tão convencido de que a técnica funcionaria que imediatamente começou a testar a teoria em animais, principalmente cães.

Ele adquiriu fox terriers para seus experimentos macabros, todos os quais ele chamou de Lázaro, em homenagem à figura bíblica que havia ressuscitado dos mortos. O médico asfixiava os animais com gás nitrogênio, esperava 10 minutos após a morte e então dava início ao processo de reanimação. Lázaro I, II e III provaram ser fracassos, permanecendo tão mortos quanto estavam antes do processo, mas ele teve mais sorte com Lázaro IV e V.

Alega-se que Lázaro IV acordou com um "gemido e um latido fraco" 5 minutos após seu coração ter parado. Embora o cão tenha ficado cego e sofrido danos cerebrais graves, Cornish relatou que, após vários dias, Lazarus IV conseguiu mancar, sentar-se sozinho, latir e até comer. Encorajado por resultados tão promissores, Cornish passou para Lazarus V, que ele considerou um sucesso ainda maior. Foi relatado que Lazarus V foi trazido de volta à vida 30 minutos inteiros após ter parado de respirar e, mesmo assim, exibiu amplitude de movimento e cognição. Ambos os "cães zumbis" viveram por meses, e foi dito que outros cães demonstraram um medo acentuado deles.


Cornish ficou extremamente animado e encorajado por seus resultados bem-sucedidos foi à comunidade científica com suas descobertas. Contudo seus experimentos se tornaram muito controversos e foram ridicularizados como algo grotesco e distorcido. O público achou a ideia de matar e zumbificar cachorros algo absurdo e o clamor contra os experimentos de Cornish levou a Universidade da Califórnia a expulsá-lo do campus. Posteriormente ele continuou seu trabalho sozinho em um galpão alugado, perturbando a vizinhança com os vapores e ruídos odiosos que seus experimentos produziam. O cientista louco continuou a aperfeiçoar suas técnicas, passando por sabe-se lá quantos cães até que finalmente em 1947 ele teve a oportunidade de finalmente fazer experimentos em um ser humano.

Cornish foi contatado pelo assassino de crianças condenado Thomas McMonigle, que tinha ouvido falar muito sobre os experimentos e estava disposto a oferecer seu cadáver para experimentação após sua execução na Penitenciária de San Quentin. Cornish estava em êxtase por finalmente ter a oportunidade de testar seus métodos bizarros em um cadáver humano real e começou a trabalhar na melhor maneira de fazê-lo. Ele acreditava que sua máquina caseira poderia ter sucesso. Embora tenha feito todos preparativos o grande plano de Cornish seria frustrado por vários obstáculos. Além da oposição fervorosa que ele encontrou do diretor da prisão na época, Clifton Duffy, havia também o problema de que McMonigle seria executado em câmara de gás, o que exigia cerca de uma hora após a morte para arejar todo o gás venenoso antes que o corpo pudesse ser removido com segurança, o que era muito tempo para Cornish, que precisava de acesso imediato ao corpo. Havia também o dilema moral do que fazer com o criminoso se o experimento bizarro funcionasse; afinal, se o criminoso fosse morto e depois revivido, isso significaria que ele já havia cumprido sua sentença e seria libertado como um morto-vivo? 

No final, Cornish nunca teve a chance de trazer uma pessoa de volta dos mortos. Ele acabaria desistindo de seus experimentos e seguiria para a ocupação menos interessante de produzir e vender pasta de dente até sua morte em 1963.

As décadas de 1940 e 50 também não foram uma boa época para os cachorros da então União Soviética. Os soviéticos estavam envolvidos em uma grande variedade de experimentos para reviver membros decepados e restaurar órgãos removidos, então parecia um passo natural que eles passassem para a reanimação completa dos mortos. O infame Dr. Bryukhonenko do Instituto de Fisiologia e Terapia Experimental foi o mais famoso cientista envolvido nesse projeto. Sua meta era a reanimação de animais mortos, principalmente cães, por intermédio de máquinas misteriosas e assustadoras. Em seu experimento mais famoso, a cabeça decapitada de um cão foi conectada a uma máquina de aparência sinistra que foi chamada de "autojetor". A cabeça aparentemente recuperou a consciência, moveu a boca e piscou os olhos. Em um esforço para provar que o animal estava realmente acordado e consciente, Bryukhonenko começou a atormentar o cão, batendo-lhe na cabeça e até esfregando o interior de sua narina com ácido, que a cabeça do cão então começou a tentar lamber. O cão supostamente permaneceu acordado e vivo por um bom tempo, até mesmo comendo e bebendo coisas que lhe foram oferecidas, que passaram a se mover pela boca e vazaram do esôfago cortado. 


A mesma engenhoca foi usada para supostamente reanimar vários cães, bem como uma grande variedade de órgãos e membros cortados, embora não esteja claro como exatamente isso funcionou. Tudo o que temos são bizarros vídeos dos experimentos que muitos afirmam serem fraudes grosseiras e montagens.

Bryukhonenko foi superado em depravação e crueldade alguns anos depois. Outro cientista soviético chamado Vladimir Demikhov conduziu um experimento macabro para criar o que só pode ser descrito como um cão zumbi de duas cabeças. Demikhov estava convencido de que a chave para reviver os mortos era enxertar os mortos com os órgãos dos vivos. Para provar sua teoria, ele pegou um cão e o cortou ao meio, depois prendeu a metade do corpo ao pescoço de outro cão vivo. Inacreditavelmente, a parte morta do cão voltou à vida olhando ao redor e balançando a língua na boca, como um tumor horrível em seu hospedeiro. Encorajado por esse sucesso, Demikhov criaria 20 dessas abominações, que às vezes viviam por até um mês antes que a rejeição do tecido os fizesse morrer.

Nos anos seguintes, os Estados Unidos também participariam de experimentos sinistros visando trazer os mortos de volta à vida.

Uma série de experimentos foi realizada em 1967 na Divisão de Tecnologia da Base Aérea Wright-Patterson em Ohio. Os registros não corroborados dão conta de que vários cães foram trazidos de volta da morte usando um sistema de circulação artificial desenvolvido por uma equipe local. Esses cães foram revividos pelas engenhocas e sobreviveram. As cobaias supostamente se recuperaram e levaram vidas normais por anos depois, não mostrando anormalidades físicas ou diferenças no comportamento de cães normais. Oficiais militares esperavam que a técnica pudesse ser empregada em soldados que um dia se tornariam imortais.

Outro experimento militar financiado pelo governo dos EUA ocorreu em meados de 1970, quando o cientista Robert White desenvolveu uma técnico que envolvia cortar a cabeça de um macaco e a reanimar enxertando-a no corpo decapitado de outro macaco. O experimento supostamente foi realizado em conjunto com a Universidade de Chicago e tinha aprovação governamental. 

Os boatos dão conta de que a cabeça ressuscitada "viveu" por um dia inteiro. White afirmou que o macaco podia ver, ouvir, saborear e cheirar devido ao fato de que os nervos do cérebro e da cabeça estavam totalmente intactos. Ele chegou a pedir autorização do governo para prosseguir em seus experimentos até os anos 1980, mas as técnicas não foram empregadas em seres humanos. Ao menos até onde se sabe...

Outras formas de reanimação, ainda mais macabras foram tentadas e vocês saberão à respeito delas na continuação desse artigo. Fiquem conosco para mais histórias macabras de volta dos mortos.

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